Mostrando postagens com marcador terrorismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador terrorismo. Mostrar todas as postagens

A França e o sequestro das boas intenções


Hollande Syria Islamic State Daesh France terrorism Paris



Diógenes Júnior, no site dos Jornalistas Livres:

Há uma tentativa da mídia, por sinal bem exitosa, de sequestrar o emocional das pessoas, comparando os atentados ocorridos no último dia 13 em Paris com os atentados de 11 de setembro nos EUA, vitimizando a França e relativizando os ataques que essa mesma França praticou contra a Síria e o Iraque, por exemplo.

Diante de duas tragédias, a proporção da cobertura midiática revela a desproporção de sua comoção.

As lágrimas meticulosamente estudadas e oportunamente derramadas pelo presidente francês François Hollande durante seu pronunciamento oficial fazem parte de uma estratégia.

A campanha que a rede social Facebook disponibilizou para que seus usuários pudessem mesclar as cores da bandeira da França com suas fotos de perfil são de um altruísmo questionável e extremamente seletivo.

A enorme quantidade de pessoas que utilizaram esse recurso, ou mesmo as que trocaram suas fotos de perfil por bandeiras da França são reflexo do sucesso de uma mesma estratégia, também de tentar sequestrar o emocional de sua audiência.

Jogando com o inconsciente coletivo das pessoas, manipulando reportagens e bombardeando-as com informações pinçadas conforme seus interesses, a mídia tradicional tem pautado a agenda de discussões sobre o tema “terrorismo”, definindo conforme suas convicções comerciais a diferença entre “ataque terrorista” e “legítima defesa diante de injustas agressões”.

Pelas regras contidas nessa agenda midiática, fica pré-estabelecida uma dinâmica em que qualquer ofensiva promovida por um país ocidental contra um país de orientação islâmica é legítima, sempre realizada com os heróicos objetivos de “defender a democracia”, “encontrar armas de destruição em massa” e “acabar com regimes totalitários e ditatoriais”.

No documentário Fahrenheit 9/11, o direitor Michael Moore apresentou ao mundo alguns métodos com os quais os governo dos EUA, tendo como principal aliado a mídia, fizeram a população do país não apenas acreditar que havia evidências de existência de armas de destruição em massa no Iraque, mas também apoiar uma invasão àquele país.

O governo americano declarou ter gasto US$ 845 bilhões no conflito no Iraque. O que não é nada, comparado à perda de mais de *500.000 vidas.

(*A estimativa do total de pessoas mortas na guerra do Iraque entre 2003 e 2011 diverge de fonte para fonte, com números que chegam a até mais de 600. 000 mortes.)

Sequestrar o emocional das pessoas com o objetivo de engajá-las em uma luta contra um “inimigo comum” é uma tática bem conhecida, utilizada em larga escala e por diversas vezes durante a história.

“A propaganda para o público em geral funciona a partir do ponto de vista de uma idéia, e o prepara para quando da vitória daquela opinião.”

Essas palavras, encontradas no livro Mein Kampf, de Adolf Hitler, descrevem o conceito de usar a propaganda para disseminar a idéia de que uma guerra — no caso contra os judeus — se fazia necessária à época e que todos que se engajassem naquela guerra contra o “inimigo comum” sairiam dela como “vitoriosos”.

Voltando para a questão dos ataques ocorridos em Paris, identifico a clara intenção do governo Hollande em criminalizar o Islã, transferindo o cerne da questão, que é política, para abstratas acusações de motivações religiosas.

Para essa empreitada François Hollande conta com um poderosíssimo aliado: a imprensa.

Para antevermos os resultados dessa estratégia podemos usar como parâmetro o que aconteceu nos EUA logo após os atentados de 11 de setembro.

O governo estadunidense recrudesceu em muito a política repressiva que mantinha e o congresso pôs em curso o famigerado “Ato Patriota”, lei que tinha como objetivos reforçar a segurança interna do país e aumentar os poderes das agências de cumprimento das demais leis, além de identificar e deter supostos terroristas. Cerceando e ignorando os direitos civis do povo americano, claro.

Certamente que o parlamento francês reforçará, a exemplo do que fez os EUA, seus dispositivos “antiterrorismo”, o que recrudescerá a repressão contra a população em geral e contra os imigrantes em particular.

A maioria dos muçulmanos não só não aprova como condena a violência e não tem a menor culpa do que aconteceu na França. A despeito disso, suponho que serão ainda mais perseguidos, ainda mais criminalizados e que certamente pagarão pelo que outros fizeram.

Assim como seu aliado EUA, o governo da França comunga, entre outras idéias, da idéia central de que apenas o uso da força bruta pode resolver seus problemas, muitas vezes problemas de ordem social.

(Bem parecido com a política promovida pelo governador de São Paulo, diga-se de passagem)

Marine Le Pen, representante da extrema-direita francesa que já foi candidata à Presidência da República declarou, quando aconteceu o ataque ao jornal Charlie Hebdo, que “o islamismo havia declarado guerra ao seu país” e que o povo “deveria responder sem fraquejar”.

Diante dos fatos apresentados, ouso dizer que a direita francesa está comemorando muito tudo isso, de braços dados com o governo Hollande e grande parcela da mídia mundial.

O restante do mundo, atônito, aguarda desdobramentos tão ou mais trágicos do que a tragédia que se abateu sobre Paris e que ceifou a vida de pelo menos 129 vidas.

A leitura da primeira estrofe de “A Marselhesa” reforça os temores de não apenas muçulmanos, mas de todos os imigrantes em solo francês nesse momento:

“Esses ferozes soldados?
Vêm eles até nós
Degolar nossos filhos, nossas mulheres. Às armas cidadãos!
Formai vossos batalhões!
Marchemos, marchemos!
Nossa terra do sangue impuro se saciará!”
(Hino Nacional da França — A Marselhesa).



