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Olavo de Carvalho (1947 – 2022) : Morre um pústula

 


Reconhecer isso mesmo com o corpo ainda quente é obrigatório, porque sua vida foi dedicada ao ódio e à violência contra grupos sociais. Esconder é de alguma forma invizibilizar essa violência, esse horror que foi por ele incentivado em vida.

Renato Rovai

Não comemoro mortes. É algo que assumi como um dogma. A morte envolve muitos sentimentos para além do finado que precisam ser respeitados.

Já vi gente comemorando a morte de filhos de adversários políticos, de atores e até de jogadores de futebol. Acho que isso revela mais sobre a pessoa do que sobre o morto ou seu familiar que é alvo do ódio.

Não vou abrir uma champanhe pela morte de Olavo de Carvalho e nem ao menos sair por aí dizendo “bem feito, quem mandou não se vacinar”. Mas ao mesmo tempo não vou deixar de dizer que quem morre é um dos mais tóxicos dos seres humanos que teve algum tipo de destaque no debate público desde a democratização do Brasil em 1985.

Olavo foi um cancro para a democracia brasileira. Ele, em conjunto com a família Bolsonaro, transformou em herói para uma parcela da população gente como Ustra. Só por isso mereceria todos os repúdios mesmo no dia da sua morte. Mas mais do que isso, incentivou ódio a gays, violência contra pessoas que chamava de globalistas, todo tipo de discriminação e ainda convenceu milhões a lutarem contra a vacina chinesa o que levou dezenas de milhares à morte, inclusive ele.

Morre um pústula. Essa é a verdade. E reconhecer isso mesmo com o corpo ainda quente é obrigatório, porque sua vida foi dedicada ao ódio e à violência contra grupos sociais. Esconder é de alguma forma invizibilizar essa violência, esse horror que foi por ele incentivado em vida.

Mesmo morto, Olavo deixa seguidores. E por isso precisará continuar a ser combatido. Sua história de crápula e de alguém deletério aos direitos humanos e ao processo civilizatório tem que ser discutida como algo a ser superado pela sociedade para que pessoas assim não tenham mais tanto espaço para combater a democracia por dentro.

Olavo provavelmente vai definhar enquanto guru. Mas isso também depende de nós. Os erros dos democratas em não valorizar a cultura e a educação e ao mesmo tempo não diminuir as injustiças sociais é que abrem espaço para gente assim se tornar referência e liderança.

Olavo morre e é hora de aproveitar a oportunidade para enterrar junto com ele o olavismo e todo o mal que ele representou ao Brasil.





Renato Rovai é graduado em jornalismo pela Universidade Metodista, mestre em comunicação pala Universidade de São Paulo e doutorado em ciências humanas e sociais pela Universidade Federal do ABC. É professor de jornalismo digital na Faculdade Cásper Líbero e blogueiro.

Professor convidado do Centro Latino-Americano de Cultura e Comunicação da ECA-USP e diretor editorial da Revista Fórum. Militante da democratização da mídia, articulou o Fórum de Mídia Livre e do Encontro Nacional dos Blogueiros.

Trabalhou nos jornais Diário do Grande ABC, Diário de Minas, Diário Popular, TV Gazeta e Editora Globo.

Criou a editora Publisher Brasil, em 1994. Em 2001, lançou a Revista Fórum, no primeiro Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, a revista teve a sua versão impressa até o ano de 2013, a partir de 2014 a Revista Fórum passou a ser digital.



Olavo de Carvalho


Para ler mais clique nos links abaixo :

















Olavo de Carvalho (1947 – 2022) : Morre um pústula

 


Reconhecer isso mesmo com o corpo ainda quente é obrigatório, porque sua vida foi dedicada ao ódio e à violência contra grupos sociais. Esconder é de alguma forma invizibilizar essa violência, esse horror que foi por ele incentivado em vida.

Renato Rovai

Não comemoro mortes. É algo que assumi como um dogma. A morte envolve muitos sentimentos para além do finado que precisam ser respeitados.

Já vi gente comemorando a morte de filhos de adversários políticos, de atores e até de jogadores de futebol. Acho que isso revela mais sobre a pessoa do que sobre o morto ou seu familiar que é alvo do ódio.

As mentiras do canalha na ONU




Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay

Logo no início da pandemia, quando comecei a escrever sobre os desmandos deste Presidente desalmado e desumano na condução criminosa da crise sanitária, propus que ele fosse processado não somente pelos crimes contra a saúde pública, mas também por genocídio. Escrevi sobre isso em maio de 2020 e fiz várias lives defendendo a criminalização da conduta desse fascista. Fui muito criticado por vários amigos que tinham o cuidado sobre a exata tipificação da conduta desse criminoso. Uma preocupação técnica que eu respeito, mas que não me comove.

O ar que começava a faltar para milhares de brasileiros tragados pela nuvem tóxica que exalava desse governo me turvava os olhos. Agia por impulso, usando o que a advocacia e a vida me deram de mais precioso: a capacidade de poder falar e escrever. Quis fazer da minha voz a voz daqueles que começavam a sofrer os efeitos de uma política perversa e cruel. Já trazia a indignação para o debate que se avizinhava na certeza de que o irresponsável Presidente estava guiando o país para o abismo, para o precipício.

E, aos poucos, fui colocando mais pimenta para definir esse Presidente desprovido de empatia, de compaixão, de solidariedade e de emoção com a dor do outro. Dentre as várias palavras que eu usei para definir minha repulsa, talvez uma o defina melhor: canalha!

