Sorrir faz bem !





Vendo filme de terror


Juventude Digital


Se beber não durma



Boaventura repudia ação no Pinheirinho







De Canoas, no Rio Grande do Sul, onde participa de um evento pré-Fórum Social Temático, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, um dos intelectuais mais respeitados da atualidade, condenou a ação violenta do PM de São Paulo contra os moradores do Pinheirinho. Para ele, "a violência é um recado da direita oligárquica, que não descansa, a todos os movimentos sociais que lutam por seus direitos".

Estupidez é a soma da burrice com a desumanidade


As cenas da expulsão, ao raiar do domingo, de seis mil pessoas da comunidade do Pinheirinnho, em São José dos Campos, são uma vergonha para este país.

Um vergonha, sobretudo, para o Judiciário que, como qualquer poder, está tão obrigado a cumprir a lei quanto a respeitar a diginidade de vidas humanas.
Não é possível que magistrados que reagem com tanto zelo em relação a si mesmos, inclusive na percepção de auxílio-moradia, não zelem por uma solução adequada à moradia – a única que têm – milhares de famílias pobres.
Havia, até ontem, uma contradição entre decisões da esfera estadual e federal, como registram os jornais. Era razoável esperar por uma decisão antes de uma medida de força, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo chegou a emitir ordem de enfrentamento à decisão da Justiça Federal que vigia, durante o dia,  para repelir “qualquer óbice que venha a surgir no curso da execução, inclusive a oposição de corporação policial federal”.
Com o devido respeito, é impensável que se possa dar uma ordem para que a Polícia Militar, garantidora da decisão estadual, enfrente a Polícia Federal, a quem competiria garantir a decisão de um desembargador federal.
Depois, a decisão do STJ, que revogou aquela decisão, só foi tomada à noite, depois de toda a operação. E se a decisão tivesse sido outra, o que justificaria aquela ação? Para a imobiliária, nenhum prejjuízo teria havido em esperar algumas horas ou dias.
Depois, tratava-se de uma situação de uma ocupação de longa data, oito anos, o que não é o mesmo que terem invadido ontem e terem montado barracas de lona. Havia ali casas, muitas de padrão bem aceitável, que consumiram muito do pouco que ganha aquela pobre gente e, sob qualquer ponto de vista, é um bem e merece alguma tutela.
Estava sendo buscada uma solução pelo Governo Federal. Não é possível que a massa falida da imobiliária do Sr. Naji Nahas não pudesse ser levada a negociar. Desapropiração, compra, permuta de terreno, havia uma série de possibilidades a serem tentadas antes de atirar à rua tanta gente.
Miguel Seabra Fagundes, a quem ninguém pode negar a honrade ter sido um dos maiores juristas deste país, na sua curta passagem pelo Ministério da Justiça, ajudou a impedir a remoção dos humildes moradores do Morro do Borel, na Tijuca, igualmente decretada por um juiz. E Seabra era um homem tão apegado a regras que demitiu-se por ter Carlos Lacerda invadido uma reunião ministerial para dar ordem a Café Filho.
Se o Poder Judiciário demonstrou um açodamento que não estamos acostumado a ver em suas ações, da mesma forma o Governo do Estado também não demonstrou prudência, porque mobilizar, num domingo de manhã, uma tropa de dois mil homens é, em qualquer corporação militar do mundo, uma proeza admirável.
Ninguém, em sã consciência, pode imaginar uma mobilização deste vulto sem a participação do comando da corporação e do próprio Governador do Estado. A força pública não é para ser usada sem medidas, nem de humanidade, nem de custo para a população. Muito menos seus homens devem ser brutalizados como estão sendo, quando passam a apontar espingardas para viciados na rua e moradores desesperados.
Ninguém está advogando o não-cumprimento de decisões judiciais, mas a forma e a velocidade que, em si, representam uma afronta ao principio da razoabilidade que estas devem ter.
Se a uma empresa falida, como a imobiliária de Naji Nahas, se concedem prazos e condições para que pague com seu patrimônio, as dívidas que não honrou, porque não se dar o mesmo direito às pessoas?
Ali estão 1.600 casas, 1.600 ex-lares, expostos ao saque, à depredação, e, amanhã, à demolição. Não são apenas partes de vidas, são riquezas construídas com trabalho honesto, que serão destruídas. Aproveitadas, urbanizadas, aquelas casas custariam menos que o problema que sua destruição coloca diante de todos e certamente menos do que a desapropriação da área, negociada.
A estupidez é só isso mesmo, a soma da burrice com a desumanidade.
PS. A área da remoção, ainda por cima,  tem uma história conturbada, que você pode ler no Paulo Henrique Amorim.
Postado por Fernando Brito no Blog Tijolaço em 23/01/2012

Gente também não é bicho?


