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Eles poderiam estar vivos


Gabriel Mesquita

Documentário mostrará como Brasil estaria sem negacionismo na pandemia


De autoria do cineasta Gabriel Mesquita filme faz paralelo com hipótese do país ter seguido orientações de autoridades sanitárias mundiais.

 

Caio Barbieri

O cineasta brasiliense Gabriel Mesquita está produzindo um documentário para mostrar como estaria a situação do Brasil se não houvesse o negacionismo e as interferências consideradas negativas do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia.

O roteirista está entrevistando políticos, médicos, epidemiologistas, cientistas e familiares de vítimas para mostrar que o pais poderia ter sido referência no combate ao vírus. Integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 também contribuíram para o material.

Batizado de Eles Poderiam estar Vivos, o documentário mostrará uma hipotética história na qual o Brasil deixaria de ser um dos países campeões em mortes, caso tivesse seguido as orientações de autoridades sanitárias mundiais. O filme está sendo gravado no Brasil e no Canadá, onde o cineasta reside.

“Desde o começo da pandemia, tudo o que acontece na Ásia, na Europa e nos EUA, acontece no Brasil depois um ou dois meses. É como se o Brasil tivesse uma máquina do tempo e soubesse tudo o que vai acontecer. Infelizmente, o governo ignorou essa valiosa ferramenta e apostou em estimular a contaminação generalizada. Assim a pandemia terminaria rápido”, iniciou o cineasta.

Na parte canadense do filme, o documentarista mostrará como o país onde mora lidou melhor que o Brasil na condução das políticas públicas contra o vírus. “Muito ajuda quem não atrapalha, diz o ditado, que no Brasil foi intencionalmente ignorado”, disse.

O documentário será um longa-metragem, com até 85 minutos de duração, com opção de áudios em português e inglês e legenda que inclui o francês. “O filme será dedicado aos filhos que perderam os pais, aos pais que perderam filhos, aos casais que a morte separou e a todos que perderam alguém querido”, finalizou.


Postado em Metrópoles em 14/02/2022



Eles poderiam estar vivos


Gabriel Mesquita

Documentário mostrará como Brasil estaria sem negacionismo na pandemia


De autoria do cineasta Gabriel Mesquita filme faz paralelo com hipótese do país ter seguido orientações de autoridades sanitárias mundiais.

 

Caio Barbieri

O cineasta brasiliense Gabriel Mesquita está produzindo um documentário para mostrar como estaria a situação do Brasil se não houvesse o negacionismo e as interferências consideradas negativas do presidente Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia.

O roteirista está entrevistando políticos, médicos, epidemiologistas, cientistas e familiares de vítimas para mostrar que o pais poderia ter sido referência no combate ao vírus. Integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 também contribuíram para o material.

Batizado de Eles Poderiam estar Vivos, o documentário mostrará uma hipotética história na qual o Brasil deixaria de ser um dos países campeões em mortes, caso tivesse seguido as orientações de autoridades sanitárias mundiais. O filme está sendo gravado no Brasil e no Canadá, onde o cineasta reside.

“Desde o começo da pandemia, tudo o que acontece na Ásia, na Europa e nos EUA, acontece no Brasil depois um ou dois meses. É como se o Brasil tivesse uma máquina do tempo e soubesse tudo o que vai acontecer. Infelizmente, o governo ignorou essa valiosa ferramenta e apostou em estimular a contaminação generalizada. Assim a pandemia terminaria rápido”, iniciou o cineasta.

Na parte canadense do filme, o documentarista mostrará como o país onde mora lidou melhor que o Brasil na condução das políticas públicas contra o vírus. “Muito ajuda quem não atrapalha, diz o ditado, que no Brasil foi intencionalmente ignorado”, disse.

O documentário será um longa-metragem, com até 85 minutos de duração, com opção de áudios em português e inglês e legenda que inclui o francês. “O filme será dedicado aos filhos que perderam os pais, aos pais que perderam filhos, aos casais que a morte separou e a todos que perderam alguém querido”, finalizou.


Postado em Metrópoles em 14/02/2022



A morte do amigo negacionista



A morte de um amigo que virou bolsonarista também 
pode ser devastadora


Moisés Mendes

Morreu o amigo de adolescência de um grupo que se reúne há um ano e meio no WhatsApp. Esse é o resumo da história verdadeira de um sujeito brincalhão, alegre, falante, o cara aquele que se encaixava em qualquer turma com qualquer assunto e com qualquer tipo de risada, das contidas, compridas ou gargalhadas.

Um colega legal, daqueles que não colocava ninguém a correr se chegasse atrasado numa rodinha de conversa. Isso na segunda metade dos anos 70, no 2º grau, quando a escolha do que se quer ser na vida é uma pela manhã e duas outras à tarde.

O amigo não vacilou muito quando adulto e virou empresário. Quando se reuniam, muito tempo depois, já com famílias, filhos e agregados, ele aparecia.

Eram encontros raros, mas lá estava ele com o mesmo perfil. Outros mudaram um pouco ou muito os jeitos e temperamentos. Ele não. Era sempre o mesmo. Expansivo, assertivo, sempre divertido e agora um homem próspero.