O trabalho heroico do Padre Júlio Lancellotti

 







Música “A verdade vos Libertará”, de Padre Zezinho,

cantada por Antonio Cardoso


A Verdade vos libertará. libertará

A verdade vos libertará, libertará

Não temais os que matam o corpo

Não temais os que armam ciladas

Não temais os que vos caluniam

Nem aqueles que portam espadas

Não temais os que tudo deturpam

pra não ver a justiça vencer

Tende medo somente do medo

De quem mente pra sobreviver

Tende medo somente do medo

De quem mente pra sobreviver

A Verdade vos libertará. libertará

A verdade vos libertará, libertará

Não temais os que vos ameaçam

Com a morte ou com difamação

Não temais os poderes que passam

Eles tremem de armas na mão

Não temais os que ditam as regras

Na certeza de nunca perder

Tende medo somente do medo

De quem cala ou finge não ver

Tende medo somente do medo

De quem cala ou finge não ver

A Verdade vos libertará. libertará

A verdade vos libertará, libertará

Não temais os que gritam nas praças

Que está tudo perfeito e correto

Não temais os que afirmam de graça

Que vós nada trazeis de concreto

Não temais o papel de profetas

Que o papel do profeta é falar

Tende medo somente do medo

De quem acha melhor não cantar

Tende medo somente do medo

De quem acha melhor não cantar

A Verdade vos libertará. libertará

A verdade vos libertará, libertará.



Júlio Lancellotti


Júlio Renato Lancellotti é um pedagogo e presbítero católico brasileiro. Exerce a função de pároco da paróquia de São Miguel Arcanjo no bairro da Mooca, na cidade de São Paulo. Além da paróquia, o padre também é responsável pelas missas realizadas na capela da Universidade São Judas Tadeu, situada na mesma rua. Wikipédia


O trabalho heroico do Padre Júlio Lancellotti

 


Aos iludidos . . .


Leonel Radde on Twitter: "Na paralisação da polícia contra os ...










 


Fascismo - Dicio, Dicionário Online de Português


História *Dependência de história*: Fascismo e Nazismo


Hora difícil. MAFALDA: No Pasaran! – Laboratório de Sensibilidades


TÁ NO “TEMPO DA POLÍTICA”…SEM POLÍTICA? | Clair Castilhos



Bella ciao é uma canção popular italiana, provavelmente composta no final do século XIX. Na sua origem, teria sido um canto de trabalho das Mondine, trabalhadoras rurais temporárias, em geral provenientes da Emilia Romagna e do Veneto, que se deslocavam sazonalmente para as plantações de arroz da planície Padana. Mais tarde, a mesma melodia foi a base para uma canção de protesto contra a Primeira Guerra Mundial. Finalmente, a mesma melodia foi usada para a canção que se tornou um símbolo da Resistência italiana contra o Fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. ( Wikipédia )



Aos iludidos . . .


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Bella ciao é uma canção popular italiana, provavelmente composta no final do século XIX. Na sua origem, teria sido um canto de trabalho das Mondine, trabalhadoras rurais temporárias, em geral provenientes da Emilia Romagna e do Veneto, que se deslocavam sazonalmente para as plantações de arroz da planície Padana. Mais tarde, a mesma melodia foi a base para uma canção de protesto contra a Primeira Guerra Mundial. Finalmente, a mesma melodia foi usada para a canção que se tornou um símbolo da Resistência italiana contra o Fascismo durante a Segunda Guerra Mundial. ( Wikipédia )



A pandemia ajudou a abrir a tampa do bueiro em que o fascismo hibernava





Moisés Mendes

Publicado originalmente no blog do autor


Alegrete tem 10 mortes pela Covid-19. Todos sabem alguma coisa dos que morreram. A pandemia chega também aos lugares em que negam sua existência.

Não há outra cidade da fronteira e da campanha com a simbologia de Alegrete como expressão do que possa ser o gaúcho.

Não há no Estado outra cidade com a mitologia de Alegrete, em  todas  as áreas.

Há duas semanas, morreu ali o fisioterapeuta Sebastião Fialho Guedes, figura admirada pela dedicação aos pacientes e pelo companheirismo.

Morreu dentro do Hospital de Caridade, onde trabalhava com alegria e onde deve ter sido infectado. Ficou um mês internado e não resistiu.

No dia do enterro de Sebastião, Alegrete viu se formar um longo cortejo de carros até o cemitério. Havia muito tempo não morria alguém tão conhecido.

Dias depois, mais carros saíram às ruas, em carreatas que se repetem em Alegrete desde maio. Com bandeiras e gritos pelo fim do isolamento e pela abertura do comércio.

Alegrete é uma das cidades gaúchas tomadas pelo gritedo da extrema direita. Alguns dizem que sempre foi assim. Não foi. Morei 15 anos em Alegrete, me criei num ambiente conservador, mas onde a transgressão criadora sempre teve espaço para contestar o reacionarismo.

Alegrete deve ser a única cidade no Brasil que mantém até hoje um jornal fundado seis anos antes da abolição para lutar pelo fim da escravidão.

Seu criador foi o advogado Luis de Freitas Vale, filho de fazendeiros, apoiado por um grupo de latifundiários, jornalistas, poetas, comerciantes, sapateiros.

Freitas Vale virou barão em 1888 por reconhecimento da Princesa Isabel. Por isso Alegrete é também a terra do abolicionista Barão do Ibirocay.

Tenho orgulho de ter sido editor-chefe da Gazeta de Alegrete com 19 anos, em 1972. Com carteirinha de editor assinada por Samuel Marques e Helio Ricciardi. Eu trabalhei num jornal tatuado pelo combate ao escravismo.

Hoje, Alegrete não é mais apenas conservadora, é uma cidade infectada pelo extremismo de direita. Os que saíram às ruas, logo depois da morte de uma figura com todas as virtudes do fronteiriço, não eram só os que temem perder empregos e negócios. Eram pregadores bolsonaristas.

Conseguiram ficar quietos durante uma semana de luto pela morte de Sebastião. Mas não resistiram e voltaram às carreatas.

Falo de Alegrete, a cidade da Confraria da Praça Nova-Grupo Antifascista porque li ontem que mais de 15 mil pessoas saíram às ruas de Berlim (foto) pelo fim do isolamento.

Uma multidão de negacionistas. Alguns carregavam cartazes com frases antissemitas e pediam a volta do nazismo. Não estavam ali apenas para negar a pandemia. Estavam para dizer que são racistas e superiores.

