Mostrando postagens com marcador pai. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador pai. Mostrar todas as postagens

Cuidar dos Pais, um texto emocionante por Valter Hugo Mãe




Luiza Fletcher


Chega um momento na vida em que nós nos tornamos “pais” de nossos pais. Quando eles não estão mais em perfeitas condições, é o nosso momento de retribuir todo o amor e cuidado que eles sempre nos ofereceram de todo o coração. 



Muitas vezes, somos responsáveis por reeducá-los, estabelecer limites e os apresentarmos diferentes realidades de vida. Isso pode ser um grande desafio para nós, já que estamos acostumados a ser cuidados, mas não nos sentimos totalmente capazes de cuidar daqueles que nos cuidaram por toda a vida.

Ainda assim, essa pode ser uma das experiências mais enriquecedoras e emocionantes que podemos viver em nossas vidas. Nossos pais são algumas das pessoas mais importantes para nós, e fazer o nosso melhor por eles enquanto ainda estão ao nosso lado é um grande privilégio que precisamos reconhecer.

Abaixo está um texto emocionante de Valter Hugo Mãe, publicado originalmente em Público, sobre a sua rotina cuidando de sua mãe que nos propõe uma grande reflexão: o quanto estamos fazendo por essas pessoas que sempre fizeram tudo por nós? Nosso cuidado é fruto da obrigação ou do prazer, do amor? Leia o texto e inspire-se pelas palavras de Valter.

Cuidar dos pais 

Valter Hugo Mãe

A minha mãe é a minha filha. Preciso dizer-lhe que chega de bolo de chocolate, chega de café ou de andar às pressas. Vai engordar, vai ficar eléctrica, vai começar a doer-lhe a perna esquerda.

Cuido dos seus mimos. Gosto de lhe oferecer uma carteira nova e presto muita atenção aos lenços bonitos que ela deita ao pescoço e lhe dão um ar floral, vivo, uma espécie de elemento líquido que lhe refresca a idade. Escolho apenas cores claras, vivas. Zango-me com as moças das lojas que discursam acerca do adequado para a idade. Recuso essas convenções que enlutam os mais velhos.

A minha mãe, que é a minha filha, fica bem de branco, vermelho, gosto de vê-la de amarelo-torrado, um azul de céu ou verde. Algumas lojas conhecem-me. Mostram-me as novidades. Encontro pessoas que sentem uma alegria bonita em me ajudar. Aniversários ou Natal, a Primavera ou só um fim de semana fora, servem para que me lembre de trazer-lhe um presente. Pais e filhos são perfeitos para presentes. Eu daria todos os melhores presentes à minha mãe.

Rabujo igual aos que amam. Quando amamos, temos urgência em proteger, por isso somos mais do que sinaleiros, apontando, assobiando, mais do que árbitros, fiscalizando para que tudo seja certo, seguro. E rabujamos porque as pessoas amadas erram, têm caprichos, gostam de si com desconfiança, como creio que é normal gostarmos todos de nós mesmos. Aos pais e aos filhos tendemos a amar incondicionalmente, mas com medo. Um amigo dizia que entendeu o pânico depois de nascer o seu primeiro filho. Temia pelo azedo do leite, pelas correntes de ar, pelo carreiro das formigas, temia muito que houvesse um órgão interno, discreto, que desfuncionasse e fizesse o seu filho apagar.

Quem ama pensa em todos os perigos e desconta o tempo com martelo pesado. Os que amam sem esta fatura não amam ainda. Passeiam nos afetos. É outra coisa.

Ficar para tio parece obrigar-nos a uma inversão destes papéis a dada altura. Quase ouço as minhas irmãs dizerem: “Não casaste, agora tomas conta da mãe e mais destas coisas.” Se a luz está paga, a água, refilar porque está tudo caro, há uma porta que fecha mal, estiveram uns homens esquisitos à porta, a senhora da mercearia não deu o troco certo, o cão ladra mais do que devia, era preciso irmos à aldeia ver assuntos e as pessoas. Quem não casa deixa de ter irmãos. Só tem patrões. Viramos uma central de atendimento ao público. Porque nos ligam para saber se está tudo bem, que é o mesmo que perguntar acerca da nossa competência e responsabilizar-nos mais ainda. Como se o amor tivesse agentes. Cupidos que, ao invés de flechas, usam telefones. E, depois, espantam-se: ah, eu pensei que isso já tinha passado, pensei que estava arranjado, naquele dia achei que a doutora já anunciara a cura, eu até fiz uma sopa, no mês passado, até fomos de carro ao Porto, jantamos em modo fino e tudo.

