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Como chegamos aqui? Por Boaventura de Sousa Santos



Resistindo a reconhecer seu declínio, desde a saída caótica do Afeganistão ao medíocre desempenho na pandemia, os EUA insistem em fugas para a frente.

A soberania da Ucrânia não pode ser posta em causa. A invasão da Ucrânia é ilegal e deve ser condenada. A mobilização de civis decretada pelo presidente da Ucrânia pode ser considerada um ato desesperado, mas faz prever uma futura guerra de guerrilha. Putin deveria ter presente a experiência dos EUA no Vietnã: o Exército regular de um invasor, por mais poderoso que seja, acabará por ser derrotado, se o povo em armas se mobilizar contra ele. Tudo isto faz prever incalculáveis perdas de vidas humanas inocentes. Ainda mal refeita da pandemia, a Europa prepara-se para um novo desafio de proporções desconhecidas. A perplexidade perante tudo isto não poderia ser maior.

A pergunta é esta: como e por quê chegamos aqui? Há trinta anos a Rússia (então União Soviética) saía derrotada da Guerra Fria, desmembrava-se, abria as suas portas ao investimento ocidental, desmantelava o Pacto de Varsóvia, o correspondente soviético da OTAN, os países do Leste Europeu emergiam da subordinação soviética e prometiam democracias liberais numa vasta área da Europa. O que se passou desde então para que o Ocidente esteja hoje de novo a defrontar a Rússia? Dada a diferença de poder entre a Rússia e as potências ocidentais em 1990, a resposta mais imediata será que tal se deve à total inépcia dos líderes ocidentais para capitalizaram os dividendos do colapso da União Soviética.

Sem dúvida que a inépcia é patente e caracteriza bem o comportamento da União Europeia ao longo destes anos. Foi incapaz de construir uma base sólida para a segurança europeia que obviamente teria de ser construída com a Rússia, e não contra a Rússia, quanto mais não seja para honrar a memória de cerca de vinte e quatro milhões de mortes, o preço que a Rússia pagou para se libertar e liberar a Europa do jugo nazista.

Mas esta resposta é insuficiente se tivermos em mente a política externa dos EUA nos últimos trinta anos. Com o fim da Guerra Fria, os EUA sentiram-se donos do mundo, um “mundo finalmente unipolar”. As potências nucleares que os podiam ameaçar estavam neutralizadas ou eram amigas. As ideias de correlação de forças e de equilíbrio de poderes desapareceram do seu vocabulário. Esta acalmia fazia inclusivamente prever o fim da OTAN por falta de objetivo.

Mas havia a Iugoslávia, o país que, depois do fim da ocupação nazista em 1945, o general Tito tinha transformado numa federação de regiões (Croácia, Eslovénia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Sérvia Kosovo, Macedónia), um regime que se pretendia independente tanto da União Soviética como do Ocidente. Os EUA, com o entusiástico apoio da Alemanha, acharam que era tempo da Iugoslávia colapsar. Os graves conflitos internos e as crises financeiras dos anos 1980 foram aproveitadas para fomentar a divisão e o ódio. Uma região, onde antes florescera o convívio interétnico e inter-religioso, transformou-se num campo de ódios.

A nova guerra dos Balcãs, no início da década de 1990, transformava-se assim na primeira guerra em solo europeu depois de 1945. Violência inaudita foi cometida por todos os contendores, mas para o Ocidente, os vilões eram apenas os sérvios, todos os outros povos eram nacionalistas heroicos. Os países ocidentais (à cabeça, a Alemanha) apressaram-se a reconhecer a independência das novas repúblicas em nome dos direitos humanos e da proteção das minorias. Em 1991, o Kosovo exigia em referendo a sua independência da Sérvia e oito anos depois a OTAN bombardeava Belgrado para fazer cumprir a vontade dos kosovares.

Qual é a diferença entre o Kosovo e Donbass, onde as repúblicas etnicamente russas realizaram referendos em que se manifestaram a favor da independência? Nenhuma, exceto que o Kosovo foi apoiado pela OTAN e as repúblicas do Donbass são apoiadas pela Rússia. Os acordos de Minsk de 2014 e 2015 previam a grande autonomia destas regiões. A Ucrânia recusou-se a cumpri-los. Foram, pois, rasgados muito antes de Putin fazer o mesmo. Qual a diferença entre a ameaça à sua segurança sentida pela Rússia perante o avanço da OTAN e a “crise dos mísseis” de 1962, quando os soviéticos tentaram instalar mísseis em Cuba e os EUA, ameaçados na sua segurança, prometeram defender-se com todos os meios, inclusivamente a guerra nuclear?

A resposta à pergunta sobre como e por que chegamos aqui reside fundamentalmente num erro estratégico dos EUA e da OTAN, o de não terem visto que nunca estiveram num mundo unipolar por eles dominado. No momento em que terminava a primeira guerra fria, crescia a China, com o apoio entusiasta das empresas norte-americanas em busca de salários baixos. Assim germinava o novo rival dos EUA, e com isso a nova Guerra Fria em que estamos a entrar, aliás potencialmente mais séria que a anterior. Apostados em não reconhecer o seu declínio, desde a saída caótica do Afeganistão ao medíocre desempenho na pandemia, os EUA insistem em fugas para a frente, e nessa estratégia pretendem arrastar a Europa.