Quando o grupo foi criado no Whats, no começo do ano passado, os colegas se reagruparam. Democratas com ideias progressistas e humanistas e atuando nas mais diversas áreas. E então o amigo aquele apresentou-se ali como se fosse outra pessoa.

O colega sempre leve depois de homem maduro, já com mais de 60 anos, incorporou no Whats um sujeito pesado. Não era mais o tucano que poucos sabiam que havia sido. Era um ativista bolsonarista e negacionista.

O grupo se abateu. O colega passou a pregar contra o isolamento e a vacina e em defesa do kit covid, como se fosse um modelo para cursinho de extremista de direita. Virou uma caricatura absolutista.

O grupo se sentiu constrangido, a maioria debandou em poucos meses, e o colega também foi embora. O adolescente interativo, agregador, divertido, não existia mais.

Mas, quando ele saiu, outros voltaram, sob um clima muito mais de desconforto do que de repulsa e condenação. A turma se reagrupou de novo quando o amigo aquele não estava mais por perto.

Há pouco mais de um mês ficaram sabendo que ele havia sido infectado. Depois, foram informados de que estava na UTI e entubado. E esta semana alguém deu a notícia de que havia morrido.

Poucos antes de morrer, reafirmou nas redes sociais (porque alguém espiava suas postagens) o que pensava da vacina e dos remédios milagrosos de Bolsonaro.

Sei, porque me contaram, que o sentimento de perda foi intenso e dolorido. O grupo agarrou-se à memória do guri divertido, para despedir-se dele, e não do sessentão que havia se apropriado do adolescente do colégio.

A morte nos reapresenta o dilema que, quanto mais a pandemia se espicha, mais fica irresolvido. O que teria virado esse amigo, aos 60 anos, se Bolsonaro não tivesse chegado ao poder e dividido famílias, colegas, vizinhos?

Os amigos que perdemos para a extrema direita em meio à ascensão do bolsonarismo são uma invenção de Bolsonaro, ou Bolsonaro só existe porque esses nossos amigos estavam à espera de um sujeito que incorporasse todas as crueldades e todos os ódios, ressentimentos e preconceitos?

Foi mesmo Bolsonaro quem fez aflorar a índole do amigo que se afastou da turma, ou esse e outros amigos criaram o Bolsonaro poderoso, eleito pelo voto, para que assim pudessem ser representados e se expressar como de fato são ou eram?

A morte de cada amigo da adolescência vai nos tirando aos poucos o que construímos naqueles tempos na direção da eternidade. A morte de um amigo que virou bolsonarista também pode ser devastadora.

Um adulto bolsonarista não deveria ter o direito de dar fim prematuro ao que ele mesmo foi no nosso tempo de colégio. O bolsonarismo tenta destruir até o nosso passado e as nossas melhores memórias.


   Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/





A morte do amigo negacionista



A morte de um amigo que virou bolsonarista também 
pode ser devastadora


Moisés Mendes

Morreu o amigo de adolescência de um grupo que se reúne há um ano e meio no WhatsApp. Esse é o resumo da história verdadeira de um sujeito brincalhão, alegre, falante, o cara aquele que se encaixava em qualquer turma com qualquer assunto e com qualquer tipo de risada, das contidas, compridas ou gargalhadas.

Um colega legal, daqueles que não colocava ninguém a correr se chegasse atrasado numa rodinha de conversa. Isso na segunda metade dos anos 70, no 2º grau, quando a escolha do que se quer ser na vida é uma pela manhã e duas outras à tarde.

O amigo não vacilou muito quando adulto e virou empresário. Quando se reuniam, muito tempo depois, já com famílias, filhos e agregados, ele aparecia.

Eram encontros raros, mas lá estava ele com o mesmo perfil. Outros mudaram um pouco ou muito os jeitos e temperamentos. Ele não. Era sempre o mesmo. Expansivo, assertivo, sempre divertido e agora um homem próspero.

Quando o grupo foi criado no Whats, no começo do ano passado, os colegas se reagruparam. Democratas com ideias progressistas e humanistas e atuando nas mais diversas áreas. E então o amigo aquele apresentou-se ali como se fosse outra pessoa.

Vacinem as crianças ! Quem ama cuida . . .

 









Vacinem as crianças ! Quem ama cuida . . .

 









Com o aumento da contaminação por covid-19 com a variante ômicron todos devemos fazer a nossa parte ! Veja os vídeos !





Sempre é bom rever o vídeo abaixo com a cientista premiada
Natalia Pasternak que demonstra irritação com pessoas que ainda não usam máscara: "Tem gente morrendo"
 



Clique no link abaixo para ler :
 


Com o aumento da contaminação por covid-19 com a variante ômicron todos devemos fazer a nossa parte ! Veja os vídeos !





Sempre é bom rever o vídeo abaixo com a cientista premiada
Natalia Pasternak que demonstra irritação com pessoas que ainda não usam máscara: "Tem gente morrendo"
 



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O Brasil não merece




O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, falou sobre a pandemia do novo coronavírus. E sobre o desgoverno Bolsonaro. Nesse fechamento de 2021. No Último Segundo do iG

Kakay fala que o Brasil não merece

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício interior”, Clarice Lispector.

Quando estávamos imaginando ser possível viver o que se convencionou chamar de “novo normal” – algo que não se sabe bem o que é, mas que ensaia a nossa vida de volta -, eis que nos vemos à beira do velho anormal. Ou será que o “novo normal” é essa volta às angústias e aos sobressaltos?

