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Reação de um consumidor ao saber que ganhou um modem “de graça” da Claro








O que é essencial e fundamental na vida


A verdade de cada um : Consumo




Consumimos por necessidade e por desejo. Mas o que está por trás desse ato que faz a economia girar mas também consome os recursos naturais e gera lixo em proporções cada vez maiores?

Nas últimas cinco décadas, o consumo cresceu seis vezes. Mesmo levando em conta o crescimento populacional, os gastos por pessoa triplicaram. Atualmente o mundo extrai 50% a mais do que poderia de seus recursos naturais e finitos.

Mas o ato de consumir está ligado apenas a desejos e necessidades, ou comprar é algo que causa sensações mais complexas e determina modelos sociais?

O episódio Consumo da série A Verdade de Cada Um, produzida pela O2 Filmes e exibida pela National Geographic, com o retrato de pessoas e suas relações com o consumo, os membros Ana Paula Silva e Claudio Spinola foram personagens deste episódio, compartilhando a experiência da Morada da Floresta.

Para entender com profundidade as raízes do consumismo assista ao documentário: Consuming Kids.




Postado no site DocVerdade 





Relações humanas nos fazem felizes, não o consumo




Dr. Cristiano Nabuco

Você já deve ter ouvido a seguinte frase ecoando por aí: “as melhores coisas da vida não são coisas”. Pois é, a máxima não poderia ser mais acertada. Saiba que um estudo feito na Suécia chegou à mesma conclusão.

A partir de entrevistas colhidas desde 2010, pesquisadores da Universidade de Lund confirmaram que a felicidade está mais ligada aos nossos relacionamentos afetivos (família, amigos e parceiros românticos) do que às coisas materiais que nos rodeiam.

Os autores afirmam que consumir já havia sido associado a uma forma de felicidade, entretanto, uma felicidade de característica “mais passageira”, digamos. Assim, a coleta dos dados chegou à conclusão de que as pessoas atingem sentimentos de felicidade mais intensos e duradouros quando verbalizam, vivem – e pensam – a respeito de seus relacionamentos de maneira geral.

O estudo lembra, entretanto, que, apesar de não estarem associados à felicidade, os bens materiais não estão associados imediatamente ao inverso, ou seja, à infelicidade.

Outro dado interessante é que esses relacionamentos, muitas vezes, não se concretizam no mundo real. Lembre-se, por exemplo, daquelas pessoas públicas que geram algum tipo de afeição – como as figuras carismáticas –, por alguma razão ainda não muito clara, elas também parecem elevar os nossos níveis de felicidade.

Seria esta então uma possível razão da necessidade de conexão às redes sociais?… Para se pensar.

Enfim, o estudo continua em desenvolvimento e os pesquisadores pretendem descobrir o que faz com que não apenas uma pessoa, mas uma sociedade como um todo possa também ficar feliz. E isso eles vêm denominando de “percepção coletiva de felicidade”.

Música, boas notícias de pessoas distantes, muita coisa pode nos fazer feliz

Para os pesquisadores, essa “percepção coletiva de felicidade” pode ser desencadeada ainda por outros fatores. Veja só que interessante!…

Assim sendo, os pesquisadores também apontaram que as músicas que traduzem o que estamos sentindo em um determinado momento, por exemplo, poderiam evocar estes mesmos sentimentos.

As boas notícias de amigos (sim, até quando há esse distanciamento entre as pessoas) e mesmo presenciar situações positivas parecem contribuir de maneira direta para que as pessoas atinjam a felicidade.

Felicidade é sensação de realização pontual

Como já dissemos anteriormente aqui no blog, para chegarmos ao sentimento pleno de felicidade, devemos entender que, para nos sentirmos bem, basta que comecemos a cuidar de nós mesmos e nos empenhemos na realização daquilo que pontualmente nos faz bem, pois sobre isso sim, temos controle.

Tente, portanto, fugir dos sentimentos causados pelo consumismo. Afinal, apesar de não trazer tanta felicidade assim (como já mencionei acima nessa pesquisa sueca), não nos aproxima da felicidade em seu melhor estado.

Ao realizarmos algo que nos faz bem, isso nos sustenta emocionalmente para seguir em frente, pois desenvolvemos nossa força e virtude, ajudando-nos a desenvolver dignidade pessoal. Desta forma, aumentamos nosso senso de coerência de sentimentos e de nossos afetos positivos.

Afinal, como diz a frase de Arthur Schopenhauer: “A nossa felicidade depende mais do que temos na nossa cabeça do que em nos nossos bolsos”.

Postado no Blog do Dr. Cristiano Nabuco em 02/01/2014 




Publicidade influencia crianças para que pais consumam mais

katerine Karageorgiadis, advogada da área de Defesa do Instituto Alana e Conselheira do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional o Consea, falou sobre a Criança e o Consumo.
Com a chegada do Natal a publicidade fica mais agressiva, voltada principalmente para crianças, o que pode trazer consequências sérias para pais e filhos.