A pandemia ajudou a abrir a tampa do bueiro em que o fascismo hibernava, em Berlim e Alegrete.

Se há algum consolo, no Alegrete de Freitas Vale pelo menos não pedem a volta da escravidão. Ainda não.










A pandemia ajudou a abrir a tampa do bueiro em que o fascismo hibernava





Moisés Mendes

Publicado originalmente no blog do autor


Alegrete tem 10 mortes pela Covid-19. Todos sabem alguma coisa dos que morreram. A pandemia chega também aos lugares em que negam sua existência.

Não há outra cidade da fronteira e da campanha com a simbologia de Alegrete como expressão do que possa ser o gaúcho.

Não há no Estado outra cidade com a mitologia de Alegrete, em  todas  as áreas.

Há duas semanas, morreu ali o fisioterapeuta Sebastião Fialho Guedes, figura admirada pela dedicação aos pacientes e pelo companheirismo.

Morreu dentro do Hospital de Caridade, onde trabalhava com alegria e onde deve ter sido infectado. Ficou um mês internado e não resistiu.

No dia do enterro de Sebastião, Alegrete viu se formar um longo cortejo de carros até o cemitério. Havia muito tempo não morria alguém tão conhecido.

Dias depois, mais carros saíram às ruas, em carreatas que se repetem em Alegrete desde maio. Com bandeiras e gritos pelo fim do isolamento e pela abertura do comércio.

Alegrete é uma das cidades gaúchas tomadas pelo gritedo da extrema direita. Alguns dizem que sempre foi assim. Não foi. Morei 15 anos em Alegrete, me criei num ambiente conservador, mas onde a transgressão criadora sempre teve espaço para contestar o reacionarismo.

Alegrete deve ser a única cidade no Brasil que mantém até hoje um jornal fundado seis anos antes da abolição para lutar pelo fim da escravidão.

Seu criador foi o advogado Luis de Freitas Vale, filho de fazendeiros, apoiado por um grupo de latifundiários, jornalistas, poetas, comerciantes, sapateiros.

Freitas Vale virou barão em 1888 por reconhecimento da Princesa Isabel. Por isso Alegrete é também a terra do abolicionista Barão do Ibirocay.

Tenho orgulho de ter sido editor-chefe da Gazeta de Alegrete com 19 anos, em 1972. Com carteirinha de editor assinada por Samuel Marques e Helio Ricciardi. Eu trabalhei num jornal tatuado pelo combate ao escravismo.

Hoje, Alegrete não é mais apenas conservadora, é uma cidade infectada pelo extremismo de direita. Os que saíram às ruas, logo depois da morte de uma figura com todas as virtudes do fronteiriço, não eram só os que temem perder empregos e negócios. Eram pregadores bolsonaristas.

Conseguiram ficar quietos durante uma semana de luto pela morte de Sebastião. Mas não resistiram e voltaram às carreatas.

Falo de Alegrete, a cidade da Confraria da Praça Nova-Grupo Antifascista porque li ontem que mais de 15 mil pessoas saíram às ruas de Berlim (foto) pelo fim do isolamento.

Uma multidão de negacionistas. Alguns carregavam cartazes com frases antissemitas e pediam a volta do nazismo. Não estavam ali apenas para negar a pandemia. Estavam para dizer que são racistas e superiores.

A pandemia ajudou a abrir a tampa do bueiro em que o fascismo hibernava, em Berlim e Alegrete.

Se há algum consolo, no Alegrete de Freitas Vale pelo menos não pedem a volta da escravidão. Ainda não.










Devemos nos posicionar !











Devemos nos posicionar !











Fanáticos camisas amarelas de Bolsonaro ficarão cada vez mais violentos



"A marcha bolsonarista, se não houver uma resistência real a seus propósitos, irá ser, a cada dia, mais violenta. Não pode haver ilusão: os camisas amarelas de hoje são o que foram os camisas negras de Mussolini e de Hitler, os camisas azuis de Franco e os camisas verdes de Plínio Salgado", alerta o jornalista Helio Doyle

Por Hélio Doyle, no Congresso em Foco

Não são fatos isolados. No dia 1º de maio, enfermeiros que protestavam pacífica e silenciosamente na Praça dos Três Poderes foram ofendidos e agredidos por militantes bolsonaristas. No dia seguinte, adeptos do presidente Jair Messias Bolsonaro e do ex-ministro Sérgio Moro brigaram em frente à sede da Polícia Federal, em Curitiba. À noite, em São Paulo, manifestantes cercaram o apartamento em que mora o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e o ofenderam. No domingo, em frente ao Palácio do Planalto, dois repórteres foram empurrados e receberam chutes e murros, enquanto o motorista de um jornal levava uma rasteira e um repórter era insultado verbalmente. Por seguidores de Bolsonaro, é claro.

A agressividade dos apoiadores de Bolsonaro não é novidade, pois vem se manifestando desde a campanha eleitoral e é incentivada pelo próprio presidente e por seus filhos, um dos quais postou, recentemente, um vídeo com homens atirando. O revólver feito com os dedos é um símbolo claro desse espírito bélico, além de inúmeros outros gestos e falas repletos de exaltações à intolerância, à violência e à destruição, inclusive física, dos que são considerados inimigos.

Nesses tempos de pandemia, porém, os bolsonaristas têm se mostrado ainda mais violentos e agressivos. Uns acham que é porque estão se sentindo acuados e se desesperam, com medo das acusações de Moro e tentando impedir a todo custo um processo de impeachment, agora ou quando a catástrofe passar. Outros atribuem a subida de tom ao fato de estarem sozinhos nas ruas e por isso acharem que está próximo o momento em que irão impor sua agenda antidemocrática, derrubando as instituições e dando mais poderes a Bolsonaro. As bandeiras autoritárias movem as manifestações bolsonaristas e, ao prestigiá-las, o presidente deixa claro seu apoio a elas.

