Rodrigo Constantino lamenta a falta de machos
Pablo Villaça
Rodrigo Constantino, colunista da Veja, publicou um artigo (que me recuso a linkar) no qual protesta, veemente, contra o fim da figura do "macho", que estaria sendo substituída pela de homens sensíveis - que, de acordo com ele, jamais seriam capazes de satisfazer uma mulher de fato.
Este, aliás, é só o começo de um texto inacreditavelmente tolo, machista e míope.
Aliás, depois de comentá-lo brevemente, postei uma série de tweets que compilo abaixo para atender aos pedidos de alguns leitores que solicitaram que eu os reunisse em algum lugar de fácil consulta.
Para começo de conversa, o conceito de "macho" defendido por Constantino é anacrônico e defasado como sua visão política; pertence a um século de afirmação da virilidade através da brutalidade e da secura. O sujeito afirma, por exemplo, que as mulheres não apreciam homens sensíveis; eu, por outro lado, não acredito que elas apreciem que um homem tente falar por elas.
Mas estas posições de Constantino não me espantam, já que ele é o pacote completo da neodireita que defende interesses neoliberais das grandes empresas, detesta minorias e vomita desinformação e preconceito.
Aliás, ele está na revista certa, tem os leitores que merece e apoia o candidato ideal à sua visão de mundo torta. É um sub-Rush Limbaugh.
Esta direita de Constantino, Mainardi, Azevedo, Olavo de Carvalho, Pondé e Aécio Neves é inspirada no Tea Party norte-americano: protestam sempre contra intervenção estatal, querem "Estado mínimo", mas ao mesmo tempo exigem que este limite os interesses das minorias, desde casamento homossexual a direitos das mulheres.
É a direita que prega que o mercado se regule (ou seja: que não haja regulação nenhuma) e que o Estado beneficie os ricos - fórmula que levou à crise de 2008.
É a direita que quer privatizar tudo para que as empresas particulares lucrem até com os recursos naturais do país, tirando, no processo, a possibilidade de que o Estado tenha verba para dar suporte a quem precisa.
Se você for negro, gay, mulher ou pobre, querem que se cale, que pare com esse negócio de "exigir direitos". Mas se for branco, homem e rico, o Estado tem OBRIGAÇÃO de te ajudar: menos impostos, mais direitos e zero de regulação.
O problema é que o homem branco rico é minoria e seu voto, para seu desespero, conta tanto quanto o da mulher negra, gay e pobre.
Para contornarem isso, os que detêm poder usam a mídia para criar um retrato de caos e desestabilidade para tentar levar o povo a votar contra os próprios interesses e em prol daqueles que já têm tudo.
Exemplo nos Estados Unidos que Constantino tanto ama: há duas semanas, a Suprema Corte dos EUA determinou que as EMPRESAS (vejam só) têm direito a manifestar CREDO RELIGIOSO. O objetivo: permitir que as corporações neguem planos de saúde às funcionárias que, mais caros, incluam direito a métodos contraceptivos.
Sim, os Estados Unidos agora inventaram o conceito de CORPORAÇÕES COM CREDO.
E é por isso que figuras como Constantino lambem o saco dos EUA: porque lá as empresas têm mais direitos que os cidadãos.
É isso que querem pro Brasil. Vender tudo, colocar todas as nossas riquezas nas mãos de empresários. Petróleo, água, energia, tudo.
E usam a imprensa para convencer o cidadão comum a botar no poder quem permita que façam isso.
É uma estratégia antiga, óbvia e que, antes da Internet, funcionava na maioria das vezes, já que detinham quase exclusivamente a informação.
Não mais.
Postado no blog Só Que Não em 15/07/2014