Postado no Blog do Miro em 16/11/2015


Colheita macabra


O primeiro ataque ocorreu
por volta das 21h20. Dois atiradores abriram fogo contra os restaurantes Petit
Cambodge e Le Carrillion, no 10º arrondissement, região nordeste da capital


Fernando Brito

Não conheço a Paris de hoje, nunca pus os pés por lá. Mas, pela dor, acabamos todos, neste instante ali bem perto, diante de tamanho morticínio.

Mais ainda porque, se não pus os pés, levou-se à velha Paris a minha cabeça, conduzida pela mão apaixonada de Victor Hugo, por tudo o que a cidade significou na história humana, e a quem ele declarava seu amor incondicional:

“Pode-se dizer que Paris tem as virtudes do cavalheiro: é sem medo e sem censura. Sem medo, ele o prova diante do inimigo.Sem mancha, prova-o diante da história. Teve, por vezes, a cólera: será que o céu não tem vento? Como os grandes ventos, as cóleras de Paris são saneadoras. Depois do 14 de julho, não há mais Bastilha; depois do 10 de agosto (de 1972, a tomada popular do palácio real), não há mais realeza. Tempestades justificadas pela amplificação do azul.”

Não há um que não chore aqueles jovens, que não fizeram nada para ofender ninguém. Mas já são tantos mortos, os das torres gêmeas, os do avião russo, agora os franceses, e os milhares e milhares em Cabul, Damasco, Bagdá e por tantos lugares que já não nos é permitido só chorar: é preciso falar e agir.

O presidente François Hollande acaba de responsabilizar o “Estado Islâmico” – repito, não é Estado, nem Islâmico – pelo ato de barbárie. Não basta prometer resposta implacável, porque, para ser implacável mesmo, há de ser lúcida e não uma primária “vingança”.

Pois é preciso entender o que cria esta monstruosidade.

E me socorro de novo do grande herói francês, sobre o que ele dizia do fundamentalismo religioso, para pensar:

Aqui, uma pergunta. Será que estes homens são maus? Não. Que é que eles são, pois? Imbecis. Ser feroz não é difícil, para isto basta a imbecilidade. Então, será que nasceram imbecis? De forma alguma. Algo os tornou assim. Acabamos de dizê-lo. Embrutecer é uma arte.

A segunda metade do século 20 foi a do fim completo do colonialismo, na Ásia, na Arábia, na África, até nos pequenos protetorados da América Central e do Caribe. Em alguns poucos, a guerra os libertou, como no Vietnã, mas na maioria das vezes a luta pela independência não virou confronto total: ficara evidente que o tempo da dominação colonial passara.

Daquilo sobrou pouco: uma chaga remanescente, dolorosa, a dos palestinos, a quem nunca se permitiu deixar rebrotar na terra as raízes.

Aqueles povos foram aprendendo, com seus erros, acertos e distrofias, a viver sendo de novo seus próprios senhores. Fizeram ditadores? Sim, os fizeram, como aqui os tivemos e nunca nos enviaram tropas para libertar-nos e dar-nos a democracia. Ao contrário, deram alfanges aos que quiseram desabrochar as primaveras que começamos a descobrir.

A primeira década e meia do século 21, ao contrário, tem sido a da intervenção, a da ocupação, o das bombas e mísseis “inteligentes” que iam exterminar as imaginárias “armas de destruição em massa”, mas que atingiram em cheio as estruturas de poder e de convívio – torto, defeituoso, autoritário – que tinham minimamente organizado.

Nunca hesitaram, para isso, em valer-se da fé obscura e fanática. Criaram os Bin Laden e os grupos que virariam o Isis. Não raro, até, lhes enviaram dinheiro, armas e até mesmo alguns de seus cidadãos mais tresloucados, ávidos por viver uma espécie de sacerdócio bélico.

A colheita macabra disso é a noite de ontem em Paris, como outras safras já se colheram em Nova York e nos céus do Sinai.

Pagaram-na com a vida os jovens de Paris. Paga-la-ão em vida os milhões de refugiados com que a guerra que o Ocidente moveu em seus países fez abarrotar a Europa, contra os quais vão se elevar os níveis de xenofobia, discriminação e maus tratos.

Para ficarem em paz talvez nem lhes adiante fazer como seus antepassados tiveram de fazer na Idade Média, tornando-se cristão novos: abjurar da fé, da cultura, da língua, como fizeram os meus Nogueira, os seus Pereira, Carneiro, Lobo, Moreira.

Porque no Ocidente “civilizado” também espalharam-se os esporos do fundamentalismo, que é o fascismo, o ódio ao diferente, o direito auto-concedido de achar-se o puro e aos demais impuros, infiéis.

Semeou-se o ódio, revolveu-se o chão com guerras, brotou o ressentimento, floresceu a insânia e e nos nauseia o cheiro fétido da flor do terror.

Não há caminho para a paz que não seja o do respeito à autodeterminação dos povos.

Todos os outros levam à violência e a violência é uma arma que acaba por ferir a mão de quem a brande.


Postado no Tijolaço em 14/11/2015


As raízes do terror islâmico


Dois brasileiros ficaram feridos na série de atentados, segundo informou a embaixada do Brasil na França. Um deles foi operado e teria perdido muito sangue. O outro sofreu ferimentos, mas não corre risco de morte


Paulo Nogueira

Diante de uma tragédia como a de ontem em Paris, duas atitudes se impõem.


A primeira é chorar cada morte. Na última contagem, 120 pessoas foram mortas pelos atos conjuntos de terrorismo, e dezenas estão feridas, muitas em estado crítico.


A palavra mais comum nos jornais franceses deste sábado é, previsivelmente, horreur, horror.

Derramadas todas as lágrimas, vem a segunda atitude. Tentar compreender como uma violência de tal magnitude pôde acontecer.

É um passo essencial para evitar que outros episódios dantescos como o desta sexta em Paris possam se repetir.

