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Por que peço tanto a Deus e Ele nada muda em minha vida?









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Sempre é tempo de elevar nosso pensamento a Ele ...



















A erosão do sentido da vida e as manifestações de rua



Leonardo Boff


Está lentamente ficando claro que as massivas manifestações de rua ocorridas nos últimos tempos no Brasil, e também pelo mundo afora, expressam mais que reivindicações pontuais, como uma melhor qualidade do transporte urbano, melhor saúde, educação, saneamento, trabalho, segurança e uma repulsa à corrupção e à democracia das alianças sustentada por negociatas. 

Fermenta algo mais profundo, diria quase inconsciente, mas não menos real: o sentimento de uma ruptura generalizada, de frustração, de decepção, de erosão do sentido da vida, de angústia e medo face a uma tragédia ecológico-social que se anuncia por toda a parte e que pode pôr em risco o futuro comum da humanidade. Podemos ser uma das últimas gerações a habitar este planeta.

Primeiro, é um mal-estar face ao mundo globalizado. O que vemos nos envergonha, porque significa a racionalização do irracional: o império norte-americano, decadente, para se manter precisa vigiar grande parte da humanidade, usar da violência direta contra quem se opõe, mentir descaradamente como na motivação da guerra contra o Iraque, desrespeitar acintosamente qualquer direito e norma internacional como o sequestro do presidente Evo Morales, da Bolívia, feita pelos europeus mas forçados pelos corpos de segurança norte-americanos.

Negam os valores humanitários e democráticos de sua história e que inspiravam outros países.

Segundo, a situação de nosso Brasil. Não obstante as políticas sociais do governo do PT que aliviaram a vida de milhões de pobres, há um oceano de sofrimento, produzido pela favelização das cidades, pelos baixos salários e pela ganância da máquina produtivista de cariz capitalista que, devido à crise sistêmica e à concorrência cada vez mais feroz, superexplora a força de trabalho.

Só para dar um exemplo: pesquisa feita na Universidade de Brasília apurou que entre 1996 e 2005 a cada 20 dias um bancário se suicidava, por causa das pressões por metas, ex-cesso de tarefas e pavor do desemprego.

Nem falemos da farsa que representa nossa democracia. Valho-me das palavras do cientista social Pedro Demo, professor da UNB, em sua ‘Introdução à sociologia’ (2002): ”Nossa democracia é encenação nacional de hipocrisia refinada, repleta de leis bonitas mas feitas sempre, em última instância, pela elite dominante para que sirva a ela do começo até o fim. Político é gente que se caracteriza por ganhar bem, trabalhar pouco, fazer negociatas, empregar parentes e apaniguados, enriquecer-se às custas dos cofres públicos e entrar no mercado por cima… Se ligássemos democracia com justiça social, nossa democracia seria sua própria negação” (págs. 330-333).

Agora, entendemos por que a rua pede uma reforma política profunda e outro tipo de democracia em que o povo quer codecidir os caminhos do país.

Terceiro, a degradação das instâncias do sagrado. A Igreja Católica ofereceu-nos os principais escândalos que desafiaram a fé dos cristãos: pedofilia de padres, de bispos e até de cardeais. Escândalos sexuais dentro da própria Cúria romana, o órgão de confiança do papa.

Manipulação de milhões de euros dentro do Banco do Vaticano (IOR), onde altos eclesiásticos se aliaram a mafiosos e a corruptos milionários italianos para lavar dinheiro. Igrejas neopentecostais atraem em seus pro-gramas televisivos milhares de fiéis, usando a lógica do mercado e transformando a religiosidade popular num negócio infame. Deus e a Bíblia são colocados a serviço da disputa mercadológica para ver quem atrai mais telespectadores. Setores da Igreja Católica não escapam desta lógica com a espetacularização de showmissas e dos padres-cantores com sua autoajuda fácil e canções melífluas.

Por fim, não escapa ao mal-estar generalizado a situação dramática do planeta Terra.