Esta pagará uma alta fatura pelo que se está acontecendo. A mais alta de todas recairá sobre a Alemanha, o motor da economia europeia e a única verdadeiramente concorrente dos EUA. É fácil concluir quem beneficiará da crise que aí vem, e não me refiro apenas a quem irá fornecer petróleo e gás.

Por sua vez, a tentativa de isolar a Rússia, sobretudo depois de 2014, visa acima de tudo a China. Será outro erro estratégico pensar que assim se enfraquece a China. A China acaba de declarar que não há comparação possível entre a Ucrânia e Taiwan porque, para ela, Taiwan é território chinês. A implicação é clara: para a China, a Ucrânia não é território russo. Mas daí a pensar que se está a criar uma divisão entre a China e a Rússia será pura auto-ilusão.

Não tenho dúvida de que para a Europa é melhor um mundo multipolar governado por regras de coexistência pacífica entre as grandes potências do que um mundo exclusivamente dominado por um só país, porque, se isso alguma vez vier a suceder, será à custa de muito sofrimento humano. A invasão da Ucrânia é inaceitável. O que não se pode dizer é que não foi provocada. A Rússia, como grande potência que é, não se devia deixar provocar. Será que a invasão da Ucrânia é mais uma demonstração de fraqueza do que de força? Os próximos tempos o dirão.

Boaventura de Sousa Santos é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Autor, entre outros livros, de O fim do império cognitivo (Autêntica).




Como chegamos aqui? Por Boaventura de Sousa Santos



Resistindo a reconhecer seu declínio, desde a saída caótica do Afeganistão ao medíocre desempenho na pandemia, os EUA insistem em fugas para a frente.

A soberania da Ucrânia não pode ser posta em causa. A invasão da Ucrânia é ilegal e deve ser condenada. A mobilização de civis decretada pelo presidente da Ucrânia pode ser considerada um ato desesperado, mas faz prever uma futura guerra de guerrilha. Putin deveria ter presente a experiência dos EUA no Vietnã: o Exército regular de um invasor, por mais poderoso que seja, acabará por ser derrotado, se o povo em armas se mobilizar contra ele. Tudo isto faz prever incalculáveis perdas de vidas humanas inocentes. Ainda mal refeita da pandemia, a Europa prepara-se para um novo desafio de proporções desconhecidas. A perplexidade perante tudo isto não poderia ser maior.

A pergunta é esta: como e por quê chegamos aqui? Há trinta anos a Rússia (então União Soviética) saía derrotada da Guerra Fria, desmembrava-se, abria as suas portas ao investimento ocidental, desmantelava o Pacto de Varsóvia, o correspondente soviético da OTAN, os países do Leste Europeu emergiam da subordinação soviética e prometiam democracias liberais numa vasta área da Europa. O que se passou desde então para que o Ocidente esteja hoje de novo a defrontar a Rússia? Dada a diferença de poder entre a Rússia e as potências ocidentais em 1990, a resposta mais imediata será que tal se deve à total inépcia dos líderes ocidentais para capitalizaram os dividendos do colapso da União Soviética.

Torcemos para que os astros estejam errados !

 





Torcemos para que os astros estejam errados !

 





Exército Vermelho salvou humanidade do nazismo




No capitalismo, as guerras são fruto da concorrência entre as classes dominantes de diferentes nações pelo domínio do planeta. Na Primeira Guerra Mundial, formaram-se dois blocos imperialistas opostos: Tríplice Aliança (Impérios Alemão, Austro-Húngaro e Turco-Otomano) e a Tríplice Entente (Impérios Inglês, Francês e Russo).

O sol nasce vermelho

Algo novo, entretanto, surgiu durante a Primeira Guerra Mundial: a revolução socialista de outubro de 1917, na Rússia; nova cisão ocorria no mundo, agora dividido em dois sistemas adversos: o capitalismo e o socialismo.

Os dois blocos capitalistas passaram a ter um objetivo comum: a destruição do primeiro Estado operário-camponês da história, em vista da restauração do capitalismo em escala global. Foi com este propósito que o bloco vencedor investiu na economia alemã 15 bilhões de marcos em seis anos (1924-1929).

Quando o nazismo se apossa da Alemanha e explicita seu intento de domínio mundial, as potências capitalistas dominantes não tratam de combatê-lo. Ao contrário, fecham os olhos às suas agressões e até incentivam o monstro nazista a direcionar seu ataque contra a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Em 1939, a URSS propôs à Inglaterra e França um pacto para ações militares conjuntas se os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), bloco nazifascista, iniciassem a guerra na Europa. Não houve rejeição formal, mas nenhum passo foi dado por parte dos países capitalistas para concretizar o pacto. Ao contrário, França e Inglaterra firmaram com Alemanha e Japão acordos de não-agressão. Deixada sozinha, em agosto de 1939, a URSS assinou com a Alemanha um tratado de não-agressão. Os dirigentes sabiam que, mais cedo ou mais, tarde Hitler romperia o acordo, mas conseguiram ganhar um tempo valioso para transferir parte de suas indústrias para o leste do grande território soviético, bem como reforçar sua capacidade de defesa militar.

De 1938 a 1941, Hitler ocupou Áustria, Checoslováquia, Polônia, Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega, Grécia, Iugoslávia e finalmente a própria França. Na Europa central e oriental, a Alemanha adquiriu imensa quantidade de material de combate, meios de transporte, matérias-primas, materiais estratégicos e força de trabalho, tornando-se forte o suficiente para atacar a URSS.

