O Brasil é um país desesperadamente complexo. Aquela piada antiga e preconceituosa, sobre Deus ter feito um país sem terremotos, maremotos e tufões, mas, em compensação, ter colocado um povo que iria dar o que falar, parece ser, em parte, tristemente verdadeira. Esse povo é a elite brasileira. Em alguns momentos, a gente até anseia por uma catástrofe natural para ocupar o espaço do fracasso de certa parte dessa aristocracia.
Em um período de profunda crise, com o país mergulhado num desastre causado pela administração caótica do Presidente da República, esse grupo, que optou pelo tsunami eleitoral ao eleger um fascista, está agora apoiando o criador de quem nos levou ao caos. Um ex-juiz que instrumentalizou o Judiciário, que foi “julgado” pelo Supremo Tribunal Federal como alguém que corrompeu o sistema de justiça e que mercadejou a toga ao aceitar ser ministro do governo eleito por suas peripécias apresenta-se agora como salvador da pátria e recebe o apoio de boa parte da elite, principalmente da mídia.
E é preocupante ver que o vazio de ideias tem uma enorme aceitação popular. O Moro e seus asseclas, por ele comandados na triste Operação Lava Jato, não tiveram nenhum pejo em subverter todo o sistema de justiça para atingir seus objetivos políticos.
Descaradamente, usaram o Poder Judiciário e parte do Ministério Público com o objetivo de assumir o poder. E, num primeiro momento, conseguiram, pois foram os grandes vencedores nas últimas eleições, sendo que o juiz ativista virou Ministro da Justiça do Bolsonaro. E ele usou a estrutura do ministério para fustigar os seus adversários políticos. Os dele e os do seu chefe de então. Só romperam na divisão do poder, briga de quadrilha.
Talvez, a única frase lúcida da “conge” do Moro foi quando ela disse que ele e o Bolsonaro eram a mesma pessoa. Rasos e inescrupulosos. Penso que, muito dificilmente, um Presidente da República, com todo o poder que tem em um sistema presidencialista, deixe de ir para o segundo turno. Mas temo que essa elite brasileira seja capaz de se unir em torno desse usurpador barato, um ex juiz que desonrou o Judiciário, caso considere que ele é a única chance de ganhar do Lula.
Por isso mesmo é necessário debater em público quem é e o que representa o bando liderado por Moro. E mostrar que o discurso falso e puritano nada mais é do que a continuação do plano que ele executou em busca do poder a qualquer custo, enquanto juiz. No Judiciário, como juiz-político, ele corrompeu o sistema de justiça, liquidou deliberadamente setores da economia nacional, apoiou o atraso na legislação penal, estuprou a Constituição e se vendeu como um Deus salvador. No Executivo, como líder desse poder, ele pretende aprimorar a barbárie implementada pelo seu ex- chefe e ex-sócio do poder.
O Brasil foi jogado num abismo pelas ações e omissões criminosas do governo Bolsonaro. Um muro intransponível foi levantado e dividiu o país pela ignorância, crueldade e intransigência do fascismo implementado. A ideia do bando do Moro é aumentar o fosso, fortalecer a muralha da discórdia e dar um verniz para a barbárie.
Anuncia-se uma longa noite para o país, com uma nuvem de densa fumaça que poderá nos tirar a visão e o ar. O que estamos vivendo com a obviedade do obscurantismo – que choca o mundo – poderá ser agravado com a falsa impressão de um moralismo hipócrita e um pretenso saber intelectual.
Esse grupo é a cara dos tempos de fake news e de mentiras. Resta-nos fazer o enfrentamento em defesa da civilização. Com coragem e determinação, em nosso nome e em homenagem a um Brasil que foi saqueado pela dupla Bolsonaro e Moro. Realmente eles são um só.
Sempre com a poesia do grande Miguel Torga, em Penas do Purgatório:
“Continua a lembrança dolorosa nas cicatrizes.
Troncos cortados que não brotam mais.
E permanecem verdes, vegetais.
No silêncio profundo das raízes.”
Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido pela alcunha de Kakay é um advogado criminalista brasileiro.