O fato é que o número excessivo de novos casos de Covid no mundo inteiro nos faz voltar a sentir essa estranha sensação de que estamos, novamente, perto de um colapso. E constatamos, de forma triste e desanimadora, que o governo fascista aqui instalado continua a brincar com vida e a promover o culto à morte.

E o país que sofreu com o descaso sarcástico desse genocida, quando do auge da crise sanitária, tem que voltar a viver com a insensatez, com a ignorância e com a arrogância não só no trato com a nova cepa, mas também no enfrentamento da ciência ao expor a vida das crianças.

A fala do Presidente da República sobre a desnecessidade da vacina para criança e adolescentes, brincando com vida, é a representação do que ele significa. É bom que prestemos atenção nesse padrão de comportamento. Ele não desafia a ciência por desafiar, ele fala para um público que tem a cara dele. Nada é por acaso.

Ele elegeu-se Presidente fazendo apologia à tortura, dizia abertamente que o Coronel Ustra era o seu herói; afirmou que preferia ter um filho morto do que ter um filho gay; ridicularizou as mulheres, os quilombolas e os negros. Enfim, todo o show de horror que choca qualquer pessoa minimamente civilizada. E essa foi a postura dele durante a vida toda e foi o que se ressaltou nas eleições passadas.

Ou seja, não se fez uma campanha tentando mostrar um homem com pensamentos humanitários. Não, ressaltaram o monstro que ele era e é. Para os milhões de seguidores dele, ou boa parte, esse é o perfil que deve ser seguido e admirado. E é esse o recado que ele continua passando para tentar se reeleger. É bom ter isso em mente: observar que ele age dentro de uma estratégia muito própria, e não achar que as eleições já estão definidas.

Talvez, o ponto mais forte que ele deliberadamente mentiu, também como tática, foi fixar suas ações no combate à corrupção. Ao dizer que ele e sua família não eram corruptos, ele desdenhou da realidade e construiu uma ponte com o ex-juiz que corrompeu o sistema de justiça. Sem nenhum escrúpulo, sem sequer corar, ele bateu no peito e falou o que as pessoas queriam ouvir.

Criticar a corrupção como mote de campanha, mesmo tendo a corrupção entranhada até como herança familiar. No caso das rachadinhas, podem ter certeza de que eles nem acham que estavam usando indevida e criminosamente o dinheiro público. Nem ao menos fazem a diferença entre o público e o privado. Essa é a essência do grupo que governa o Brasil. E se orgulham disso. São espertos e chegaram ao poder, é o que importa para eles.

O que devemos refletir, até para as próximas eleições, é sobre esse Brasil que ainda é bolsonarista. E quando falo bolsonarista, incluo também o Moro. Eles são da mesma orientação e possuem a mesma origem no que diz respeito à falta de escrúpulos para atingir o poder. E principalmente para o que fazer com o poder.

Parece claro que uma parte considerável dos brasileiros cansou das barbáries, do descaso e da maneira chula e agressiva do Presidente. Que os mais de 600 mil mortos nessa crise, boa parte pela irresponsabilidade e ganância financeira, estão a rondar o nosso dia a dia e a pedir mudança e respeito. Mas é necessário estar atento. 

Bolsonaro e Moro representam a mesma proposta.

Um levou a Presidência, com a ajuda do outro, e vestiu o figurino do homem simples e que fala diretamente com o povo. Exagerou na idiotice como estratégia por dois motivos: por acreditar que o brasileiro é mesmo idiota e por ser realmente idiota. Não conseguiu depois tirar a máscara pois ela era a realidade.

O outro agora quer ocupar o lugar daquele que ele ajudou a eleger. É a mesma proposta, só muda o figurino. No imaginário popular, só troca a farda pela toga. Nesse ponto, repito, a “conja” estava certa ao dizer que o marido dela, Moro, e Bolsonaro eram a mesma pessoa. Eles se misturam e se merecem, mas o Brasil não merece isso.

Tudo me remete a Pessoa:

“Fiz de mim o que não soube, e o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara”.





O Brasil não merece




O advogado criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, falou sobre a pandemia do novo coronavírus. E sobre o desgoverno Bolsonaro. Nesse fechamento de 2021. No Último Segundo do iG

Kakay fala que o Brasil não merece

“Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício interior”, Clarice Lispector.

Quando estávamos imaginando ser possível viver o que se convencionou chamar de “novo normal” – algo que não se sabe bem o que é, mas que ensaia a nossa vida de volta -, eis que nos vemos à beira do velho anormal. Ou será que o “novo normal” é essa volta às angústias e aos sobressaltos?

O fato é que o número excessivo de novos casos de Covid no mundo inteiro nos faz voltar a sentir essa estranha sensação de que estamos, novamente, perto de um colapso. E constatamos, de forma triste e desanimadora, que o governo fascista aqui instalado continua a brincar com vida e a promover o culto à morte.

E o país que sofreu com o descaso sarcástico desse genocida, quando do auge da crise sanitária, tem que voltar a viver com a insensatez, com a ignorância e com a arrogância não só no trato com a nova cepa, mas também no enfrentamento da ciência ao expor a vida das crianças.