Por que os EUA e a OTAN nunca foram punidos por iniciarem guerras



Política dos EUA de Guerra ao Terror resultou em 900 mil mortes, estima estudo (Foto: TECH. SGT. Donald S. Mcmichael/Creative Commons)


Robert Bridge

O Ocidente tomou uma posição extrema contra a Rússia por causa de sua invasão à Ucrânia. Essa reação expõe um alto grau de hipocrisia, considerando que as guerras lideradas pelos EUA no exterior nunca receberam a resposta punitiva que mereciam.

Se os eventos atuais na Ucrânia provaram alguma coisa, é que os Estados Unidos e seus parceiros transatlânticos são capazes de atropelar um país em estado de choque – Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, para citar alguns dos pontos críticos – com impunidade quase total. Enquanto isso, a Rússia e Vladimir Putin estão sendo retratados em quase todas as principais publicações da mídia hoje como a segunda vinda da Alemanha nazista por suas ações na Ucrânia.

Primeiro, vamos ser claros sobre uma coisa. A hipocrisia e os padrões duplos por si só não justificam a abertura das hostilidades por nenhum país. Em outras palavras, só porque os países do bloco da OTAN vêm abrindo caminho de destruição arbitrária em todo o mundo desde 2001 sem sérias consequências, isso não dá à Rússia, ou a qualquer país, licença moral para se comportar de maneira semelhante. Deve haver uma razão convincente para um país autorizar o uso da força, comprometendo-se assim com o que poderia ser considerado “uma guerra justa”. Assim, a pergunta: as ações da Rússia hoje podem ser consideradas “justas” ou, no mínimo, compreensíveis? Deixarei essa resposta para o melhor julgamento do leitor, mas seria inútil não considerar alguns detalhes importantes.

A Rússia e a expansão da Otan

Apenas para os consumidores de fast food da mídia convencional seria uma surpresa que Moscou vem alertando sobre a expansão da OTAN há mais de uma década. Em seu agora famoso discurso na Conferência de Segurança de Munique em 2007, Vladimir Putin perguntou pungentemente aos poderosos globais reunidos à queima-roupa: “Por que é necessário colocar infraestrutura militar em nossas fronteiras durante essa expansão [da OTAN]? Alguém pode responder a esta pergunta?” Mais tarde no discurso, ele disse que a expansão dos ativos militares até a fronteira russa “não está relacionada de forma alguma com as escolhas democráticas de estados individuais”.

Não só as preocupações do líder russo foram recebidas com a quantidade previsível de desrespeito em meio ao som ensurdecedor dos grilos, como a OTAN concedeu adesão a mais quatro países desde aquele dia (Albânia, Croácia, Montenegro e Macedônia do Norte). Como um experimento mental que até um idiota poderia realizar, imagine a reação de Washington se Moscou estivesse construindo um bloco militar em expansão contínua na América do Sul, por exemplo.

A verdadeira causa do alerta de Moscou, no entanto, veio quando os EUA e a OTAN começaram a inundar a vizinha Ucrânia com uma deslumbrante variedade de armas sofisticadas em meio a pedidos de adesão ao bloco militar. O que diabos poderia dar errado? Na mente de Moscou, a Ucrânia estava começando a representar uma ameaça existencial para a Rússia.

Em dezembro, Moscou, com sua paciência rapidamente chegando ao fim, entregou rascunhos de tratados aos EUA e à OTAN, exigindo que eles interrompessem qualquer expansão militar para o leste, inclusive pela adesão da Ucrânia ou de quaisquer outros estados. Incluiu a declaração explícita de que a OTAN “não realizará nenhuma atividade militar no território da Ucrânia ou outros estados da Europa Oriental, Sul do Cáucaso e Ásia Central”. Mais uma vez, as propostas da Rússia foram recebidas com arrogância e indiferença pelos líderes ocidentais.

Embora as pessoas tenham opiniões diferentes sobre as ações chocantes que Moscou tomou em seguida, ninguém pode dizer que não foi avisado. Afinal, não é como se a Rússia acordasse em 24 de fevereiro e de repente decidisse que era um dia maravilhoso para iniciar uma operação militar no território da Ucrânia. Então, sim, pode-se argumentar que a Rússia se preocupava com sua própria segurança como justificativa para suas ações. Infelizmente, a mesma coisa pode ser mais difícil de dizer para os Estados Unidos e seus subordinados da OTAN em relação ao seu comportamento beligerante ao longo das últimas duas décadas.

A invasão dos EUA ao Iraque

Considere o exemplo mais notório, a invasão do Iraque em 2003. Essa guerra desastrosa, que os cortes da mídia ocidental classificaram como uma infeliz “falha de inteligência”, representa um dos atos mais flagrantes de agressão não provocada da memória recente. Sem se aprofundar nos detalhes obscuros, os Estados Unidos, tendo acabado de sofrer os ataques de 11 de setembro, acusaram Saddam Hussein do Iraque de manter armas de destruição em massa. No entanto, em vez de trabalhar em estreita cooperação com os inspetores de armas da ONU, que estavam no Iraque tentando verificar as alegações, os EUA, juntamente com o Reino Unido, Austrália e Polônia, lançaram uma campanha de “choque e pavor” contra o Iraque em 19 de março de 2003. Num piscar de olhos, mais de um milhão de iraquianos inocentes foram mortos, feridos ou deslocados por esta flagrante violação do direito internacional.