"Fascista": ex-juiz parcial Sergio Moro é alvo de protestos durante lançamento de seu livro no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro. pic.twitter.com/IJOZ84jpKw
“ Muitas pessoas que apoiaram Sergio Moro contra Lula agora admitem que foram enganadas ”, destaca a jurista Carol Proner
Carol Proner
Não deixa de surpreender o descaramento de Sergio Moro quando se lança a pré-candidato à Presidência da República justamente contra Lula e depois de tudo o que fez. E mais ainda, quando lança um livro pedante, jactando-se de herói contra a corrupção e contando meias verdades a respeito da saga ilegal que promoveu como juiz da Lava Jato e como ministro do governo fascista.
Tem um lado provinciano nisso tudo, mas não é só isso. Há método nessa afetação bairrista de achar que pode discordar do Supremo Tribunal Federal, das leis, da Constituição.
Por exemplo, quando Moro lança a ideia de uma Corte Nacional Anticorrupção ele não está somente propondo a instalação de um tribunal de exceção, totalmente inconstitucional, mas sugerindo importar um método que tem sido usado em outros países, como na Ucrânia em 2019 e que, além de funcionar mal, tem servido como instrumento jurídico de desestabilização regional.
E mesmo antes, as International Anti-Corruption Court (IACC) são iniciativas formuladas na primeira década do século XX por magistrados, parlamentares, empresários e ONGs dos Estados Unidos e de governos aliados, como a Colômbia de Ivan Duque, com o objetivo de flexibilizar garantias penais e fortalecer a aplicação das leis criminais contra líderes supostamente corruptos.
Em recente evento internacional na cidade do México, o chamado Grupo de Puebla, que reúne líderes progressistas de 20 países, concluiu que a utilização do sistema de justiça e seus recursos legais na América Latina continua ativa, funcionando como arma de guerra não convencional e contribuindo com rupturas institucionais e ameaças aos sistemas democráticos.
O grupo jurídico que estuda casos comparados de lawfare na região constata claramente o uso da judicialização da política como forma de desestabilização de governos adversários. Constatam a mescla do aparato jurídico de processos criminais com sistemas eleitorais e a ingerência de organizações como a Organização dos Estados Americanos, dirigida pelo Secretário-Geral Luiz Almagro e, a partir daí, toda uma teia de instituições e organismos públicos e privados que administram o “tema da corrupção” como fator de instabilização geopolítica.
Eis que Moro não deu essa volta profissional por acaso. Esse giro de profissões, de magistrado a advogado, do poder judiciário para o poder executivo e agora anunciando medidas legislativas para salvar o país da corrupção, tudo isso tem método e serve a interesses alheios.
É importante levar a sério, não a candidatura de alguém que atuou como um delinquente judicial, mas o propósito de trair interesses nacionais e os apoios que esse projeto arregimenta. Quem é a claque curitibana que aplaude Sergio Moro no Teatro Positivo, quem são os políticos que lhe dão a forma “partido”, o que defendem, quem são as ONGs que o cercam, quem é a mídia que o sustenta?
Muitas pessoas que apoiaram Sergio Moro contra Lula agora admitem que foram enganadas, levadas a erro, mas de boa fé, a partir da legítima vontade de ver o país livre da corrupção.
E depois de tudo o que vivemos, de ver a devastação política e econômica produzida pela Lava Jato, penso que não temos mais o direito à ingenuidade.
Nosso país está em franco processo de destruição e o bom-mocismo lavajatista está na origem dos principais males, entre eles as eleições fraudadas em 2018 e a chegada de Jair Bolsonaro ao poder.
Carol Proner Doutora em Direito, professora da UFRJ, diretora do Instituo Joaquín Herrera Flores – IJHF
O Brasil é um país desesperadamente complexo. Aquela piada antiga e preconceituosa, sobre Deus ter feito um país sem terremotos, maremotos e tufões, mas, em compensação, ter colocado um povo que iria dar o que falar, parece ser, em parte, tristemente verdadeira. Esse povo é a elite brasileira. Em alguns momentos, a gente até anseia por uma catástrofe natural para ocupar o espaço do fracasso de certa parte dessa aristocracia.