São, na verdade, as duas coisas: Bolsonaro se sente acuado e acha que o ataque é sua melhor defesa. O incremento das manifestações, motorizadas ou não, e o alto nível de violência verbal e física contra os adversários são parte de seu projeto de “tomada do poder” e destruição do “sistema” que estaria impedindo o pleno exercício do governo por ele. O que os bolsonaristas querem é radicalizar o ambiente político, acirrar os ânimos, agitar as ruas, provocar confrontos e estabelecer uma situação caótica de crise econômica, política e social.

O recado que procuram passar é para não tentarem o impeachment ou decisões judiciais para afastá-lo, agora ou depois, pois haverá forte resistência. E, se vier o caos que eles almejam, as forças armadas irão intervir a favor do presidente, contra o Congresso, o Judiciário, a imprensa e as forças da sociedade civil que se opõem a ele. De um jeito ou outro, imaginam, Bolsonaro vencerá.

Guerra santa

Bolsonaro conta com uma significativa base social para executar seus planos. Pesquisas indicam que se aproxima de 30% dos eleitores, mas não se sabe quantos desses, efetivamente, irão às últimas consequências por quem chamam de “mito”. Entre os seguidores do presidente, estão desde milionários até o extrato mais pobre da população. Há empresários de todos os portes e trabalhadores de todas as rendas, homens e mulheres, jovens e idosos.

Mas há, sobretudo, fundamentalistas cristãos fanatizados e integrantes ativos ou inativos das forças policiais e armadas. Bolsonaro conta com eles para, como já disse com clareza, destruir o sistema vigente e construir uma nova ordem no país, segundo os ensinamentos do astrólogo Olavo de Carvalho, guia político do presidente, de seus filhos e alguns ministros e assessores.

É um projeto eminentemente fascista, autoritário e conservador. Para sua execução, Bolsonaro precisa de uma massa de fiéis e fanáticos seguidores, apoiados por militantes armados que lhes assegurem vantagem no confronto — daí os incentivos ao armamento legal pelas milícias disfarçadas em clubes de caça e de tiro. Precisa também que as forças policiais estejam ao seu lado e que as forças armadas optem em apoiá-lo na “guerra santa” contra os comunistas — que, para os bolsonaristas, não são só os marxista-leninistas e esquerdistas, mas todos que se opõem ao mito e a seus desígnios, mesmo estando à direita no espectro político.

São os fundamentalistas e milicianos que, negando os riscos da pandemia e ignorando a ciência, estão indo às ruas para mostrar apoio a Bolsonaro e a seu projeto político, ainda que muitos não o entendam muito bem. Bradam contra a corrupção, ignorando que ela existe na família Bolsonaro e no governo que ele comanda. São contra a “velha política”, fingindo que não sabem quem foi o deputado Bolsonaro e de seus atuais entendimentos com o “centrão”. Defendem princípios religiosos, contraditórios não só com a vida pessoal e atitudes de Bolsonaro como com a violência e os preconceitos que ele defende. Dizem-se nacionalistas, falam em “Brasil acima de tudo”, mas não questionam a submissão aos Estados Unidos e a subserviência a Israel — e até levam bandeiras desses países às manifestações.

Essa massa bolsonarista está sendo insuflada para a guerra e avança aos poucos, mas com persistência, testando as forças contrárias. Como a cada avanço é atacada apenas por dezenas de pronunciamentos e notas oficiais e, mais recentemente, por pedidos de impeachment mantidos na gaveta do presidente da Câmara, sente-se animada a prosseguir e intensificar a ofensiva.

A marcha bolsonarista, se não houver uma resistência real a seus propósitos, irá ser, a cada dia, mais violenta. Não pode haver ilusão: os camisas amarelas de hoje são o que foram os camisas negras de Mussolini e de Hitler, os camisas azuis de Franco e os camisas verdes de Plínio Salgado. E as milícias de Bolsonaro em breve serão a SA e a SS brasileiras. É só questão de tempo.



   Helio Doyle  é jornalista, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal.






Nenhuma descrição de foto disponível.




Casal Bozonazi em: A franga tá presa, babaca


Bolsonaro desafia STF: ‘Constituição tem dupla mão!’


Enquanto isso, na Europa, 1347 d.c.


Herança e legado



Fanáticos camisas amarelas de Bolsonaro ficarão cada vez mais violentos



"A marcha bolsonarista, se não houver uma resistência real a seus propósitos, irá ser, a cada dia, mais violenta. Não pode haver ilusão: os camisas amarelas de hoje são o que foram os camisas negras de Mussolini e de Hitler, os camisas azuis de Franco e os camisas verdes de Plínio Salgado", alerta o jornalista Helio Doyle

Por Hélio Doyle, no Congresso em Foco

Não são fatos isolados. No dia 1º de maio, enfermeiros que protestavam pacífica e silenciosamente na Praça dos Três Poderes foram ofendidos e agredidos por militantes bolsonaristas. No dia seguinte, adeptos do presidente Jair Messias Bolsonaro e do ex-ministro Sérgio Moro brigaram em frente à sede da Polícia Federal, em Curitiba. À noite, em São Paulo, manifestantes cercaram o apartamento em que mora o ministro Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e o ofenderam. No domingo, em frente ao Palácio do Planalto, dois repórteres foram empurrados e receberam chutes e murros, enquanto o motorista de um jornal levava uma rasteira e um repórter era insultado verbalmente. Por seguidores de Bolsonaro, é claro.

A agressividade dos apoiadores de Bolsonaro não é novidade, pois vem se manifestando desde a campanha eleitoral e é incentivada pelo próprio presidente e por seus filhos, um dos quais postou, recentemente, um vídeo com homens atirando. O revólver feito com os dedos é um símbolo claro desse espírito bélico, além de inúmeros outros gestos e falas repletos de exaltações à intolerância, à violência e à destruição, inclusive física, dos que são considerados inimigos.

