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O Buraco Negro está aqui, engolindo Lulas e Assanges






Neto Tavares

O buraco negro é uma enorme quantidade de massa concentrada em um espaço assaz reduzido. Seu campo gravitacional é tão forte que ele atrai para si tudo o que se aproxima dele, inclusive a luz.

Incarna-se como tal, alegoricamente, o movimento obscurantista mundial que nos assola à présent. Na seara geopolítica global, as forças totalitárias contemporâneas parecem engolir para seu corpo caótico o progresso civilizatório, manifestado, por exemplo, através das tradicionais e novas ciências, do bom senso moral dos indivíduos, da liberdade de se expressar, de denunciar descalabros – como os crimes de lesa-humanidade cometidos no Iraque e no Afeganistão - fabricados nos porões do Deep State americano e também por uma política que conseguiu dignificar ao menos trinta milhões de pessoas que sofriam com a fome.

Alongando a metáfora, é sabido que dentro de um buraco negro o espaço-tempo é deformado. Por que não, por conseguinte, acatar a possibilidade de que voltamos aos tempos da escravidão e do colonialismo, encampados pelo falso e subserviente Messias, da caça às bruxas e à idade da força bruta, exemplificadas pela destruição de um projeto soberano de poder e pelo assassinato do direito de asilo e da legítima liberdade de expressão?

Lula e Assange são duas faces da mesma gigantesca moeda americana. Estão os dois incrivelmente ligados nesse processo de aniquilação das vozes progressistas imprimido pelas forças mais maquiavélicas do buraco negro.

O novo processo de tomada da América Latina pelos Estados Unidos (também conhecido como Make Latin America Quintal Again), evidenciado pela destituição de Dilma, pelas perseguições a Rafael Correa e Cristina Kirchner, com o cerco à soberania venezuelana e especialmente pela prisão de Lula, foi brilhante e veementemente denunciado por Julian Assange. Os vinte e nove grampos de telefones do governo Dilma, revelados pelo Wikileaks, são outra bela amostra da força caoticamente avassaladora do Deep State. 

Desse maneira e por conseguinte, a decadência do império gerador do buraco negro terráqueo o faz agir com a mão pesada. Praticam, “karmicamente”, a pior forma de terrorismo. Atentam contra o jornalismo investigativo, assassinam as leis do direito internacional e a soberania das nações. Estrangulam com a mão da “democracia” o pescoço da liberdade (precisa frase de Maria Zakharova, representante da chancelaria russa).

Nesse mesmo tom, Chomsky, visceral como de costume, afirmou que a caça a Assange é bastante similar à que sofreu e continua sofrendo Lula. Segundo ele, há uma tentativa de silenciar as vozes de ambos, lembrando da prisão de Gramsci sob o fascismo. Chomsky ressalta a proibição de Lula fazer declarações públicas e afirma que "ele é o prisioneiro político mais importante do mundo. Você ouve alguma coisa [na imprensa] sobre isso? Bem, Assange é um caso similar: temos que silenciar essa voz."

A exacerbação do poder geoestratégico dos EUA, c’est à dire a perseguição covarde que se manifesta na tentativa de silenciamento das duas vozes mais ressonantes atualmente no que diz respeito à luta pelo estabelecimento de uma sociedade mais transparente e igualitária é, muito provavelmente, o último esforço de um imperialismo capenga que sente mas não aceita a ascensão inexorável da China ao posto de primeira potência mundial. Sem falar dos russos, que detêm o maior poderio militar e que trabalham eficazmente com os chineses no projeto Euroasiático.

É incontestável que o buraco negro sugou, nestes nossos tempos nebulosos, este cordão de elevação civilizatória umbilicalmente ligado de Lulas a Assanges (ou vice-versa). O lawfare produzido contra esses dois gigantes personagens deste século e muito bem denunciado por Geoffrey Robertson, advogado de ambos (coincidência?), é mais uma batalha vencida pela força tirânica. Só que a guerra pelo domínio do discurso político está longe do seu fim. Esta luta é secular.

Prefiro, assim, acreditar na teoria de Stephen Hawking sobre a possibilidade de chegarmos a outros universos depois da passagem por um buraco negro. "Se cair em um buraco negro, não se renda", disse Hawking em uma entrevista coletiva em Estocolmo, na Suécia. "Há uma saída." Em 2004, Hawking surpreendeu o mundo com um novo estudo, denominado O Paradoxo da Informação em Buracos Negros, em que mudava sua própria versão: em vez de absorver tudo, os buracos negros permitem que certas radiações escapem. Deste modo, um buraco negro deixaria de ser o poço infinito que destrói tudo o que cai nele, e sua fronteira não estaria tão definida como se pensava.

As luzes radiantes de Lula e Assange são tão potentes que conseguirão escapar desse buraco para o qual a humanidade foi haurida. Criarão, com a ajuda de todos nós perseguidos políticos, um processo cósmico que desencadeará num universo mais humano, sincero, verdadeiro, respeitoso e igualitário.



Neto Tavares   Neto Tavares  -  Formado em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco. Estágio no Tribunal de Contas de Pernambuco. Advogado com ênfase em Direito Constitucional.













Prisão de Assange mostra tempos tirânicos





Paulo Moreira Leite

Nunca houve um jornalista como Julian Assange. Sua crença revolucionária na liberdade permitiu que homens e mulheres do início do século XXI tivessem uma noção clara e verdadeira dos sistemas de poder que administram o cotidiano de povos e países. Assange abriu caminho para revelações essenciais -- como os vazamentos de Edward Snowden, analista da CIA que hoje vive refugiado na Russia. Modificou nossa forma de enxergar por dentro a trama política de um mundo dominado por uma potência imperial única, os Estados Unidos.

Em situações normais, as portas de acesso aos protagonistas que tecem os grandes enredos de uma época só costumam abrir-se quando os fatos já se tornaram assunto de museu e dos livros de memória. É um conhecimento editado e seletivo, condicionado por outras urgências e necessidades além do conhecimento. O esforço de Assange era exibir a realidade em tempo real, em toda brutalidade, fora de cálculos e conveniências.

Pelo impacto imediato, seu trabalho pode ser comparado ao vazamento dos chamados papéis do Pentágono, em 1971. Através deles, o analista militar Daniel Ellsberg revelou ao povo norte americano que Richard Nixon sabia que nunca seria capaz de vencer a guerra do Vietnã -- e mesmo assim insistia em levar a juventude do país para matar e morrer no sudeste asiático. 

Com uma energia 100% subversiva, distante de concessões e acordos com as fontes que marcam o cotidiano do jornalismo -- e permitem a sobrevivência regular da atividade no mundo em que vivemos --, Assange estava submetido a uma existência de risco, fugas e movimentos discretos. Após a divulgação dos documentos sobre o Iraque e o Afeganistão, com os quais o Wikileaks se apresentou ao mundo, passaram-se dois anos. Passou sete confinado na Embaixada do Equador em Londres, onde foi entregue pelo governo de Lenin Moreno para a polícia inglesa, que o mantém detido, antes de ser embarcado para julgamento e provável condenação nos Estados Unidos. Embora não se conheça um único país no qual a liberdade de expressão tenha deixado de ser um direito assegurado pela Constituição, a prisão de Julian Assange é um sintoma do ambiente de tirania de nossa época.

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