A fala do Presidente da República sobre a desnecessidade da vacina para criança e adolescentes, brincando com vida, é a representação do que ele significa. É bom que prestemos atenção nesse padrão de comportamento. Ele não desafia a ciência por desafiar, ele fala para um público que tem a cara dele. Nada é por acaso.

Ele elegeu-se Presidente fazendo apologia à tortura, dizia abertamente que o Coronel Ustra era o seu herói; afirmou que preferia ter um filho morto do que ter um filho gay; ridicularizou as mulheres, os quilombolas e os negros. Enfim, todo o show de horror que choca qualquer pessoa minimamente civilizada. E essa foi a postura dele durante a vida toda e foi o que se ressaltou nas eleições passadas.

Ou seja, não se fez uma campanha tentando mostrar um homem com pensamentos humanitários. Não, ressaltaram o monstro que ele era e é. Para os milhões de seguidores dele, ou boa parte, esse é o perfil que deve ser seguido e admirado. E é esse o recado que ele continua passando para tentar se reeleger. É bom ter isso em mente: observar que ele age dentro de uma estratégia muito própria, e não achar que as eleições já estão definidas.

Talvez, o ponto mais forte que ele deliberadamente mentiu, também como tática, foi fixar suas ações no combate à corrupção. Ao dizer que ele e sua família não eram corruptos, ele desdenhou da realidade e construiu uma ponte com o ex-juiz que corrompeu o sistema de justiça. Sem nenhum escrúpulo, sem sequer corar, ele bateu no peito e falou o que as pessoas queriam ouvir.

Criticar a corrupção como mote de campanha, mesmo tendo a corrupção entranhada até como herança familiar. No caso das rachadinhas, podem ter certeza de que eles nem acham que estavam usando indevida e criminosamente o dinheiro público. Nem ao menos fazem a diferença entre o público e o privado. Essa é a essência do grupo que governa o Brasil. E se orgulham disso. São espertos e chegaram ao poder, é o que importa para eles.

O que devemos refletir, até para as próximas eleições, é sobre esse Brasil que ainda é bolsonarista. E quando falo bolsonarista, incluo também o Moro. Eles são da mesma orientação e possuem a mesma origem no que diz respeito à falta de escrúpulos para atingir o poder. E principalmente para o que fazer com o poder.

Parece claro que uma parte considerável dos brasileiros cansou das barbáries, do descaso e da maneira chula e agressiva do Presidente. Que os mais de 600 mil mortos nessa crise, boa parte pela irresponsabilidade e ganância financeira, estão a rondar o nosso dia a dia e a pedir mudança e respeito. Mas é necessário estar atento. 

Bolsonaro e Moro representam a mesma proposta.

Um levou a Presidência, com a ajuda do outro, e vestiu o figurino do homem simples e que fala diretamente com o povo. Exagerou na idiotice como estratégia por dois motivos: por acreditar que o brasileiro é mesmo idiota e por ser realmente idiota. Não conseguiu depois tirar a máscara pois ela era a realidade.

O outro agora quer ocupar o lugar daquele que ele ajudou a eleger. É a mesma proposta, só muda o figurino. No imaginário popular, só troca a farda pela toga. Nesse ponto, repito, a “conja” estava certa ao dizer que o marido dela, Moro, e Bolsonaro eram a mesma pessoa. Eles se misturam e se merecem, mas o Brasil não merece isso.

Tudo me remete a Pessoa:

“Fiz de mim o que não soube, e o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara”.





Dançando como efeito colateral ! Alguém imaginaria ?




FESTA DE UM

Martha Medeiros

No período de 18 meses, as portas do mundo fecharam, ninguém entrou, ninguém saiu. De fronteiras a residências, isolamento foi a palavra adotada. Quem ainda circulava pelas ruas, não fazia por diversão: atendia doentes, comprava mantimentos, ia à farmácia e voltava direto pra casa, sem a habitual passadinha no bar ou na academia no final da tarde. Diante das estatísticas trágicas, e por respeito a tantas perdas, pouco se falou na solidão como efeito colateral da pandemia.

E efeito sério, solidão deprime. Não a todos - há quem lide muito bem com a própria companhia -, mas o ser humano é gregário, sente falta de se juntar, misturar, confraternizar, coisas que só agora, vacinados e aos poucos, tomando os cuidados necessários, começamos a nos atrever. Mas demorou. Antes dessa lenta alforria, foi um tal de dialogar com o espelho do banheiro, passar um tempão no sofá maratonando séries, bater papo com os amigos por WhatsApp, pedir comida por delivery e engordar. Pois é, não bastasse a deprê, solidão engorda. Muita gente ganhou uns quilinhos extras durante o recuo forçado.

Mas a gente se entrega? Se entrega nada. Crises estão aí para serem revertidas, compensadas. Se você não reparou, eu reparei: durante o confinamento, o pessoal começou a dançar entre quatro paredes. Quem estava namorando ou estava casado quando o coronavírus chegou para estragar a festa (e manteve-se heroicamente casado, apesar do excesso de grude), passou a fazer bailinho na sala, pagode na cozinha, ensaiou um tango no corredor. Uma pequena caixa de som, uma boa playlist no Spotify e quem diria? Bebida por conta da casa.