Quando passamos a ser pais das nossas mães, tornamo-nos exigentes e cansamo-nos por tudo. Ao contrário de quem é pai de filhas, nós corremos absolutamente contra o tempo, o corpo, os preconceitos, as cores adequadas para a idade. Somos centrais telefônicas aflitas.

Queremos sempre que chegue a Primavera, o Verão, que haja sol e aquecem os dias, para descermos à marginal a ver as pessoas que também se arrastam por cães pequenos. Só gostamos de quem tem cães pequenos. Odiamos bicharocos grotescos tratados como seres delicados. O nosso Crisóstomo, que é lingrinhas, corre sempre perigo com cães musculados que as pessoas insistem em garantir que não fazem mal a uma mosca. Deitam-nos as patas ao peito e atiram-nos ao chão, as filhas que são mães podem cair e partir os ossos da bacia. Porque temos bacias dentro do corpo. Somos todos estranhos. Passeamos estranhos com os cães na marginal e o que nos aproveita mesmo é o sol.

A minha mãe adora sol. Melhora de tudo. Com os seus lenços como coisas líquidas e cristalinas ao pescoço, ela fica lindíssima! E isso compensa. Recompensa. 

Comemos ao sol. Somos, sem grande segredo, seres que comem ao sol. Por isso, entre as angústias, sorrimos.


Postado em O Segredo



Uma juíza e quando a escolha é o Bem !



Resultado de imagem para juíza Anne Karina Stipp Amador da Costa, titular da Vara do Sistema Financeiro de Habitação de Curitiba


Juíza perdoa dívida de R$ 48 mil de pai que largou tudo para cuidar de filho




Redação Hypeness

Enquanto milhares de homens abandonam seus filhos deixando toda responsabilidade por conta das mães, em Curitiba, Adolfo Guidi é um verdadeiro exemplo de pai. Tanto que, percebendo isso, uma juíza decidiu até mesmo ajudá-lo em um momento de dificuldade.

Adolfo é pai de Vitor e, em 2001, quando descobriu que o rapaz possui uma doença rara chamada Gangliosidose Gm1, largou o trabalho para cuidar do rapaz em tempo integral. A condição de seu filho é caracterizada pela falta de uma enzima fundamental para a reposição de células cerebrais.




Formado em engenharia mecânica, Adolfo começou a acumular dívidas na Caixa Econômica Federal, onde possuía um imóvel financiado – o valor das prestações de sua casa era de cerca de R$ 500.

Para ele, a vida de seu filho era prioridade e assim que conseguiu controlar a situação, começou a procurar emprego, mas não conseguiu voltar ao mercado de trabalho. Então decidiu a trabalhar por conta própria abrindo uma oficina improvisada no mesmo imóvel onde vive desde 1996.






Sensibilizada com a atitude do pai que fez o que pôde para salvar o filho, a juíza Anne Karina Stipp Amador da Costa, titular da Vara do Sistema Financeiro de Habitação de Curitiba, perdoou a dívida que foi paga com os valores das penas pecuniárias da Vara Criminal de Curitiba (valores pagos por pessoas condenadas na Justiça). O valor da quitação da dívida foi de R$ 48, 5 mil.







“ É um caso excepcional. Sentimos que ele não teria outra alternativa para quitar a dívida. Ele abriu mão da carreira profissional para cuidar do filho. Como ele também trabalha com a oficina mecânica, se perdesse o imóvel, além da moradia, perderia também sua fonte de renda.”

Anne Karina afirmou que a conclusão do caso abre precedentes para que outros processos que envolvam peculiaridades parecidas também tenham o mesmo desfecho.

O caso só ganhou repercussão nacional recentemente depois que o vídeo de uma reportagem sobre o caso foi compartilhado no Facebook, mas ocorreu em 2010.



Não basta ser pai, tem de participar ! Veja 10 dicas para aumentar a interação com seus filhos



Paternidade não é atividade de lazer. Por muito tempo, a figura paterna se manteve distante da rotina dos filhos, e as funções ficavam restritas à mãe. Transformações sociais e culturais e novos arranjos familiares têm forçado uma mudança nessa realidade. Muitos homens já descobriram que é preciso uma divisão igualitária no papel dos progenitores. Já existem muitos pais buscando dividir as responsabilidades do
lar, levando filho para a escola, dando banho, brincando e ajudando nas
tarefas escolares. Como se trata de um comportamento ainda recente, os homens ainda estão em busca de um modelo ideal de pai a ser seguido. Pensando
nisso, Lilian Zolet, psicóloga
especialista em terapia cognitivo-comportamental e autora do recém-lançado
livro ‘Síndrome do Imperador – Entendendo a mente das crianças mandonas e
autoritárias’, elaborou 10 dicas para o pai aumentar sua interação com o filho
e ser mais presente. Aproveite o Dia dos Pais e já comece já a colocar essas
atitudes em prática! 




