Justiça argentina vai pedir exumação dos restos mortais do presidente João Goulart


A justiça argentina está investigando a morte do presidente brasileiro João Goulart.


O procedimento começou com uma representação do procurador do Ministério Público Federal brasileiro, Ivan Marx, que atua em Uruguiana, junto às autoridades argentinas.

Na última sexta-feira, 27 de abril, a juíza Gladis Mabel Borda, em Paso dos Libres, tomou o depoimento de Christopher Goulart, neto de Jango, incansável na busca de esclarecimentos, especialmente depois que o uruguaio Mario Neira Barreiro, ainda hoje preso no Brasil por crimes comuns e com extradição determinada pelo Supremo Tribunal Federal, disse ter participado, como membro do serviço secreto do seu país, de uma operação para eliminar Goulart, motivo de inquietação para as ditaduras do Uruguai e do Brasil.

Foi ouvido também o jornalista uruguaio Roger Rodriguez, que, nos últimos dez anos, tem publicado reportagens sobre as condições duvidosas do falecimento do presidente brasileiro deposto pelo golpe militar de 1964 e que passou a viver no exílio, entre Uruguai e, mais tarde, Argentina.

À tarde, na fazenda La Villa, município de Mercedes, onde Jango morreu, pouco mais de 100 km de Libres, a juíza Gladis Borda confirmou que irá pedir a exumação dos seus restos mortais, sepultados em São Borja.
– Faremos isso – disse ela.

A Justiça argentina quer que seus peritos possam participar ativamente da exumação e das análises destinadas a verificar algum rastro de substância capaz de ter provocado criminosamente a morte de Jango, acontecida, oficialmente, em função de um problema cardíaco.

Jango morreu na cama ao lado da mulher, Maria Thereza.

Não foi feita autópsia.

O corpo foi transportado às pressas para o Brasil.


Especialistas argentinos trabalharão para estabelecer parâmetros de análise com vistas à exumação.

Querem saber o que devem exatamente procurar.

A exumação dependerá da justiça brasileira e da autorização da família de Jango.

Em outro momento, a viúva recusou.

A demanda, segunda a juíza Gladis Mabel, deve acontecer em breve.

Estivemos em Mercedes, na estância La Villa, Cláudia e eu, com Christopher Goulart, Roger 
Rodriguez e as autoridades argentinas encarregadas do novo inquérito sobre a morte de Jango.

Esteve presente também Pablo Vassel, diretor-geral da Unidade de Direitos Humanos e do Conselho da Magistratura da Nação.

Argentina está levando profundamente a sério o procedimento instaurado.

Sexta-feira, uma bela tarde de sol, campos a perder de vista.

A fazenda onde Jango morreu é um lugar lindo, com dois mil hectares de pastos.

O alemão Sergio Fava, casado com a argentina Victoria, é o atual proprietário.

Vivem na bela e ampla casa com os filhos.

O quarto onde Jango morreu é hoje um lindo e bem mobiliado recinto para hóspedes.


A paisagem do pampa ombreia com o bom gosto dos fazendeiros e com a beleza da dona da casa.

Jango morreu num lugar, ao mesmo tempo, estupendo, ermo e com seu jeito.

Christopher Goulart mal disfarçou a emoção ao conhecer a casa onde o avô passou a última noite.

Se depender dos argentinos, a verdade começará a aparecer.

Eles não costumam tapar o sol com a peneira.

Ainda mais o belo sol de Mercedes numa tarde morna de outono.



O tempo passa, a história não se apaga. O cotidiano, porém, sempre vence.

A história cobra uma nova luz.


Postado no blog Juremir Machado da Silva no site Correio do Povo em 29/04/2012


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