Já quem foi surpreendido pela pandemia em plena entressafra amorosa, sem um par perfeito ou imperfeito, se virou como? Do mesmo jeito. Fez festa de um. Suou a camiseta como se estivesse na pista, cantou alto sem medo de acordar a vizinhança, levantou os braços como se não houvesse amanhã - e ninguém sabia se haveria mesmo. Quem não soltou suas feras, nem caiu na gandaia, ficou mais triste e pesado.

Nunca precisei de uma ameaça global para dançar em casa, mas agora peguei gosto pra valer e enquanto não fraturar uma vértebra, continuarei com minha rave individual ou a dois (ambas as modalidades disponíveis por aqui), embalada por Fade Out Lines (The Avener), Ring My Bell (Anita Ward), Don´t Think I Could Forgive You (Tell me Lies), The Only Thing (Claptone), Save Your Tears (The Weeknd), Sunshine (Cat Dealers, LOthief, Santti), Again & Again (Oliver Tree) e outras músicas da minha playlist específica para noites incontidas. As sugestões são brinde da colunista. De nada.

Se não é meio ridículo dançar sozinho? Pode acreditar, é maravilhosamente ridículo.





Dançando como efeito colateral ! Alguém imaginaria ?




FESTA DE UM

Martha Medeiros

No período de 18 meses, as portas do mundo fecharam, ninguém entrou, ninguém saiu. De fronteiras a residências, isolamento foi a palavra adotada. Quem ainda circulava pelas ruas, não fazia por diversão: atendia doentes, comprava mantimentos, ia à farmácia e voltava direto pra casa, sem a habitual passadinha no bar ou na academia no final da tarde. Diante das estatísticas trágicas, e por respeito a tantas perdas, pouco se falou na solidão como efeito colateral da pandemia.

E efeito sério, solidão deprime. Não a todos - há quem lide muito bem com a própria companhia -, mas o ser humano é gregário, sente falta de se juntar, misturar, confraternizar, coisas que só agora, vacinados e aos poucos, tomando os cuidados necessários, começamos a nos atrever. Mas demorou. Antes dessa lenta alforria, foi um tal de dialogar com o espelho do banheiro, passar um tempão no sofá maratonando séries, bater papo com os amigos por WhatsApp, pedir comida por delivery e engordar. Pois é, não bastasse a deprê, solidão engorda. Muita gente ganhou uns quilinhos extras durante o recuo forçado.

Relatos emocionantes de vítimas da Covid-19 na CPI do Senado em 18/10/2021

 




Veja outros relatos emocionantes a partir do ponto 2:13:30 até 3:05:59 no vídeo abaixo:



Abaixo Carlos Harmitt comenta os emocionantes relatos das vítimas da Covid-19 






Relatos emocionantes de vítimas da Covid-19 na CPI do Senado em 18/10/2021

 


Relato de jovem que perdeu os pais com covid emociona até o intérprete de Libras

 


Intérprete de libras se emociona durante relato de jovem que perdeu os pais na pandemia (vídeo)


"Se ele tivesse ideia do mal que ele faz para a nação, além de todo o mal que ele fez, ele não faria isso", diz Giovanna Mendes, que perdeu pais para a Covid, sobre Bolsonaro não se vacinar.

Agência Senado com 247 - A jovem Giovanna Gomes Mendes da Silva, de 19 anos, ficou órfã e agora vai ter a guarda da irmã de 11 anos. Ela contou à CPI da Pandemia ter perdido a mãe, que era transplantada e fazia hemodiálise, para o covid-19, e o pai, que sofria de câncer e também teve covid-19. Segundo Giovanna, a mãe ficou intubada por oito dias.

"Eu vi que eu precisava da minha irmã e ela precisava de mim. A partir daí eu pensei que eu não poderia mais ficar sem ela, então decidi que precisava mesmo ficar com a guarda dela. Eu assumi esse desafio por amor", disse Giovanna que relatou as dificuldades para o tratamento dos pais e o desafio de cuidar da irmã.

Giovanna Mendes contou que a mãe era transplantada e fazia hemodiálise. "Meu pai também ficou internado neste período. ele se recuperou, tinha doença pré-existente, tinha um câncer, quando ele saiu do tratamento da covid, que tinha se recuperado teve que ser internado de novo porque o câncer havia se generalizado. Dois dias depois do falecimento da minha mãe ele voltou a ser internado. Não tive nem oportunidade de chorar a morte da minha mãe. ele passou 13 dias internados e veio a óbito também. Não perdemos só os pais, perdemos uma vida de alegria. Hoje temos uma vida triste", afirmou a jovem.







Relato de jovem que perdeu os pais com covid emociona até o intérprete de Libras

 


Intérprete de libras se emociona durante relato de jovem que perdeu os pais na pandemia (vídeo)


"Se ele tivesse ideia do mal que ele faz para a nação, além de todo o mal que ele fez, ele não faria isso", diz Giovanna Mendes, que perdeu pais para a Covid, sobre Bolsonaro não se vacinar.

Agência Senado com 247 - A jovem Giovanna Gomes Mendes da Silva, de 19 anos, ficou órfã e agora vai ter a guarda da irmã de 11 anos. Ela contou à CPI da Pandemia ter perdido a mãe, que era transplantada e fazia hemodiálise, para o covid-19, e o pai, que sofria de câncer e também teve covid-19. Segundo Giovanna, a mãe ficou intubada por oito dias.