Paternidade não é atividade de lazer. Por muito tempo, a figura paterna se manteve distante da rotina dos filhos, e as funções ficavam restritas à mãe. Transformações sociais e culturais e novos arranjos familiares têm forçado uma mudança nessa realidade. Muitos homens já descobriram que é preciso uma divisão igualitária no papel dos progenitores. 


Já existem muitos pais buscando dividir as responsabilidades do lar, levando filho para a escola, dando banho, brincando e ajudando nas tarefas escolares. Como se trata de um comportamento ainda recente, os homens ainda estão em busca de um modelo ideal de pai a ser seguido. 



Pensando nisso, Lilian Zolet, psicóloga especialista em terapia cognitivo-comportamental e autora do recém-lançado livro Síndrome do Imperador – Entendendo a mente das crianças mandonas e autoritárias, elaborou 10 dicas para o pai aumentar sua interação com o filho e ser mais presente. Aproveite o Dia dos Pais e já comece já a colocar essas atitudes em prática !







Segundo a terapeuta, os homens vivem um dilema. Não querem ser muito rígidos e distantes, e criarem filhos inseguros e com dificuldades emocionais, mas também não pretendem ser super protetores, e permitirem que a criança se torne um verdadeiro “imperador doméstico”, com comportamentos mandões e autoritários, que não seguem as regras. Veja, a seguir, as propostas da especialista.



1) Participe da rotina do seu filho. Mostre o quanto ele é importante para você. Sempre que possível faça as refeições em família. Converse e fale sobre os seus sentimentos, conte histórias, auxilie nas atividades escolares, ofereça orientações para a criança.



2) Colabore nas decisões que envolvem seu filho: escola, médico etc.



3) Seja firme diante das birras. Ensine ao seu filho o jeito certo de pedir e fazer. Administre as suas emoções e jamais aja com raiva.



4) Escute atentamente o seu filho. Observe o que ele sente e o que fala.



5) Converse com o seu filho. Sempre mantenha um diálogo aberto e não um interrogatório.



6) Observe as habilidades e reforce o esforço da criança.



7) Seja carinhoso. Jamais use palavras que diminuam a estima do seu filho.



8) Brinque. Tenha momentos de diversão com seu filho. O mais importante é a qualidade do tempo dedicado a criança.



9) Dedique-se e permita-se a aprender com seu filho.



10) Seja um exemplo positivo para seu filho. Diante da separação conjugal, por exemplo, mantenha-se participativo na rotina do filho. Jamais fale mal do cônjuge ou brigue na frente da criança. Lembre-se que a separação é do vínculo entre o casal e jamais dos papéis de mãe e pai.







Antes que eles cresçam !









Há um período em que os pais vão ficando órfãos de seus próprios filhos.


É que as crianças crescem de uma maneira independente, como árvores tagarelas e pássaros estabanados.

Crescem sem pedir licença à vida.

Crescem com uma estridência alegre e, às vezes com uma alardeada arrogância.

Mas não crescem todos os dias, de igual maneira, crescem de repente.

Um dia sentam-se perto de você, no terraço, e dizem uma frase com tal maneira que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.

Onde é que andou crescendo aquele pequeno ser e que você não percebeu?

Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com enfeites e o primeiro uniforme do maternal?

A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você agora está ali, na porta da boate, esperando que ela não apenas cresça, mas que apareça...

Ali, estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam radiantes, sorrindo, de cabelos longos e soltos.

Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão os nossos filhos com uniforme da sua geração.

Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias e da ditadura das horas que pareciam intermináveis.

E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com os acertos e erros.

Principalmente com os erros que esperamos que não se repitam.

Chega um período em que os pais vão ficando um pouco mais órfãos dos filhos.

Não mais os pegaremos nas portas das boates e das festas.

Não temos mais os uniformes do colégio e aqueles famosos ataques da adolescência passarão a fazer falta... Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô.

Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Deveríamos ter ido mais à cama deles, ao anoitecer, para ouvirmos a sua alma respirando. Deveríamos ter acolhido com mais carinho quando corriam à nossa cama, durante a madrugada...

Conversas e confidências entre os lençóis da infância e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, pôsteres, agendas coloridas e discos, hoje fazem falta.

Não os levamos suficiente ao Playcenter, ao shopping; não lhes demos suficientes hambúrgueres e refrigerantes, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado.

Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.

No princípio, iam à casa de praia entre embrulhos, biscoitos, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amigos de infância.