Todos estão se dando conta de que o projeto de crescimento material está destruindo as bases que sustentam a vida, devastando as florestas, dizimando a biodiversidade e provocando eventos cada vez mais extremos.

A reação da Mãe Terra se dá pelo aquecimento global, que não para de subir; se chegar nos próximos decênios a 46 graus Celsius pelo aquecimento abrupto, este pode dizimar a vida que conhecemos e impossibilitar a sobrevivência de nossa espécie, com o desaparecimento de nossa civilização.

Não dá mais para nos iludirmos, cobrindo a feridas da Terra com esparadrapo. Ou mudamos de curso, preservando as condições de vitalidade da Terra, ou o abismo já nos espera.

Como insiste a Carta da Terra: ”Nossos desafios ambientais, econômicos, políticos, sociais e espirituais estão interligados”; é esta interligação real mas, em parte inconsciente, que leva milhares às ruas querendo outro mundo possível e agora necessário.

Ou aproveitamos a chance para as mudanças ou não haverá futuro para ninguém. O inconsciente coletivo pressente este drama e daí o clamor das ruas por mudanças. 

Sem atender às demandas, poderemos protelar a tragédia mas não a evitaremos. Agora é ouvir e agir.


Postado no site Carta Maior em 08/07/2013




“Caro Deus, você é realmente invisível ou é um truque?”




Washington Araújo

Hoje estava refletindo sobre como deixamos passar despercebidas as lições que nossos filhos nos ensinam. 

Lembrei de um texto que tenho no meu computador com algumas das cartas que as crianças de uma escola pública, estimuladas pela professora, escreveram para Deus. 

Uma delas perguntava assim:

“Caro Deus,
Na escola ensinam o que você faz. Mas quem é que faz quando você está de férias?”

Uma outra, era estilo São Tomé, aquele santo católico que só acreditava vendo. Ela dizia

"Caro Deus, você é realmente invisível ou é um truque?”

Já uma outra, perguntava por algo que intriga muitos adultos também. A pequena carta da Norminha tinha apenas uma pergunta:

“Querido Deus,
Você fez a girafa assim porque você quis ou foi um acidente?”

Mas, tinha uma que puxava a orelha do pai. A carta da Anita ia direto ao ponto:

“É verdade que meu pai não irá pro céu se ele falar em casa o que ele fala no estádio?”

Deixemos as crianças falarem e… anotemos suas falas.




Postado no blog Cidadão do Mundo


O sonho de uma civilização realmente planetária

                                       


Leonardo Boff

Em parte, o desamparo atual que toma conta de grande parte da humanidade, se deriva de nossa incapacidade de sonhar e de projetar utopias. Não qualquer utopia. Mas aquelas necessárias que podem se transformar em topias, quer dizer, em algo que se realiza, mesmo imperfeitamente, nas condições de nossa história. Caso contrário, nosso futuro comum, da vida e da civilização correm graves riscos.

Temos, portanto, que tentar tudo, para não chegarmos tarde demais ao verdadeiro caminho, que nos poderá salvar. Esse caminho passa pelo cuidado, pela sustentabilidade, pela responsabilidade coletiva e por um sentido espiritual da vida.

Valho-me das palavras inspiradoras de Oscar Wilde, o conhecido escritor irlandês que disse acerca da utopia: “Uma mapa do mundo que não inclua a utopia não é digno sequer de ser espiado, pois ignora o único território em que a humanidade sempre atraca, partindo, em seguida, para uma terra ainda melhor...O progresso é a realização de utopias.”

Pertence ao campo da utopia projetar cenários esperançadores. Vamos apresentar um, de Robert Müller, que por 40 anos foi um alto funcionário da ONU, chamado também de “cidadão do mundo” e “pai da educação global”. Era um homem de sonhos, um deles realizado ao criar e ser o primeiro reitor da Universidade da Paz, criada em 1980 pela ONU em Costa Rica, único pais do mundo a não ter exército.