Assisti, nos telejornais da manhã, várias reportagens sobre as manifestações pelos direitos dos animais, no domingo ensolarado.
Bem, muito bem, porque maus-tratos a animais é sinal de desumanidade.

Mas não vi nenhuma matéria sobre a pesquisa do Dieese que mostra como os garis sofrem discriminações por limparem a sujeira que eu, você e o mais ilustre quatrocentão paulistano fazemos todo dia em nossas cidades. Mais de um quilo por dia cada pessoa, segundo as estatísticas.
Nenhuma, exceto a do repórter Uirá Machado, na Folha, um trabalho que só poderia ser feito com a sensibilidade de um jornalista que os vê como seres humanos.
Infelizmente, Uirá não tem o prestígio público de um Boris Casoy, que desdenha de que possam dizer algo de útil e verdadeiro “do alto de suas vassoras”.
Mas deu gosto ver a profissão exercida com sentido de humanidade, por gente que é capaz de entender o velho poema de Manoel Bandeira:
Vi ontem um bicho/Na imundície do pátio/Catando comida entre os detritos.Quando achava alguma coisa,Não examinava nem cheirava: Engolia com voracidade.O bicho não era um cão,Não era um gato, Não era um rato.O bicho, meu Deus, era um homem.
Nunca vi um gari matratando um mendigo que lhe espalhasse, em busca de comida, o lixo que teria de recolher. Uma praguejada, um palavrão, mas jamais os ouvi pedirem tropa de choque para expulsar os que têm de tirar do monturo o quase nada para viver.
Mas já vi muito desembargador botando a polícia  para correr com pobre de sua humilde casinha, onde não está na rua, feito bicho abandonado.
E não os vi cuidando com o mesmo vigor que criança não viva de bicho abandonado, porque isso ofende uma ordem social civilizada.
Os garis, estes homens que recolhem a nossa irresponsabilidade com o planeta, não são invisíveis, ao contrário do que diz a matéria de Uirá.
Muitos de nós, os graúdos, de mente atilada e sabedoria pedante, é que somos cegos.
Postado por Fernando Brito no Blog Tijolaço em 23/01/2012

Mais Mário Quintana !




Sonhar é acordar-se para dentro.


DA OBSERVAÇÃO
Não te irrites, por mais que te fizerem...
Estuda, a frio, o coração alheio.
Farás, assim, do mal que eles te querem,
Teu mais amável e sutil recreio...


A preguiça é a mãe do progresso. Se o homem não tivesse preguiça de caminhar, não teria inventado a roda.

INSCRIÇÃO PARA UM PORTÃO DE CEMITÉRIO
Na mesma pedra se encontram,
Conforme o povo traduz,
Quando se nasce - uma estrela,
Quando se morre - uma cruz.
Mas quantos que aqui repousam
Hão de emendar-nos assim:
"Ponham-me a cruz no princípio...
E a luz da estrela no fim!"

A arte de viver é simplesmente a arte de conviver ... simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!

DAS UTOPIAS
Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.