Nesses tempos de pandemia, porém, os bolsonaristas têm se mostrado ainda mais violentos e agressivos. Uns acham que é porque estão se sentindo acuados e se desesperam, com medo das acusações de Moro e tentando impedir a todo custo um processo de impeachment, agora ou quando a catástrofe passar. Outros atribuem a subida de tom ao fato de estarem sozinhos nas ruas e por isso acharem que está próximo o momento em que irão impor sua agenda antidemocrática, derrubando as instituições e dando mais poderes a Bolsonaro. As bandeiras autoritárias movem as manifestações bolsonaristas e, ao prestigiá-las, o presidente deixa claro seu apoio a elas.

São, na verdade, as duas coisas: Bolsonaro se sente acuado e acha que o ataque é sua melhor defesa. O incremento das manifestações, motorizadas ou não, e o alto nível de violência verbal e física contra os adversários são parte de seu projeto de “tomada do poder” e destruição do “sistema” que estaria impedindo o pleno exercício do governo por ele. O que os bolsonaristas querem é radicalizar o ambiente político, acirrar os ânimos, agitar as ruas, provocar confrontos e estabelecer uma situação caótica de crise econômica, política e social.

O recado que procuram passar é para não tentarem o impeachment ou decisões judiciais para afastá-lo, agora ou depois, pois haverá forte resistência. E, se vier o caos que eles almejam, as forças armadas irão intervir a favor do presidente, contra o Congresso, o Judiciário, a imprensa e as forças da sociedade civil que se opõem a ele. De um jeito ou outro, imaginam, Bolsonaro vencerá.

Guerra santa

Bolsonaro conta com uma significativa base social para executar seus planos. Pesquisas indicam que se aproxima de 30% dos eleitores, mas não se sabe quantos desses, efetivamente, irão às últimas consequências por quem chamam de “mito”. Entre os seguidores do presidente, estão desde milionários até o extrato mais pobre da população. Há empresários de todos os portes e trabalhadores de todas as rendas, homens e mulheres, jovens e idosos.

Mas há, sobretudo, fundamentalistas cristãos fanatizados e integrantes ativos ou inativos das forças policiais e armadas. Bolsonaro conta com eles para, como já disse com clareza, destruir o sistema vigente e construir uma nova ordem no país, segundo os ensinamentos do astrólogo Olavo de Carvalho, guia político do presidente, de seus filhos e alguns ministros e assessores.

É um projeto eminentemente fascista, autoritário e conservador. Para sua execução, Bolsonaro precisa de uma massa de fiéis e fanáticos seguidores, apoiados por militantes armados que lhes assegurem vantagem no confronto — daí os incentivos ao armamento legal pelas milícias disfarçadas em clubes de caça e de tiro. Precisa também que as forças policiais estejam ao seu lado e que as forças armadas optem em apoiá-lo na “guerra santa” contra os comunistas — que, para os bolsonaristas, não são só os marxista-leninistas e esquerdistas, mas todos que se opõem ao mito e a seus desígnios, mesmo estando à direita no espectro político.

São os fundamentalistas e milicianos que, negando os riscos da pandemia e ignorando a ciência, estão indo às ruas para mostrar apoio a Bolsonaro e a seu projeto político, ainda que muitos não o entendam muito bem. Bradam contra a corrupção, ignorando que ela existe na família Bolsonaro e no governo que ele comanda. São contra a “velha política”, fingindo que não sabem quem foi o deputado Bolsonaro e de seus atuais entendimentos com o “centrão”. Defendem princípios religiosos, contraditórios não só com a vida pessoal e atitudes de Bolsonaro como com a violência e os preconceitos que ele defende. Dizem-se nacionalistas, falam em “Brasil acima de tudo”, mas não questionam a submissão aos Estados Unidos e a subserviência a Israel — e até levam bandeiras desses países às manifestações.

Essa massa bolsonarista está sendo insuflada para a guerra e avança aos poucos, mas com persistência, testando as forças contrárias. Como a cada avanço é atacada apenas por dezenas de pronunciamentos e notas oficiais e, mais recentemente, por pedidos de impeachment mantidos na gaveta do presidente da Câmara, sente-se animada a prosseguir e intensificar a ofensiva.

A marcha bolsonarista, se não houver uma resistência real a seus propósitos, irá ser, a cada dia, mais violenta. Não pode haver ilusão: os camisas amarelas de hoje são o que foram os camisas negras de Mussolini e de Hitler, os camisas azuis de Franco e os camisas verdes de Plínio Salgado. E as milícias de Bolsonaro em breve serão a SA e a SS brasileiras. É só questão de tempo.



   Helio Doyle  é jornalista, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal.






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Casal Bozonazi em: A franga tá presa, babaca


Bolsonaro desafia STF: ‘Constituição tem dupla mão!’


Enquanto isso, na Europa, 1347 d.c.


Herança e legado



Crítica de Zé de Abreu a Regina Duarte é a chave para se vencer o fascismo


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Zé de Abreu e Regina Duarte


" Zé de Abreu mobiliza mais as redes do que toda a esquerda junta, por isso assusta. Ele fala a língua do povo, aquela língua que o povo esqueceu de falar. A língua direta, não intelectualizada, não viciada na estética narcísica do bom mocismo. A língua fragmentária e suja, que arranca o sentido à fórceps e o serve na bandeja sangrando ", diz o colunista Gustavo Conde sobre o ator Zé de Abreu e seu ativismo político.


Gustavo Conde


A crítica do ator José de Abreu à Regina Duarte provocou reações no establishment politicamente correto. Houve até quem escrevesse um artigo no jornal Folha de S. Paulo para acusá-lo de "machista". O instinto oportunista de gente autoproclamada ‘correta’ é das venalidades mais comoventes - e a imprensa hegemônica é o picadeiro ideal para que se desfile esse ódio recalcado. 

Zé de Abreu mobiliza mais as redes do que toda a esquerda junta, por isso assusta. Ele fala a língua do povo, aquela língua que o povo esqueceu de falar. A língua direta, não intelectualizada, não viciada na estética narcísica do bom mocismo. A língua fragmentária e suja, que arranca o sentido à fórceps e o serve na bandeja sangrando. 