"Eu vi que eu precisava da minha irmã e ela precisava de mim. A partir daí eu pensei que eu não poderia mais ficar sem ela, então decidi que precisava mesmo ficar com a guarda dela. Eu assumi esse desafio por amor", disse Giovanna que relatou as dificuldades para o tratamento dos pais e o desafio de cuidar da irmã.

600 mil mortes e o Senhor da Morte

 





600 mil mortes e o Senhor da Morte

 





O abraço





O abraço só deixou de ser vulgar quando a pandemia

 o tornou problemático


Boaventura de Sousa Santos (*)

No passado dia 28 de Agosto de 2021 às 16.30 dei o primeiro abraço a alguém fora do círculo das poucas pessoas íntimas que convivem comigo diariamente, quinhentos e vinte cinco dias depois de me ter isolado na minha aldeia a 30km de Coimbra devido à pandemia. O que senti não tem descrição possível. Foi um ato incondicional, uma presença demasiado forte para poder ser objeto de planeamento ou representação. Sentir as minhas mãos deslizar e apertar outro corpo contra o meu, era algo tão familiar quanto estranho. O prazer de outro corpo contra o meu era mais que erótico. Era a verdade carnal da existência, uma prova de ser. Depois veio medo, mas seria medo ou punição pelo prazer? Terá sido um ato impensado e desnecessariamente arriscado? Seria preciso retreinar os sentidos e reaprender a lidar com as emoções do contacto físico e com o conforto desafiador que delas deriva? Teria eu estado sujeito a uma prolongada privação do toque e do tacto de outros seres vivos que não os estritamente familiares, entre humanos, gatos e cães?

Porque não me ocorrera durante a longa privação pandémica abraçar árvores, como fazem muitos ecologistas para sentirem a energia desses maravilhosos seres vivos que ligam de modo tão natural a profundeza da terra e a altura do céu, algo que é tão difícil para os humanos treinados na cultura ocidental? Por que é que abraçar as árvores (e tantas tenho no meu quintal), que eu poderia abraçar sem ter medo de ser por elas contaminado pelo coronavírus, não me daria a mesma indescritível emoção que me invadiu ao abraçar e sentir o corpo quente de um ser humano amigo? Por que é que esta verdade carnal da vibração incontida de um abraço escapa à reflexão e só como surpresa invade a consciência como uma avalanche solta e “irracional”, de modo menos previsível que um tsunami ou um terramoto? Sendo certo que em certas culturas há quem não possa ser tocado, quer por ser demasiado superior quer por ser demasiado inferior, como funcionará a vibração dos corpos sem toque?

Esta verdade carnal dos corpos e das relações humanas é o dia-a-dia de todos os seres humanos que não fazem do corpo (próprio ou alheio) e das relações humanas um instrumento de diagnóstico científico, um objecto de lucro ou um motivo de especulação filosófica, mas raramente ocorre ou se impõe a intelectuais e filósofos. Quando isso ocorre, o que é muito raro, faz deles seres muito especiais.

Lembro-me de Michel de Montaigne que, nos seus Essais, escritos por volta de 1570, escreve sobre o que verdadeiramente conhece, o seu corpo e as surpresas e contradições das relações humanas. Por isso, dedica um ensaio à arte de conversar e da confrontação oral e discorre sobre o prazer de comer ostras, mesmo tendo de sofrer as cólicas que elas podem vir a causar. Mas o caso mais notável é o de Albert Camus e a sua incessante luta contra as ideias abstractas, a que contrapõe a verdade carnal da morte e do sofrimento concretos. Numa sessão na Universidade de Estocolmo, por ocasião da entrega do Prémio Nobel da Literatura em 1957, quando interpelado agressivamente por um ativista islâmico sobre a independência de Argélia e a questão da violência, Camus respondeu: “terrorismo nas ruas de Argel… poderia matar a minha mãe ou a minha família. Eu creio na justiça, mas defenderei a minha mãe acima da justiça”. A sua mãe valia mais para ele do que qualquer ideia abstrata.

O abraço e a cultura

A verdade carnal do abraço depois de tanto desuso e a emoção com que me abalou fez-me refletir sobre o abraço. 

Os poetas desde sempre contemplaram as ambiguidades do abraço. Florbela Espanca canta, num dos sonetos, o “lânguido e doce” abraço de “Dona Morte”. Pablo Neruda dedica-lhe um poema de amor: “Em teu abraço eu abraço o que existe / a areia, o tempo, a árvore da chuva / E tudo vive para que eu viva: / sem ir tão longe posso vê-lo todo: / veio em tua vida todo o vivente.” António Ramos Rosa recusa-se a adiá-lo, e ao amor: “Não posso adiar este abraço / que é uma arma de dois gumes / amor e ódio”. E Ana Luísa Amaral canta rupestres saudades de “fresco e doloroso abraço”. 

Já Shakespeare tinha mostrado um derrotado Henrique VI a não ter escolha senão “abraçar o amargo infortúnio”. Por sua vez, o grande poeta, matemático, astrónomo e filósofo persa do século XI, Omar Khayyam, ousou perguntar-se pelo maternal, derradeiro abraço que tudo apazigua. Muitos séculos mais tarde, o grande poeta turco, Nâzim Hakmet, haveria de cantar o desejo do seu povo – “honesto, trabalhador, valente, meio saciado, meio faminto, meio escravo…” – de abraçar tudo o que fosse “moderno, belo e bom”.

