“Não. Mas nós procuramos não submeter a herança e a memória de papai a barreiras que tornem inaccessível o acesso a ele. Nesse aspecto, somos bastante liberais. O que impedimos é o uso indevido, é a distorção, é o uso comercial descontrolado, é o desrespeito. Então, o prêmio nos pareceu uma maneira de manter viva a memória dele junto àquele público. Uma coisa boa.
Só neste ano, quando a globo imprime um caráter essencialmente político ao prêmio e usa o nome de papai para beneficiar uma pessoa contrária a ele é que isso pesou. Mas parece que foi o último ano do prêmio. Depois desta vez, espero sinceramente que sim.”
Vocês consultaram advogado, ou pretendem fazê-lo, para desautorizar a Globo de instituir, no futuro, esse premio com o nome do seu pai? Vocês vão à justiça?
“Depois de 13 anos, fica difícil, do ponto de vista jurídico, questionar a existência do Troféu Mário Lago. Mas não acredito que será necessário. Duvido que a globo repita a premiação.”
E vocês, filhos de Mário Lago, vão levar adiante o projeto de instituírem o verdadeiro Prêmio Mário Lago em 2015?
“Alguns amigos, como o produtor cultural Paulinho Figueiredo e o Márcio Brant, deram essa ideia, do Troféu Verdadeiro Mário Lago. A cerimônia seria no BIP-BIP, em Copacabana, único bar que tem projeto social e compromisso político.
É um reduto democrático e cultural do Rio. Pode ser que role. Será uma votação democrática. Mas eu já tenho algumas indicações: se for artista, a cantora Beth Carvalho, guerreira de 2014, e o ator e eterno grande aprendiz Tonico Pereira. Se for jornalista, todos os profissionais dos blogs de resistência ao monopólio da mídia. Sempre recomendo: quem quiser se informar vá aos blogs.”
A repercussão do fato continua. Como ela está sendo agora?
“A repercussão é muito além do que eu pensava. O assunto esteve no topo dos assuntos mais populares em blogs como o Viomundo, Diário do Centro do Mundo, BR 24/7... é espantoso.
Em um único dia, recebi mais de mil pedidos de amizade no facebook. Não estou dando conta de responder todas as mensagens. Só recebi três mensagens negativas, me condenando. O que mais vem é apoio. Há pessoas que até me chamam de corajosa, exemplar, guerreira. Isso tem muito a ver com a força que se acredita que a globo tenha.
Muitos temem a globo, inclusive pessoas cujas carreiras nem passam perto do mercado da globo. Por isso, acho que acabou sendo um tiro no pé que colocou sob os holofotes o que estava se aquietando.
Foi um erro enorme de marketing, falando a linguagem deles. Não sei quem aconselhou ou exigiu, mas esse alguém errou porque voltou a chamar enormemente a atenção para os desmandos da emissora.”
Nem todos percebem que em 50 anos, o mundo mudou e cada vez há menos Homers Simpsons na audiência do JN - aqueles mesmos robôs assim batizados pelo próprio editor chefe do noticiário.
Abaixo, a Nota de Graça Lago
Primeiro, me apresento – sou Graça Lago, filha de Mário Lago, tenho 63 anos, 50 de militância política e 46 de jornalismo.
O prêmio com o nome de papai foi instituído em 2002, ano da morte dele, e parecia uma homenagem bacana à memória dele. Nada grandioso, nem um pouco espetacular, apenas um prêmio corriqueiro de uma emissora de TV (onde ele trabalhou muitos anos) e destinado a homenagear artistas, principalmente atores. Nada especial, mas que poderia manter a sua lembrança viva. Bacana.
Nunca nos consultaram sobre isso, mas confesso que fiquei profundamente emocionada quando, passados sete meses da morte de papai, foi anunciado o prêmio, com um belo clipping sobre a trajetória dele e dedicado à grande atriz e pessoa de Laura Cardoso.
Durante todos esses anos, o prêmio se manteve em um patamar honesto, com homenagens a diferentes artistas. Ainda que não concordasse com um ou outro, nenhum ofendia a memória de papai; nem na escolha e nem na cerimônia, é importantíssimo registrar.
Mas, desta vez, foi tudo diferente, foi tudo armado e instrumentalizado (como quer o Bonner) para fazer da premiação um ato político, de defesa das orientações facciosas da globo e de seu principal (embora decadente) telejornal.
Foi uma pretensa maneira de usar o prêmio para abafar as críticas que a partidarização do JN e de seu editor/apresentador vêm recebendo.