Ele se imaginou um novo relato do Gênesis bíblico: o surgimento de uma civilização realmente planetária na qual a espécie humana se assume como espécie junto com outras com a missão de garantir a sustentabilidade da Terra e cuidar dela bem como de todos os seres que nela existem. Eis o que ele chamou de “Novo Gênesis”:

“E Deus viu que todas as nações da Terra, negras e brancas, pobres e ricas, do Norte e do Sul, do Oriente e do Ocidente, de todos os credos, enviavam seus emissários a um grande edifício de cristal às margens do rio do Sol Nascente, na ilha de Manhattan, para juntos estudarem, juntos pensarem e juntos cuidarem do mundo e de todos os seus povos.

E Deus disse:" Isso é bom". E esse foi o primeiro dia da Nova Era da Terra.

E Deus viu que os soldados da paz separavam os combatentes de nações em guerra, que as diferenças eram resolvidas pela negociação e pela razão e não pelas armas, e que os líderes das nações encontravam-se, trocavam idéias e uniam seus corações, suas mentes, suas almas e suas forças para o benefício de toda a humanidade.

E Deus disse:" Isso é bom."E esse foi o segundo dia do Planeta da Paz.

E Deus viu que os seres humanos amavam a totalidade da Criação, as estrelas e o Sol, o dia e a noite, o ar e os oceanos, a terra e as águas, os peixes e as aves, as flores e as plantas e todos os seus irmãos e irmãs humanos.

E Deus disse:"Isso é bom." E esse foi o terceiro dia do Planeta da Felicidade.

E Deus viu que os seres humanos eliminavam a fome, a doença, a ignorância e o sofrimento em todo o globo, proporcionando a cada pessoa humana uma vida decente, consciente e feliz, reduzindo a avidez, a força e a riqueza de unspoucos.

E Deus disse:"Isto é bom." E esse foi o quarto dia do Planeta da Justiça.

E Deus viu que os seres humanos viviam em harmonia com seu planeta e em paz com osoutros, gerenciando seus recursos com sabedoria, evitando o desperdício, refreando os excessos, substituindo o ódio pelo amor, a avidez pela satisfação, a arrogância pela humildade, a divisão pela cooperação e a suspeita pela compreensão.

E Deus disse:" Isso é bom." E esse foi o quinto dia do Planeta de Ouro.

E Deus viu que as nações destruíam suas armas, suas bombas, seus mísseis, seus navios e aviões de guerra, desativando suas bases e desmobilizando seus exércitos, mantendo apenas policiais da paz para proteger os bons dos violentos e os sensatos dos insanos. 

E Deus disse:" Isso é bom". E esse foi o sexto dia do Planeta da Razão.

E Deus viu que os seres humanos instauravam Deus e a pessoa humana como o Alfa e o Omega de todas as coisas, reduzindo instituições, crenças, políticas, governos e todas as entidades humanas a simples servidores de Deus e dos povos. E Deus os viu adotar como lei suprema: "Amarás ao Deus do Universo com todo o teu coração, com toda tua alma, com toda atua mente e com todas as tuas forças; amarás teu belo e esplendoroso planeta e o tratarás com infinito cuidado; amarás teus irmãos e irmãs humanos como amas a ti mesmo. Não há mandamentos maiores que estes”.

E Deus disse:"Isso é bom." E esse foi o sétimo dia do Planeta de Deus".

Se na porta do inferno de Dante Alighieri estava escrito: “Abandonai toda a esperança, vós que entrais” na porta da nova civilização na era da Terra e do mundo planetizado estará escrito em todas as línguas que existem na face da Terra: “Não abandoneis jamais a esperança, vós que entrais” 

O futuro passa por esta utopia. Seus albores já se anunciam.

Leonardo Boff é teólogo e escritor.


Postado no site Carta Maior em 26|04|2013



Pálido de espanto




José Inácio Werneck

Há algum tempo conversei com um amigo, que me disse ser ateu. Não acredita em Deus e ponto final.

- E você? Você acredita em Deus? - perguntou-me, com um ar de quem suspeitava que eu fosse um papa-missas.