Cultura e consumismo




Richard Jakubaszko 

Quino, o caricaturista argentino criador da personagem Mafalda, desiludido com o rumo que o mundo está tomando quanto a valores e educação, expressou seu sentimento a respeito. 

A genialidade do artista produziu uma das melhores críticas sociais sobre a educação das crianças nos tempos atuais, na forma de criativos cartoons.

Devemos fazer profundas reflexões a respeito das ideias de Quino sobre o consumismo e o egocentrismo.










Postado no blog Richard Jakubaszko em 28/11/2013

Para Frei Betto, infância é prejudicada por 'robotização' provocada pela TV


crianças

Na semana do Dia da Criança, no próximo sábado (12), o colunista da Rádio Brasil Atual, Frei Betto, alerta para o que chama de "robotização da infância" e critica o consumismo que cerca a data, criada pelo comércio para alavancar vendas de brinquedos, roupas infantis e demais produtos criados para esse público.

Para o religioso e ativista, as crianças das gerações atuais não são mais criadoras das fantasias que vivenciam, mas as recebem da televisão e da internet, num processo que praticamente elimina o contato e a convivência com amigos e impedem aos pequenos “se educar nos códigos da sociabilidade, como saber admitir seus próprios limites e reconhecer o direito dos outros”.

Em sua coluna semanal, Frei Betto lembra que o universo onírico, dos sonhos e das brincadeiras, é essencial para a saúde psíquica da criança. 

Por meio da fantasia, ela consegue transportar o mundo adulto à sua vivência infantil, de forma criativa. “Embora bonecas não bebam suco, nem cachorros possam estabelecer diálogo com uma criança, a criança atribui à boneca ou ao animal estados que são próprios de seres humanos”, esclarece.

“A diferença em relação às gerações passadas é que agora o protagonista da fantasia não é a criança, é a animação daquilo que aparece na telinha, seja do computador, seja da TV. A criança é relegada à condição de mera espectadora.”
Vivenciar o período da infância com atividades lúdicas e interação com amigos tornou-se tarefa complicada. “A rua é um lugar perigoso, ameaçado pela violência e pelo trânsito”. 

Com isso, a maioria das crianças permanece em casa, tendo como divertimento a televisão e a internet, acentuando o medo do real e a dependência familiar.

Ouça o comentário completo:


Postado no site Rede Brasil Atual em 07/10/2013

A devastadora “modernidade” do novo Iphone5



Vinicius Gomes

Toda vez que um novo iPhone está para ser lançado, produz-se um frisson mundial. 

No caso do novo Iphone 5S, não foi diferente. Pessoas acamparam por semanas em frente à loja da Apple em Nova York, esperando que suas portas se abrissem. Quando isso finalmente ocorreu, foram saudadas pelos funcionários como se tivessem acabado de conquistar uma medalha de ouro nas Olimpíadas.

Mas por trás de toda a fanfarra de marketing, existe uma realidade que quase nunca é acompanhada pela mídia com tanta empolgação como as filas em frente das lojas.

O jornalista britânico George Monbiot começou a revelá-la esta semana, em seu blog.

A Apple, demonstrou ele, participa de um dos crimes ambientais que melhor expõem a desigualdade das relações Norte-Sul e a irracionalidade contemporânea. 

Ela provavelmente compra estanho produzido, na Indonésia, em relações sociais e de desprezo pela natureza que lembram as do século 19.

Pior: convidada por ativistas a corrigir esta prática, a empresa esquiva-se – destoando inclusive de suas concorrentes. E, ao fazê-lo, usa argumentos que sugerem: trata o público seus consumidores como se fossem incapazes de outra atitude mental além do ímpeto de consumo.

Monbiot refere-se ao uso, pelos fabricantes de celulares, do estanho extraído da ilha de Bangka, na Indonésia. 

O metal é indispensável para a soldagem interna dos smartphones. Cerca de 30% da produção global concentra-se na Indonésia – mais precisamente, em Bangka. O problema são as condições de extração.

O jornalista as descreve: “Uma orgia de mineração sem regras está reduzindo um sistema complexo de florestas tropicais e campos a uma paisagem pós-holocausto de areia e subsolo ácido.

Dragas de estanho, nas águas costeiras, também estão varrendo os corais, os manguezais, os mariscos gigantes, a pesca e as praias usadas como ninhos pelas tartarugas”.

A cobiça pelo estanho barato não poupa nem a natureza, nem o ser humano. Monbiot prossegue: Crianças são empregadas, em condições chocantes. 

Em média, um mineiro morre, em acidente de trabalho, a cada semana. A água limpa está desaparecendo. A malária espalha-se e os mosquitos proliferam nas minas abandonadas. Pequenos agricultores são removidos de suas terras.

Estas condições desesperadoras desencadearam reação de ativistas. 

A organização internacional Amigos da Terra articulou o movimento. Não se trata de algo conduzido por rebeldes sem causa. A campanha reconhece que eliminar a mineração seria uma proposta inviável, por desempregar milhares de pessoas.