Sim, havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chicletes, as cantorias sem fim e a insistente pergunta: “Pai, ainda falta muito?”

Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.

Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudade daquelas verdadeiras "pestes".

Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito para que eles acertem nas escolhas em busca da felicidade.

E que a conquistem do modo mais completo possível.

O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos.

O neto é a hora do carinho ocioso não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco.

Por isso, os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho.

Esperar... Esperar... Vamos ficando verdadeiros craques nisso.

Olhamos para a porta de nossas casas e lembramos quando eles chegavam da escola esbaforidos, com o uniforme todo sujo e sempre morrendo de fome.

Hoje, eles entram carregando a chave do carro, trazendo junto tudo o que passaram durante a semana e que agora vão dividir com os seus pais.

É... Chego à conclusão de que eu não tenho mais como segurar aquela criança no meu colo... Tê-la nos meus braços como se fizesse parte do meu corpo, hoje é apenas um sonho...

Suas asas já estão muito grandes e a vontade deles de voar é ainda maior.

Por isso, é sempre necessário fazer alguma coisa, antes que eles cresçam. 


Affonso Romano de SantAnna






Homens que cuidam



Carolina Pombo

João está deprimido. Fez uma consulta com um psiquiatra antes de chegar em casa com a cabeça girando e os ombros como pregadores rígidos que sustentam os braços sem força, cansados. 

Depois de nove horas no escritório, de frente para o computador e uma pilha enorme de documentos para revisar e assinar, ainda pegou um transito de uma hora para chegar no consultório, esperar meia hora e ser atendido por um senhor muito simpático e apressado. E agora pensa em como contar para a ex-mulher a “novidade”. 

Finalmente, recebera um diagnóstico que o fizera compreender porquê vinha sentindo aquelas palpitações repentinas, a vontade de chorar ao acordar, a insônia.

O pouco tempo que conseguisse ficar fora do trabalho teria que ser ocupado então pelas idas à terapia e as caminhadas ao longo da Lagoa Rodrigo de Freitas, como recomendado pelo médico, para acompanhar o tratamento medicamentoso.

É difícil contar a novidade para a ex porque finalmente ela tinha concordado em deixa-lo visitar o filho um dia a mais na semana, além dos fins de semana quinzenais, e agora, não sabia se conseguiria “encaixá-lo” na agenda. 

Ironicamente, o maior motivo identificável de seu sofrimento nos últimos dois anos não fora incluído no diagnóstico ou no tratamento psiquiátrico. O médico afirmou com bastante segurança que o problema de João é estresse: muito trabalho, pouco exercício físico, quase nenhuma folga nos últimos meses. 

O doutor não considerou relevante o fato de suas horas de dedicação ao trabalho terem aumentado muito desde que fora morar longe do filho. Detesta ficar no apartamento sozinho e encarar o quarto do moleque vazio durante a semana… Prefere ser o primeiro a chegar e o último a sair do escritório. Isso lhe valera uma promoção e um bônus anual considerável.

Mas, ainda caminha a passos largos para o fundo do poço, pensa alto e lembra: depois do bônus anunciado e da comemoração dos colegas, tomou um porre de tristeza. Sentiu-se um inútil, um pai ausente, um egoísta. Pensou em se matar. Talvez assim, o moleque o valorizasse… Talvez ficasse como um mártir.

Ri de si mesmo, e continua deprimido. Sabe que trabalha muito, e tem pouco contato com o filho. Mas, pediu recentemente para a ex dar uma trégua nas brigas e permitir um encontro por semana além dos quinzenais. Contara a história na consulta, mas o psiquiatra muito apressado, folheava um livro intitulado ”diagnóstico diferencial de doenças do trabalho”.

Refletindo sobre esses últimos acontecimentos, sozinho e cansado, João encontra forças para se sentar mais uma vez na frente do computador. Pensa em mandar um e-mail para a ex, pedindo um tempo para reorganizar a agenda até poder encaixar o moleque. 

Antes de ter coragem para cometer mais essa gafe familiar, navega na internet, lê umas notícias, brinca de procurar coisas bizarras no Google, digita: depressão paterna, ri novamente de si. Encontra sites e blogs de pais, como ele, inconformados com a “desigualdade parental”, uma forma de desigualdade de gênero que penaliza muito mulheres e homens.

Por acaso, esbarra com um movimento: “Homens que Cuidam”. 

Eles se manifestam por uma sociedade mais justa que permita maior intimidade entre os homens e seus filhos, uma sociedade que estimule-os a cuidar dos pequenos, que não os condene por sair mais cedo do escritório para buscá-los na escola, levá-los no pediatra, e todas essas pequenas grandes tarefas que as mães costumam fazer. 