O Center for Public Integrity informou que o governo Bush, em seu esforço para aumentar o apoio público à carnificina iminente, fez mais de 900 declarações falsas entre 2001 e 2003 sobre a suposta ameaça do Iraque aos EUA e seus aliados. No entanto, de alguma forma, a mídia ocidental, que se tornou a proliferadora mais raivosa da agressão militar, não conseguiu encontrar qualquer falha no argumento pela guerra – isto é, até depois que as botas e o sangue estivessem no chão, é claro.

Pode-se esperar, em um mundo mais perfeito, que os EUA e seus aliados sejam submetidos a algumas duras sanções após essa prolongada “falha” de oito anos contra inocentes. Na verdade, houve sanções, mas não contra os Estados Unidos. Ironicamente, as únicas sanções que resultaram dessa louca aventura militar foram contra a França, um membro da OTAN que recusou o convite, junto com a Alemanha, para participar do banho de sangue iraquiano. A hiperpotência global não está acostumada a tal rejeição, especialmente de seus supostos amigos.

Os políticos americanos, confiantes em seu excepcionalismo divino, exigiram um boicote ao vinho à água engarrafada franceses devido à oposição “ingrata” do governo da França à guerra no Iraque. Outros agitadores da guerra traíram sua falta de seriedade ao insistir que o popular aperitivo conhecido como “French Fries” fosse substituído pelo nome “Freedom Fries”. Assim, a falta de Bordeaux francês, juntamente com a tediosa reformulação dos menus dos restaurantes, parecem ter sido os únicos inconvenientes reais que os EUA e a OTAN sofreram por destruir indiscriminadamente milhões de vidas.
Por que os EUA não foram sancionados?

Agora compare essa abordagem de luva de pelica para os EUA e seus aliados com a situação atual envolvendo a Ucrânia, onde a balança da justiça está claramente pesando contra a Rússia, e apesar de seus avisos não irracionais de que ela estava se sentindo ameaçada pelos avanços da OTAN. Seja o que uma pessoa possa pensar sobre o conflito que agora grassa entre a Rússia e a Ucrânia, não se pode negar que a hipocrisia e os padrões duplos lançados contra a Rússia por seus detratores perenes são tão chocantes quanto previsíveis. A diferença hoje, porém, é que as bombas estão explodindo.

Além das severas sanções a indivíduos russos e à economia do país, talvez melhor resumida pelo ministro da Economia francês, que disse que seu país está comprometido em travar “uma guerra econômica e financeira total contra a Rússia”, houve um esforço profundamente perturbador para silenciar notícias e informações vindas dessas fontes russas que possam dar ao público ocidental a opção de ver as motivações de Moscou. Na terça-feira, 1º de março, o YouTube decidiu bloquear os canais de RT e Sputnik para todos os usuários europeus, permitindo assim que o mundo ocidental se apoderasse de outro pedaço da narrativa global.

Considerando a maneira como a Rússia foi vilipendiada no “império da mentira”, como Vladimir Putin apelidou a terra de seus perseguidores politicamente motivados, alguns podem acreditar que a Rússia merece as ameaças ininterruptas que está recebendo agora. Na verdade, nada poderia estar mais longe da verdade. Esse tipo de arrogância global, que se assemelha a algum tipo de campanha irracional de sinalização de virtude agora tão popular nas capitais liberais, além de inflamar desnecessariamente uma situação já volátil, assume que a Rússia está totalmente errada, ponto final.

Uma abordagem tão imprudente, que não deixa espaço para debate, sem espaço para discussão, sem espaço para ver o lado da Rússia nesta situação extremamente complexa, apenas garante mais impasses, se não uma guerra global completa, mais adiante. A menos que o Ocidente esteja buscando ativamente a eclosão da Terceira Guerra Mundial, seria aconselhável parar com a hipocrisia hedionda e os padrões duplos contra a Rússia e ouvir pacientemente suas opiniões e versões dos eventos (mesmo as apresentadas pela mídia estrangeira). Não é tão inacreditável como algumas pessoas podem querer acreditar.


*Robert Bridge é escritor e jornalista americano. Ele é o autor do livro ‘Midnight in the American Empire: como as corporações e seus servos políticos estão destruindo o sonho americano’.



 






Por que os EUA e a OTAN nunca foram punidos por iniciarem guerras



Política dos EUA de Guerra ao Terror resultou em 900 mil mortes, estima estudo (Foto: TECH. SGT. Donald S. Mcmichael/Creative Commons)


Robert Bridge

O Ocidente tomou uma posição extrema contra a Rússia por causa de sua invasão à Ucrânia. Essa reação expõe um alto grau de hipocrisia, considerando que as guerras lideradas pelos EUA no exterior nunca receberam a resposta punitiva que mereciam.

Se os eventos atuais na Ucrânia provaram alguma coisa, é que os Estados Unidos e seus parceiros transatlânticos são capazes de atropelar um país em estado de choque – Afeganistão, Iraque, Líbia e Síria, para citar alguns dos pontos críticos – com impunidade quase total. Enquanto isso, a Rússia e Vladimir Putin estão sendo retratados em quase todas as principais publicações da mídia hoje como a segunda vinda da Alemanha nazista por suas ações na Ucrânia.

Primeiro, vamos ser claros sobre uma coisa. A hipocrisia e os padrões duplos por si só não justificam a abertura das hostilidades por nenhum país. Em outras palavras, só porque os países do bloco da OTAN vêm abrindo caminho de destruição arbitrária em todo o mundo desde 2001 sem sérias consequências, isso não dá à Rússia, ou a qualquer país, licença moral para se comportar de maneira semelhante. Deve haver uma razão convincente para um país autorizar o uso da força, comprometendo-se assim com o que poderia ser considerado “uma guerra justa”. Assim, a pergunta: as ações da Rússia hoje podem ser consideradas “justas” ou, no mínimo, compreensíveis? Deixarei essa resposta para o melhor julgamento do leitor, mas seria inútil não considerar alguns detalhes importantes.