Propõe, ao contrário, um pacto. Todo o estanho produzido em Bangka é adquirido pelas corporações que fabricam celulares. Se elas concordarem em respeitar condições sociais e ambientais decentes, a exploração de gente e da natureza não poderá prosseguir.

Sete fabricantes transnacionais abriram diálogo com a campanha: Samsung, Philips, Nokia, Sony, Blackberry, Motorola e LG.

A única das grandes fabricantes a se recusar foi a Apple – também conhecida por encomendar a fabricação de seus aparelhos às indústrias de ultra-exploração do trabalho humano da Foxconn.

O mais bizarro, conta Monbiot, são os estratagemas primitivos usados pela Apple para evitar um compromisso de respeito aos direitos e à natureza. 

O jornalista procurou por duas vezes, nos últimos dias, o diretor de Relações Públicas da empresa. Propôs, em nome da transparência, um diálogo gravado. Sugestão negada. Na conversa reservada, relata, não obteve informação alguma, exceto uma sugestão: dirija-se a nosso site.

Mas é lá, diverte-se Monbiot, que a Apple mais zomba da inteligência dos consumidores.

A corporação informa, placidamente, que “a Ilha de Bangka, na Indonésia, é uma das principais regiões produtoras de estanho no mundo. Preocupações recentes sobre a mineração ilegal de estanho na região levaram a Apple a uma visita de inspeção, para saber mais”. 

Mas a Apple não reconhece que compra o metal produzido em Bangka – provavelmente para não se comprometer com a campanha contra a exploração devastadora. 

O jornalista, então, pergunta: “Por que dar-se ao trabalho de uma visita de inspeção, se você não usa o estanho da ilha? E se você usa, por que não admiti-lo?”

Tudo isso sugeriria renunciar a um celular? Claro que não, diz Monbiot. Trata-se de exigir das empresas respeito a normas sociais e ambientais. 

Pressionadas, sete corporações transnacionais ao menos admitiram debater o tema. A Apple destoou. Quem tem respeito pelos direitos sociais e pela natureza deveria evitar os aparelhos da empresa, recomenda o jornalista.

Quem quer ir além pode, por exemplo, optar pelo Fairphone, celular produzido por empreendedores expressamente interessados em proteger direitos e ambiente.

Estará disponível a partir de dezembro. Porém, mais de 15 mil unidades já foram vendidas, nos últimos meses a consumidores conscientes.


Postado no site Outras Palavras em 26/09/2013

 

Esperança nos bebês pelados



Luís Fernando Praguinha

Um dia eu nasci. Pelado, sem nada, a não ser o amor de minha mãe e minha família, que acreditavam que eu era deles. Eu era um bebê bonitinho, puro e ingênuo. Me bateram e eu chorei pro mundo pela primeira vez. Me colocaram roupas para me proteger do frio e me alimentaram pra que eu crescesse saudável.

Me deram brinquedos pra que me divertisse e parasse de chorar, mas foram tantos que muitos ficavam jogados pelos cantos. Passaram a me dar roupas bonitas e mais caras pra que eu parecesse melhor e mais bonito pra quem me visse. Se eu chorasse me davam comida ou roupa ou brinquedo ou carinho.

O filho da empregada não tinha nada disso e eu passei a entender então que eu era melhor que ele. Ele foi criado na mesma sociedade que eu e a comparação dessas duas realidades não fazia bem a ele. Brincamos juntos por um tempo, depois passei a evitá-lo e ter ciúme dos meus brinquedos.

Meus pais me diziam para respeitar as pessoas, mas não entendiam que era um desrespeito eu ter tantas roupas, tantos brinquedos, desperdiçar tanta comida, enquanto o filho da empregada e muitos outros que foram bebês pelados um dia, passavam fome, frio e precisavam trabalhar ao invés de brincar.

Fui para uma boa escola e tive, mais uma vez, acesso a uma coisa restrita que deveria ser de todos. Tive as portas abertas para prosperar da forma que eu tinha aprendido. Achei que havia entendido o modo como as coisas funcionavam, azar do filho da empregada. Fazer o que?

Entrei para a política e experimentei o poder. Conheci pessoas obcecadas pelo poder, velhos de olhos frios, de caras sérias e tristes, jovens ambiciosos com olhos de águia e um sorriso diferente, que exalavam hipocrisia e mentira. Tive medo deles, mas com o estar-se sempre junto, percebi que era a única forma de sobreviver naquele meio. Deixei pra trás os fracos princípios que adquiri da minha educação consumista. Passei a considerar ridículo e desnecessário demonstrar respeito verdadeiro, mas imprescindível demonstrar respeito de mentirinha.

O filho da empregada conseguiu um emprego modesto e continuou a tradição da sua família de trabalhar sofrivelmente pra me servir. Outros como ele decidiram servir ao crime, matando algumas pessoas para poderem prosperar, mas também não deixavam, em última instância, de me servir.