Eles sonham com uma cultura na qual não se sintam constrangidos por chorar de amor ou de saudade, por expressar seus afetos de forma clara e carinhosa. Ao ler essas reivindicações estranhas e ambiciosas, João tem um estalo! 

Como ficou tanto tempo alheio ao mundo, nesses anos, enfiado no trabalho, sofrendo sozinho! O movimento HQC parece grande, articulado, e bastante acolhedor. Num dos sites, dizem até ter conseguido aprovar uma lei de licença parental prolongada numa cidade paulista na qual os homens já conseguem participar de 50% do tempo de cuidado e educação das crianças. Nela há até mesmo uma quantidade proporcional de homens como cuidadores e professores em pré-escolas. “Que avanço!” pensou.

Dar-se conta de seu alheamento e das possibilidades de um movimento social como esse foi constrangedor e ao mesmo tempo libertador. 

Percebeu o quanto submeteu-se a essa lógica massacrante de supervalorização do homem-alfa, do homem-dominador, ao qual não é permitida a humildade, o zelo pelo próximo, a demonstração rasgada de amor, do qual é exigida uma competitividade desenfreada – como se vivessem ainda no tempo das cavernas…

Percebe o quanto fora ausente nos primeiros anos da vida do filho, porque aceitava as afirmações recorrentes de que cuidar do bebê é papel da mãe. Sente-se responsável em consentir nessa violência simbólica, e compreende o quanto ela o fizera mal. 

O amor que explodira ao ver o rostinho de seu bebê depois do parto, ficara trancado no peito, reprimido, emoldurado por um semblante sempre sério, agressivo e distante.

Diziam-lhe que, como pai, deveria ser um exemplo de “homem”, e assim foi. Mas o moleque jamais saberia do enorme amor que sentia, se ele nunca lhe contasse, não apenas em palavras, mas em gestos, em atitudes, no dia dia. 

A ex bem que tentou lhe avisar, disse que, desse jeito, o filho iria se afastar espontaneamente. Até que se separaram e a criança não titubeou quando o juiz perguntou sobre a guarda: com 7 anos já sabia com toda certeza que queria morar com a mãe.

Agora, João percebe-se empolgado, lembrando e relatando a história de sua paternidade para outras pessoas num fórum da internet. Chega a chorar, lembrando de momentos nos quais sentiu uma vontade enorme de pegar o filho, ninar, banhar, alimentar, e foi reprimido por essa lógica patriarcal sufocante. Agora compreende!

Foi assim, recontando sua história, que ele conseguiu compreender a necessidade de um movimento solidário dos próprios homens contra esse patriarcado! 

Assumiu o controle de seus braços, jogou o remédio para o fundo de uma gaveta, enxugou as lágrimas, e telefonou para o moleque: na quinta feira, meu querido, papai vai buscá-lo, e vamos viver como se não houvesse amanhã! 

Desliga, com o coração aliviado, o semblante leve, e cantarola Legião Urbana, sem ligar para o clichê, “é preciso amaaaar as pessoas como se..”

*Esse texto é um conto ficcional; logo, João não é real, mas acho pode ser identificado por aí; o movimento Homens que Cuidam não existe ainda, mas bem que poderia servir de inspiração…

Sou muito curiosa e inquieta. Não me conformo com verdades absolutas e respostas prontas. Duvido, questiono, e pesquiso. Talvez por isso tenha seguido carreira acadêmica. Sou psicóloga, formada em Saúde Pública, doutoranda no Velho Mundo. Mas, minha vocação mesmo é a escrita. Escrevo enquanto penso e duvido. Escrevo cheia de perguntas, munida de dados e informações de todo tipo de fonte, mas com poucas respostas. Acho que meu prazer é construir a diferença, criar rotas de fuga, mostrar que nada é tão óbvio assim. E por isso adoro as boas críticas que levantam bons debates.

Postado no site Blogueiras Feministas em 14/05/2013


Nota

Faço, com este lindo texto, uma justa homenagem ao meu querido irmão Gilberto.
                
Ele, certamente, teria feito parte de um movimento como o "Homens que Cuidam".

Dedicou aos filhos, cuidado e muito amor, em sua breve vida de 39 anos.

Tenho certeza que há muitos "Homens que Cuidam". Eu conheço alguns.

A criança, que recebe amor e atenção, tem muito mais segurança para seguir a vida reproduzindo tudo que recebeu e aprendeu com o exemplo.






O cara mais legal do mundo




Nena Medeiros

Oi! Eu me chamo Alvinho. Tenho quase oito anos, mas o que eu vou contar pra vocês aconteceu há muito tempo, quando eu ainda era bem criancinha. Eu só tinha seis anos.