Quando começamos a ver mais guerras e a falar sobre o uso da bomba nuclear, voltamos a pensar na nossa extinção . . .

 




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Quando começamos a ver mais guerras e a falar sobre o uso da bomba nuclear, voltamos a pensar na nossa extinção . . .

 




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No Brasil e no Mundo . . . 25/02/2022

 











No Brasil e no Mundo . . . 25/02/2022

 




Colapso da sociedade se aproxima rapidamente


Imagem relacionada






Eles estão surdos . . .



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A casa de uma família afetada pela guerra civil na Síria



ikea-syria-hed-2016


No meio do showroom, a casa de uma família afetada pela guerra civil na Síria


Débora Schach

Como fazer com que aqueles que vivem no conforto do Ocidente sintam na pele como é morar em uma zona afetada pela guerra? 

A IKEA teve uma ideia – em sua principal loja da Noruega, reproduziu, em 25 m², a casa de uma família síria que vive nas redondezas de Damasco. 

As paredes sem reboco, os escassos e pobres itens de mobília em seu interior, tudo foi reproduzido nos mínimos detalhes para transportar os noruegueses a uma realidade bem distante da sua. 

Nas tradicionais etiquetas afixadas aos produtos, ao invés do preço, a história de uma típica família síria e suas aflições, incluindo a falta de comida, de remédios e de água potável. 

O mesmo espaço também serviu para divulgar informações sobre como fazer doações em dinheiro para ajudar essas famílias. A campanha, criação da agência POL, foi um esforço em conjunto com a Cruz Vermelha.

A instalação ficou na loja entre os dias 17 e 31 de outubro, foi vista por mais de 40 mil pessoas por semana e ajudou a arrecadar 22 milhões de euros. Via AdFreak.






Postado em Blue Bus em 11/11/2016



Como diz John Lennon " Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz ". . .






Imagem de menino ferido após bombardeio choca e chama atenção para a Síria – de novo




Gabriel Toueg

Há cerca de 1 ano, em meio ao que se tornaria a maior crise de refugiados do mundo, uma imagem chamou a atenção para o assunto e gerou comoção. Aylan Kurdi, um menino sírio, apareceu afogado em uma praia em Bodrum, na Turquia, depois de tentar fugir de seu país, mergulhado em uma longa guerra civil. A imagem percorreu o mundo e serviu de alerta para a questão da crise migratória. 

Agora, de novo a Síria, de novo uma criança. Esse vídeo, publicado no YouTube por um grupo ligado à oposição síria, mostra o garoto Omran Daqneesh, de 5 anos, coberto de sangue e poeira depois de um ataque aéreo em Aleppo. 

Ganhou o mundo e virou manchetes: “o horror de Aleppo“, na BBC Brasil, “a face mais cruel da guerra“, no HuffPost Brasil, “o símbolo dos bombardeios“, no Chile, um “fragmento do horror“, no Reino Unido, “o símbolo do horror“, na Argentina, “o espelho da guerra civil na Síria“, em Portugal, entre muitos outros.

A pergunta que fica, como no ano passado, é: o que essa comoção toda vai fazer pelas crianças sírias mortas todos os dias – em ataques ou afogadas tentando escapar deles?






Postado em Blue Bus em 18/08/2016




Os Culpados !










Na Palestina ocupada, menina de dez anos é jornalista





Jornal GGN – Com apenas dez anos, a jovem Janna Jihad não é mais criança. Na Palestina ocupada por Israel ela faz questão de se colocar no centro dos acontecimentos e registrar tudo para que o mundo veja.

A mais nova jornalista da Palestina (e provavelmente do mundo) começou a trabalhar quando um amigo seu, outro da família e um tio foram mortos a tiros pelas Forças de Ocupação Israelenses (IOF). Ela tinha apenas sete anos.
“Depois eu abandonei o medo e a timidez e decidi documentar todas as violações das IOF em qualquer lugar que eu visitasse; então fiz vídeos no celular e os comentos em inglês e em árabe, para mostrar as violações por parte dos israelenses que a mídia internacional não mostra e para dar a possibilidade para todo o mundo de saber mais sobre a atividade israelense nos territórios palestinos”, contou em entrevista para o site Sputinik.

A jornalista palestina de 10 anos conta sua história à agência Sputnik.

Janna Jihad, a mais nova jornalista da Palestina, disse à agência Sputnik que as forças de ocupação israelenses (IOF, em inglês) tinham matado o seu amigo e um amigo da sua família e que isso foi um momento decisivo de sua vida. Foi por isso que ela começou trabalhando como jornalista, mostrando as violações e a violência de Israel na Palestina. Ela acrescenta que ela quer se tornar jornalista em uma das agências internacionais que, segundo ela, não transmitem informação verdadeira e não dão uma imagem real da Palestina. É por isso que ela quer mudar isso. 

Sputnik: Como foi que você começou trabalhando como jornalista? O que é que levou você a isso? 

