Veja não vai vencer sem lutar



por Eduardo Guimarães
Participei hoje de reunião com entidades e pessoas físicas para defender uma ação conjunta de movimentos sociais e pessoas físicas que entendem que o envolvimento da revista Veja com o bicheiro Carlos Cachoeira é grave demais para ficar impune sem que uma só medida concreta seja tomada para elucidar essas relações tão suspeitas.
Em um primeiro momento, havia o entendimento de que se deveria deixar a CPMI do Cachoeira trabalhar, na esperança de que a parcela da classe política que entende a gravidade dos fatos tomasse alguma atitude. No entanto, à exceção de Fernando Collor e do deputado pernambucano Fernando Ferro (PT), os integrantes da Comissão que não integram partidos cúmplices da Veja parecem ter decidido brindá-la com a impunidade.
Todavia, se a classe política se acovarda isso não quer dizer que a sociedade civil tenha que fazer o mesmo. Há meios de atuar para ao menos não entregar de bandeja a vitória da impunidade a esse grupo empresarial cujos fatos sugerem que pode integrar o crime organizado.
Há dúvidas e resistências para uma ação integrada que vise esclarecer o envolvimento da Veja com uma quadrilha que fincou raízes em cada quadrante da República. Este blogueiro, na condição de presidente da ONG Movimento dos Sem Mídia, está lutando para que isso não ocorra. E está buscando ajuda.
A reunião desta sexta-feira, apesar de não ter sido cem por cento conclusiva, deixa esperança de que ajuda haverá. Até porque, há uma quantidade imoral de evidências de envolvimento da Veja com o crime organizado. Evidências que, de forma ainda mais escandalosa, o Ministério Público Federal ignora.
O Movimento dos Sem Mídia, de uma forma ou de outra, não permitirá que a Veja triunfe sem ter que disparar um só tiro. O MSM não tem medo da Veja, um medo que parece envolver a classe política, os três poderes da República e uma parte considerável da sociedade civil.
Quero deixar registrado que gostaria muito de dividir a luta com outros companheiros e entidades, pois será uma luta dura levar a Veja a ter ao menos que explicar sua relação escandalosa com o crime organizado. Lutar sozinho será muito difícil. Contudo, se não tiver outro jeito, agirei sozinho.  É uma promessa.

Postado no Blog da Cidadania em 06/07/2012

Palavras, palavras, palavras…


shak

Por Izaías Almada

Naquela que é, talvez, uma de suas peças mais estudadas, comentadas e encenadas, a tragédia de “Hamlet”, o dramaturgo William Shakespeare descreve em cena do Segundo Ato, a conversa entre Polônio, pai de Ofélia e o próprio protagonista, que caminha fingindo ler um livro. Perguntado sobre o que está lendo, Hamlet, no seu exercício de dissimulada loucura responde: “Palavras, palavras, palavras, nada mais que palavras…”.
Sem fingir loucura, mesmo porque ela parece se insinuar cada vez mais em cada esquina das cidades em que vivemos, nos parlamentos, na imprensa e nos tribunais de justiça, peço licença ao mestre inglês para usar a sua frase e com ela tentar configurar alguns indícios das pequenas tragédias dos nossos dias:
01 – O senador Demóstenes Torres faz um discurso para um plenário vazio de homens e de ideias: palavras, palavras, palavras…
02 – as convenções partidárias homologam seus candidatos de olho no butim: palavras, palavras, palavras…
03 – Constituída a CPI da Privataria Tucana e…: palavras, palavras, palavras… Nada mais que palavras…
04 – Revolta e resistência em sites, blogues e reuniões ao golpe que destituiu Lugo no Paraguai: palavras, palavras, palavras…
05 – Outro mundo é possível, ouve-se dizer há alguns anos: palavras, palavras, palavras…
06 – A CPMI Veja/Cachoeira/Demóstenes avança em perguntas e recua em alguns silêncios: palavras, palavras, palavras…
07 – Nova Lei de Meios no Brasil ganha grandes promessas e muitas gavetas: palavras, palavras, palavras…
08 – A tortura é crime imprescritível. A Comissão da Verdade não tem poder de punir, portanto: palavras, palavras, palavras…
09 – Por vezes o realismo político exige alianças espúrias… E daí? Palavras, palavras, palavras…
10 – Não há mais clima para golpes de estado no Brasil: palavras, palavras, palavras…
11 – Honduras, Colômbia, Chile, México, Paraguai: palavras, palavras, palavras…
12 – Precisamos mudar São Paulo: palavras, palavras, palavras…
13 – A Veja continua a mentir, A Folha continua a mentir, a Globo continua a mentir e nós não fazemos nada, ou melhor: palavras, palavras, palavras, nada mais que palavras…
14 – Eu escrevo esse artigo e leio outros artigos: palavras, palavras, palavras…
15 – Comentários nesse e em outros blogs, favoráveis ou contrários: palavras, palavras, palavras…
16 – Enquanto a direita age, a esquerda discute: palavras, palavras, palavras…
Fico com a sensação de que se o protesto digital substituir de vez o protesto das ruas, o capitalismo – seja ele selvagem ou civilizado, progressista ou conservador, ortodoxo ou heterodoxo – por pior que seja, ainda nadará de braçada por muitos e muitos anos.
“O resto”, ainda fazendo minhas as palavras de Hamlet, “o resto é silêncio…”.