Enquanto isso eu também matava algumas pessoas, alguns milhares com certeza, de fome, de frio e de privações morais, desviando recursos da saúde, educação e segurança para meu benefício ou dos falsos amigos que me pudessem beneficiar em troca. Para garantir meu nível de vida também me tornei obcecado pelo poder e perdi qualquer senso ético. Fiz conchavos com pessoas que sempre repudiei e enfim me tornei muito poderoso.

Nunca mais chorei, que é sinal de fraqueza. Fui amado, respeitado e temido por todos, como Deus. Envelheci iludindo e envenenando corações, sendo permissivo, cruel, fazendo mau uso do dinheiro do povo, traindo aliados, usando e fazendo leis a meu favor, mas sempre maquiado pela fachada de homem público, cumpridor do dever e ocasionalmente atado às limitações da governabilidade, procurando sempre alguém pra culpar, sem confiar em ninguém, pois nem em mim eu confiava.

Conforme envelhecia mais, sentia que a saúde, o poder e as minhas influências, pouco a pouco iam se afastando de mim. Vi a chegada de outros jovens ainda mais ambiciosos do que eu, lutando sem limites para ocupar posições que já tinham sido minhas. Vi desmandos inimagináveis cometidos para saciar a ganancia e a vaidade que o poder gerava. Vi a mim mesmo naqueles jovens.

O respeito, amor e medo que um dia nutriram por mim foi se convertendo em desprezo, ódio ou indiferença. Passei a ser motivo de chacota entre os políticos mais jovens. Meus aliados me traíram e revelaram meus esquemas. O povo que me elegeu passou a ter vergonha de dizer que um dia havia votado em mim. Meu raciocínio ficou lento e a doença tomou conta do meu corpo.

Morri, como todos os bebês pelados que vieram antes de mim morreram. Morri, como todos os bebês pelados morrerão. Deixei de ser. Todos deixarão de ser um dia. 

Senti o mundo melhor sem a minha presença, mas foi por pouco tempo. Logo vi que nada havia mudado e eu não havia mudado nada. Eu apenas ajudei a manter a farsa. 

Passei minha vida matando bebês pelados, desde a minha primeira roupinha bonita. Agora, morto, vejo que fui iludido. No começo, não conseguia enxergar. Quando enxerguei, me pareceu tão natural continuar agindo daquela forma, que não fiz questão de mudar. 

Quando percebi que matar, prejudicar e me aproveitar de pessoas apenas para mostrar meus brinquedos novos não era assim tão natural, eu estava tão dominado por aquele vício e tão ciente da minha incapacidade de me livrar dele, que preferi continuar agindo como se fosse natural, como faziam meus colegas de ofício.

Morto eu posso entender melhor. Nascer, viver e morrer são naturais. Matar não é natural. Matar é tirar de bebês pelados o privilégio de viver. Viver pode ser melhor que a vida que tive. Morto, me parece que viver como eu vivi é apenas parasitar e pilhar o planeta. 

Tudo o que tirei dos outros nunca foi verdadeiramente meu. Nunca tive nada, a não ser aquela pureza e ingenuidade de bebê pelado. Morto, vejo que nem isso mais eu tenho.

Torço para que nasça cada vez menos gente como eu. Torço para que nossa organização social e nossos sistemas político e econômico baseados no consumo sejam compreendidos como danosos e viciantes, mas pelas pessoas vivas, porque os mortos já deixaram de ser. Torço por uma forma cooperativa de viver.

Agora que estou morto, não me restou nem sequer uma lembrança boa do tempo em que fui vivo. Fui um péssimo exemplo. Depois de morto, ainda pude sorrir de verdade mais uma vez, ao ver meu neto, bebê pelado, nascer. Reaprendi a chorar ao vê-lo rodeado de brinquedos, evitando o filho da empregada.


Postado no blog Educação política em 26/09/2013


É hora de descartar… a ‘cultura do descartável’




Washington Araújo

A humanidade que sobreviveu ao século XX, século marcado por duas carnificinas mundiais, centenas de conflitos armados continentais e internacionais e vítimas aos milhões, sofre de um elevado grau de déficit de confiança em seu futuro, déficit este causado pela falência múltipla de suas tradicionais fontes de autoridade moral, nas quais se inserem as principais instituições e lideranças religiosas, os mais renomados pensadores, filósofos e luminares da educação e a vasta maioria de seus governantes, independentemente do regime político-ideológico que os amparem.

Superada a perigosa polaridade ideológica entre socialismo e capitalismo, temos na abertura deste século XXI, disparidades gritantes a separar, como abismos de miséria humana, ricos e pobres.

Esta dicotomia tem sido identificada por diversas vertentes do pensamento pós-iluminista e faz parte da agenda de preocupações tanto de instituições – governamentais e não-governamentais – quanto de indivíduos – muitos, apenas bem intencionados – e que nada mais desejam que o bem-estar de toda a espécie humana.