Janna Jihad: Comecei há três anos quando eu tinha 7. Eu participei de manifestações perto da nossa casa em Ramallah, por exemplo na manifestação de Nabi Salih (um profeta da Arábia antiga) na aldeia de Nabi Salih. Isto foi uma manifestação contra o novo assentamento israelense na área. Nossa casa era a primeira na zona de entrada para a aldeia, as IOF sempre chegam a esse ponto. Eu sempre gostei de jornalismo desde a minha infância; comecei a participar das manifestações com o celular da minha mãe e a comentar o que eu estava filmando, mostrando os ataques israelenses contra os participantes de manifestações. Com ajuda da minha mãe eu consegui publicar esses vídeos em redes sociais, o que me inspirou a continuar. 

S: Qual foi o momento decisivo que fez você trabalhar como uma jornalista que está sempre presente no centro dos eventos?

JJ: Foi quando as IOF mataram o meu amigo, outro amigo da minha família e o meu tio (eles foram mortos a tiros) à frente dos meus olhos quando eu tinha 7. É que eles me influenciaram. Depois eu abandonei o medo e a timidez e decidi documentar todas as violações das IOF em qualquer lugar que eu visitasse; então fiz vídeos no celular e os comentos em inglês e em árabe, para mostrar as violações por parte dos israelenses que a mídia internacional não mostra e para dar a possibilidade para todo o mundo de saber mais sobre a atividade israelense nos territórios palestinos. 

S: Como você na sua idade conseguiu estar familiarizada com toda a informação da causa palestina para utiliza-la nas reportagens?

JJ: Eu assisti as manifestações contra as colônias israelenses na aldeia de Nabi Salih desde que eu tinha 3 anos; vivi nessa atmosfera. Dado que a nossa casa é a primeira da entrada para a aldeia, nós recebíamos sempre pessoas feridas pelas IOF, além delas assaltarem constantemente a nossa casa. Tudo isso formou aos meus conhecimentos sobre os acontecimentos. Além disso, eu sempre pergunto a minha mãe e meu tio que trabalha na mídia sobre os assuntos que eu não sei para que eles sejam incluídos nos meus vídeos. 

S: Porque é que você utiliza o inglês nas reportagens? Onde você o estudou? É que ajuda a relatar para um público alargado? 

JJ: Primeiramente eu nasci nos EUA mas eu vivi lá só durante três meses. Depois eu cheguei para a Palestina. Eu estudei na escola americana na cidade de Ramallah e aprendi inglês muito bem e meus pais tentam aumentar o meu nível da língua. Acho que os materiais em inglês vão atrair mais pessoas do que os em árabe. Depois eu me dirijo aos palestinos e árabes que vivem nos países ocidentais para que eles saibam o que está acontecendo na Palestina. É assim que estou aumentando o nível do meu inglês para transmitir a minha mensagem ao mundo. 

S: Quais são seus futuros objetivos e ambições? Será que você continuará trabalhando na cobertura do que se passa aí?

JJ: Quando for grande queria me tornar jornalista e trabalhar para uma das agências internacionais. Tudo isso é porque a mídia não diz a verdade sobre as violações nos territórios da Palestina. Quero corrigir isso e mostrar imagens verdadeiras dos eventos. Eu também quero me tornar jogadora de futebol e representar a Palestina em fóruns internacionais e jogos de futebol.

Postado em Luis Nassif Online em 17/06/2016





Vencedor do Pulitzer 2016, Mauricio Lima denuncia Golpe durante premiação




Brasileiro vencedor do Pulitzer denuncia Golpe e Rede Globo 

durante premiação


Maurício Lima, primeiro brasileiro a vencer o prêmio Pulitzer de Jornalismo, denunciou na noite dessa quinta-feira, (28), o golpe em curso no Brasil durante a premiação da Overseas Press Club of America (OPC), cerimônia que reúne os 500 maiores líderes da imprensa mundial. 

A ação reforça o rechaço da imprensa internacional ao processo de Impeachment, que tenta retirar a presidente democraticamente eleita Dilma Roussef do poder a partir das vias institucionais.

Com uma faixa onde se lia “Golpe Nunca Mais” e o uso da marca da Globo, Mauricio quebrou o protocolo e fez uma fala política contra a mídia tupiniquim:

" Gostaria de expressar meu apoio a liberdade de imprensa e a Democracia, que é exatamente o que não está acontecendo no Brasil nesse momento. Sou contra o Golpe "





Há Jornalismo inteligente no Brasil, e ele tem memória: A Rede Globo foi uma das mais entusiasmadas defensoras do golpe de 64 e do sangrento regime que se sucedeu até as Diretas Já, quando o processo democrático foi restabelecido.

Mauricio Lima pela Democracia

Maurício é hoje um dos mais reconhecidos fotojornalistas em atuação. Ganhou o Prêmio Pulitzer 2016 – dado aos melhores trabalhos jornalísticos e literários do mundo – pela cobertura dos refugiados na Europa e no Oriente Médio, além do World Press Photo e o Picture of The Year America Latina, que o considerou o melhor fotografo em 2015 pela documentação da Ucrânia e dos protestos no Brasil.

Semanas antes da votação do Impeachment no Congresso, Mauricio havia cedido uma entrevista para Mídia NINJA, onde ressalta a importância das mídias livres no país.





Postado em Luis Nassif Online em 29/04/2016






11 de outubro  - Passa um pouco das 15h30 quando insurgentes enfrentam do terraço de um prédio residencial a reação das forças leais a Kadafi. Para conseguir disparar a metralhadora, um rebelde sem experiência com a arma é apoiado por outro. Foto: Mauricio Lima
Líbia


Líbia


Líbia


Refugiados sírios
(Imagem: Reprodução Maurício Lima,Pulitzer Prize)













Chomsky : Este é o momento mais crítico na história da humanidade

Numa longa conversa, Chomsky analisa as principais tendências do cenário internacional, critica a escalada militarista do seu país e afirma que as alterações climáticas é o pior problema que a humanidade já enfrentou.