A diferença é que Zé defende a democracia e combate o fascismo. Isso já o coloca na linha de frente nessa batalha assimétrica contra nazistas e contra a boçalidade tacanha dos sem-subjetividade. 

Zé é o nosso bastardo inglório, o combatente insano, o soldado capaz de cravar - metaforicamente - uma suástica na testa de um imbecil subdesenvolvido que pensa que é nazista mas é só um fanático abestalhado, saudoso da ditadura e apoiador de torturadores. 

Sem Zé de Abreu, o Brasil vira um campo de concentração retórico à espera bem comportada e civilizada do auto aniquilamento. 

Alguém esqueceu de contar para a esquerda brasileira que o inimigo extremista de direita, em permanente guerra pelo poder, é um assassino sempre covarde e sempre mentiroso, capaz de forjar atentados para se auto vitimizar, capaz de mentir obsessivamente, capaz de cometer qualquer espécie de crime, capaz de ignorar a dor e a desgraça de quem quer que seja e capaz de contar com os serviços sempre à disposição do nosso jornalismo passador de pano. 

É por isso que o exército digital do bolsonarismo teme tanto Zé de Abreu. Eles sabem que a esquerda heroica lhes é útil na mobilização da anti-subjetividade e nem se dão mais ao esforço de mover um músculo para dissuadi-la desta missão gloriosa e autoimposta. 

Esse exército bolsonarista, no entanto, entra em pânico quando se depara com um Zé de Abreu, porque o ator mexe nas profundezas daquilo que restou de humano nessa horda entreguista. Eles sabem que Zé carrega o DNA da mobilização digital, pois ele se pinta para a guerra, não fica posando de bom moço. 

As reações de nazistas digitais a Zé de Abreu nas redes é um capítulo à parte. O desespero é tanto que eles se utilizam de táticas improváveis e desorganizadas. Um bolsonarista típico, por exemplo, é capaz de se tornar feminista apenas para atacar Zé de Abreu. Não é um feito? 

Chegam ao extremo de atacar o linguajar supostamente pouco educado de Zé, fazendo uso - no entanto - de uma linguagem de esgoto, onde grassa o calão explícito e o insulto histérico. Unem-se à esquerda Nutella - que também critica Zé de Abreu mas com a educação pegajosa dos covardes traidores - apenas para defenderem a “fragilidade feminina” da “namoradinha do fascismo” (também conhecida agora nas redes como “rainha da suástica”). 

Qual ativista de esquerda hoje no Brasil atinge tal desenvoltura em desestabilizar o sistema? 

Os áudios de Zé

O ator, no entanto, é muito mais sofisticado do que faz parecer sua espontaneidade. Zé de Abreu está acima dessas reações que bajulam o sistema podre da crítica social de vitrine. Os áudios que ele enviou à coluna de Mônica Bergamo na mesma Folha de S. Paulo são antológicos. Suas transcrições são para serem lidas e relidas por várias décadas, como registro verdadeiramente crítico da covardia existencial que arrastou o Brasil para o lixo humano que é o bolsonarismo.

Zé de Abreu usa o léxico, o tom e a semântica assustadoramente adequados para o momento. Sua crítica à Regina Duarte é, em verdade, zero machista e 100% política. E é irrespondível.

A "secura" de seu discurso direto é um soco bem dado na enrolação das argumentações intelectuais de conciliação, tão glamourosas quanto inúteis.

Zé de Abreu é ainda uma lição na esquerda bem comportada que quer parecer "boazinha" e "justa". Ele é tudo o que o Brasil precisa neste momento: cuspir em fascista e denunciar e expor a imundície de homens e mulheres que se aliam ao terror.

A minha posição nesta tarefa que é mostrar quais são os sentidos verdadeiramente subscritos na fala e no discurso de Zé de Abreu é técnica. Tratarei, aqui, de seus enunciados de posse das teorias contemporâneas da linguística - e não nesse achismo vagabundo que perambula nas hostes do “bolsonarismo crítico” travestido de “pensatas ensaísticas”, afundadas num idealismo tacanho de justiça de gênero que querem rebaixar Zé de Abreu a Pedro Bial. 

E se meu tom ‘estala’ o radar da passionalidade frívola nos leitores mais sensíveis, permitam-me dizer: é exatamente isso que quero. A técnica não é incompatível com a paixão. Para desfibrilar a burrice que assombra a interpretação de texto neste país, só mesmo com um choque de 300 joules. Sem isso, o coração leitor congela e trinca. 

Feitas as advertências gerais, passemos a outras: falemos um pouco do sentido - antes de debruçarmos sobre os fragmentos textuais de Zé de Abreu que chocaram a elite acadêmica lambuzada em álcool gel. 

O sentido, meus corajosos leitores, não está no dicionário. Ele está em vários outros lugares. Está, fundamentalmente, na subjetividade - na prática de se auto identificar como sujeito o tempo todo sem cessar.

O sentido, portanto, não está só no enunciado, está em quem enuncia. Uma mesma frase terá - obrigatoriamente - um sentido na boca de um fascista e outro, na boca de um não fascista.

Objetar a frase dita por um não fascista a imaginando na boca de um fascista pode ser um exercício interessante. Mas não encerra o debate sobre o que pode ou não ser dito, por quem quer que seja. 

O sentido não pode ser "particionado". É preciso ver o conjunto da obra. É esse conjunto que fornece a chave para se interpretar um enunciado singular. Querer patrulhar o discurso a ponto de ignorar sua heterogeneidade é um gesto tão fascista quanto demonizar um sujeito por seu sexo biológico (que, segundo Zé de Abreu e Jacques Lacan, inexiste - no que eu concordo com ambos). 

Enunciados sempre “pegam mal” ou “pegam bem”. Se destacados, eles pegam "tudo". E essa dor interminável de tentar achar a estratégia correta para tudo na vida é a armadilha fácil que fascina as mentes perplexas das vítimas conscientes do fascismo. 

A espontaneidade de Zé - com todos os riscos embutidos - é muito mais consequente do que o medo imperativo dos que servem de polícia para o próprio discurso. 