Entretanto, descobri que psicólogos, etólogos, antropólogos e estudiosos da cultura têm dedicado longas páginas ao estudo de tão simples fenómeno, tão comum entre humanos como entre animais, mas com tantas variações e tão diferentes significados. 

O termo vem do latim, “bracchia collo circundare”, pôr os braços à volta do pescoço. É um ato que transmite afabilidade, simpatia, ausência de hostilidade, um gesto que entre humanos tanto ocorre no início de um encontro como na despedida. Os animais também se abraçam mas, ao contrário dos humanos, abraçam-se de frente e de costas, e, pelo menos os animais domésticos, não parecem abraçar-se nunca à despedida. 

A fenomenologia do abraço é muito complexa e tem sido objecto de minucioso estudo: os movimentos de aproximação, as expressões corporais, a fixação do olhar, a duração, a maior ou menor pressão dos corpos apertados no abraço, o contacto ou não de zonas tabu no encontro de corpos de sexo diferente, o toque na cabeça ou na cara, o âmbito do deslizar das mãos nas costas ou nos ombros do parceiro sem causar desconforto. O contato corporal é fundamental para os recém-nascidos e o abraço da mãe é rapidamente identificado com sentimentos de alegria, conforto e confiança, que são depois reproduzidos quando abraçam bonecos ou brinquedos. 

Por outro lado, há um ramo do conhecimento, a proxémica, dedicado a estudar a relativa distância que as pessoas em diferentes culturas ou com diferentes características psicológicas consideram ser necessário manter entre si e outra pessoa, numa interacção normal, sem sentirem desconforto. Por exemplo, pessoas extrovertidas exigem menos distância que as introvertidas ou com distúrbios psicológicos. A zona de distância entre os corpos no abraço é considerada a zona íntima, entre 0 e 15 cm. Considera-se hoje que essa distância está relacionada com factores genéticos, ambientais, práticas culturais, papéis sociais, infância, religião. 

No mundo ocidental (sobretudo anglo-saxónico), os homens tendem a preferir o aperto de mão ao abraço, enquanto as mulheres entre si preferem o abraço. Tudo isto me parece fascinante, embora nada me diga sobre o que senti quando abracei o visitante bem-vindo e de quem tinha tantas saudades. E também não me explica por que razão, nesse preciso momento, um simples aperto de mão (sobretudo se seguido de desinfecção), longe de ser um acto afectivo, significaria distância, desconforto e até hostilidade. 

A ciência do abraço não ensina a abraçar, nem é esse o seu propósito. Mas não deixa de ser interessante conhecer os diferentes significados culturais que esse ato tão vulgar pode ter. Afinal, o abraço só deixou de ser vulgar quando a pandemia o tornou problemático, e foi então que, perante a sua perda, passámos a apreciá-lo verdadeiramente.

O significado do abraço está inscrito em muitas culturas. Na Bíblia, é pelo abraço que se dá a reconciliação entre Esaú e Jacob: “Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço e beijou-o; e choraram”. É sabido que os povos latinos e africanos têm uma maior necessidade ou uma maior disponibilidade para se abraçar e de o fazer mais efusivamente, ainda que nos países africanos de cultura islâmica, os abraços ocorram apenas entre humanos do mesmo sexo. A duração do abraço está sempre relacionada com a intensidade da emoção, que tanto pode estar relacionada com felicitações como com condolências. Enquanto na Rússia, na França e em certas regiões da Europa de Leste o abraço entre homens seguido de beijo na face é comum, tal não acontece noutros países. Mas enquanto na Europa do Sul o abraço é uma saudação comum, na Europa do Norte a saudação comum é o aperto de mão. Nas diferentes culturas islâmicas, o contato corporal entre homens e mulheres no espaço público é mais raro, a distância na interação tende a ser maior, e o abraço pode mesmo ser proscrito.

A população branca dos EUA é tão pouco atreita a abraçar-se, pelo menos em público, que Kevin Zaborney propôs em 1989 que o dia 21 de Janeiro passasse a ser dia nacional do abraço para desenvolver sentimentos de confiança e de segurança entre familiares e entre amigos. Não surpreende que os sessenta milhões de latinos que vivem nos EUA, que tão gostosamente mostram a sua diferença em relação à população branca ao abraçar-se profusamente entre si, tenham sofrido tanta privação psicológica durante a pandemia. Segundo alguns relatos, a propagação da infecção entre latinos esteve relacionada, entre muitos outros factores, com os abraços e a proximidade corporal, de tal modo entranhados na cultura, que não puderam ser dispensados, apesar dos riscos.

O abraço e a saúde

São Hojin Zaborney propôs o dia nacional do abraço para melhorar a comunicação humana e diminuir os níveis de stress e de hostilidade. Curiosamente, o Brasil também celebra o dia anual do abraço, mas a 22 de Maio, e não é porque faltem abraços nas relações entre os brasileiros e as brasileiras. É apenas para celebrar a magia do contacto corporal da amizade e da afectividade e do apoio mútuo, tão necessária nos momentos que correm. 