Por Agustín Fernández Gabard e Raúl Zibechi

“Os Estados Unidos foram sempre uma sociedade colonizadora. Ainda antes de se constituir como Estado estava a eliminar a população indígena, o que significou a destruição de muitas nações originais”, sintetiza o linguista e ativista norte-americano Noam Chomsky quando se lhe pede que descreva a situação política mundial. Crítico acérrimo da política externa do seu país, argumenta que desde 1898 se virou para o cenário internacional com o controle de Cuba, “que converteu essencialmente em colónia”, para depois invadir as Filipinas, “assassinando um par de centenas de milhares de pessoas”.

Continua a alinhavar uma espécie de contra-história do império: “Depois roubou o Hawai à sua população original, 50 anos antes de incorporá-la como mais um estado”. Imediatamente depois da segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos converteram-se em potência internacional, “com um poder sem precedente na história, um incomparável sistema de segurança, controlava o hemisfério ocidental e os dois oceanos, e naturalmente traçou planos para tentar organizar o mundo de acordo com os seus desejos”.

Concorda que o poder da superpotência diminuiu em relação ao que tinha em 1950, o pico do seu poder, quando acumulava 50 por cento do produto interno bruto mundial, que agora caiu para 25 por cento. Ainda assim, parece-lhe necessário recordar que os Estados Unidos continuam a ser “o país mais rico e poderoso do mundo, e a nível militar é incomparável”.

Um sistema de partido único

Há algum tempo Chomsky comparou as votações no seu país com a escolha de uma marca de pasta de dentes num supermercado. “O nosso é um país de um só partido político, o partido da empresa e dos negócios, com duas facções, democratas e republicanos”, proclama. Mas acha que já não é possível continuar a falar de duas velhas comunidades políticas, já que as suas tradições sofreram uma mutação completa durante o período neoliberal.

“São os republicanos modernos que se fazem chamar democratas, enquanto a antiga organização republicana ficou fora do espectro, porque ambas as partes se deslocaram para a direita durante o período neoliberal, tal como aconteceu na Europa”. O resultado é que os novos democratas de Hillary Clinton adotaram o programa dos velhos republicanos, enquanto estes foram completamente tomados pelos neoconservadores. “Se você vir os espetáculos televisivos onde dizem debater, só gritam uns com os outros e as poucas políticas que apresentam são aterradoras”.

Por exemplo, ele aponta que todos os candidatos republicanos negam o aquecimento global ou são céticos, que apesar de não o negarem dizem que os governos não devem fazer algo sobre isso. “No entanto, o aquecimento global é o pior problema que a espécie humana jamais enfrentou, e estamos a dirigir-nos para um desastre completo”. Na sua opinião, as alterações climáticas têm efeitos só comparáveis com a guerra nuclear. Pior ainda, “os republicanos querem aumentar o uso de combustíveis fósseis. Não estamos perante um problema de centenas de anos, mas de uma ou duas gerações”.

A negação da realidade, que caracteriza os neoconservadores, corresponde a uma lógica semelhante à que impulsiona a construção de um muro na fronteira com o México. “Essas pessoas que tentamos afastar são as que fogem da destruição causada pelas políticas norte-americanas”.

“Em Boston, onde vivo, há um par de dias o governo de Obama deportou um guatemalteco que viveu aqui durante 25 anos; tinha uma família, uma empresa, era parte da comunidade. Tinha escapado da Guatemala destruída durante a administração Reagan. Em resposta, a ideia é construir um muro para proteger-nos. Na Europa é o mesmo. Quando vemos que milhões de pessoas a fugir da Líbia e da Síria para a Europa, temos que nos interrogar sobre o que aconteceu nos últimos 300 anos para chegarmos a isto”.

Invasões e alterações climáticas retroalimentam-se

Há apenas 15 anos não existia o tipo de conflito que observamos hoje no Médio Oriente. “É consequência da invasão norte-americana do Iraque, que é o pior crime do século. A invasão britânica-norte-americana teve consequências horríveis, destruíram o Iraque, que agora é classificado como o país mais infeliz do mundo, porque a invasão tirou a vida a centenas de milhares de pessoas e criou milhões de refugiados, que não foram acolhidos pelos Estados Unidos e tiveram que ser recebidos pelos países vizinhos pobres, os quais foram encarregados de recolher as ruínas do que nós destruímos. E o pior de tudo é que instigaram um conflito entre sunitas e xiítas que não existia antes”.

As palavras de Chomsky recordam a destruição da Jugoslávia durante a década de 1990, instigada pelo Ocidente. Destaca que, tal como Sarajevo, Bagdade era uma cidade integrada, onde os diversos grupos culturais compartilhavam os mesmos bairros, se casavam com membros de diferentes grupos étnicos e religiões. “A invasão e as atrocidades que se seguiram instigaram a criação de uma monstruosidade chamada Estado Islâmico, que nasce com financiamento saudita, um dos nossos principais aliados no mundo”.

Um dos maiores crimes foi, em sua opinião, a destruição de grande parte do sistema agrícola sírio, que assegurava a alimentação, o que levou milhares de pessoas para as cidades, “criando tensões e conflitos que explodem mal começa a repressão”.