Mas há, aí, uma extraordinária dificuldade em sair de lugares comuns como a “violência radical” do islamismo e dos islâmicos.

Trechos do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, são citados em apoio dessa tese falaciosa e largamente utilizada.

A questão realmente vital é esta: o que leva ao extremismo tantos muçulmanos, sobretudo jovens? Por que eles abandonam vidas confortáveis em seus países de origem, abraçam o terror e morrem sem hesitar pela causa que julgam justa?

Os líderes ocidentais não fazem este exercício porque a resposta àquelas perguntas é brutalmente indigesta para eles.

O terror islâmico nasce do terror ocidental, numa palavra.

Há muitas décadas os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, promovem destruição em massa nos países islâmicos.

Querem garantir o petróleo, a que preço for, e fingem que estão naquela região com propósitos civilizatórios.

O último grande ato de predação foi a Guerra do Iraque. Sabe-se hoje que as razões alegadas pelos americanos e seus aliados britânicos para realizá-la foram mentirosas.

O Iraque de Saddam Hussein simplesmente não tinha as armas de destruição em massa que serviram de pretexto para a guerra.

Um levantamento reconhecidamente criterioso calcula em cerca de 120.000 as mortes de civis iraquianos. Outras fontes falam em meio milhão.

Quem paga por este crime de guerra chancelado por Bush nos EUA e Tony Blair na Grã Bretanha?

Ninguém.

Você pode imaginar o tipo de reação que ações como a Guerra do Iraque provocam entre os sobreviventes da violência ocidental.

Mais recentemente, os drones americanos – os aviões de guerra teleguiados – vem semeando mortes em quantidade pavorosa nos países árabes.

Apenas nos anos de Obama, calcula-se que 500 civis tenham sido mortos pelos drones, muitos deles crianças e mulheres.

No mesmo dia do drama parisiense, os americanos comemoraram a morte, por um drone, do terrorista do Estado Islâmico que se tornou conhecido como Jihadi John. Aparentemente JJ foi quem degolou várias pessoas em medonhas execuções filmadas e postadas na internet.

Brutalidade gera brutalidade.

Bin Laden foi o cérebro por trás de uma mudança radical nas retaliações islâmicas. Ele levou a guerra paradentro dos países ocidentais. O maior exemplo disso foram os atentados de 11 de Setembro.

O que a mídia ocidental quase não noticiou é que Bin Laden virou um ídolo entre os muçulmanos e como tal foi chorado ao ser executado pelos americanos.

Os atentados de Paris obedecem à mesma lógica: transportar os combates para a casa dos inimigos.

O que torna esta guerra ainda mais complicada para os ocidentais é que os soldados islâmicos não se importam de morrer pela causa. Alguns deles se explodiram ontem em Paris.

Sem refletir profundamente sobre as origens do terror islâmico é impossível que a situação mude.

Obama, quando anunciou a morte de Bin Laden, disse famosamente que o mundo ficara mais seguro.

Os episódios de ontem em Paris mostram quanto Obama se equivocou – lamentavelmente.


Paulo Nogueira é Jornalista, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Postado no Diário do Centro do Mundo em 14/11/2015


Paris 13 de Novembro de 2015

Abrem se as cortinas do espetáculo,
a alegria reina na matriz!
Os homens e as mulheres jubilosos
Em festa, em jogos, estão em Paris!

Mas alguém que sofreu tanto,
seja ódio ou desencanto,
decidiu a tudo isso por um fim.

Viu a festa que faziam
sem lembrar dos que morriam
e a própria dor explodiu assim...

A mídia corre a mostrar o inimigo,
um ser monstruoso, um terrível terrorista,
alguém que entrou no lar de uma família
para impor seu pensamento egoísta.

As massas aterrorizadas cantam
seus hinos e demonstram sua coragem
e não percebem que além do fanatismo
continuam movendo a engrenagem.

A máquina que envia avião e drones
extingue famílias de forma impessoal
e vida de homens, mulheres, filhos, filhas
são apenas números de mortos no jornal.

Mas alguém que sofreu tanto,
seja ódio ou desencanto,
decidiu a tudo isso por um fim.

Viu a festa que faziam
sem lembrar dos que morriam
e a própria dor explodiu assim...

Agora choramos nossas vítimas,
não são apenas estatísticas, são gente,
não são de outro mundo, mas do continente
que tudo dominou e arrogante intima.

E a junção da vingança e do ódio
é usada pela mais vil política
que p'ra manter o poder da arma e da guerra
investe na causa que lhe justifica.

Mortos serão números e o medo calará a massa
que aceitará qualquer infame repressão.
Barreiras aos refugiados, controle e opressão
a segurança é o bem contra o mal que ameaça.

( Ronald Pinto )



Rumo a uma nova cruzada ?




Manlio Dinucci, no Il Manifesto | Tradução: Antonio Martins

Movem-se e disparam como verdadeiros comandos. Nada de rajadas, para não desperdiçar munição. Apenas um ou dois disparos em cada vítima, como o policial já ferido e liquidado no chão, com um só tiro, pelo assassino que passa a seu lado, volta ao carro e, antes de subir, recolhe com toda calma um tênis – que poderia servir de prova, por meio de análise do DNA.

No entanto, quando estes mesmos indivíduos, depois de darem mostra de uma preparação digna de um comando de forças especiais, mudam de veículo, “esquecem” no primeiro auto – segundo a versão da polícia – um documento de identidade. E assim, assinam oficialmente o atentado. 

Em poucas horas, o mundo inteiro conhecerá seus nomes e suas biografias: “dois delinquentes de pouca envergadura, radicalizados, conhecidos pela polícia e serviços de inteligência franceses”.

Diante dos fatos que estão sendo definidos como “o 11 de Setembro da França”, não é possível deixar de recordar o sucedido no 11 de Setembro norte -americano, quando – apenas algumas horas após o atentado contra as Torres Gêmeas – circularam os nomes e biografias das pessoas designadas como autores do atentado e integrantes da Al Qaeda. 