Esse é - ao menos, para mim - o ponto. 

Claro que Zé de Abreu pode "escorregar", como qualquer um de nós. Mas a coragem dele me interessa mais enquanto possibilidade de um discurso disruptivo, que fustigue a imbecilidade mecânica e previsível contida nas pílulas de horror do discurso bolsonarista. 

Como linguista eu tenho plena consciência da toxicidade histórica de certos enunciados - e da respectiva necessidade de se evitá-los. 

Mas para toda a generalidade, há exceções, até no universo do discurso. 

A linguista francesa Jacqueline Authier-Revuz tem uma frase emblemática sobre esse aspecto da linguagem. Ela diz: "a língua não é idêntica a si mesma". É enunciado teórico-técnico pleno da paixão (paixão pelo humano e pela técnica) e pode ser um ponto de partida para muitas coisas.

Vejamos, a seguir, a transcrição dos áudios polêmicos de Zé de Abreu extraída da matéria de Mônica Bergamo para o jornal Folha de S. Paulo:

“Fascista não tem sexo. Vagina não transforma uma mulher em um ser humano. Eu não vou parar. Eu sou radical mesmo e estou num caminho sem volta.”

Zé de Abreu foi mais rigoroso do que Roland Barthes e Simone de Beauvoir juntos: fascista não tem sexo. É esse enunciado que reveste a frase seguinte, que ‘estalou’ em ouvidos com síndrome da lacração. 

Como criticar Zé de Abreu por falar a palavra “vagina”, se uma nazista-evangélica faz isso todos os dias diante da nossa macunaímica preguiça intelectual? Alguma mulher ou homem ou gay tem alguma dúvida de que não é a genitália que determina sua sexualidade dominante de um indivíduo? Cem anos de psicanálise não serviram para nada? 

O enunciado de Zé de Abreu precisa ser interpretado como ‘enunciado do Zé de Abreu’, não como enunciado de um nazi-machista genérico, serviçal da besta-fera que se instalou no Planalto. Se se trocar o enunciador, troca-se o sentido, óbvio. Objetivamente, o ator está: 1) referindo-se à Regina Duarte, uma pessoa que se aliou a um governo nazista que defende a tortura e 2) dizendo que humanizar Regina porque ela tem uma vagina é uma operação hedionda: ninguém se torna humano ou deixa de ser humano pela genitália que ostenta entre as pernas, mas pelo que diz e pelo o que faz. 

Qual a novidade no enunciado de José de Abreu? O choque é pelo tom? Pela secura?

É emblemático que uma esquerda cheirosa se queixe de um discurso tão direto: tudo o que eles parecem buscar nesse momento é se esconder nas reentrâncias do próprio medo. 

Vamos ao próximo trecho (lembrando que são transcrições da fala de Zé de Abreu e não um texto redigido com as veleidades covardes de pretensos redatores): 

"Não existe sexo [homem ou mulher]. Quem apoia miliciano, homofóbico, torturador, pra mim nem humano é. [Quem apoia o Coronel Brilhante] Ustra, [o ex-ditador do Paraguai Alfredo] Stroessner [já elogiados por Jair Bolsonaro]. Você sabe quem foi Stroessner! Torturador, pedófilo, estuprador de crianças, narcotraficante. Ele tinha uma rede de pessoas que pegavam crianças pobres para serem estupradas."

Nem sei se esse trecho precisa de análise. Alguma restrição? Alguém se sentiu ferido, tonto, com vertigem? A direção é simples: ver Regina Duarte assumir uma secretaria de um governo que ostenta os valores descritos acima é um caso digno de pena? Ou de indignação? Será mesmo viável, a essa altura dos acontecimentos, protegê-la sob o simulacro de imagem fragilizada de “mulher”? Mulher pode ser fascista, afinal? É a democracia de gênero do fascismo?

Zé de Abreu se pergunta: ser mulher exime um ser humano da prática do fascismo? 

É lícito que as marcas do enunciado podem fazer emergir o rastro de um machismo estrutural que, é bom lembrar, é comum a todos nós, homens e mulheres. Mas o tema aqui é fascismo, não machismo. Se não soubermos mais postular uma mínima hierarquização temática de um simples enunciado, é melhor abdicarmos da possibilidade da arte e do debate público. É como banir todos as novelas de Shakespeare porque ele era misógino. É como banir toda a obra de Monteiro Lobato, porque ele era racista. 

Zé de Abreu é um artista. Seu discurso obedece à expressividade polifônica de um ator. Sua teimosia retórica expõe suas vísceras enquanto combatente político destituído do medo pequeno-burguês que esmaga a sociedade brasileira neste turno fantasmagórico de psicopatas no poder. O fato de ele não ter medo de ser patrulhado é uma virtude, não um defeito. Não neste momento histórico. 

Vamos para mais um trecho de Zé de Abreu: 

"Como é que uma pessoa dessas [referindo-se a Regina Duarte, que apoia e integrará o governo de Bolsonaro]... não, eu tô indignado. Não dá para respeitar quem apoia o Bolsonaro. Eu não tenho o menor respeito. Para mim não interessa se é homem ou mulher. Não pode. Não pode. Fascista a gente trata no cuspe. Não há como considerar o fascista um ser humano. E quem apoia fascista, fascista é."

Mais claro, mais humano, mais direto, impossível. É desse ethos que o brasileiro auto identificado como progressista se ressente. Há possibilidade de relativizar a monstruosidade de Bolsonaro e de Regina Duarte? É possível minimizar os efeitos assassinos de suas condutas? É crível usar meias palavras ou eufemismos envernizados para se referir a esse consórcio famigerado de terror e mentira? 

Eu adverti que faria uma análise técnica e reitero: as palavras acima são técnicas. Não se pode tergiversar diante de monstros torturadores com suas subjetividades assombradas e interrompidas. É suicídio. É suicídio ético e é suicídio crítico. 