Uma das suas hipóteses mais interessantes consiste em cruzar os efeitos das intervenções armadas do Pentágono com as consequências do aquecimento global.

Na guerra no Darfur (Sudão), por exemplo, os interesses das potências convergem com a desertificação que expulsa populações inteiras das zonas agrícolas, o que agrava e agudiza os conflitos. “Estas situações desembocam em crises horríveis, como acontece na Síria, onde se regista a maior seca da sua história que destruiu grande parte do sistema agrícola, gerando deslocações, exacerbando tensões e conflitos”, reflete.

Ainda não temos pensado profundamente, destaca, sobre o que implica esta negação do aquecimento global e os planos a longo prazo que os republicanos pretendem acelerar: “Se o nível do mar continua a subir e sobe mais rapidamente, vai engolir países como o Bangladesh, afetando centenas de milhões de pessoas. Os glaciares do Himalaia derretem-se rapidamente pondo em risco o abastecimento de água ao sul da Ásia. Que vai acontecer a esses milhares de milhões de pessoas? As consequências iminentes são horrendas, este é o momento mais importante na história da humanidade”.

Chomsky acredita que estamos perante uma curva da história em que os seres humanos têm que decidir se querem viver ou morrer: “Digo-o literalmente. Não vamos morrer todos, mas destruir-se-iam as possibilidades de vida digna, e temos uma organização chamada Partido Republicano que quer acelerar o aquecimento global. Não exagero - remata– é exatamente o que querem fazer”.

A seguir, cita o Boletim de Cientistas Atómicos e o seu Relógio do Apocalipse, para recordar que os especialistas sustentam que na Conferência de Paris sobre o aquecimento global era impossível conseguir um tratado vinculante, apenas acordos voluntários. “Porquê? Porque os republicanos não o aceitariam. Bloquearam a possibilidade de um tratado vinculante que poderia ter feito algo para impedir esta tragédia em massa e iminente, uma tragédia como nunca existiu na história da humanidade. É disso que estamos a falar, não são coisas de importância menor”.

Guerra nuclear, possibilidade certa

Chomsky não é das pessoas que se deixam impressionar por modas acadêmicas ou intelectuais; o seu raciocínio radical e sereno procura evitar furores e, talvez por isso, mostra-se avesso a aceitar a anunciada decadência do império. “Tem 800 bases em todo o mundo e investe no seu exército tanto como todo o resto do mundo. Ninguém tem algo assim, com soldados a combater em todas as partes do mundo. A China tem uma política principalmente defensiva, não possui um grande programa nuclear, ainda que possa crescer”.

O caso de Rússia é diferente. É a principal pedra no sapato da dominação do Pentágono, “porque tem um sistema militar enorme”. O problema é que tanto a Rússia como os Estados Unidos estão a ampliar os seus sistemas militares, “ambos estão a atuar como se a guerra fosse possível, o que é uma loucura coletiva”. Pensa que a guerra nuclear é irracional e que só poderia acontecer em caso de acidente ou erro humano. No entanto, coincide com William Perry, ex-secretário da Defesa, que disse recentemente que a ameaça de uma guerra nuclear é hoje maior do que era durante a guerra fria. Chomsky considera que o risco se concentra na proliferação de incidentes que envolvem forças armadas de potências nucleares.

“A guerra esteve muito próxima inúmeras vezes”, admite. Um dos seus exemplos favoritos é o que aconteceu durante o governo de Ronald Reagan, quando o Pentágono decidiu pôr a prova a defesa russa mediante a simulação de ataques contra a União Soviética.

“Resultou que os russos levaram isso muito a sério. Em 1983, depois de os soviéticos automatizarem os seus sistemas de defesa detetaram um ataque de míssil norte-americano. Nestes casos o protocolo é ir diretamente ao alto comando e lançar um contra-ataque. Havia uma pessoa que tinha que transmitir essa informação, Stanislav Petrov, mas decidiu que era um falso alarme. Graças a isso estamos aqui a falar”.

Aponta que os sistemas de defesa dos Estados Unidos têm erros sérios e há umas semanas foi divulgado um caso de 1979, quando se detetou um ataque em massa com mísseis a partir da Rússia. Quando o conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, estava a levantar o telefone para chamar o presidente James Carter e lançar um ataque de represália, chegou a informação de que se tratava de um falso alarme. “Há dezenas de falsos alarmes em cada ano”, assegura.

Neste momento as provocações dos Estados Unidos são constantes. “A NATO está a realizar manobras militares a 200 metros da fronteira russa com a Estónia. Nós não toleraríamos algo assim que acontecesse no México”.

O caso mais recente foi o abate de um caça russo que estava a bombardear forças jihadistas na Síria em fins de novembro. “Há uma parte da Turquia quase rodeada por território sírio e o bombardeiro russo voou através dessa zona durante 17 segundos, e derrubaram-no. Uma grande provocação que felizmente não foi respondida pela força, mas levaram o seu mais avançado sistema antiaéreo para a região, o que lhes permite derrubar aviões da NATO”. Argumenta que factos semelhantes estão a acontecer diariamente no mar da China.

A impressão que emerge dos seus gestos e reflexões é que se as potências que são agredidas pelos Estados Unidos atuassem com a mesma irresponsabilidade que Washington, o destino estaria traçado.


Entrevista com Noam Chomsky, por Agustín Fernández Gabard e Raúl Zibechi, publicada no jornal La Jornada em 7 de fevereiro de 2016. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net