Também nos Estados Unidos, quando o presidente Kennedy foi assassinato, o suposto assassino foi descoberto de imediato. E algo idêntico ocorreu na Itália, no massacre da Piazza Fontana. É perfeitamente legítima, portanto, a suspeita de que, por trás do atentado ocorrido na França, possa estar o longo braço dos serviços secretos.

Os dois supostos autores da matança de Paris, se são precisas suas biografias, pertencem ao mundo subterrâneo criado pelos serviços secretos ocidentais – inclusive os da França –, que em 2011 financiaram, treinaram e armaram, na Líbia, diversos grupos islâmicos, pouco antes qualificados de terroristas.

Entre estes grupos, encontravam-se precisamente os primeiros núcleos do futuro Emirado Islâmico (ISIS). 

Segundo uma investigação do New York Times publicada em março de 2013, os serviços secretos ocidentais ofereceram-lhes armamento através de uma rede organizada pela CIA. 

Depois de haverem participado da derrubada de Muamar Kadhafi, foram enviados à Síria, para tentar derrocar o presidente Assad e posteriormente para atacar o Iraque, no momento exato em que o governo de Al-Maliki afastava-se do Ocidente e se aproximava de Pequim e Moscou.

O Emirado Islâmico, nascido em 2013, recebe financiamento da Arábia Saudita, Qatar, Kuwait e Turquia, países que além disso facilitam – junto com a Jordânia – o trânsito do grupo através de seus territórios. 

E não se deve esquecer que os países mencionados são, todos, aliados muito próximos dos Estados Unidos e demais potências ocidentais, incluindo a França. 

Isso não significa que a massa dos membros dos grupos islamitas, que frequentemente provêm de distintos países ocidentais, tenham consciência desta cumplicidade. 

De qualquer maneira, é altamente provável que se escondam, atrás dos terroristas, agentes secretos ocidentais e árabes, especialmente treinados na realização deste tipo de operações.

Enquanto se esperam novos elementos capazes de esclarecer a verdadeira origem do massacre perpetrado na França, parece lógico perguntarmos: Quem se beneficia com tudo isso?

A resposta pode ser deduzida do que declarou Nicolas Sarkozy, o mesmo que – quando presidente da França – foi um dos principais artífices do respaldo aos grupos islâmicos que participara na guerra de agressão à Líbia. 

Sarkozy qualificou o atentado de Paris como uma “guerra declarada contra a civilização, que tem a responsabilidade de se defender”.

Busca-se assim convencer a opinião pública de que o Ocidente está em guerra contra aqueles que querem destruir a “civilização”. 

Implica que o Ocidente representa a “civilização” e, por isso, precisa defender-se, ampliando suas forças militares e enviando-as a todos os lugares onde surja esta “ameaça”.

Trata-se, assim, de converter a dor das massas pelas vítimas do massacre em mobilização a favor da guerra. 

O Davi, coberto em Florença com um véu negro, em sinal de luto, está chamado agora a empunhar a espada na nova Santa Cruzada.


Postado no site Outras Palavras em 13/01/2015


Meu cartaz diria assim : Sim, eu sou a humanidade !



Washington Araújo

Os franceses tiveram no último dia 7 de janeiro o seu 11 de setembro.

Mas são dois episódios muito distintos:

O 11/9/2001 atingiu duas torres-símbolos do sistema financeiro norte-americano, aniquilando 3.278 vidas humanas.

O 7/1/2015 atingiu a redação de um jornal parisiense, o Charlie Hebdo, conhecido por sua irreverência e paixão pela polêmica fácil e quase sempre de mau gosto.

O 11/9 foi em si o auge da espetacularização do terrorismo seguido por comoção mundial que respaldou e buscou legitimar ações armadas contra o terror no Iraque, Afeganistão, Líbia, Síria.

O 7/1 teve em seu auge imediata comoção mundial seguida por breve caçada dos assassinos, sua morte menos de 48 horas do atentado e uma breve expansão do atentado atingindo supermercado judaico e elevando o número de mortes a 17.

O 11/9 matou pessoas aleatoriamente, tanto poderiam ser pessoas comuns fazendo compras em um dos metas shoppings centers de New York quanto milhares de pessoas circulando em sua mais movimentada estação de metrô.

O 7/1 matou pessoas escolhidas a dedo - todas relacionadas com a atividade jornalística, todas envolvidas com a publicação de charges e desenhos ofensivos ao fundador da religião islâmica, o profeta Muhammad, sendo muitas dessas charges claramente obscenas e para além de qualquer respeito à ideia que devemos ter concernentes à crença religiosa.

O 11/9 motivou imediata resposta midiática do então presidente George Bush deixando claro que o governo que representava distinguia claramente o ataque terrorista feito por extremistas muçulmanos de todo o conjunto de milhões de muçulmanos, ou seja, o inimigo não era o Islã, mas sim uma pequena porção de seguidores radicais, mas na sequência os fatos soterraram as alegadas boas intenções: teve início a guerra no Iraque em busca de armas químicas em poder do regime de Saddam Hussein com saldo de milhares de vítimas fatais e muçulmanos passaram a ser discriminados com muito maior rigor, não apenas nos Estados Unidos, mas também por toda a Europa.

O 7/1 também motivou enfática declaração do presidente francês François Hollande no sentido de separar os dois autores do atentado ao Charlie Hebdo mortos da inteira comunidade islâmica do país.

No campo das ideias reina o bom senso: que país ou que governo seria capaz de incriminar como autores dos dois atentados - 11/9 e 7/1 - nada menos que 1 bilhão e 900 milhões de adeptos da religião do Islã?

Resta saber o que irá prevalecer no campo das ações: aumentará a já imensa islamofobia que assola a Europa e que tem na França um de seus maiores bastiões?

A islamofobia não é o iceberg inteiro, mas apenas uma de suas pontas. Não é o ódio aos muçulmanos que está engolfando a Europa.