Os mais conhecidos efeitos físicos do abraço são a produção da ocitocina, considerada a hormona do amor pelo seu papel na diminuição da ansiedade, na melhoria do humor e no aumento da afectividade. Também diminui a agressividade do humano masculino, tornando-o mais amável, generoso e social. O abraço baixa a tensão arterial e, segundo alguns especialistas, aumenta a imunidade do corpo, o que não deixa de ser irónico e mesmo cruel em tempos de pandemia: quanto mais necessidade teríamos de nos abraçar, mais perigoso isso se torna em razão da possibilidade de contágio. O ser humano em pleno labirinto da sua potência e limitação. A inconformidade prometeica com tal contradição levou à engenharia do abraço a nós próprios como se fôssemos outrem. Refiro-me à invenção do Sense Roid, o manequim coberto de sensores tácteis, fato táctil com motores de vibração e músculos artificiais que recriam a sensação do abraço. O Sense-Roid foi criado pela Universidade de Electrocomunicações do Japão e pode ser comprado na Amazon. 

À primeira vista, parece estarmos na fronteira da distopia pós-humana. Mas, afinal, a estranheza que nos causa será diferente da que causaram no início da sua comercialização os vibradores sexuais, considerados hoje um acessório comum? Contra este fix tecnológico, que torna o solitário em espelho perverso do solidário, parece crescer entre os jovens o hábito de se abraçarem para se sentirem mais apoiados, mais íntimos e mais afetuosos. Em tempos de pandemia, talvez corram riscos, mas o risco maior não será viver como se morre? Só.


(*) Diretor Emérito do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra












O abraço





O abraço só deixou de ser vulgar quando a pandemia

 o tornou problemático


Boaventura de Sousa Santos (*)

No passado dia 28 de Agosto de 2021 às 16.30 dei o primeiro abraço a alguém fora do círculo das poucas pessoas íntimas que convivem comigo diariamente, quinhentos e vinte cinco dias depois de me ter isolado na minha aldeia a 30km de Coimbra devido à pandemia. O que senti não tem descrição possível. Foi um ato incondicional, uma presença demasiado forte para poder ser objeto de planeamento ou representação. Sentir as minhas mãos deslizar e apertar outro corpo contra o meu, era algo tão familiar quanto estranho. O prazer de outro corpo contra o meu era mais que erótico. Era a verdade carnal da existência, uma prova de ser. Depois veio medo, mas seria medo ou punição pelo prazer? Terá sido um ato impensado e desnecessariamente arriscado? Seria preciso retreinar os sentidos e reaprender a lidar com as emoções do contacto físico e com o conforto desafiador que delas deriva? Teria eu estado sujeito a uma prolongada privação do toque e do tacto de outros seres vivos que não os estritamente familiares, entre humanos, gatos e cães?

Porque não me ocorrera durante a longa privação pandémica abraçar árvores, como fazem muitos ecologistas para sentirem a energia desses maravilhosos seres vivos que ligam de modo tão natural a profundeza da terra e a altura do céu, algo que é tão difícil para os humanos treinados na cultura ocidental? Por que é que abraçar as árvores (e tantas tenho no meu quintal), que eu poderia abraçar sem ter medo de ser por elas contaminado pelo coronavírus, não me daria a mesma indescritível emoção que me invadiu ao abraçar e sentir o corpo quente de um ser humano amigo? Por que é que esta verdade carnal da vibração incontida de um abraço escapa à reflexão e só como surpresa invade a consciência como uma avalanche solta e “irracional”, de modo menos previsível que um tsunami ou um terramoto? Sendo certo que em certas culturas há quem não possa ser tocado, quer por ser demasiado superior quer por ser demasiado inferior, como funcionará a vibração dos corpos sem toque?

Esta verdade carnal dos corpos e das relações humanas é o dia-a-dia de todos os seres humanos que não fazem do corpo (próprio ou alheio) e das relações humanas um instrumento de diagnóstico científico, um objecto de lucro ou um motivo de especulação filosófica, mas raramente ocorre ou se impõe a intelectuais e filósofos. Quando isso ocorre, o que é muito raro, faz deles seres muito especiais.

Lembro-me de Michel de Montaigne que, nos seus Essais, escritos por volta de 1570, escreve sobre o que verdadeiramente conhece, o seu corpo e as surpresas e contradições das relações humanas. Por isso, dedica um ensaio à arte de conversar e da confrontação oral e discorre sobre o prazer de comer ostras, mesmo tendo de sofrer as cólicas que elas podem vir a causar. Mas o caso mais notável é o de Albert Camus e a sua incessante luta contra as ideias abstractas, a que contrapõe a verdade carnal da morte e do sofrimento concretos. Numa sessão na Universidade de Estocolmo, por ocasião da entrega do Prémio Nobel da Literatura em 1957, quando interpelado agressivamente por um ativista islâmico sobre a independência de Argélia e a questão da violência, Camus respondeu: “terrorismo nas ruas de Argel… poderia matar a minha mãe ou a minha família. Eu creio na justiça, mas defenderei a minha mãe acima da justiça”. A sua mãe valia mais para ele do que qualquer ideia abstrata.

O abraço e a cultura

A verdade carnal do abraço depois de tanto desuso e a emoção com que me abalou fez-me refletir sobre o abraço.