Izaías Almada é escritor, dramaturgo e roteirista cinematográfico, É autor, entre outros, dos livros “Teatro de Arena, uma estética de resistência”, da Boitempo Editorial e “Venezuela, povo e Forças Armadas”, Editora Caros Amigos.

Postado no blog O Escrevinhador em 06/07/2012


Especialistas derrubam 14 mentiras sobre saúde e alimentação


Laura Tavares


1. Tomar água em jejum emagrece

Mentira. Beber água em jejum é um hábito saudável que deveria ser adotado por todas as pessoas, mas não ajuda a emagrecer. "Ela apenas hidrata e limpa todas as mucosas do aparelho digestivo para poder iniciar a primeira refeição do dia", aponta a nutricionista Roseli Rossi, da clínica Equilíbrio Nutricional, em São Paulo.




2. Assistir televisão de perto prejudica a visão

Mentira. Segundo o oftalmologista Rubens Belfort Neto, membro da Sociedade Brasileira de Oncologia em Oftalmologia, ficar próximo à televisão não prejudica a saúde ocular. "Isso provavelmente surgiu porque a maior parte dos adultos teve perda da visão ao longo da vida, mas isso é um processo natural de envelhecimento", explica. O hábito é comum entre crianças principalmente porque assim elas veem as imagens ampliadas.




3. O estômago encolhe quando comemos menos

Mentira. "Por se tratar de um órgão muscular, não há como o estômago reduzir seu tamanho apenas porque estamos ingerindo uma quantidade menor de alimentos", explica a nutricionista Maria Fernanda Cortez, da clínica Nutri & Consult, em São Paulo. O contrário, entretanto, pode ocorrer. Quando exageramos na dose, nosso estômago consegue se distender para poder armazenar toda a comida.




4. Comer muito doce causa diabetes

Mentira. A ingestão de doces não causa diabetes. A doença tem como principais fatores de risco histórico familiar, obesidade e sedentarismo. "Assim, quem tem uma capacidade normal de processar carboidratos no organismo não corre o risco de desenvolver o problema", explica a clínica geral Andrea Sette, do Hospital e Maternidade São Luiz. Entretanto, se a ingestão de doces levar à obesidade, então você aumenta a probabilidade de ter a doença.




5. Comer carboidratos após às 18 horas engorda

Mentira. O que engorda não é o carboidrato e nem o horário em que é o consumido. O problema está no consumo em excesso e na alimentação desequilibrada, portanto o segredo é a moderação. "O único cuidado que deve ser tomado por quem consome carboidratos à noite é evitar comer o tipo refinado, que promove picos de índice glicêmico e oferecem um risco maior de serem armazenados na forma de gordura", afirma Roseli Rossi. Prefira as versões de carboidratos (pães, massas, arroz) integrais.




6. Usar boné faz o cabelo cair

Mentira. De acordo com o dermatologista Adriano Almeida, diretor da Sociedade Brasileira do Cabelo, as pessoas confundem quebra do fio com queda do cabelo. "O uso do boné diariamente favorece a quebra dos fios justamente na região que costuma ficar marcada pela borda do acessório", explica. Assim, quem tem o cabelo mais comprido pode apresentar diminuição do volume, mas isso não significa que os fios estejam rareando em função da calvície, que é quando os fios deixam de nascer naquela região.




7. Alimentos integrais não engordam

Mentira. Todos os alimentos, inclusive os integrais, possuem calorias e, portanto, podem levar ao ganho de peso. Segundo a nutricionista Roseli, o fato de um alimento ser mais saudável não quer dizer que ele pode ser consumido sem moderação. "Exagerar na ingestão de alimentos integrais também pode aumentar a gordura corporal", complementa.




