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O fascismo dos "meninos do Rio"


                        Por Gilson Caroni Filho, no sítio Carta Maior:

O que há em comum entre uma moradora de rua agredida a socos e pontapés no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, por três homens de classe média que a acusam de quebrar o retrovisor do carro e Vítor Suarez da Cunha, jovem estudante brutalmente espancado ao tentar proteger um mendigo que apanhava de cinco delinquentes no bairro Jardim Guanabara, na Ilha do Governador? Ambos foram vítimas de um estrato social que tem como traço ideológico funesto a recusa da cidadania.

Em menos de uma semana, a violência de um segmento incapaz de distinguir o público e o privado, que tem na venalidade uma de suas marcas, que trata a rua como prolongamento da casa e do quintal, desconhece direitos sociais e políticos, menospreza a condição humana dos que não pertencem à sua geografia social, reiterou, em pontos do estado do Rio de Janeiro, o caráter fascista que lhe é inerente.

Para eles, a liberdade se reduz ao ato de escolher entre várias marcas do mesmo produto e a felicidade é o fim de semana em família esvaziando shopping centers, o consumo do Natal e o réveillon em uma boate "superluxo". A protegê-los, vigias, olhos eletrônicos, cães de guarda, grupos de extermínio e a polícia violenta que conhecemos, protetora de “gente de bem”. Quando se lançam em busca das ilusões perdidas, dão início a uma busca feroz, mostrando uma força ideológica assustadora.

Num tempo em que pessoas têm sua condição humana aviltada, morrendo como moscas, fatos como estes não podem, após algum tempo de exposição midiática, provocar, no máximo, bocejos. É preciso deixar de contentarmo-nos em sobreviver, de acreditar que "com a gente não acontece" ou, o que é pior, fazer da vítima o culpado. Recusar a indiferença, persistindo em chamar de acidente uma rotina de mortes e de mutilações, conhecida, anunciada e burocraticamente executada cotidianamente. Nas ruas do Leblon e do Jardim Guanabara, o que aconteceu foi um fato político. E como tal precisa ser combatido.

Como classificar o comportamento dos fascistas de "boa aparência”? Perversão? É pouco. Isto é sordidez, abjeção, cegueira de valores. Mais ainda: é sintoma de uma cultura que faz da sarjeta sua medida moral e que, pouco a pouco, destrói um legado histórico, construído com sacrifício de homens, de povos e de nações. O que está em jogo é a consciência de que a vida é um bem, cuja posse não temos o direito de negar a quem quer que seja. O que estamos esperando? Que a lei da oferta e da procura regule o mercado de massacres e extermínios?

A punição exemplar dos agressores, "gente de boa cepa", é fundamental para que não continuemos a ser uma sociedade moralmente idiotizada. A barbárie não pode continuar satisfazendo o apetite de quem faz do riso cínico a única saída para a impotência e a covardia. Os fascistas têm que saber que já não contam com o "jeitinho brasileiro" de lidar com o direito à vida e a dignidade física e moral de cada um. Do contrário, a certeza da impunidade continuará ampliando a lista de vítimas. Em um país democrático, não se confunde desejo de justiça com direito de vingança.

Vítor Suarez da Cunha, o jovem de 21 anos, que teve 63 pinos implantados no rosto, deu uma magnífica lição de vida, de solidariedade humana. Muitos escreverão sobre sua atitude, mas nenhum texto será capaz de traduzir sua coragem, seu amor ao próximo, sua consciência de cidadania. Ao afirmar que "faria tudo de novo se preciso fosse", torna-se um símbolo de que a luta política não só é possível como conta com bons combatentes.

Postado no Blog do Miro em 10/02/2012

O mundo precisa de mais pessoas como VITOR !



Vitor Não Pensa em Vingança

                   




por Antero Gomes

Assim que acordou da cirurgia de reconstituição facial, realizada no sábado, o estudante Vítor Suarez Araújo —que foi agredido por cinco jovens ao defender um morador de rua na Ilha do Governador, na última sexta-feira —quis logo saber o que havia acontecido com mendigo que ele ajudou a proteger. Sem demonstrar sentimentos de revolta ou raiva, Vítor se recupera da agressão sofrida com otimismo e só pensa em voltar para casa, segundo a mãe do rapaz.


— Meu filho perguntou se o morador de rua estava bem. E não quer saber de vingança ou revanchismo. Ele só quer melhorar logo para poder retomar sua vida — disse, emocionada, a assistente social Regina Suarez, que também busca informações sobre o paradeiro do morador de rua agredido:

— Gostaria que ele recebesse tratamento médico adequado, já que também foi espancado, e que servisse de testemunha no caso. Seria muito importante para nós!
Vítor teve implantadas oito placas de titânio e 63 parafusos na cabeça. Quando questionada sobre seu sentimento em relação aos jovens agressores que quase mataram seu filho, Regina demonstrou não sentir ódio:

— Quero que a justiça seja feita e que este caso não caia no esquecimento, mas não sinto ódio dos agressores.Tenho pena deles, porque são jovens com futuros promissores, mas que estragaram suas vidas.

Postado no Blog DoLadoDeLá em 08/02/2012