No entanto, torna-se evidente, que a mera identificação do problema não tem sido capaz de ensejar verdadeiro antídoto à crise de valores morais e espirituais, à derrocada econômico-financeira e à falta de esperanças que permeia as atuais e, em conseqüência, as novas gerações, situações de letargia e desalento em que se encontra formidáveis contingentes populacionais do planeta.

Leis em excesso, bem-estar coletivo de menos. Os governos, não obstante suas ideologias, sistemas econômicos e avanços culturais e tecnológicos, têm sido céleres em atuar no caminho do Direito Positivo – e, com isto, cada país tem gerado novas instâncias jurídicas, novas formas de direito, com novos arcabouços de leis, e infindável manancial de normas e regulamentos. A cada falha nos procedimentos governamentais, novas leis são criadas.

A cada nova modalidade de crime, novas dosagens de punição são apresentadas a sociedades humanas às voltas com altas doses de desilusão. Atacam-se os efeitos delituosos de uma natureza humana afeita a entronizar como essência de sua existência o livre consumo de bens materiais e a dedicar seu precioso tempo vital em busca por saciedade dos instintos e deixa-se ao largo, como assunto de importância absolutamente secundária, os reais valores morais que, tão-somente, poderiam nos alçar a uma compreensão abrangente sobre a natureza humana.

As sociedades expressam insatisfação – em níveis cada vez mais elevados – através dos modernos meios de comunicação, acerca das decisões dos governos, apresentam descrença quanto à razoabilidade de políticas públicas adotadas e certa indiferença para com decisões tomadas por organismos multilaterais, como os que estão sob a égide do sistema Nações Unidas.

Torna-se corriqueira postura de crítica acerba de segmentos sociais com maior acesso aos meios midiáticos para externar desapreço e contrariedade com a gestação, execução e avaliação de políticas públicas. Nesta quadra em que vivemos, à simples menção da expressão ‘governo’, tem-se a impressão que o vocábulo carrega em seu bojo o odor putrefato da corrupção. 

E a corrupção, inicialmente vista como desvio criminoso de recursos públicos para atender a interesses pessoais e egoísticos por parte dos detentores de poder político, econômico e social, começa a ser vista como algo ainda mais letal para a saúde do tecido social das nações. Algo que obscurece a visão que a corrupção nos torna insensíveis e arredios àquelas virtudes milenares que poderiam engendrar à criação de um novo mundo possível, fundado na solidariedade e na compreensão que, como seres de uma única espécie, temos um destino comum a partilhar.

Dentre as virtudes humanas mais necessárias nos tempos que correm existe esse profundo vazio de significado da própria vida humana. É que nas relações humanas, tanto na esfera dos governos quanto da vida ordenada das sociedades, parece não haver espaço para a pureza de intenções, a veracidade, a honestidade, a lealdade, quando fazemos a travessia do mundo das ideias para o chão duro da realidade.

Relógio da crise mostra impaciência

O relógio da crise não admite pausas nem hesitações. É chegado o momento para abrir um novo ciclo na história. E isto requer uma profunda imersão em temas milenares e que nos desafiam, desde aquele longínquo momento em que pela primeira vez pisamos no palco da História.

Faz-se inadiável uma imersão sobre o propósito da vida, a compreensão da natureza humana, o entendimento de que integramos um todo único e indivisível – que inclui o ser humano e o meio-ambiente igualmente – e o conceito de que temos uma pesada responsabilidade moral e social para proteger e amparar as populações vulneráveis e sofredoras de nossa espécie.

São desafios e, portanto, precisam ser superados. Tratemos das causas e deixemos de tratar os efeitos com quimeras paliativas de sempre.

Em nossa longa história humana pontuada por tentativas de erros e acertos bem podemos inverter o curso de ação da história. E isto requer o apreço pela rica diversidade humana, o respeito às múltiplas expressões de como nos relacionarmos com o Sagrado e, também, a indispensabilidade de reputarmos a pluralidade de pensamento e de opinião como meios efetivos para a geração de novos conhecimentos, no contexto que somos chamados a produzir uma cultura fundada na paz entre povos, raças, etnias, credos e classes sociais.

O clamor por transformações sociais que principiem na raiz de todos os problemas surgem por todas as partes. Partem das cidadelas conservadoras do pensamento eclesiástico, ainda voltado para a tolerância e não para o respeito e o apreço às diferenças.

Este clamor se eleva com contundência e grande nível de estridência contra a manutenção de sistemas econômicos obtusos e excludentes, duramente estabelecidos, defendidos à custa do sacrifício do bem-estar de sociedade inteiras, muitas vezes vistas como “campos de testes”, e os próprios seres humanos não mais que “ratos de laboratório”.

A crise econômica da Europa e dos Estados Unidos são apenas fios desencapados de um mundo às voltas com formidável curto-circuito.