Quisera eu que minha resposta pudesse ser simples. Não creio no Deus que conhecemos apenas de ler a Bíblia, no Deus que disse “faça-se a luz”, que criou Adão e de sua costela tirou Eva.

Surpreendo-me mesmo que, nos dias atuais, possa haver fundamentalistas, de qualquer religião, que confiam cegamente no que foi escrito ou transmitido por tradição oral, por homens que um dia supuseram que ouviram ou viram um Deus que lhes falava de dentro de uma moita em chamas ou lhes entregava mandamentos no topo de uma montanha.

Tais convicções infelizmente tem trazido imensa miséria à humanidade, dividida por ódios inconciliáveis em nome de um Deus que supostamente seria a fonte de toda a bondade e sabedoria.

Mas acho simples demais acreditar que existe apenas o mundo natural, aquele que vemos diante de nossos olhos. Pois afinal - e aqui parafraseio uma passagem do apóstolo Paulo na Epístola aos Coríntios - vemos indistintamente, diante de uma vasteza que nossa visão não alcança.

O que vemos do Universo é apenas uma ínfima parcela. Mas dia a dia aprendemos mais coisas, descortinamos mais coisas. Um dia talvez cheguemos à compreensão total.

O homem percebe o Universo através de quatro dimensões - a altura, a largura, a profundidade e o tempo - mas as teorias científicas nos falam de outras dimensões que não distinguimos, embora existam.

Sabemos que o Universo surgiu há 13,75 bilhões de anos, a partir de um ponto inacreditavelmente pequeno que os astrônomos chamam uma “singularidade”, mas não sabemos o que havia no momento do Big Bang, nem o que havia antes do Big Bang.

A imensidão que nos rodeia está repleta de fascinantes fenômenos, de buracos negros, pontos dos quais nem a luz pode escapar, que conteriam “buracos de traça”, passagens que nos transportariam a pontos diferentes dentro de nosso Universo ou de um universo a outro. Um universo ou universos que poderiam existir paralelamente ao nosso, embora não os vejamos.

Os “buracos de traça” ligam dois pontos no “tempo-espaço”, o que significa que em princípio podem permitir tanto a viagem através do espaço quanto através do tempo.

Uma das teses mais exóticas, deduzível da Teoria da Relatividade, de Einstein, é que nosso Universo seria o interior de um buraco negro existente dentro de um outro Universo.

Além do que vemos e percebemos, há um amplo terreno para a imaginação.

Talvez ninguém tenha dito melhor do que Shakespeare, no século XVII: “Há mais coisas no Céu e na Terra, Horácio, do que sonha a vossa filosofia”.

Só em nosso galáxia, a Via Láctea, haveria pelo menos 17 bilhões de planetas parecidos com a Terra. Estamos falando em uma Galáxia dentro das infindáveis galáxias que existem, dentro de um Universo cujos limites não conhecemos e que pode estar no meio de muitos outros.

É candura extrema acreditar nos textos religiosos ao pé da letra, mas é muita falta de curiosidade afirmar que existe apenas a matéria que vemos e sentimos diante de nós.

Não sou papa-missas, mas, como o poeta que ouvia estrelas, sou pálido de espanto.



Sobre o autor deste artigoJosé Inácio Werneck - BristolÉ jornalista e escritor com passagem em órgãos de comunicação no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Publicou "Com Esperança no Coração: Os imigrantes brasileiros nos Estados Unidos", estudo sociológico, e "Sabor de Mar", novela. É intérprete judicial do Estado de Connecticut. Trabalha na ESPN e na Gazeta Esportiva.





Postado no blog Direto da Redação em 10/01/2013


"A morte de Deus" e o Natal sem religião



Torna-se cada vez mais difícil associar a Natal ao nascimento de Cristo. Existe muito pouco hoje, na "maior festa da Cristandade" que conduza à conclusão de o Natal ser realmente uma festa cristã. É complicado, realmente, vender geladeiras e máquinas de lavar roupa, com as menções a Deus.