Foi assim:

Eu morava com a minha mãe e com o meu pai e era muito feliz. A gente não era rico, eu não tinha tudo o que queria, como outros meninos que eu conhecia, mas eu amava minha família. Minha mãe era perfeita: doce e carinhosa e, até quando se zangava comigo, ela nunca gritava. Ela me fazia sentar no colo dela e me explicava bem explicadinho o que eu tinha feito de errado. Ela falava de um jeitinho tão especial, que eu me sentia era culpado por estar levando bronca.

Já o papai... Ah! O papai era o cara mais legal do mundo! Ele conhecia todas as brincadeiras, todas as histórias do universo inteiro!

Ele e mamãe viviam se beijando. Eu fingia que tinha ciúmes, mas eu gostava era de ver os dois namorando. Muitos de meus colegas moravam só com a mãe, outros só com o pai e tinha até uma menina que morava com os avós. Eu, não. Eu morava com o papai e a mamãe e nunca que eu queria mudar isso. Aliás, queria sim! Queria muito ter um irmãozinho.

Mas, aí, aconteceu. Eu desci do ônibus da escola numa manhã e ouvi os gritos. Fiquei com tanto medo! Eu não entendia o que estava acontecendo. Só vi que eles estavam brigando e era pra valer! Quando eu entrei, eles tentaram disfarçar. Até parece! Eu era criança, mas não era bobo! Ainda mentiram pra mim que estava tudo bem, mas eu vi que a mamãe tinha chorado e o papai parecia muito triste.

- Que foi? - perguntei
- Nada, querido! - mamãe me abraçou.

Daí, o papai falou, com a voz bem séria: “É melhor dizer a verdade.”

Ela me puxou para o sofá, me fez sentar no colo dela. Achei até que eu ia levar bronca. Acho que teria sido bem melhor do que ouvir o que ela me disse.

- A verdade, Alvinho, é que seu pai está indo embora.

Foi uma choradeira só. Eu gritava que não, eles diziam que não tinha mais jeito, que era melhor assim. Eu lembro que eu só ficava repetindo que, se era culpa minha, eu ia melhorar, eu ia ser um bom menino. Eles juraram que não, que eu não tinha culpa de nada. Mas, vai acreditar nisso, numa hora dessas!

Papai prometeu nunca me abandonar. Mas, aí, arrumou as malas e saiu.

Este foi o dia mais difícil da minha vida! Nunca chorei tanto. Nem quando eu prendi o dedo na porta do carro e tive que dar pontos. Nem mesmo quando o meu peixinho morreu.

À noite, eu não conseguia dormir, então, fui pra a cama da mamãe.

Ela também estava acordada, e nós ficamos conversando. Mas, ela não me contou a verdade.

No outro dia, meu pai me buscou na escola, brincou comigo, contou histórias, depois me deixou em casa. Ele também não quis me contar a verdade. Nem nos outros dias. Minha mãe continuava cuidando de mim. Eu sentia falta do sorriso dela e de ver os dois juntos, mas, aos poucos fui me acostumando e a vida nem mudou tanto assim. Ela continuava sendo perfeita e ele, quando vinha me ver, continuava sendo o cara mais legal do mundo.

Pelo menos, até àquele dia, quando tudo mudou.

Era aniversário da minha mãe e meu vô me levou no shopping pra comprar um presente. Foi quando eu vi. Papai estava lá, com uma moça e ele olhava pra ela do mesmo jeito que antes olhava para a mamãe. Os dois andavam de mãos dadas e então, se beijaram. Larguei a mão do vovô e corri até eles. Eu xingava e batia nela e também tentei bater nele, mas ele me segurou e, logo meu vô me segurou também e me levou dali.

Eu não podia acreditar que meu pai tinha trocado a minha mãe por aquela mulher feia e burra e chata! Bem que a Suzaninha me falou e eu não quis acreditar! Ela me disse que com o pai dela tinha sido a mesma coisa, mas o meu pai, não! Ele não ia fazer isso com a gente.

Depois disso, eu não queria mais falar com ele. Ele bem que tentou. Até a mamãe quis me convencer que ele ainda era o mesmo e que ele continuava me amando muito. Eu não queria saber! Era ele aparecer na porta da escola e eu me escondia na sala da diretora. Lá em casa, e eu corria pra casa do Cesinha. Ele trazia presentes, eu jogava fora.
Olha! Isso durou um tempão.