8. Cerveja preta aumenta a produção de leite materno

Mentira. A cerveja preta não estimula a produção de leite materno e ainda pode ser prejudicial para o bebê, alerta a ginecologista obstetra Bárbara Murayama, membro da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). "O álcool passa para a criança através do leite e nenhum estudo ainda conseguiu estipular uma dose segura de ingestão da bebida para gestantes", aponta. 




9. Tomar leite e comer manga faz mal

Mentira. O mito de que consumir leite e manga faz mal provavelmente surgiu para impedir a ingestão desses alimentos pelos escravos na época do Brasil Império. Mas a nutricionista Maria Fernanda garante que não há qualquer relação de dano para o organismo em misturar a fruta com o laticínio.




10. Ler à noite ou com pouca luz piora a visão

Mentira. Ler em um ambiente com pouca luz não faz mal para os olhos. "Você pode ter dificuldade de enxergar, mas isso não quer dizer que está prejudicando a visão - mesmo que você aperte os olhos para enxergar melhor", explica o oftalmologista Rubens. Segundo o especialista, a tarefa pode ficar mais difícil com a idade, mas isso está relacionado ao envelhecimento natural do ser humano e não ao hábito de ler de noite ou com pouca luminosidade.




11. Quem tem colesterol alto não pode consumir ovo

Mentira. É fato que o ovo apresenta grande quantidade de colesterol em sua gema. "O que as pessoas não sabem é que apesar de aumentar o colesterol LDL (ruim), ele também aumenta os níveis de colesterol HDL (bom)", esclarece Maria Fernanda. Segundo ela, pessoas com colesterol alto podem consumir até quatro ovos por semana e, de preferência, cozidos. O ideal é evitar a versão frita, pois carrega uma gordura nociva ao organismo e que ajuda a elevar as taxas de colesterol.



12. Osteoporose só atinge mulheres


Mentira. "A osteoporose é quatro vezes mais comum em mulheres do que em homens, mas isso não significa que ela seja uma doença exclusivamente feminina", alerta Andrea Sette. Segundo a especialista, isso acontece devido à diminuição do hormônio estrogênio no corpo da mulher após a menopausa, que influencia diversos processos do organismo, inclusive a absorção de cálcio. No entanto, a doença também afeta a ala masculina.




13. Abacaxi queima gordura

Mentira. Por ajudar no processo de digestão, muita gente associou o abacaxi à queima de gordura, mas isso não passa de mito, de acordo com a nutricionista Roseli. "Ele é fonte de vitaminas e, por isso, é muito bem-vindo na dieta, mas não tem qualquer relação com a queima de gordura corporal", explica. 


Pés descalços - Foto Getty Images 


14. Andar descalço causa dor de garganta

Mentira. O contato dos pés com o chão, mesmo gelado, não afeta em nada as vias aéreas superiores, afirma a clínica geral Andrea. Os únicos perigos são ferimentos ou contato com alguma sujeira, o que pode favorecer um processo inflamatório. 


Postado no blog Minha Vida


À primeira vista


Elenita Rodrigues

Os dois estão convencidos de que foi um sentimento súbito que os juntou. É bela uma certeza como essa, mas é mais bela a incerteza. Acham que por não se terem conhecido antes nunca houve nada entre eles. E o que diriam as ruas, escadas, corredores, onde há muito podiam se cruzar? Queria perguntar-lhes se não lembram  na porta giratória talvez um dia cara a cara? em meio à multidão um “com licença”? no telefone a voz “engano”?  mas conheço sua resposta. Não, não se lembram. Ficariam surpreendidos de saber que já faz tempo o acaso brincava com eles. Não preparado ainda a transformar-se para eles num destino, aproximava-os e os afastava, cortava-lhes o caminho e, abafando a gargalhada, saltava para o lado. [...] E o livro da vida sempre aberto no meio. [Wislawa Szimborska, Nobel de literatura em 1996] 


O vídeo é lindo. Ah, eu e esse romantismo que me desconcentra, me faz suspirar, me enche de angústia, mas coloca mais graça e cor na vida com tanta esperança... Ah, sapo encantado, eu SEI que você existe e também está me procurando. Então vê se me encontra logo? =)





Postado no blog Casos Afortunados em 05/07/2012

Nossa Língua Portuguesa com certeza !


Estadão reinventa o idioma


Definição do Houaiss:

Isentar

tornar(-se) isento; livrar(-se), eximir(-se), desobrigar(-se)

O acordo (Prenub, I presume) impede Katie de botar a mão na bufunfa do malucaço Cruise. Isenta Cruise de dividir sua fortuna adquirida antes do casamento com a ex. 