Em um período de profunda crise, com o país mergulhado num desastre causado pela administração caótica do Presidente da República, esse grupo, que optou pelo tsunami eleitoral ao eleger um fascista, está agora apoiando o criador de quem nos levou ao caos. Um ex-juiz que instrumentalizou o Judiciário, que foi “julgado” pelo Supremo Tribunal Federal como alguém que corrompeu o sistema de justiça e que mercadejou a toga ao aceitar ser ministro do governo eleito por suas peripécias apresenta-se agora como salvador da pátria e recebe o apoio de boa parte da elite, principalmente da mídia.
E é preocupante ver que o vazio de ideias tem uma enorme aceitação popular. O Moro e seus asseclas, por ele comandados na triste Operação Lava Jato, não tiveram nenhum pejo em subverter todo o sistema de justiça para atingir seus objetivos políticos.
Descaradamente, usaram o Poder Judiciário e parte do Ministério Público com o objetivo de assumir o poder. E, num primeiro momento, conseguiram, pois foram os grandes vencedores nas últimas eleições, sendo que o juiz ativista virou Ministro da Justiça do Bolsonaro. E ele usou a estrutura do ministério para fustigar os seus adversários políticos. Os dele e os do seu chefe de então. Só romperam na divisão do poder, briga de quadrilha.
PEPE ESCOBAR: MORO PERDEU A UTILIDADE E FOI DESCARTADO PELOS EUA
247 - O jornalista especialista em geopolítica Pepe Escobar falou à TV 247 sobre a interferência dos Estados Unidos na política brasileira no contexto do escândalo do vazamento das conversas entre o ex-juiz e atual ministro Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, da Lava Jato, divulgado pelo The Intercept. Para Pepe, Moro perdeu a utilidade para os Estados Unidos.
O jornalista explicou que Moro era um ativo americano, ou seja, uma espécie de ferramenta para os planos estadunidenses no Brasil. Porém, na avaliação de Pepe Escobar, o ministro perdeu sua utilidade e é, agora, dispensável. "O fato de que o governo Bolsonaro agora já está sendo visto, a nível global, como falido, em crise, incapaz de governar, incapaz de passar o que eles tinham prometido, liderado por um alguém que tem um QI sub zoológico e impopular, e inclusive criticado dentro de setores do próprio Deep State americano, o Moro era um ativo desses caras. Os Estados Unidos tentam o tempo todo remexer as regras do tabuleiro. Moro já cumpriu o papel, o papel dele é o que ele fez até colocar o Lula na cadeia, depois disso pode jogar fora, não tem mais importância", avaliou.
Pepe Escobar ainda liga os vazamentos de conversas entre Moro e procuradores da Lava Jato ao Deep State norte-americano. "Se alguém fosse fazer o PowerPoint, que aquele pobre coitado também com o QI zoológico fez com o Lula no meio, o PowerPoint iria colocar o Moro no meio de toda essa articulação. O que nos leva a motivação de quem vazou a Vaza Jato? A quem interessa isso? Fundamentalmente ao Deep State americano para reorganizar o tabuleiro de uma maneira em que eles possam ir mais fundo nos objetivos fundamentais deles que são: separar o Brasil de Rússia e China custe o que custar. Eles não têm o menor interesse em política interna brasileira, o que interessa são os objetivos estratégicos a longo prazo".
Ele também avalia que Moro pode ter seu futuro balizado pelo "paraquedas dourado", e explica: "Ele pode ter com certeza, e isso na hora que acontecer vocês todos vão ver, o famoso paraquedas dourado. Ele pode dar palestra em universidades americanas, publica um livro nos Estados Unidos e ganha um monte de dinheiro de direitos autorais, então esse paraquedas já está acertado. Não era exatamente o que o Moro queria, o Moro queria ser presidente, não vai rolar, não vai rolar porque ele era uma pecinha em um esquema muito maior".
“Não troco minha liberdade pela minha dignidade”, repetiu Lula mil vezes a todos os que o visitavam na cela, desde que foi condenado e preso sem provas, em abril do ano passado, pela dupla Moro & Dallagnol.
Em nenhum momento o ex-presidente fraquejou nesta determinação férrea de provar sua inocência, nem mesmo quando foi impedido de disputar uma eleição praticamente ganha.