É o horror, o desprezo e a repulsa a todos os que não são naturais do velho continente, milhões de imigrantes e refugiados, desempregados e subempregados que vieram à Europa fugindo de perseguições políticas, étnicas, religiosas e econômicas, largos contingentes populacionais que migraram de países árabes, asiáticos, africanos e latino-americanos.

É a velha xenofobia, doença antiga que enferma colonizadores e nações com aspirações imperialistas, e que lhes garantem a crença na falácia que são povos superiores, membros de uma espécie de gênero humano Classe A.

O que o mundo vive neste momento é mais um vigoroso testemunho que não existem integrantes de uma 'humanidade especial' - estamos todos nós, e isso significa a inteira população planetária que abarca mais que 7 bilhões de seres humanos, em uma mesma travessia - a travessia de um mundo debilitado e em estágio terminal, carcomido pela gangrena que reúne a uma só vez os males letais do racismo, nacionalismo e materialismo para o mundo possível com que as pessoas de boa vontade ao longo dos milênios sempre sonharam e esperaram viver, um outro mundo onde ideias como paz mundial e fraternidade humana ultrapassam os limites flexíveis da retórica vã e vazia e fincam raízes profundas no imaginário de uma só e mesma espécie - a espécie humana.

Sim, digamos em alto e bom som, com aquele rosto crispado de sincera indignação:
"Toda forma de terror é abominável, execrável, inaceitável sob qualquer ponto de vista e, por isso mesmo, precisa ser combatido! Todos os povos têm o direito de viver em um ambiente onde se respeitem as liberdades individuais e se possa buscar a felicidade com o sentimento real de segurança!"
Sim, digamos também em alto e bom som, e com o mesmo semblante ainda transtornado pelas cores da mais legítima indignação: 
"Nenhuma liberdade é absoluta! Não se pode amparar na marquise das liberdades humanas essa forma bastarda que entende o desrespeito abusivamente repetido as crenças religiosas de outrem como sendo o direito à liberdade de expressão! Nenhuma liberdade que se preze pode ousar incitar o racismo, a xenofobia, pois quando assim se manifesta estamos apenas a poucos passos do estágio de barbárie!"
Eu jamais poderia me imaginar portando um cartaz com os dizeres "Eu sou Charlie - Je suis Charlie!".

Porque em minha mais tenra imaginação não consigo me ver desrespeitando não apenas o Islã, como também não me vejo como agressor contumaz do Cristianismo, Judaísmo, Budismo, pessoas de origem africana, ciganos, minorias étnicas, migrantes e refugiados em geral.

E se tivesse que marchar com um cartaz nas mãos, teria que ser algo que refletisse o meu mundo interior, que abarca a imensa diversidade humana, com seus credos, suas cores e etnias, seus pensamentos, suas visões de mundo.

Meu cartaz diria, então, estas palavras: "Sim, eu sou a humanidade!"

Provavelmente estaria em franca minoria na marcha de mais de 1 milhão de pessoas que em sua grande maioria portavam o equivocado "Je suis Charlie!" nas ruas de Paris na tarde deste domingo, 11 de janeiro.

Mas, pensando bem, quem disse que uma ideia errada conduzida nos braços de milhões de pessoas a tornaria menos errada?


Postado no site Brasil 247 em 12/01/2015


Aos que são Charlie Hebdo



Alguma vez posso ter sido como Charlie Hebdo.

No afã de ser divertido posso ter magoado alguém.

No afã de provocar o riso, posso ter reafirmado preconceitos.

E como o riso podia se perder,

eu posso ter sido cruel com alguém para que outros rissem.

Mas aprendi que isso de nada valia.

Que o riso provocado pela desgraça,

pelo preconceito,

pela discriminação e pelo ódio,

não era o riso que ilumina as faces,

mas o esgar de ansiedade

das multidões que participam

de apedrejamentos, linchamentos e execuções.

Não quero buscar esse riso

e não quero estar nessas multidões...

E continuarei lutando para que isso não aconteça.

Para que o preconceito, o ódio, a intolerância e a discriminação

não seja vista como o direito inalienável do humor.

Não há humor quando o riso é fruto da exposição ou desgraça alheia.

Portanto, eu espero,

que ao lutar contra a intolerância

e condenar os assassinatos brutais,

você não se transforme em um deles.

Porque existe terroristas de armas e terroristas de palavras,

e todo terror é condenável.


Ronald Pinto 


Postado em seu Facebook em 10/01/2015

A imagem que ilustra o texto foi inserida por mim
Rosa Maria (editora deste Blog)


Eu não sou Charlie


Not in my name

Lelê Teles: JE NE SUIS PAS CHARLIE

Maria Frô
“Não consigo entender o terrorismo que ceifou a vida de jornalistas da revista francesa Charlie Hebdo. Não consigo entender o racismo e desrespeito religioso da revista francesa Charlie Hebdo. Não consigo” Marcus Guellwaar Adún Gonçalves
Criticamos o humor ofensivo do CQC, Zorra Total, Praça é Nossa, Casseta & Planeta e outros quando seu alvo são grupos oprimidos e quando o preconceito explícito, travestido de humor, é justificado como liberdade de expressão. 

Por que não podemos criticar caricaturas racistas, homofóbicas, sexistas produzidas pela esquerda? A crítica a isso obviamente não é licença para qualquer justifica ao ato brutal do atentado fundamentalista contra 12 vidas ceifadas na redação do periódico francês. 

O humor ofensivo das páginas de Charlie Hebdo, por vezes, ultrapassou a islamofobia e chegou à caricatura racista.









Na charge, no traseiro de Dieudonné tem uma Quenelle* (tradicional prato francês, que lembra uma salsicha branca) introduzida. 