Os “indignados” da Espanha e os que se imolam nas praças e ruas públicas da Grécia, as centenas de milhares de jovens e adultos que engrossam filas por emprego em dezenas de países do antes chamado continente mais desenvolvido – a Europa – são não mais que outros fios desencapados dando conta que a fiação inteira encontra-se comprometida e sempre prestes a gerar novas fagulhas no já profundo oceano de desespero que assola as massas da humanidade. 

O desespero humano decorre, em vasta medida, de uma realidade incômoda. É a realidade construída sobre falsos alicerces da injustiça secular, produto de inúmeras formas de destruição massiva, e tem, sem qualquer pudor, submetido povos e nações com menos recursos materiais a interesses subalternos de povos e nações detentoras de verdadeiras máquinas a movimentar a economia global, a indústria de guerras, transformadas rapidamente em fontes muito lucrativas de bens e dividendos econômicos. Seres humanos não mais são explodidos ao firmarem o pé sobre minas terrestres.

É o próprio sistema que se encontra minado: somos explodidos a cada vez que perdemos vagas de trabalho, que precisamos de cuidados médicos e não os temos, a cada escola que é fechada e a cada penitenciária que se inaugura. Parte expressiva da população mundial, mesmo sem terem disso consciência, são como minas humanas em movimento.

Cultura do descartável precisa, ela própria, ser descartada

As transformações sociais exigidas envolvem completa mudança dos atuais processos decisórios, geralmente enfeixados nas mentes e nas mãos de indivíduos que alcançaram poder e prestígio mediante processos de escolha contendo vícios insanáveis, como o uso de expressivos recursos financeiros desviados ardilosamente dos fins a que se destinavam, além de manipulação ostensiva de corações e mentes através do uso de meios de comunicação quase sempre monopolistas, e a serviço de interesses outros que não o bem-estar das populações às quais se propõem informar.

Os desvios de natureza financeira punem gravemente a promoção do bem-estar coletivo, o que inclui investimentos maciços na educação, saúde, segurança, geração de emprego e renda e a preservação do meio-ambiente. 

Como escreveu o pensador Shoghi Effendi (1897-1957), “… governança, em essência, é uma prática moral e espiritual cuja bússola é encontrada no interior do coração humano.” Àqueles que realmente mostram preocupação pelos caminhos e descaminhos em que o mundo se encontra bem podem ouvir de todas as regiões a exigência inadiável para o estabelecimento de um novo paradigma civilizatório. 

As crises que nos defrontam não podem mais ser contidas com medidas pontuais, com ações específicas, com planos e metas de curto e médio prazo, facilmente abandonados e por outros substituídos ao sabor dos acontecimentos do momento. 

Este tempo passou e ao invés de deixar frutos, deixou miséria em grande profusão. A cultura do descartável precisa, ela própria, ser descartada. Medidas transitórias, em tempo algum, foram suficientes para sanar problemas permanentes.

E agora não pode ser diferente. Nunca o provisório ocupará o espaço do duradouro. A sociedade, vítima e algoz, responsável tanto por seus avanços científicos quanto por seus retrocessos morais e espirituais, bem poderia entender que ela própria é a atual face da crise maior que se prenuncia no horizonte.

Os valores culturais, cultivados ao longo de gerações, se espraiaram nessa busca frenética por bons descartáveis – e é como se o sentido da vida houvesse sido sequestrado por falsos brilhantes em sua contínua busca por ocultar o verdadeiro esplendor que emana do espírito humano.

É neste contexto que cidadania passa a ser sinônimo de consumismo: o indivíduo é tão cidadão quanto a sua capacidade para consumir. A capacidade de aquisição de bens materiais se transformou em capacidade de exercício da própria cidadania. E não existe nada mais equivocado que esta premissa, que traz em seu bojo, elevada carga de frustração em relação à realização do ser humano.


Postado no blog Cidadão do Mundo em 21/08/2013


Revolução de consciência e o consumismo


Owned & Operated (2012) (Legendado pt-br)







Para assistir ao filme, clique no ícone das legendas na parte de baixo da janela do Youtube.

 Imperdível!

O documentário faz uma análise do nosso consumismo, do poder das elites e a revolução de consciência que está acontecendo.