A polícia a serviço do copyright e a ciberguerra do Anonymous


Os EUA já haviam desencadeado ações contra o compartilhamento de arquivos antes, mas só a ofensiva contra Julian Assange e o Wikileaks se compara ao que foi feito ontem, tanto em dimensões materiais como simbólicas. Um indiciamento de 72 páginas, de um tribunal federal da Virgínia, levou o FBI a solicitar à polícia neo-zelandesa a prisão de sete pessoas ligadas ao site de compartilhamento de arquivos MegaUpload. Quatro dessas sete pessoas, incluídos os fundadores do site (Kim Dotcom and Mathias Ortman), já estão presas. Entre os indiciados, há não só neo-zelandeses mas alemães, um estoniano, um eslovaco e um holandês.
O caso é singular porque ele não envolve absolutamente nenhum cidadão dos EUA ou hospedagem de site nos EUA. Mesmo assim, o FBI foi capaz de realizar as prisões em território estrangeiro e impor o fechamento. O indiciamento afirma que o “dano” causado pelo MegaUpload é de mais de US$ 500 milhões, segundo a estranha lógica usada pelo lobby do copyright para fazer esses cálculos, ou seja, a de que todos os usuários que baixaram filmes, canções, livros e outros produtos culturais nos sites de compartilhamento pagariam por eles os preços fixados pela indústria, caso esses sites não existissem. O indiciamento é ainda mais surpreendente porque o MegaUpload tinha uma política de retirar imediatamente o conteúdo sempre que notificado pelos detentores do copyright. O site já havia, inclusive, registrado um agente DMCA (Digital Millenium Copyright Act) junto ao governo dos EUA. Como bem colocou Walter Hupsel, mandaram prender o carteiro e, como apontou o advogado espanhol Carlos Sánchez Almeida, são mais de 150 milhões de usuários cuja privacidade na comunicação online poderá ser violada pela polícia federal dos EUA.
Entre ativistas online, foi intensa a especulação de que a ofensiva do FBI contra o MegaUpload seria uma possível compensação do governo Obama ao lobby do copyright depois da declaração do presidente contra o SOPA (Stop Online Piracy Act). O SOPA, um draconiano projeto de criminalização do compartilhamento de arquivos que inclui até mesmo a possibilidade de que se impeçam os motores de busca de apontar para sites acusados de violar o copyright, foi objeto de um mega-protesto na internet anteontem. Esses protestos mudaram significativamente o balanço de forças no Congresso, mas o projeto conta com o apoio de Hollywood, tradicional aliado dos Democratas nas eleições presidenciais americanas. Logo depois da declaração de Obama, o Senador democrata e lobista de Hollywood Christopher Dodd ameaçou Obama com o fim das generosas doações hollywoodianas à sua campanha.
No começo da noite, veio a reação. Articuladas pelo coletivo Anonymous, pelo menos 5.635 pessoas usaram LOIC (Low Orbit Ion Cannon) para realizar ataques de negação de serviços a vários sites do governo dos EUA e da indústria do entretenimento. Num intervalo de poucas horas caíram (e, no momento de produção desta matéria, continuavam derrubados), os sites de FBI, Copyright Office, Department of Justice, Warner Music, Universal Music e Recording Industry Association of America. Na Espanha, caía também o site da Sociedad General de Autores y Editores, um dos grandes defensores do lobby do copyright no país ibérico. É uma ação de impacto imediato considerável, que provoca euforia na rede e é bem desmoralizante para as empresas e autoridades visadas. Mas há que se perguntar qual o seu alcance para a continuação da luta.
Acostumados, que talvez já estejamos, à escalada do horror do poder policial dos estados, vale lembrar o ineditismo da ação do FBI ontem. Como afirmou Diego Souto Calazans no Twitter: “Imagine uma imensa biblioteca onde você pode ter acesso não apenas a todos os livros já escritos, mas também às músicas, filmes, ideias … Essa biblioteca total, esse museu vivo da cultura universal, é a Internet. É o que querem incendiar”. Uma declaração da Eletronic Frontier Foundation coloca os pingos nos is: “Este tipo de aplicação de procedimentos criminais internacionais à política para a Internet estabelece um precedente terrorífico. Se os EUA podem capturar um cidadão holandês na Nova Zelândia por causa de um reclamo de copyright, o que falta mesmo? O que vem por aí?”

Cinema é tudo de bom ! Tapete Vermelho



Sinopse


Sensível, engraçado e comovente, Tapete Vermelho é a mais bela homenagem feita pelo cinema ao grande Mazzaropi. Matheus Nachtergaele e Gorete Milagres formam um casal de caipiras que leva o filho Neco, de nove anos, para uma cidade a fim de assistir a um filme do artista no cinema. Mas os tempos mudaram e os cinemas desapareceram. No caminho o trio cruza com tipos curiosos provando que as lendas da roça ainda estão bem vivas.