O poema de Machado de Assis em que ele pergunta se somos nós que mudamos ou se o Natal, parece anteceder a uma questão hoje corrente: a irreligiosidade da sociedade contemporânea. Émile Zola - que foi um dos primeiros críticos a elogiar os pintores impressionistas - achou de chamá-los de "realistas": eles, de fato, romperam uma tradição do cristianismo, de pintarem o ideal, como seriam as cenas religiosas. Mesmo quando retratavam alguém, não raro, um Rubens, um Delacroix ou mesmo um Ingres, trataram de fazê-lo, tendo como pano de fundo, digamos, uma cena idealizada, ou antes, um fundo nenhum. Foi o que fez Charles Dickens. Em seu famoso conto de Natal ("Christmas Carol"), tratou de pôr fantasmas na mente culpada do empresário que maltrata seu empregado, a partir da descrição de um literal pesadelo. O espectro, que arrasta correntes pela casa, e que o persegue no meio da noite, é claramente o demônio de sua consciência. Em seu poema, Machado de Assis não fala da questão do consumo que, em seu tempo, era muito precário em comparação com o que se vê hoje em dia. Mas ao detectar uma transformação ("Mudaria o Natal ou mudei eu"?), o escritor projeta a resposta que o mundo deu no futuro: o Natal, em si, já não é uma festa religiosa. Tudo indica que o que mudou foi o Natal.

Talvez a questão resida, de novo, no Papai Noel, um ícone de mentira, que sabemos ser de mentira, e que, por isso mesmo, não passa de um ícore. Na verdade, o personagem não tem nada de religioso: ele atravessa os ares com seu trenó, deixa presentes às crianças, mas não reivindica qualquer ligação com o além. Não é o Cristo da Manjedoura que o envia. Quando muito, talvez, sugira, pelas cores, a Coca-Cola: foi com o refrigerante que o Papai Noel apareceu na forma que tem hoje. O mais é a mistura: os sinos tocam em Belém "para o nosso bem", etc e tal -mas os personagens da Manjedoura parecem resolutamente secundários, coadjuvantes quase. E para os chamados "crentes" - que na atualidade constituem mais de um terço dos religiosos do país- o Presépio sequer existe. Assim também nas representações públicas. No máximo, temos a parafernália das luzes que se enrolam nas árvores, ou que despencam dos edifícios como um espetáculo feérico - mas que parece ter mais a ver com o neon da publicidade do que com as cenas consagradas pela tradição - aquela que se estreita numa gruta, com o Menino, a Virgem, os pastores vindos ao longe - anjos luminosos, uma estrela guia, e as músicas ressoando desde a estratosfera.

Quando Nietszche disse que Deus estava morto, a reação alcançou todos os setores das religiões; a grita geral atingiu vários níveis e o próprio Nietszche foi anatemizado. Sua constatação, de que as religiões perdiam seus elos com a totalidade dos homens, a começar pela sua posição no Estado, nunca foi contestada pelos fatos. E o alarido que se seguiu a sua conclusão, fez muita gente contabilizar, não só os milagre - como os de Fátima, de Lourdes e outros -, mas todo um elenco de fatos extraordinários, os quais, entretanto, nem de longe parece terem tido o condão de ressuscitar Deus. 

Evidentemente, existem os religiosos: o Papa ainda reza a Missa do Galo, os crentes em suas denominação cada vez mais numerosas (a contar pelo número de pastores "empreendedoristas"), continuam a erguer seus braços na saudação a Cristo Jesus e em seus "aleluias". Algumas igrejas católicas esplendem em cores e luzes. Além do mais, há o islamismo. Dizer que Maomé já não tem Deus para ser seu último profeta, parece desconsiderar uma religião que cresceu desmesuradamente nos últimos anos, a ponto de os islâmicos serem, no mundo atual, em números, uma comunidade muito maior que a cristã. De fato, há aspectos de guerra religiosa na resposta que muitos muçulmanos dão às bombas dos EUA e da Otan, que negam, em princípio, a morte de Deus. No entanto, pode-se objetar que, ainda assim, soa inclusive para muitos seguidores do Profeta, quase uma regressão conceber a organização das sociedades em Estados Religiosos. No próprio Irã, aliás, há quem dê como como em dias contados, a manutenção da predominância dos clérigos na condução do Estado. Lá, também Alá estaria morto. 