Postado no blog Docverdade em 07/09/2012



Não atualize


O meu amigo Paulo Polzonoff Jr. enviou-me um post sobre a falsa necessidade de atualizarmos tudo e nos atualizarmos em tudo como se o mundo fosse acabar amanhã se não o fizéssemos.
A mais nova, a última, a maior versão do produto X está disponível hoje. É apenas X reais e faz todas as coisas legais que você nunca soube que faria. E se você agir agora, o produto X vai mudar a sua vida.
Lembro dele falando – em tom de humor, claro: “Acho que vou processar a empresa x. Comprei um iXis e não me sinto mais feliz por isso.”
Os produtos vendem hoje uma ideia de que precisamos deles (e de suas versões mais recentes) para sermos felizes. Claro que não fazem isso de modo franco, assintoso e evidente. É apenas uma sugestão.
Mas nós sabemos que nós não precisamos do Produto X para viver uma vida cheia de significado (ainda que nós realmente, realmente queiramos ele).
A gerente de uma loja da Vivo contou-me que quando o iXis 4 foi lançado algumas pessoas da fila ficariam sem. Teriam que voltar no dia seguinte.
Elas choraram. Não estou falando de crianças de 4 anos. Mas de adultos de 25 anos para cima.
Anunciantes gastam milhões de dólares para criar um senso de urgência para nos fazer babar sobre seus produtos.
Senso de urgência é importante. Mas é importante para as coisas importantes.
Veja este vídeo e entenda coisas realmente importantes:
Mesmo quando o aparelho, software ou coisa antiga está quebrado o artigo dá algumas opções interessantes:
  • Viva sem: é quase um tabu. Mas é possível. Eu tenho vivido sem TV durante quase dois anos (digo, tenho um aparelho, mas não tenho assinatura nem para canais abertos). Não que eu não goste de TV, ela apenas não faz falta para minha vida. Isso vale para inúmeras outras coisas.
  • Repare: algumas coisas podem simplesmente ser consertadas. Existe todo um movimento que incentiva o reparo das coisas, que é um passo além do simples reciclar. Leia o manifesto pelo reparo
  • Reponha: você não precisa comprar itens novos para cada coisa que quebra. Você pode fazer o downgrade em vez do upgrade e ainda assim ter o que precisa para uma vida significativa

Postado no Blog Livros e Afins em 06/10/2011 por Alessandro Martins

"A morte de Deus" e o Natal sem religião



Torna-se cada vez mais difícil associar a Natal ao nascimento de Cristo. Existe muito pouco hoje, na "maior festa da Cristandade" que conduza à conclusão de o Natal ser realmente uma festa cristã. É complicado, realmente, vender geladeiras e máquinas de lavar roupa, com as menções a Deus.

O poema de Machado de Assis em que ele pergunta se somos nós que mudamos ou se o Natal, parece anteceder a uma questão hoje corrente: a irreligiosidade da sociedade contemporânea. Émile Zola - que foi um dos primeiros críticos a elogiar os pintores impressionistas - achou de chamá-los de "realistas": eles, de fato, romperam uma tradição do cristianismo, de pintarem o ideal, como seriam as cenas religiosas. Mesmo quando retratavam alguém, não raro, um Rubens, um Delacroix ou mesmo um Ingres, trataram de fazê-lo, tendo como pano de fundo, digamos, uma cena idealizada, ou antes, um fundo nenhum. Foi o que fez Charles Dickens. Em seu famoso conto de Natal ("Christmas Carol"), tratou de pôr fantasmas na mente culpada do empresário que maltrata seu empregado, a partir da descrição de um literal pesadelo. O espectro, que arrasta correntes pela casa, e que o persegue no meio da noite, é claramente o demônio de sua consciência. Em seu poema, Machado de Assis não fala da questão do consumo que, em seu tempo, era muito precário em comparação com o que se vê hoje em dia. Mas ao detectar uma transformação ("Mudaria o Natal ou mudei eu"?), o escritor projeta a resposta que o mundo deu no futuro: o Natal, em si, já não é uma festa religiosa. Tudo indica que o que mudou foi o Natal.

Talvez a questão resida, de novo, no Papai Noel, um ícone de mentira, que sabemos ser de mentira, e que, por isso mesmo, não passa de um ícore. Na verdade, o personagem não tem nada de religioso: ele atravessa os ares com seu trenó, deixa presentes às crianças, mas não reivindica qualquer ligação com o além. Não é o Cristo da Manjedoura que o envia. Quando muito, talvez, sugira, pelas cores, a Coca-Cola: foi com o refrigerante que o Papai Noel apareceu na forma que tem hoje. O mais é a mistura: os sinos tocam em Belém "para o nosso bem", etc e tal -mas os personagens da Manjedoura parecem resolutamente secundários, coadjuvantes quase. E para os chamados "crentes" - que na atualidade constituem mais de um terço dos religiosos do país- o Presépio sequer existe. Assim também nas representações públicas. No máximo, temos a parafernália das luzes que se enrolam nas árvores, ou que despencam dos edifícios como um espetáculo feérico - mas que parece ter mais a ver com o neon da publicidade do que com as cenas consagradas pela tradição - aquela que se estreita numa gruta, com o Menino, a Virgem, os pastores vindos ao longe - anjos luminosos, uma estrela guia, e as músicas ressoando desde a estratosfera.

Quando Nietszche disse que Deus estava morto, a reação alcançou todos os setores das religiões; a grita geral atingiu vários níveis e o próprio Nietszche foi anatemizado. Sua constatação, de que as religiões perdiam seus elos com a totalidade dos homens, a começar pela sua posição no Estado, nunca foi contestada pelos fatos. E o alarido que se seguiu a sua conclusão, fez muita gente contabilizar, não só os milagre - como os de Fátima, de Lourdes e outros -, mas todo um elenco de fatos extraordinários, os quais, entretanto, nem de longe parece terem tido o condão de ressuscitar Deus. 