Postado no blog O Esquerdopata em 03/07/2012

Esta tecnologia...



A sociedade do automóvel





A sociedade do automóvel, moldada para conviver e dar amplo espaço aos veículos particulares, está consumindo muitos outros valores que poderíamos cultivar no nosso meio social. Cada vez mais, adotamos o comportamento de manada. 


Vejam as cidades brasileiras, médias e grandes (e mesmo as pequenas): estão deformadas, entupidas e hipertrofiadas para propiciar que o automóvel tenha regalias no meio urbano, em detrimento dos indivíduos e sua liberdade de locomoção e mais qualidade do ar e das águas. 

Os incentivos do lulismo de resultados ao automóvel jamais considerou a necessidade de políticas públicas para o transporte urbano das grandes massas. O próprio programa habitacional Minha Casa, Minha Vida (elogiável em quase todos os aspectos) também não incidiu sobre a revisão das políticas acerca do solo urbano e as medidas para coibir a especulação imobiliária desenfreada e selvagem, bem como sobre o transporte coletivo caótico nas cidades brasileiras. 

Queremos (e podemos) estar entre as dez maiores economias do planeta, mas para tanto não podemos deixar que um artefato do século 19 seja hegemônico no nosso meio e nos imponha tantos sacrifícios e com vantagens bastante discutíveis e ultrapassadas.

Postado no blog Diário Gauche em 03/07/2012

E tudo mudou...






E tudo mudou...


O rouge virou blush 
O pó-de-arroz virou pó-compacto 
O brilho virou gloss 

O rímel virou máscara incolor 
A Lycra virou stretch 
Anabela virou plataforma 
O corpete virou porta-seios 
Que virou sutiã 
Que virou lib 
Que virou silicone 

A peruca virou aplique, interlace, megahair, alongamento 
A escova virou chapinha 
"Problemas de moça" viraram TPM 
Confete virou MM 

A crise de nervos virou estresse 
A chita virou viscose. 
A purpurina virou gliter 
A brilhantina virou mousse 

Os halteres viraram bomba 
A ergométrica virou spinning 
A tanga virou fio dental 
E o fio dental virou anti-séptico bucal 

Ninguém mais vê... 

Ping-Pong virou Babaloo 
O a-la-carte virou self-service 

A tristeza, depressão 
O espaguete virou Miojo pronto 
A paquera virou pegação 
A gafieira virou dança de salão 

O que era praça virou shopping 
A areia virou ringue 
A caneta virou teclado 
O long play virou CD 

A fita de vídeo é DVD 
O CD já é MP3 
É um filho onde éramos seis 
O álbum de fotos agora é mostrado por email 

O namoro agora é virtual 
A cantada virou torpedo 
E do "não" não se tem medo 
O break virou street 

O samba, pagode 
O carnaval de rua virou Sapucaí 
O folclore brasileiro, halloween 
O piano agora é teclado, também 

O forró de sanfona ficou eletrônico 
Fortificante não é mais Biotônico 
Bicicleta virou Bis 
Polícia e ladrão virou counter strike 

Folhetins são novelas de TV 
Fauna e flora a desaparecer 
Lobato virou Paulo Coelho 
Caetano virou um chato 

Chico sumiu da FM e TV 
Baby se converteu 
RPM desapareceu 
Elis ressuscitou em Maria Rita? 
Gal virou fênix 
Raul e Renato, 
Cássia e Cazuza, 
Lennon e Elvis, 
Todos anjos 
Agora só tocam lira... 

A AIDS virou gripe 
A bala antes encontrada agora é perdida 
A violência está coisa maldita! 

A maconha é calmante 
O professor é agora o facilitador 
As lições já não importam mais 
A guerra superou a paz 
E a sociedade ficou incapaz... 

... De tudo. 

Inclusive de notar essas diferenças.
                                                              Luis Fernando Veríssimo

Obs.:  Imagem inserida por mim.



Um Congresso que debate “cura para gays”: mais um capítulo da teocracia brasileira


Aceitar as diferenças faz o mundo melhor !