Charb aproveita-se dos termos homônimos para construir a piada com conotação homofóbica e a meu ver com um toque racista, pois ao retratar o comediante com a bunda para cima e com uma Quenelle exagerada que ao mesmo tempo parece brotar de seu traseiro, o chargista transforma o rolinho num rabo, contribuindo para animalizar a personagem retratada.

O "humor" cada vez mais ácido de Dieudonné atacando o sionismo e resvalando no anti-semitismo já sofreu várias sanções na França, o humor da Charlie Hebdo atacando o islamismo não sofreu sanções do Estado francês. 
O comediante Dieudonné M’bala M’bala é o criador do gesto Quenelle (o braço direito reto apontado para o chão), que os franceses de origem judia afirmam ser anti-semita e apelidaram de “saudação nazista reversa e os apoiadores de Dieudonné afirmam ser apenas um gesto vulgar de oposição a instituições francesas.




Aqui a "homenagem" do periódico a Michael Jackson quando de sua morte. 

É preconceito respondido com preconceito. Mas as autoridades francesas usam dois pesos e duas medidas em relação aos atores produtores dos preconceitos e as vítimas deles. Sonho com um dia que ao menos a esquerda consiga fazer algo diferente. 

Conheça a campanha de muçulmanos espalhados pelo mundo, esta sim, a meus olhos fazem todo o sentido: NOT IN MY NAME, que ilustra a capa deste post. 

Fiquem com o texto de Lelê Teles. 

*Agradeço a Natalie Kosloff que me esclareceu sobre o objeto não identificado (Quenelle) na charge de Charb sobre Dieudonné M’bala M’bala. 


Je ne suis pas Charlie


Lelê Teles

É lamentável que quatro excelentes cartunistas tenham sido mortos de forma brutal. Lamento também a morte das outras oito pessoas, duas delas policiais, um deles muçulmano. 



Lamento também que uma importante publicação de esquerda, histórica, tenha se prestado a um exercício vulgar de ofender, obsessivamente, líderes religiosos; porque, na verdade, só conseguem com isso ofender as pessoas que professam essas religiões. 

Alá tá lá, na dele. 

Charlie Hebdo, demonstrava uma certa obsessão pelo islã, as charges, o profeta de quatro, insinuando que ia comer um camelo… eram vulgares e sem propósito. 

Até aí, morreu neves. 

Mas o que de fato se pretendia com isso? 

Hebdo sabia quem e o quê queria provocar com sua obstinada insistência. 

Como bem disse o Therry Meyssan, “o Charlie Hebdo s’était spécialisé dans des provocations anti-musulmanes et la plupart des musulmans de France en ont été directement ou indirectement victimes”. [Tradução livre: Charlie Hebdo havia se especializado em provocação anti-muçulmana e a maioria dos muçulmanos na França teria sido direta ou indiretamente vítimas.”] 

Hebdo estava a testar se os fundamentalistas eram de araque? 

O fundamentalismo islâmico, esse covarde e extremamente radical, é sempre bom lembrar, é um produto do imperialismo ocidental. Os Estados Unidos alimentaram sujeitos lunáticos, inescrupulosos e sedentos por poder para combater o grande satã, o comunismo. 

Bin Laden nasceu daí, e disso todo mundo sabe. 

Enquanto cresciam as milícias sanguinárias, protegidas por uma falsa camada religiosa, espancando estudantes, fuzilando professores laicos, colocando as mulheres “na linha”, o Ocidente aplaudia. 

É lá, é com eles, é o efeito colateral. Melhor que termos os comunistas sentados sobre as maiores reservas de petróleo e gás do mundo. 

É bom frisar que os fundamentalistas, recuso-me a chamá-los de islâmicos, não fabricam armas e que as nações “santinhas” estão a encher as burras com todo esse terror. 

Lembram das terríveis imagens de Gaddaffi, assassinado brutalmente por sicários ensandecidos? Limparam a área pra turma da toca ninja. 


Hebdo, desculpem-me a franqueza, mas era um inocente útil. Seu jornal, que tinha os maiores chargistas do mundo, estava perdendo leitores, porque sua leitura obstinada, fundamentalista, estava cansativa. 


Ir contra o profeta Maomé era pedir briga, não com os muçulmanos, mas com os fanáticos. 


Dizer que o crime em França atenta contra a liberdade de expressão é de um lugar comum risível. 

O fundamento dos fundamentalistas é cercear a liberdade de expressão. E eles são contra a liberdade de expressão de todos aqueles que não pensam como eles, sobretudo muçulmanos. 

Descobriram isso agora quando morreram não-muçulmanos? 

Agora as trapalhadas, obsessivas, do jornal satírico fará com que a Europa se volte contra os muçulmanos, que a rigor nada têm a ver com esses sicários. 

Para os muçulmanos, as charges Charlie Hebdo são apenas ofensas reprováveis e desrespeito, como o foi Je Vous Salue Marie para os cristãos. 

Mas Hebdo sabia que provocava a ira dos sicários e parecia gostar disso. Para os islamofóbicos aquilo era um prato cheio, mais cedo ou mais tarde, embora os muçulmanos convivessem com Hebdo, os fanáticos iriam agir, e o mundo faria crer que agiam em defesa de todos os muçulmanos. O que é uma fraude. 

Os Estados Unidos invadiram o Iraque e destruíram o Afeganistão embasado numa premissa dessas. 

Doze franceses mortos? Sério que é isso que comove o mundo agora? Os extremistas matam pessoas a todo momento, matam sobretudo muçulmanos. 

Mataram a sangue frio o policial muçulmano que pediu para não morrer. Repito, esses caras matam muçulmanos às pencas, o mundo não se compadece. 

Essa histeria comovida, somos todos Charlie, me lembra o 11 de setembro. Não vi essa tristeza toda quando eles entraram no Mali abrindo fogo. Quando o Estado Islâmico executou, covardemente, dezenas de pessoas no Iraque, ninguém disse Somos Todos Iraquianos. Que recorte é esse? 

Allahu Akbar!