Evidentemente, existem os religiosos: o Papa ainda reza a Missa do Galo, os crentes em suas denominação cada vez mais numerosas (a contar pelo número de pastores "empreendedoristas"), continuam a erguer seus braços na saudação a Cristo Jesus e em seus "aleluias". Algumas igrejas católicas esplendem em cores e luzes. Além do mais, há o islamismo. Dizer que Maomé já não tem Deus para ser seu último profeta, parece desconsiderar uma religião que cresceu desmesuradamente nos últimos anos, a ponto de os islâmicos serem, no mundo atual, em números, uma comunidade muito maior que a cristã. De fato, há aspectos de guerra religiosa na resposta que muitos muçulmanos dão às bombas dos EUA e da Otan, que negam, em princípio, a morte de Deus. No entanto, pode-se objetar que, ainda assim, soa inclusive para muitos seguidores do Profeta, quase uma regressão conceber a organização das sociedades em Estados Religiosos. No próprio Irã, aliás, há quem dê como como em dias contados, a manutenção da predominância dos clérigos na condução do Estado. Lá, também Alá estaria morto. 

A questão, contudo, não parece simples; e não é. Há anos, um religioso escreveu um livro sobre a arte sacra do nosso tempo. Defendia que ela existiria, a despeito da irreligiosidade desenfreada que paradoxalmente se seguiu à Segunda Guerra. Referia-se ao catolicismo e nomeava alguns artistas contemporâneos. Olivier Messiaen que morreu não faz muito, foi, realmente, um compositor que sempre se postou como católico. Escreveu obras textualmente, "para Jesus" e guardou-se de que sua fé era inquebrantável, o que não deixou de ser reafirmado até sua morte. Georges Rouault, pintor, um pouco mais velho que Messiaen, francês como ele, fez uma obra quase que inteiramente religiosa. Françoise Gilot, ex-mulher de Picasso, autora de um livro sobre o pintor, refere-se a Rouault como um artista, eminentemente, religioso. O próprio escritor inglês Graham Greene, morto há uns vintes anos, expôs o problema religioso no âmbito das questões existenciais prioritárias do nosso tempo. Mas, pelo fato de ter colocado a questão, justamente como "um problema", não parece ter esmorecido a questão concreta de que, com ou sem "o problema", Deus estaria, de fato, morto.

Pode-se, certamente, ler de muitas maneiras a afirmação ("aforismo") de Nietzsche. A um homem convicto de sua fé - e há um sem número deles, inclusive entre grandes intelectuais e cientistas - a consideração seria ociosa, até contraditória. Teria de se a avaliar a questão com as devidas reservas: José Saramago, um decidido agnóstico, não imputou a Deus o "grande mal do mundo"? Como considerá-lo morto, se a cada homem-bomba no Iraque ou no Afeganistão, reacende-se a questão do martírio, que só se concebe na crença de uma fé inquebrantável? Realmente, é assim. Mas se torna cada vez mais difícil associar a Natal ao nascimento de Cristo. Ou melhor: existe muito pouco, na "maior festa da Cristandade" que conduza à conclusão de o Natal ser realmente uma festa cristã. 
Claro, alguém dirá que é próprio do capitalismo não estreitar comemorações na religião. Complicado, realmente, vender certos produtos com as menções a Deus. Geladeiras e máquinas de lavar roupa, com as bênçãos do Manjedoura, são difíceis de engolir. Os religiosos que o digam. 

Há as medalhinhas católicas e os dízimos protestantes, sem dúvida: todos são produtos vendidos ou comprados "em nome de Deus". Os pagadores de promessa, que se reúnem em Aparecida, aumentam sempre, talvez não na mesma proporção de tempos atrás, mas são numeroso; só que, em todas as manifestações, o que nos identifica já não é a totalidade do ser religioso socialmente, senão a especifidade de o sermos, no âmbito de nossas respectivas igrejas e templos. 

Parece ser, enfim, inelutável entre os homens, a existência de um sentimento religioso difuso. Mas já Deus é um traço subjetivo, que não se expõe na última análise das músicas, cantadas nos templos, que só têm de verdadeiramente religioso a invocação direta a Deus. Canta-se Deus em forma de rock, de música de alto consumo, mas justamente por ser também Deus um objeto de consumo. Ou seja, parece que Deus prescinde de uma música especial, de comportamentos que distingam os religiosos dos consumidores. Somos crentes para invocarmos Deus, mas não para nos alijarmos dos outros como uma característica especial. 

Durante as perseguições religiosas na Roma antiga, a marca do cristão era uma espécie de divisor de águas: não havia a "mercadoria Deus". Deve ser por Papai Noel mostrar-se tão importante, que se prescindem as ginásticas para não ofendermos ninguém, ao não invocarmos Deus justamente naquela que seria a marca da "maior festa da Cristandade"? 

A pensar, certamente.

Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

Postado no blog Carta Maior em  9/12/2011