Aí, um dia, quem apareceu na porta do meu colégio, foi a tal moça que eu vi com ele. Era muita cara de pau mesmo! Eu já ia correr para dentro da escola de novo, quando vi minha mãe, também. As duas estavam juntas e a moça chorava.

Mamãe se aproximou:

- Alvinho, seu pai...
- Não quero saber! - eu gritei zangado, mais pra moça saber que eu tava zangado do que por não querer saber. Na verdade, eu queria muito saber. E estava morrendo de medo. Afinal, minha mãe não estaria ali se não tivesse um bom motivo.

- Filho! Presta atenção! - a mamãe falou, bem séria. - Esta aqui é a Mariella. Ela veio levar você para ver seu pai.

- Não quero!
- Ele sofreu um acidente, Alvinho! - a tal Mariella falou.

Um acidente!? Meu pai!? Mas, como? Eu me perguntava, sem falar nada, porque minha voz não saia. A tal Mariella me deu a mão. Olhei para minha mãe e ela fez um sinal com a cabeça, como se me mandasse seguir a moça. Eu fui, mas não lhe dei a mão. Só saí andando junto.

Meu pai estava no hospital, todo enfaixado, a voz bem fraquinha...

Ele me pediu perdão, explicou que essas coisas acontecem mesmo com gente grande, que ele não queria magoar a mamãe nem a mim, mas quando ele conheceu a Mariella ele se apaixonou e ela também.

- O resto da história você já sabe, Alvinho. - ele disse e então, começou a tossir, sem parar. Os aparelhos do quarto fizeram um barulhão e logo tinha um monte de médicos e expulsaram a gente de lá.

- Já chamei sua mãe. Ela vem buscar você. - a moça disse.

- Ele vai morrer? - eu perguntei a ela. Só pensava no meu peixinho. Não queria que meu pai morresse.
- Eu não sei! - ela respondeu, chorando.

Eu chorei também. Ela me abraçou e foi assim que a mamãe encontrou a gente, quando chegou. Acho que ela não gostou muito de me ver abraçado com a moça, então, eu corri pro colo dela.

Ficamos ali ainda um tempo. Depois, o médico veio falar com a gente e disse que ele estava bem, mas que precisava dormir um pouco.

Meu pai saiu do hospital no meu aniversário e fez questão de vir na minha festinha. Ele ainda estava com uma faixa no peito e a voz era bem baixinha, meio rouca. Ele contou sobre o acidente e contou também outras histórias e acabou que todo mundo queria ouvir as histórias dele.

Naquele dia, ele voltou a ser o cara mais legal do mundo. Eu ainda quis que ele e a mamãe voltassem a ficar juntos, mas não deu certo. Ele casou com a tia Mariella, que afinal, não é tão feia, burra e chata assim e a mamãe voltou a sorrir. Acho que é por causa do tio Joaquim, que ela conheceu um pouco depois. Ele é muito divertido, de vez em quando a gente joga bola e ele me deixa ganhar. Ela diz que eles são só amigos, mas agora, que eu já sou um rapazinho eu bem sei que eles estão é namorando.

De toda essa história, eu aprendi que crescer é muito complicado, que as coisas nem sempre saem do jeitinho que a gente espera, mas que depois vão se ajeitando. O amor, como bem disse o vovô, é mesmo a cura para todo mal.

Minha mãe ainda é perfeita, meu pai continua sendo o cara mais legal do mundo e eu amo minhas duas famílias. Ah! E quer saber? A tia Mariella está com um barrigão... Logo, logo vou conhecer o meu irmãozinho!

Postado no blog Vou-de-Blog



Pai é um só



Martha Medeiros

Verdade seja dita: há muitas como sua mãe, mas ninguém como seu pai. Mãe é tudo igual, só muda de endereço. 

Não concordo 100% com essa afirmação, mas é verdade que nós, mães, temos lá nossas semelhanças. Basta reunir uma meia-dúzia num recinto fechado para se comprovar que, quando o assunto é filho, as experiências são praticamente xerox umas das outras.

Por outro lado, quem arriscaria dizer que pai é tudo farinha do mesmo saco? Nunca foram devidamente valorizados, nunca receberam cartilhas de conduta e sempre passaram longe da santificação. Cada pai foi feito à imagem e semelhança de si mesmo.

As meninas, assim que nascem, já são tratadas como pequenas "nossas senhoras" e começam a ser catequizadas: "Mãe, um dia você vai ser uma". E dá-lhe informação, incentivo e receitas de como se sair bem no papel. Outro dia, vi uma menina de não mais de três anos empurrando um carrinho de bebê com uma boneca dentro. Já era uma minimãe. Os meninos, ao contrário, só pensam nisso quando chega a hora, e aí acontece o que se vê: todo pai é fruto de um delicioso improviso.