Postado no Portal Fórum / Maria Frô em 09/01/2015 


Morte em Paris



Redação de Outras Palavras

Uma das hipóteses mais lúgubres do sociólogo Immanuel Wallerstein concretizou-se, em parte, esta manhã em Paris. 

Dois homens encapuzados e vestidos de negro, aparentando (ou simulando) ser fundamentalistas islâmicos, invadiram a sede de um jornal satírico francês, o Charlie Hebdo, e executaram, a rajadas de metralhadoras, ao menos doze pessoas. 

Entre os mortos estão o editor da publicação e outros três chargistas de enorme talento e renome internacional. Charlie Hebdo é irreverente, inclinado à esquerda e crítico às instituições religiosas. Esta postura levou-o, algumas vezes, a provocar o islamismo, religião de milhões de imigrantes oprimidos e discriminados na Europa.

Sejam quais forem os responsáveis pelo atentado, as consequências são potencialmente trágicas: aumento da onda xenófoba – especialmente anti-islâmica – na Europa. Crescimento dos partidos de extrema-direita. Reforço à postura ultra-agressiva que os Estados Unidos, com notável apoio da França, já adotam no Oriente Médio. Risco ampliado de guerras de provocação. 

Wallerstein adverte que a crise do capitalismo é profunda, mas poderá abrir espaço tanto para um sistema mais democrático e igualitário quanto para o oposto.

Ao entrar em declínio, a ordem hoje hegemônica liberta a emergência e expansão de valores de um pós-capitalismo; mas engendra, ao mesmo tempo, riscos de um mundo ainda mais hierarquizado, violento e desigual. As circunstâncias do atentado e seu contexto parecem validar a hipótese.

Armados de fuzis, os dois assassinos chegaram à redação de Charlie Hebdo, no centro de Paris, por volta das 11h. Sob ameaça, obrigaram a cartunista Corrine Rey (“Coco”), que entrava com sua filha, a abrir a porta do prédio. Ela relatou que falavam “um francês perfeito” e disseram pertencer à Al-Qaeda. Subiram dois andares e começaram a fuzilaria.

Chegaram num momento preciso. Às quartas pela manhã, a redação reunia-se, para definir a pauta do número seguinte. Estavam presentes o diretor, Charb, mais três cartunistas – Cabu, Tignous e Wolinski (este último mais conhecido do público brasileiro, por publicar, em abril de 2011, em Piauí, a sequência “Meio século de sexo”) – e quatro redatores (entre eles, o economista Bernard Maris, ex-membro do Conselho Científico do movimento ATTAC, em favor do controle social sobre o sistema financeiro).

Todos foram mortos na hora, junto com mais dois funcionários do jornal e dois policiais. Os assassinos teriam gritado, segundo testemunhas que os jornais franceses não identificam claramente, “Allahu Akbar” [“Alá é o Maior”] e se vangloriado de que “vingamos o Profeta”. 

Mas fugiram de carro, ao invés de se auto-martirizarem, como é comum em atentados cometidos pelo terror islâmico. Além disso, até o fechamento deste texto, nenhum grupo havia assumido o ato.

Fundado em 1992, o atual Charlie Hebdo (que resgata o nome de uma publicação anterior) não é um jornal de extrema-esquerda, ao contrário do que se afirmou no Brasil. Parte de sua equipe esteve presente em revistas humorísticas ligadas à revolta de 1968. Mas seu foco central não são os grandes temas políticos franceses ou mundiais – mas a crítica às instituições religiosas e à ultradireita.

Nos últimos anos, voltou-se especialmente contra o islamismo. Em 2005, reproduziu uma série de charges publicadas originalmente no jornal dinamarquês Jyllands Posten,consideradas ofensivas ao profeta Maomé. 

Manteve a mesma postura por anos a fio, o que despertou críticas de analistas importantes do Islã – como Alan Gresh, redator do Le Monde Diplomatique. 

Num texto publicado em 2012, ele defendeu, obviamente, a liberdade de expressão do Charlie Hebdo, mas criticou sua linha anti-islâmica. Lembrou que, além de discriminados, os muçulmanos sofrem, há anos, restrições às liberdades políticas (em 2014, o governo francês chegaria a proibir manifestação contra o ataque israelense aos palestinos da Faixa de Gaza). 

Diante deste contexto, Gresh indagava: seria correto, em 1931, em plena ascensão do nazismo, uma publicação alemã de esquerda estampar charges ridicularizando aspectos retrógrados da religião judaica?

A hipótese de que o atentado de hoje seja de autoria de fundamentalistas islâmicos é real.

Num sinal da descoesão ocidental, apontada por Wallerstein, o New York Times lembra hoje que, entre os militantes do grupo ultrafundamentalista ISIS, criador de um califado no Iraque, há milhares de europeus (além de norte-americanos, seria justo acrescentar…).

Mas a pergunta clássica – cui profit, a quem beneficia o crime – sugere não ficar apenas nesta hipótese.

Quase quinze anos após os atentados de 11 de Setembro, não foram respondidas as teorias segundo as quais a derrubada das Torres Gêmeas não poderia ocorrer sem algum tipo de participação das agências de inteligência dos Estados Unidos, nem as crônicas sobre o estranho comportamento do presidente George W. Bush ao ser informado de sua derrubada.

Mais de 100 mil pessoas saíram às ruas esta noite, em dezenas de cidades francesas, em solidariedade à redação de Charlie Hebdo. 

O clima foi de óbvia consternação e de defesa das liberdades. Manifestaram-se os que se sentem próximos de um jornal irreverente e sarcástico. Mas e a Europa profunda

Na própria França, as pesquisas colocam em primeiro lugar, na preferência dos eleitores para a próxima eleição à Presidência, Marinne Le Pen, da Frente Nacional, xenófoba e de extrema-direita. 

