Lula é um projeto e uma esperança para o Brasil



Ricardo Stuckert


Emir Sader

O fato de pessoas se surpreenderem de que Lula, apesar do massacre jurídico-midiático, diminui cada vez mais seus índices de rejeição nas pesquisas, é que é surpreendente. Como se nos acostumássemos que Lula teria sobre os ombros a carga das reiteradas acusações sem provas e fosse, assim, suspeito.

De repente, a curva da rejeição de Lula vai baixando e a dos seus algozes vai aumentando, na mesma medida. Qual o significado desses movimentos?

Lula tinha um grau de rejeição muito alto até 2002, mesmo porque sempre que aparecia era para denunciar a situação do país e anunciar que o país ia para o pior dos mundos possíveis. Tinha razão, mas ficou com uma marca pessimista, apocalíptica, negativa.

Na reta final da campanha de 2002, Lula apelou para o "Lulinha paz e amor". Passou a projetar otimismo, a dizer que o Brasil tinha jeito, que era só eleger um governo sintonizado com o povo e com a democracia. E se deu aquilo que muitos duvidavam: que um dia Lula seria eleito presidente do Brasil. E passou a irradiar esperança, otimismo, a convidar a todos para que acreditassem no Brasil.

Lula teve que seguir enfrentando o pessimismo dos que o criticavam, da direita e da ultra esquerda, que previam, ambos, que seu governo fracassaria. Lula enfrentou tudo com o otimismo e as políticas sociais do seu governo foram chave para que ele passasse a ser aceito por setores cada vez mais amplos da população, apesar das denúncias do mensalão.

O auge do prestígio de Lula foi ao final do seu governo, quando tinha mais de 80% de referências negativas na mídia e mais de 80% de apoio popular. Foi o momento em que as políticas do governo do PT conseguiram o máximo de hegemonia no país, impuseram um consenso nacional em torno de que o problema mais importante era a exclusão social, a pobreza, a miséria.

Como foi possível que, alguns anos depois, Lula passasse a ter uma altíssima rejeição? Como se deu a ação midiático-judicial, que avançou sobre sua imagem?

Derrotada sempre que se compararam os governos da direita e os do PT, a direita procurou mudar a agenda. Deixar de tentar disputar com o PT as políticas sociais, para se concentrar na desqualificação moral do PT e dos seus líderes, entre eles, sobretudo em Lula.

Dispondo do monopólio dos meios de comunicação e do controle do Judiciário, assim como da PF, a direita foi acumulando, ao longo dos anos, suspeitas para envolver o PT e Lula num manto de envolvimento com ações ilegais, que pudessem ser caracterizadas como de corrupção. Juízes até tiveram a pretensão de reescrever a história recente do Brasil. As imensas transformações sociais que o país viveu teriam sido uma farsa, o povo teria sido comprado com ações financiadas pela corrupção de empresas estatais e por propagandas enganosas. A corrupção seria o mecanismo de passar a limpo a historia do país, revertendo o significado do PT e do próprio Lula.

A acumulação de suspeitas, mesmo sem provas, foi a responsável pelo alto nível de rejeição que conseguiram impor à imagem de Lula, resultado da imposição do tema da corrupção como o central no país, o que permitiu a criação do clima político que levou ao golpe.

No fundo o que se dá no Brasil é uma disputa de agendas, entre a agenda social ou a da corrupção e do Estado. Enquanto a agenda social foi aceita como prioritária, a imagem de Lula e do PT foram altas. Quando a direita conseguiu deslocar essa agenda para um segundo plano e impor a da corrupção e dos gastos do Estado, as imagens do PT e de Lula foram muito desgastadas.

Conforme o governo surgido do golpe foi colocando em prática sua política econômica dura e pura, gerando uma depressão econômica, com alto nível de desemprego, enquanto avança selvagemente sobre as políticas sociais e os direitos dos trabalhadores, a agenda social voltou rapidamente a ser sentida como central pela grande maioria dos brasileiros. E, com ela, a imagem de Lula, que representou o momento mais virtuoso em termos de justiça social da nossa história, foi reaparecendo, com toda sua força. Os que não tinham consciência de que suas vidas tinham melhorado pelas ações de um governo que privilegiava os seus direitos, foram sentindo isso a partir da perda desses direitos, como resultado da mudança de governo.

Daí que a imagem de Lula tenha entrado, desde um ano, em uma espiral de ascensão e os seus algozes, os agentes das reiteradas acusações contra ele, concomitantemente foram perdendo prestígio e vendo seu nível de rejeição aumentar. Não há dúvida que os efeitos da campanha midiático-jurídica de promoção da Lava Jato tiveram um grande sucesso, se projetaram como a ação política de maior incidência na consciência das pessoas. Mas seus efeitos vão se desgastando, conforme a imagem de Lula reimpõe a centralidade das questões sociais no Brasil. Esse o significado da diminuição da rejeição de Lula e do aumento da rejeição do Moro.

Lula não é apenas um sujeito, que possa ser acusado e destruído por operações midiático-jurídicas. Ele representa um projeto para o Brasil e para a grande maioria da sua população, que traz consigo a possibilidade do resgate da esperança para todos.


Resultado de imagem para Emir Sader   Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros.



Postado em Brasil 247 em 27/09/2017



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