Tem pai que é desligado de nascença, coloca o filho no mundo e acha que o destino pode se encarregar do resto. Ou é o oposto: completamente ansioso, assim que o bebê nasce já trata de sumir com as mesas de quinas pontiagudas e de instalar rede em todas as janelas, e vá convencê-lo de que falta um ano para a criança começar a caminhar.

Tem pai que solta dinheiro fácil. E pai que fecha a carteira com cadeado. Tem pai que está sempre em casa, e outros, nunca. Tem pai que vive rodeado de amigos e pai que não sabe o que fazer com suas horas de folga. Tem aqueles que participam de todas as reuniões do colégio e outros que não fazem ideia do nome da professora. Tem pai que é uma geleia, e uns que a gente nunca viu chorar na vida. Pai fechado, pai moleque, pai sumido, pai onipresente. Pai que nos sustenta e pai que é sustentado por nós. Que mora longe, que mora em outra casa, pai que tem outra família, e pai que não desgruda, não sai de perto jamais. Tem pai que sabe como gerenciar uma firma, construir um prédio, consertar o motor de um carro, mas não sabe direito como ser pai, já que não foi treinado, ninguém lhe deu um manual de instruções. Ser pai é o legítimo "faça você mesmo".

Alguns preferem não arriscar e simplesmente obedecem suas mulheres, que têm mestrado e doutorado no assunto. Mas os que educam e participam da vida dos filhos a seu modo é que perpetuam o charme desta raça fascinante e autêntica. Verdade seja dita: há muitas como sua mãe, mas ninguém é como seu pai.


Conversa entre o pai e o filho, por volta do ano 2050...




Luis Fernando Veríssimo 


Foi assim que tudo aconteceu, meu filho. Planejaram o negócio discretamente, para que não notássemos. Primeiro elas pediram igualdade entre os sexos. Os homens, bobos, nem deram muita bola para isso na ocasião. Parecia brincadeira. Pouco a pouco, elas conquistaram cargos estratégicos Diretoras de Orçamento, Empresárias, Chefes de Gabinete, Gerentes disso ou daquilo. 

- E aí, Papai? 

- Ah, os homens foram muito ingênuos. Enquanto elas conversavam ao telefone - durante horas a fio - eles pensavam que o assunto fosse telenovela. Triste engano. De fato, era a rebelião se expandindo nos inocentes intervalos comerciais. "Oi querida!", por exemplo, era a senha que identificava as líderes. "Celulite" eram as células que formavam a organização. Quando queriam se referir aos maridos, diziam "o regime". 

- E vocês? Não perceberam nada? 

- Ficávamos jogando futebol no clube, despreocupados. E o que é pior: continuamos a ajudá-las quando pediam. Carregar malas no aeroporto, naufrágios. Essas coisas de homem. 

- Aí, veio o golpe mundial? 

- Sim o golpe. O estopim foi o episódio Hillary-Mônica. Uma farsa. 

Tudo armado para desmoralizar o homem mais poderoso do mundo. Pegaram-no pelo ponto fraco, coitado. Já lhe contei, né? A esposa e a amante, que na TV posavam de rivais eram, no fundo, cúmplices de uma trama diabólica. O pobre Presidente... 

- Como era mesmo o nome dele? 

- William, acho. Tinha um apelido, mas esqueci. Desculpe, filho, já faz tanto tempo... 

- Tudo bem, Papai. Não tem importância. Continue... 

- Naquela manhã a Casa Branca apareceu pintada de cor-de-rosa. Era o sinal que as mulheres do mundo inteiro aguardavam. A rebelião tinha sido vitoriosa! Então elas assumiram o poder em todo o planeta. Aquela torre do relógio em Londres chamava-se Big-Ben, e não Big-Betty, como agora... Só os homens disputavam a Copa do Mundo, sabia? Dia de desfile de moda não era feriado. Essa Secretária Geral da ONU era uma simples cantora. Depois trocou o nome, de Madonna para Mandona... 

- Conta mais... 

- O resto você já sabe. Instituíram o Robô-Troca-Pneu como equipamento obrigatório de todos os carros... a Lei do Já-Prá-Casa, proibindo os homens de tomar cerveja depois do trabalho... E, é claro, a famigerada semana da TPM, uma vez por mês... 

- TPM ??? 

- Sim, TPM... A Temporada Provável de Mísseis... É quando elas ficam irritadíssimas e o mundo corre perigo de confronto nuclear... 

- Sinto um frio na barriga só de pensar, pai... 

- Shhh! Escutei barulho de carro chegando. Disfarça e continua picando essas batatas.