Na Alemanha, ressurgem, pela primeira vez depois da II Guerra Mundial, manifestações contra estrangeiros, articuladas por um movimento que se apresenta como contrário à suposta “islamização do Ocidente”. 

Que efeito terá o atentado de hoje sobre estes sentimentos já em ascensão?

As doze vítimas de hoje merecem tantas homenagens quanto cada um dos mais de 500 mil mortos no Iraque, desde a invasão norte-americana, ou as mais de 2.400 pessoas seletivamente assassinadas pelo governo norte-americano, por meio de drones, só entre 2009 e 2014.

Porém, mais que os mortos, está em questão o futuro do humanidade.

Para Wallerstein, é impossível saber, hoje, o que virá após o declínio do capitalismo.

É uma disputa que se prolongará por décadas e será definida em “uma infinidade de nano-ações, adotadas por uma infinidade de nano-atores, em uma infinidade de nano-momentos”.

O atentado de hoje chama atenção para os riscos inerentes a este cenário de crise. 

Mas pode, num sentido oposto, ecoar o apelo à ação feito, na sequência, pelo mesmo sociólogo. Ele diz:
“Em algum ponto, a tensão entre as duas soluções alternativas vai pender definitivamente em favor de uma ou outra. É o que nos dá esperança. O que cada um de nós fizer a cada momento, sobre cada assunto imediato, importa”.

Postado no site Outras Palavras em 07/01/2015


O senhor vai atirar em mim?



Coletivo artístico global e comunidades paquistanesas criam imagem de vítima de drone que, vista de satélite, expõe horror da guerra tecnológica


Cibelih Hespanhol



Christian Boltanski, artista francês, uma vez disse: “em uma guerra não se matam milhares de pessoas. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias…”.



Na chamada “guerra ao terror”, no Paquistão, matam-se milhares de pessoas. Segundo a revista Rolling Stone, o Exército norte americano já possui até mesmo um apelido para uma de suas principais ferramentas no combate. Os drones, ataques feitos com aviões não tripulados, são chamados de “bug splat” – inseto esmagado.


A leviandade em se equiparar vidas humanas com insetos amassados pode ser um eficaz artifício para dissimular aos próprios militares a dimensão de seus atos. Para que se lembrem que não são insetos, mas milhares de pessoas; e ainda, que não são milhares de pessoas, mas “uma que adora espaguete, outra que é gay, outro que tem uma namorada…”, o coletivo de arte Inside Out Movement bolou uma ação. No projeto intitulado “Not a bug splat” colocaram um retrato gigante de uma criança estendido sobre o solo da região noroeste do país.





Agora, o operador dos ataques com drones não vê em sua tela um vasto território onde não é possível identificar uma acumulação de pequenas memórias, mas um retrato no qual uma menina de cabelos curtos sustenta um olhar difícil de corresponder. 

O retrato é grande o suficiente para ser visto por satélites e aparecer em sites de mapeamento. E o local onde está, na fronteira com o Afeganistão, é alvo majoritário dos ataques norte americanos – apontado como região onde se reúnem forças que colaboram com o talibã e organizações terroristas. [Cabe aqui uma pequena grande nota: um levantamento chamado “Out of sight, out of mind” confirmou que, apesar dos muitos ataques realizados desde 2004, apenas 1,5% dos casos possuíam verdadeira ligação terrorista]. 


Enquanto isso, o rosto do retrato também tem sua história. Apesar de não se saber o nome da menina que nos encara em seus grandes olhos, sabe-se que seus pais e irmãos também morreram nos ataques. 

Em toda a região, já foram mortas pelos bugs splats mais de 3 mil pessoas. Algumas adoravam espaguete, outras eram gays, outras tinham uma namorada.


As crianças se reúnem em torno do cartaz
As crianças se reúnem em torno do cartaz


Postado no site Outras Palavras em 09/04/2014


Cai por terra a versão oficial do 11 de Setembro



Investigadores dinamarqueses afirmam terem provas de que as torres gêmeas foram derrubadas pelos serviços secretos israelitas com a colaboração do FBI


Já muito se falou do ataque alegadamente terrorista de 11 de Setembro às torres gémeas do World Trade Center, surgiram teorias, e especialistas levantaram muitas questões. 

Mas quando o investigador Cientista Larry Silverstein encontra explosivos em destroços do World Trade Center cai por terra a ideia de que o ataque foi terrorista. 

Uma equipe de oito pesquisadores liderados pelo professor Niels Harrit da Universidade de Copenhaguem (Dinamarca), comprovaram a existência de explosivos altamente tecnológicos em amostra dos escombros das torres gêmeas.

Essa pesquisa vem confirmar um trabalho semelhante previamente executado pelo professor Steven Jones nos Estados Unidos.

Com esta descoberta explica-se a queda livre dos prédios num processo de demolição implosiva controlada.

Os aviões não poderiam derrubar as torres gêmeas devido à temperatura do combustível não ser suficiente para derreter aço.

O impacto também não pode ter afectado a estrutura no nível afirmado pelo governo americano, uma vez que o prédio foi desenhado para suportar aviões daquele tamanho. O ferro derretido na base dos prédios ficou vivo por várias semanas.

Nos três meses seguintes, fotos infravermelhas de satélites mostraram bolsões de alto calor nas três torres.

Larry Silverstein comprou o leasing do WTC entre 2000 e 2001, dois meses antes do “ataque”, tendo contratado um seguro para os prédios no valor de dois bilhões de dólares contra ataque terrorista.

Na opinião dos investigadores da Universidade de Copenhague, o ataque às torres gêmeas serviu para “criar ódio contra os árabes e fomentar as guerras americanas na saga pelo petróleo e a hegemonia Israelita no Médio Oriente”.

E ainda segundo os mesmos investigadores, “existem evidências de que agentes da Mossad (serviços secretos israelitas), foram capturados no mesmo dia na posse de explosivos. Todos foram libertados pelo FBI”.

Veja o vídeo:



Postado site Maior TV em 11/09/2013