Informações Técnicas

Título no Brasil:  Tapete Vermelho
Título Original:  Tapete Vermelho
País de Origem:  Brasil
Gênero:  Comédia
Classificação etária: 10 anos
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento:  2005
Estréia no Brasil: 14/04/2006
Site Oficial:  
Estúdio/Distrib.:  Europa Filmes
Direção:  Luís Alberto Pereira


Elenco


Jackson Antunes ... Gabriel
Paulo Betti ... Aparício
Rosi Campos ... Maria
Debora Duboc ... Sebastiana
Ailton Graça ... Mané Charreteiro
Cássia Kiss ... Tia Malvina
Duda Mamberti ... Mazzarpori Store's owner
Amácio Mazzaropi
Gorete Milagres ... Zulmira
Vinícius Miranda ... Neco
Matheus Nachtergaele ... Quinzinho
Cacá Rosset ... Dono do cinema 
     

As lições do BBB 12




Quem disse que a edição brasileira da franquia holandesa Big Brother não serve para nada? Certamente é inútil do ponto de vista cultural, sociológico, antropológico ou do mais tênue bom gosto. Não serve nem como lazer porque induz a exacerbação de sentimentos negativos, incompatíveis com a descontração e a alegria que caracterizam – ou deveriam caracterizar – o entretenimento. Mas serve como exemplo do que não presta na televisão brasileira.
Sim, o Big Brother Brasil tem lições a ensinar que vão desde como não expor comportamento e linguajar inadequados na tevê até o limiar da criminalidade, seja em termos sexuais, “raciais” ou de agressão à formação de crianças e adolescentes ou do próprio direito de pais e responsáveis de lhes imporem o ritmo que bem entenderem até poderem vivenciar ou conhecer o que poderíamos chamar de “fatos da vida”, por assim dizer.
Em primeiro plano ficou a hipótese repugnante de uma garota de idade análoga à de minhas filhas ter sido obrigada a ir “até o fim” em um namorico regado a uma substância que lhe entorpeceu a razão e que vem sendo alvo de iniciativas legais de lhe proibir a publicidade nos meios de comunicação de massa assim como ocorreu com o tabaco, pois os efeitos nefastos do álcool – e do estímulo ao consumo – dispensam apresentações.
Em plano igualmente grave, ainda que menos focado, está hipótese de racismo contra alguém que na estréia do Big Brother respondeu negativamente à pergunta do apresentador Pedro Bial sobre se via “necessidade de cotas para negros no BBB”, pergunta que lhe foi feita por ser o único negro do programa. Se o rapaz “estuprou”, não se sabe, mas sabe-se que, a partir de agora, o programa não terá negro nenhum e os de sempre dirão o que já ouvi, ou seja, que de “gente assim” não se poderia “esperar outra coisa”.
O plano mais importante, porém, é o que está em terceiro lugar. E a cena que o ilustra é bem eloquente: duas meninas de 10 anos e um garoto de 9 debatem, acaloradamente, tudo o que os adultos estão debatendo sobre o caso, porém ainda sem saber direito o que seria o tal “estrupo” de que tanto falam, ainda que especulem sobre o que cabeças, corpos e membros do casal de “brothers” faziam sob o edredon.
Em benefício dos mais sensíveis, o leitor será poupado dos detalhes do diálogo.
Há, ainda, uma quarta lição que a atração da Rede Globo e a própria deixam ao país: os interesses empresariais e econômicos dos detentores de concessões públicas de rádio e televisão, sejam eles quem forem, não se sobrepõem à formação moral de crianças e adolescentes e aos direitos civis dos próprios integrantes voluntários desse programa ou similares, direitos que não podem ser violados nem sob anuência de seus detentores.
O saldo desse episódio envolve uma imensa lição, quase uma grade curricular, portanto.
O casal de “brothers” foi exposto da pior forma possível. A moça está tendo sua honra posta em dúvida de forma indelével e permanente, o rapaz corre o risco de ter sua vida destruída, pois ninguém quer empregar ou ter ligações com um estuprador independentemente do que realmente tenha acontecido sob o edredon, e crianças estão tendo que encarar precocemente o lado mais cru dos fatos da vida, queiram seus pais e responsáveis ou não.
Já o Estado brasileiro corre o risco de deixar claro que não serve para nada ao permitir que empresários inescrupulosos joguem com as vidas de tantos atores – dezenas de milhões deles, não nos esqueçamos – sem que qualquer autoridade diga um A, pois a única autoridade que se manifestou agiu em defesa do lado que está longe de ser o mais vulnerável, não obstante o seu direito inquestionável de proteção contra eventual abuso que possa ter sofrido.
Viu quanta coisa aprendemos com o “BBB”, leitor?
Postado por Eduardo Guimarães no Blog Cidadania em 17/01/2012