A questão, contudo, não parece simples; e não é. Há anos, um religioso escreveu um livro sobre a arte sacra do nosso tempo. Defendia que ela existiria, a despeito da irreligiosidade desenfreada que paradoxalmente se seguiu à Segunda Guerra. Referia-se ao catolicismo e nomeava alguns artistas contemporâneos. Olivier Messiaen que morreu não faz muito, foi, realmente, um compositor que sempre se postou como católico. Escreveu obras textualmente, "para Jesus" e guardou-se de que sua fé era inquebrantável, o que não deixou de ser reafirmado até sua morte. Georges Rouault, pintor, um pouco mais velho que Messiaen, francês como ele, fez uma obra quase que inteiramente religiosa. Françoise Gilot, ex-mulher de Picasso, autora de um livro sobre o pintor, refere-se a Rouault como um artista, eminentemente, religioso. O próprio escritor inglês Graham Greene, morto há uns vintes anos, expôs o problema religioso no âmbito das questões existenciais prioritárias do nosso tempo. Mas, pelo fato de ter colocado a questão, justamente como "um problema", não parece ter esmorecido a questão concreta de que, com ou sem "o problema", Deus estaria, de fato, morto.

Pode-se, certamente, ler de muitas maneiras a afirmação ("aforismo") de Nietzsche. A um homem convicto de sua fé - e há um sem número deles, inclusive entre grandes intelectuais e cientistas - a consideração seria ociosa, até contraditória. Teria de se a avaliar a questão com as devidas reservas: José Saramago, um decidido agnóstico, não imputou a Deus o "grande mal do mundo"? Como considerá-lo morto, se a cada homem-bomba no Iraque ou no Afeganistão, reacende-se a questão do martírio, que só se concebe na crença de uma fé inquebrantável? Realmente, é assim. Mas se torna cada vez mais difícil associar a Natal ao nascimento de Cristo. Ou melhor: existe muito pouco, na "maior festa da Cristandade" que conduza à conclusão de o Natal ser realmente uma festa cristã. 
Claro, alguém dirá que é próprio do capitalismo não estreitar comemorações na religião. Complicado, realmente, vender certos produtos com as menções a Deus. Geladeiras e máquinas de lavar roupa, com as bênçãos do Manjedoura, são difíceis de engolir. Os religiosos que o digam. 

Há as medalhinhas católicas e os dízimos protestantes, sem dúvida: todos são produtos vendidos ou comprados "em nome de Deus". Os pagadores de promessa, que se reúnem em Aparecida, aumentam sempre, talvez não na mesma proporção de tempos atrás, mas são numeroso; só que, em todas as manifestações, o que nos identifica já não é a totalidade do ser religioso socialmente, senão a especifidade de o sermos, no âmbito de nossas respectivas igrejas e templos. 

Parece ser, enfim, inelutável entre os homens, a existência de um sentimento religioso difuso. Mas já Deus é um traço subjetivo, que não se expõe na última análise das músicas, cantadas nos templos, que só têm de verdadeiramente religioso a invocação direta a Deus. Canta-se Deus em forma de rock, de música de alto consumo, mas justamente por ser também Deus um objeto de consumo. Ou seja, parece que Deus prescinde de uma música especial, de comportamentos que distingam os religiosos dos consumidores. Somos crentes para invocarmos Deus, mas não para nos alijarmos dos outros como uma característica especial. 

Durante as perseguições religiosas na Roma antiga, a marca do cristão era uma espécie de divisor de águas: não havia a "mercadoria Deus". Deve ser por Papai Noel mostrar-se tão importante, que se prescindem as ginásticas para não ofendermos ninguém, ao não invocarmos Deus justamente naquela que seria a marca da "maior festa da Cristandade"? 

A pensar, certamente.

Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

Postado no blog Carta Maior em  9/12/2011