Idelber Avelar
Procurei bastante por aí, mas não encontrei. Até onde pude averiguar, não há precedente moderno, em nação democrática, de um Congresso Nacional prestando-se ao ridículo papel de discutir “cura para homossexuais”. Você encontrará, claro, deputados individuais dando declarações que sugerem “cura para gays”, como é o caso dohomofóbico costarriquenho Juan Orozco. Mas não consegui achar, em casa legislativa de país democrático, um vexame comparável ao que se prestou a Câmara dos Deputados brasileira nesta quinta-feira. A Câmara se reuniu para um “debate”, uma audiência pública da Comissão de Seguridade Social e Família, acerca de um pedaço de lixo, em forma de Projeto de Decreto Legislativo, defecado por João Campos, evangélico tucano de Goiás e homofóbico-mor do Congresso. O projeto se arroga o direito de sustar uma resolução do Conselho Federal de Psicologia que, com muito atraso, em 1999, definiu que os profissionais da área não patologizarão práticas homoeróticas e não colaborarão com serviços e eventos que proponham tratamento e cura da homossexualidade. Como notou Antonio Luiz Costa, da Carta Capital, mais esdrúxulo ainda é que o pseudo-debate, pasmem, foi convocado por um deputado do Partido Verde.
O estado de exceção em que vivemos se converteu em regra a tal ponto que uma monstruosidade dessas é discutida como se se tratasse de um debate razoável, com duas ou mais posições em comparável condição de reinvindicar a razão ou a verdade. O fato é noticiado como se não fosse absurdo. Votações online colocam as opções como se se tratasse de uma escolha entre termos simétricos, e não a justaposição entre uma posição consensualmente científica e um delírio de psicopatas fundamentalistas. No mundo realmente existente, claro, não há qualquer discussão, em nenhuma disciplina séria, sobre se a homossexualidade é ou não é doença, desvio, aberração ou anormalidade a ser curada. Num país em que se assassina um gay ou lésbica (ou cidadã[o] confundido[a] com gay ou lésbica) a cada 36 horas – lembrando sempre que esses números são brutalmente subrreportados –, aceitar um “debate” nesses termos já é, por definição, sujar as mãos de sangue.
É evidente que, no interior de uma sociedade homofóbica, a violência real e simbólica perpetrada contra gays e lésbicas produzirá sofrimento que, em maior ou menor grau, poderá ter consequências que se encaixam entre as tipicamente tratadas num consultório de psicólogo, psicanalista ou terapeuta. Também é evidente que, nesses casos, o que será tratado ou “curado” – e há toda uma discussão sobre o que essa palavra pode significar, seu clássico sendo o Análise Terminável e Interminável, de Freud – não será, jamais, o desejo, a afetividade ou a prática homoerótica em si, e sim a condição produzida no sujeito, seja lá ela qual for, a partir da violência homofóbica. A Resolução de 1999 do Conselho Federal de Psicologia simplesmente estabelece, como parâmetro ético inegociável para o exercício da profissão, o reconhecimento desse fato, em conformidade com resolução análoga da Organização Panamericana de Saúde.
Há que se atentar que a iniciativa homofóbica dos Deputados João Campos (PSDB-GO) e Roberto de Lucena (PV-SP) vem, toda ela, embrulhada no discurso da liberdade de expressão.  “Deixa a pessoa ter o direito de ser tratada”, diz a pseudo-psicóloga homofóbica Marisa Lobo, estrela do “debate” e convidada de Gleisi Hoffmann a eventos oficiais no Palácio do Planalto (enquanto a tropa de choque governista nas redes sociais inventa cada vez mais malabarismos para dizer que o governo não tem responsabilidade no surto de assassinatos homofóbicos). A baliza ética expressa na resolução do CFP e universalmente aceita entre profissionais de todas as psicoterapias – a saber, a de que homossexualidade não é doença a ser “tratada” – é apresentada por João Campos nos seguintes termos: “É como se o Conselho Federal de Psicologia considerasse o homossexual um ser menor, incapaz de autodeterminação”. No mundo realmente existente, claro, é o jovem gay de 15 anos de idade, e não a corja fundamentalista, que é morto a pauladas na rua. Mas os nossos Deputados acham que é o seu ódio que ainda está sendo cerceado em seu direito de expressão.
Alguns amigos acharam que minha ênfase, ao longo desta sexta-feira no Twitter, no ineditismo desse fato – um Congresso nacional discutindo o direito de se “curar” gays – era contraproducente. Discordo. É importante afirmar:barbárie como esta que está acontecendo no Brasil é raramente encontrada em sociedades democráticas modernas. O evento desta quinta-feira no Congresso é mais uma reiteração dessa barbárie. A única postura que cabe em relação a esse “debate” é denunciar sua própria existência.
Postado no blog Revista Forum em 30/06/2012
Imagem inserida por mim.