Silicone-bomba, um problema para levar no peito


Nada menos do que 12,5 mil mulheres no Brasil colocaram próteses de silicone da fabricante francesa PIP e outras 7 mil da holandesa Rofil.
O material utilizado pelas empresas é de baixa qualidade, semelhante ao do tipo industrial. As substâncias presentes são potencialmente tóxicas, a prótese tende a romper mais cedo do que as de alta qualidade. Com isso, infiltram-se em músculos, gânglios linfáticos, nervos e glândulas mamárias. Extravasando, leva a inflamações, infecções e nódulos.
Os países que utilizavam próteses dessas marcas anunciaram recall, a notícia repercutiu e, depois de uma leve esperneada das autoridades de Saúde, o Brasil entrou na roda. A própria presidente Dilma determinou na última quarta-feira, 11 de janeiro, que tanto o SUS quanto os planos de saúde devem pagar a troca das próteses rompidas, não importando se o implante foi por indicação clínica, nos casos de reparação à cirurgia mutiladora das mamas, ou por estética para aumentar os seios.
A troca não será feita a pedido para aquelas que portam os silicones das marcas PIP e Rofil se o implante estiver em bom estado ou apenas fragilizado, mas será garantido um acompanhamento às mulheres que portam os modelos de silicone-bomba. Haja coração, coragem e estabilidade emocional para suportar a tensão de portar um silicone desses.
Utilizados como indicação clínica para melhorar a estética após a mastectomia, os implantes de silicone abriram mercado farto na indústria da cirurgia plástica exclusivamente estética com apoio do business da moda popular no mundo inteiro. A partir de uma campanha muito bem elaborada, os seios pequenos foram extintos do mercado da moda junto com as roupas adequadas às mulheres que não se submeteram ao novo paradigma de corpo feminino. O padrão ideal de beleza que emergiu nos anos 1990, com o boom das próteses, é uma mulher magra, alta, peituda e bunduda. As roupas já vêm prontas nas lojas para os seios avantajados. Para atenuar o “problema” das que não aderiram às plásticas, abundam as lingeries com falsos peitos e falsas bundas de espuma. Mas esse é definitivamente um problema menor. A aparência é apenas visual e não cirúrgica. A mulher sem roupa continua sendo ela mesma.
A reflexão pertinente, diante do caso de saúde pública mundial envolvendo as próteses de silicone, é a banalização das cirurgias plásticas essencialmente estéticas e seus critérios, ou melhor, a falta deles.
Ficaram tão frouxos esses critérios, que agora temos aí uma vastidão de mulheres portando próteses de silicone suscetíveis de rompimento. São mulheres de todas as idades, inclusive adolescentes.
Mocinhas de 15 anos podem colocar silicone no Brasil, assim como qualquer senhora de 50 ou 60 anos, o que vem ocorrendo em larga escala.
A cirurgia para implantação de silicone contou desde seus primórdios com o apoio promocional da mídia. Programas como Dr Hollywood, um reality show que mescla a vida pessoal e profissional do cirurgião, fazem enorme sucesso. http://www.youtube.com/watch?v=HmnZKQdHVSY
Outros cirurgiões plásticos, como o Dr. Marcelo Assis, fazem questão de fazer o marketing pró-silicone em programas de entrevista, com um tom mais sério. Ele chega a afirmar que a prótese facilitaria a prevenção do câncer de mama.
Em 20 anos de moda médica para implantes de silicone, foram cinco gerações em próteses, sempre com apoio maciço do mercado médico via mídia. Novas técnicas cirúrgicas também surgiram para responder aos problemas enfrentados pelas mulheres com as primeiras próteses, que atrapalhavam a amamentação. Criou-se uma nova cultura, baseada em fins comerciais, que unificou a autoestima com o tamanho dos seios. Nem as lolitas ficaram de fora.
A adolescência, período de nossas vidas que sempre foi marcado por questionamentos, justamente porque é uma fase em que o corpo começa a ganhar formas diferentes, não costuma ser fácil para 9 entre 10 meninas e meninos. Sempre coube aos pais, família e escola, desenvolver em bases sólidas a autoestima do adolescente, ajudando-o a entender que a pessoa existe pelo que é, não pelo que aparenta ser, que somos únicos entre bilhões e que há em nós muitas particularidades. Cinema, literatura, gosto pelos estudos, música, esportes, artes em geral sempre ajudaram os adolescentes a ultrapassar as inseguranças dos primeiros anos dessa fase.
