


Efeito de Vidro
“A esquerda não tem uma visão crítica em relação aos meios de comunicação. E se ela não consegue ter essa relação em relação à velha mídia - se o máximo que consegue é propor a democratização e ponto - imagina com as novas mídias”, criticou.
“Nós chegamos a um ponto em que os ladrões gritam ‘pega ladrão’ para os não-ladrões. E isso cola! É uma inversão de valores gigantesca”, ironizou.Linguagens totalitárias
Para piorar o quadro, a esquerda não consegue sequer reagir aos sucessivos ataques, porque seus instrumentos são poucos e de curto alcance, enquanto os dos oligopólios que dominam a mídia no país vão longe e promovem uma espécie de “enfeitiçamento” contínuo.“A mídia é uma parte não só ativa na definição do que acontece, mas é parte ativa na criação de ficções, de versões do que ocorre”, ressaltou.
“Se você coloca só um pouquinho de voz de um lado, não é suficiente para fazer contraponto. A assimetria é enorme”, destacou.O resultado, conforme ele, portanto, é um campo de versões e mentiras deliberadas, programadas por uma máquina poderosa, que tem uma capacidade de mobilização das mentes das pessoas bastante importante.
“Não só a classe média já foi ganha, como também existe a uma capilaridade em setores beneficiados pelas políticas desse governo que começam a se submeter a este enfeitiçamento. Há uma operação de enfeitiçamento em curso”, denunciou.Como exemplo, Santos cita as pequenas manifestações por impeachment ou a favor de “intervenção militar” que reúnem meia dúzia de manifestantes e um boneco, mas ganham um espaço enorme no noticiário e na agenda política do país, em detrimento de outras muito maiores organizadas pelos movimentos sociais.
“Há todo um encadeamento de redes de transmissão que fazem com que não-acontecimentos se tornem acontecimentos, com o objetivo de manter no ar permanentemente a perspectiva de golpe”, alertou.O não-diálogo
“Todo mundo aqui já tentou argumentar com uma dessas pessoas de direita, no sentido de demonstrar os absurdos que ela está dizendo, e bateu em um muro. O esclarecimento não resolve. Não há possibilidade de diálogo nem de discussão, porque o irracional surge. Elas não querem ser esclarecidas. São movidas pelo ódio e o ódio é visceral. E esse ódio é alimentado o tempo todo pela mídia e pelas redes sociais”, argumentou.
“Nem corte de grana para emissoras houve. A reação do governo é de submissão e isso estimula o avanço conservador”, acrescentou.Santos sustenta que as forças de esquerda precisam compreender os sinais de perigo e agir.
“A linguagem não é só sentido e produção de conteúdo. A linguagem também é ação. E a ação da linguagem totalitária é mobilizar o negativo das pessoas”, denunciou.O mercado da atenção
“Na internet hoje, o que está em disputa é essa atenção total. Não só o tempo [do internauta], mas a atenção”, afirmou.Segundo ele, o capital se apropriou do que deveria ser espaço de interação e lazer para os trabalhadores e o transformou em mais uma mercadoria.
É por isso que ele classifica o esforço exercido por milhares de usuários das redes sociais para formularem comentários e disputar a atenção de seus seguidores, gratuitamente, é um tipo de trabalho voluntário que contribui para valorizar a marca da empresa, e gerar lucro para o capital.
“Escrever no facebook também é um trabalho. Você gasta tempo, valoriza a empresa. E disputa a atenção dos colegas. Existe um mercado da atenção nas redes sociais. E a gente está disputando esse mercado quando escreve no Facebook. Mas não é um mercado aberto. Ele é controlado por uma empresa”, alertou.