Zé de Abreu prossegue, ilustrando o horror: 

"É aquela história: tem 11 pessoas numa mesa. Senta um fascista e ninguém se levanta. São 12 fascistas. Não tem como respeitar. Sinto muito. Eu sou radical mesmo e estou num caminho sem volta. E não me arrependo.

Os gays me ligam, me mandam Whatsapp. Aquilo que eu postei, que [maquiadores e cabeleireiros] tiraram as rugas, os cabelos brancos, que costureiros fizeram roupas para esconder as banhas [de Regina Duarte] não é uma criação minha. As pessoas me ligam apavoradas, entendeu? Como é que pode uma atriz participar de um governo desses? É um negócio de louco. Ela diz que recebeu um chamado divino. Porra, é contra índio... ah, não dá. Desculpa. Mas é muito difícil."

Esse ritmo digressivo e fragmentário, típico da oralidade, em Zé de Abreu, acentua o caráter fortemente reativo de sua resposta ao nazi-fascismo. É uma aula de ética. Com essa trepidação discursivo-gramatical, Zé de Abreu demonstra muito mais eficiência persuasiva que os intelectuais mofados que agonizam contemporizando o ódio. 

Se não fizer trepidar o discurso, nada acontece. Zé de Abreu emociona por isso, porque ele não tem medo de se expor e porque ele nos brinda com um texto necessariamente desorganizado, já que a sociedade brasileira e o debate público estão ambos mergulhados em profundo caos político, social e cognitivo. Só um ator como Zé de Abreu para restituir a energia crítica presente no testemunho traumático de suportar um repositório de bestalidade que preside avacalhadamente um país.

Ele segue: 

"Desde que a Regina foi ao Bolsonaro na eleição [para apoiá-lo, em 2018], camareiros, maquiadores, costureiros, todos me falavam “o que essa mulher vai fazer ao apoiar um homofóbico?”. Falei isso para ela. Mandei recados para ela."

Aqui, o ator apenas relata o pânico de profissionais da TV que trabalharam com a atriz que se aliou ao fascismo. Ele faz mais: manifesta lealdade às relações profissionais que mantinha com a atriz a alertando do suicídio moral que ela estava prestes a cometer ao apoiar oficialmente um apologista do ódio. 

A fala de Zé chega a ser delicada. É a fala de alguém que buscou ‘salvar’ uma pessoa, não o contrário. Como chamar um discurso assim de discurso de ódio? De discurso machista? Zé de Abreu não é um bajulador vendido e histérico como Pedro Bial, Zé de Abreu é a sinetinha básica para aqueles que perderam a noção.

Mais um trecho: 

"Sou, talvez, sim, machista, misógino, por uma educação [que recebi], pela sociedade. Mas a cada dia eu tento “mulherar”. A cada dia eu sou menos machista, menos misógino. E tenho certeza disso.

(...)

Minhas esposas podem testemunhar o meu comportamento. E são várias. Eu piso na bola às vezes. Mas, numa boa, se há um homem que procura “mulherar” a cada dia sou eu.”

Zé de Abreu foi atacado por muitas pessoas que se dizem feministas. Eu gostaria que essas pessoas lessem esse trecho de sua fala. Zé demonstra ser alguém que tem consciência do machismo estrutural que nos é peculiar a todos. Ele combate esse machismo com humildade confessional e ainda afirma que esse monitoramento de si nunca será suficiente. 

Faz uso de um neologismo poderoso que é a expressão ‘mulherar’. Um ‘tornar-se mulher’ permanente, que tire o homem e a sociedade do lodaçal misógino que grassa no universo de Regina Duarte, Damares Alves e Pedro Bial, este sim, um machista despudorado que atacou covardemente a diretora Petra Costa, num espetáculo grotesco de misoginia, inveja, despeito e subserviência. 

O universo feminista é heterogêneo. Tem muitas correntes e disputas internas. Seria muito arriscado de minha parte dizer “o feminismo” ou “as feministas”. Mas façamos um esforço técnico de abstração temporária: alguma feminista de alguma corrente do feminismo poderia dar uma chance à materialidade do texto e reconhecer publicamente que Zé de Abreu é um sujeito da história que enaltece o direito inalienável, político e subjetivo da mulher? 

Deixo a resposta em aberto para os corajosos leitores que até aqui chegaram, acrescentando um último trecho da fala de Zé de Abreu: 

“Eu não vou parar. Não vou parar. Eu sei que estou certo. A minha consciência diz que eu estou certo. E eu vou continuar nessa."

Zé de Abreu é o mais prodigioso registro em resposta ao espancamento cognitivo a que o Brasil foi lançado, com a doença social chamada antipetismo na linha de frente das abominações genocidas. 

Seu discurso espontâneo, demasiadamente humano, revela a dor que pulsa na medula política de todos nós que ainda quedamos paralisados diante da promiscuidade anti-existencial das hordas nazi-fascistas do bolsonarismo e do morismo. 

O ethos de Zé de Abreu é um imperativo para se vencer o nazi-fascismo. O nazi-fascismo foi vencido com uma guerra. O nazi-fascismo brasileiro não será vencido com uma eleição, pelo simples fato de que nazistas não aceitam derrotas no campo da democracia. 

Quanto mais tentarmos entender o bolsonarismo, mais seremos contaminados por ele. Bolsonarista não se adota, não se ausculta, não se tolera. Bolsonarista tem de ser esmagado, enfrentado, afrontado. A segunda opção, nesses casos, é aceitar o próprio extermínio, gesto pouco atrativo na minha modesta opinião. 

Zé de Abreu é o antídoto que todos procuramos em vão nesses últimos anos cascudos de perseguição institucional à democracia e à vida. É preciso falar de Zé, é preciso falar com Zé, é preciso replicar as falas de Zé. 

Seu detratores são assaz violentos e gozam, agora, da companhia de luxo de setores da esquerda de grife. Mais um feito para Zé, porque assim ele implode mais esse sistema ideológico avacalhado de falsos progressistas. 

Mil vivas a Zé de Abreu. Que ele jamais pare.