Um longo processo de amadurecimento e descoberta da sexualidade, que envolve hormônios, músculos e processos de raciocínio reflexivo, não sem a dor e o prazer das singularidades, acabou sendo direcionado para uma urgência de ser o que o mercado exige que sejamos já em tenra idade. Aos 15 anos, aos primeiros sinais desse processo, já estão as adolescentes sendo incentivadas e autorizados a prestar contas de aparências consideradas ideais por meio de cirurgias estéticas.
Um levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica em que foram ouvidos 3 533 médicos associados revelou que, dos 629 mil procedimentos cirúrgicos estéticos feitos entre setembro de 2007 e agosto de 2008, 37,7 mil foram efetuados em adolescentes. O próprio presidente da SBCP, Sebastião Guerra, revela que colocou próteses em 8 garotas de 15 anos em três anos de atendimento. Apontar na direção da insegurança natural dos adolescentes éacertar em alvo fácil.
A adolescência não é a única fase de nossas vidas em que surgem sentimentos de insegurança em relação à aparência. A cada nova etapa de transformação hormonal ou de experiências desestabilizadoras, fracassos e fragilidades, o cérebro reage e vivemos sentimentos de inadequação. A medicina da cirurgia plástica está aí para usar o bisturi sem considerar o que se pode fazer de mais efetivamente eficiente de dentro para fora.
Hoje é raro encontrar uma jovem mãe de 30 anos que não sonhe em colocar uma prótese de silicone para tentar reaver, ainda que com cicatriz e talvez falta de sensibilidade, os seios juvenis.
É claro que há uma modificação estética, sempre houve e todas as mulheres desde que o mundo é mundo percebiam essas mudanças. Mesmo as que não são mães e não amamentam experimentam no próprio corpo a flacidez do tecido mamário.
A urgência, esse desespero em massa para adquirir um seio de silicone, precisa ser revista com mais calma por mulheres e por homens, por toda a sociedade. Principalmente podemos examinar com mais acuidade os argumentos chulos que nos levam a deixar uma filha adolescente colocar uma prótese num corpo sadio em desenvolvimento.
Afirma-se levianamente no universo das plásticas cirúrgicas que uma boa aparência resolve problemas de autoestima. Boa aparência, ótima aparência, aparência ideal, formal, clean, bicho-grilo, aparência de grife e todas as formas de aparência têm a ver com vaidade, não com autoestima, que é outra coisa bem diferente.
Sim, envaidecer-se, enfeitar-se, em todo e qualquer grau e para todos os gostos, nos leva a um sentimento de bem-estar, superficial e passageiro como um final de festa.
Não se sabe de que pele literária tiraram esses doutores que mexer nas profundezas da aparência, com cortes e costuras, resolve problemas de autoestima.
Autoestima sempre foi e sempre será uma sensação interna de se saber singular, uma questão de conteúdo, utilidade, conexão com as singularidades dos outros e do mundo. Autoestima tem a ver com sentimentos e pensamentos que se tornam ação. Essa ligação direta entre seio de silicone e autoestima das mulheres é uma balela que precisamos enfrentar com um pouquinho mais de profundidade.
Confundir investimento em vaidade com investimento em autoestima é o mesmo que afirmar ser possível matar a fome de alguém com a foto de um prato de comida.
É espantoso também o número de senhoras de 50 anos que coloca silicone. Frases como “esses seios flácidos não me pertencem” vagam por aí.
O que será mais que deixamos de realizar na vida para chegar aos 50 anos em busca de um peitão empinado?
O que buscamos de fato nessa luta incessante contra os sinais da maturidade não seria a essência de uma autoestima que jamais foi trabalhada, mas confundida com investimentos em vaidade?
O que amamos nos outros e em nós mesmos ficou assim tão menor que só a mudança de aparência resolve?
É emblemático que o medo do câncer, recheado de exames preventivos, não surja quando as mulheres resolvem se submeter apenas por uma questão estética a essa cirurgia, que de delicada não tem nada.
Cláudia Rodrigues, jornalista, terapeuta reichiana, autora de Bebês de Mamães mais que Perfeitas, 2008. Centauro Editora. Blog: Buenaleche.

Postado no Blog Sul21 em 14/01/2012