Só poderia duvidar disso quem não conhece o caráter deste sertanejo teimoso, que saiu dos fundões do nordeste num pau-de-arara, para se eleger primeiro presidente operário da nossa historia.
Para Lula, provar que a Justiça cometeu um crime ao condená-lo, com base em convicções, “provas indiretas” e matérias de jornal, era mais importante do que voltar a ser presidente.
As revelações feitas pelas reportagens do site The Intercept neste final de semana apenas confirmam o que Lula e seus advogados vinham falando desde o começo desta farsa judicial, e todo mundo já sabia, até o papa Francisco:
O ex-juiz Sergio Moro e o procurador federal Dalton Dallagnol se uniram, não para acabar com a corrupção, mas para acabar com Lula, o PT, a soberania nacional e as grandes empresas do país, a serviço de interesses econômicos e políticos daqui e de fora, como Bolsonaro está deixando mais claro a cada dia.
O principal objetivo foi alcançado: tirar Lula da campanha presidencial de 2018, mas a Operação Lava-Jato, que se achava acima das leis e da Constituição, com o apoio da mídia e do STF, deixou tantos rastros que agora todo o processo, como a própria eleição, podem ser anulados.
Com Lula preso, está em andamento o processo de destruição das conquistas sociais e dos direitos dos trabalhadores, e a entrega do pré-sal e da Amazônia a empresas privadas.
Os inacreditáveis diálogos entre Moro, Dallagnol e outros procuradores não deixam a menor dúvida desta armação, em que o ex-juiz foi ao mesmo tempo investigador e assistente da acusação, num processo contaminado desde o início, com o grampo nos telefones de Lula e Dilma, sem que as cortes superiores tomassem qualquer providência.
Por não ter nenhuma ligação com a Petrobras, o alvo da Lava-Jato, o processo do triplex do Guarujá, em São Paulo, não poderia jamais ter ficado nas mãos de Moro em Curitiba.
Numa das conversas com Moro, Dallagnol digitou com todas as letras:
“Falarão que estamos acusando com base em notícia de jornal e indícios frágeis… então é um item que é bom que esteja bem amarrado. Fora esse item, até agora tenho receio da ligação entre Petrobras e enriquecimento, e depois que me falaram tô com receio também da história do apto… São pontos em que temos que ter as respostas ajustadas e na ponta da língua”.
Tranquilizado por Moro, quatro dias depois destes receios, Dallagnol apresentou o famoso PowerPoint para acusar o “esquema criminoso do PT”, que serviu para a condenação adrede preparada pelo ex-juiz, agora ministro da Justiça de Bolsonaro.
Em outro trecho da denúncia é reproduzida esta mensagem de Dallagonol, que não deixa dúvidas sobre as “provas” da acusação:
“Tesão demais esta matéria de O Globo de 2010. Vou dar um beijo em quem de vocês achou isso”.
Assim foi montada a farsa dos grandes “heróis nacionais” para condenar o melhor presidente da República da história, e que era favorito para voltar ao cargo, segundo todas as pesquisas.
Com toda razão, o Comitê Nacional Lula Livre divulgou nota nesta segunda-feira exigindo das cortes superiores “a imediata libertação e o pleno reconhecimento da inocência” de Lula.
Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, um dos maiores criminalistas do país, expressou em nota o que a maioria dos juristas manifestou após a divulgação da reportagem do site Intercept:
“É necessária uma investigação profunda para saber se havia uma organização criminosa tentando usar a estrutura do Poder Judiciário em proveito próprio e com fins políticos. O Brasil precisa e merece saber a verdade. O Judiciário está sob suspeita”.
Para saber a verdade, recomendo a leitura na íntegra dos diálogos entre Moro e Dallagnol , reproduzidos pelo site na internet.
Flávio Dino, governador do Maranhão, foi direto ao ponto: “Moro é suspeito e todos os seus atos são nulos”.
Resta saber se agora, finalmente, o Supremo Tribunal Federal vai colocar na pauta o processo que mudou os rumos políticos do país e até hoje deixa na cadeia um ex-presidente, que não desiste nunca de provar sua inocência.