Dentro de um abraço



Martha Medeiros


E então? Somando os prós e os contras, as boas e más opções, onde, afinal, é o melhor lugar do mundo? Dentro de um abraço.

Que lugar melhor para uma criança, para um idoso, para uma mulher apaixonada, para um adolescente com medo, para um doente, para alguém solitário? 


Dentro de um abraço é sempre quente, é sempre seguro. Dentro de um abraço não se ouve o tic-tac dos relógios. Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve.

Que lugar melhor para um recém-nascido, para um recém-chegado, para um recém-demitido, para um recém-contratado? 

Dentro de um abraço nenhuma situação é incerta, o futuro não amedronta, estacionamos confortavelmente em meio ao paraíso.


O rosto contra o peito de quem te abraça, as batidas do coração dele e as suas, o silêncio que sempre se faz durante esse envolvimento físico: nada há para se reivindicar ou agradecer, dentro de um abraço voz nenhuma se faz necessária, está tudo dito.

Que lugar no mundo é melhor para se estar? Na frente de uma lareira com um livro estupendo, em meio a um estádio lotado vendo seu time golear, num almoço em família onde todos estão se divertindo, num final de tarde de frente para o mar, deitado num parque olhando para o céu, na cama com a pessoa que você mais ama?




Difícil bater essa última alternativa, mas aonde começa o amor, senão dentro do primeiro abraço?


A força da blogosfera no Brasil








Você está à beira do quê ?



Martha Medeiros

Se você responder à pergunta acima dizendo que está à beira de um ataque de nervos, não será uma resposta original, mas pode muito bem ser verdade, já que poucos conseguem ficar tranquilos diante desta rotina surreal em que nos meteram.Trancar portas, gradear janelas, acionar alarmes, desconfiar de todos — que vida excitante. 

Eu, ao contrário de me enervar, estou à beira de ficar zen. Basta apenas parar de ler os jornais, de ver TV, desconectar o computador, vender meu carro, doar meus bens e me mudar para o Tibete.

Você também não sente vontade, às vezes? Eu de segunda a domingo. À beira de algo. 

A maioria das pessoas — as desassossegadas por natureza — está a ponto de dar uma guinada, está prestes a tomar uma atitude, está ali ali para enfrentar uma ruptura. 

Poucos estão 100% conformados. Os que têm o costume de se questionar ao menos meia-hora por dia já podem se considerar no limiar de fazer uma manobra radical: são habitantes do planeta 'Quase'. 

Alguns, por exemplo, estão quase desistindo de manter sua empresa funcionando. Estão cansados de pagar tantos impostos, de sofrer ações trabalhistas injustas, enfraquecidos pela concorrência que só cresce. Estão quase falindo, mas lutando. Quase desistindo, mas ainda sem coragem de abrir mão de tudo. Outros estão quase saltando fora de um casamento, quase convencidos de que é melhor sofrer fora do que dentro dele, por pouco não trocando de lado, apenas aguardando o tal “momento certo”, que é a coisa mais difícil de identificar.

Em contrapartida, tem gente assinando a papelada para abrir um negócio próprio e outros tantos com a data de casamento marcada. Não importa a ruptura que se dará (mudar de condição de vida é sempre uma ruptura): tudo o que nos aguarda ali adiante é um enorme e imponente ponto de interrogação. 

É como se o mundo fosse dividido em duas partes, com um rio passando no meio. Estamos sempre de olho na outra margem deste rio, no que existe do lado de lá. 

E é desta sensação de incompletude — não podemos estar nos dois lados ao mesmo tempo — que surge tudo o que existe.

Estamos sempre na iminência de. Tentados a. Seduzidos por. Você está à beira de quê? Sabe, sim. Só não quer contar.



Os jalecos engomados e seus uivos de desespero



Marco Antonio Araujo

Criminoso. Não há outra palavra para definir o comportamento do presidente do Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais, João Batista Gomes Soares. O fanfarrão declarou, com todas as letras, que vai orientar os médicos a não socorrerem eventuais erros dos cubanos que foram contratados pelo governo para trabalhar em áreas carentes. O cidadão está incitando profissionais da saúde a omitir socorro a quem eventualmente precisar.

O cara não teve nem a decência de manter a palavra. Quando viu o tamanho da barbaridade que falou, tentou consertar: "Nós não temos que socorrer o médico cubano, nós temos que socorrer o paciente". 

Essa frase capenga não consegue esconder o principal: a fúria que despertou em certa parcela da população, supostamente esclarecida, a vinda dos jalecos cubanos.

A máscara caiu. Entraram em desespero, estão apelando, enlouqueceram. Por puro ódio. Ou vergonha do próprio egoísmo. Não há outra explicação.

Não adianta a enorme lista de argumentos a favor do programa Mais Médicos. 

Nada vai amenizar os instintos primitivos daqueles que simplesmente querem que tudo permaneça exatamente como está. Que continuem morrendo os milhares de brasileiros nos rincões deste País em que não há um único médico num raio de centenas de quilômetros. É pra esses lugares esquecidos que vai essa legião estrangeira.

Mas a turma do jaleco engomado quer mais que o povo, literalmente, morra. Porque nenhum brasileiro, muito menos os formados nas universidades públicas, quer ir para onde essa turma de missionários está indo.

A máscara caiu no momento em que o governo abriu as inscrições para as vagas e nenhum, absolutamente nenhum, médico brasileiro se dispôs a enfrentar a porrada que é atender os mais necessitados — e, sim, em condições precárias, quando não inexistentes.

Agora, da maneira mais hipócrita, daquela forma maléfica que nossas elites têm quando não conseguem mais esconder seu individualismo, sua mesquinhez, sua alma pequeno burguesa, aparecem com o último argumento que lhes restou: os médicos cubanos são escravos. Escravos! Eles serão usurpados pelo governo da Ilha Maldita, separados de suas famílias e, quem sabe, carregarão bolas de ferro amarradas aos pés. Dai-nos paciência.

Sem ficar alimentando esse falso debate, só exponho um argumento contra essa falácia. Os cubanos são voluntários. Vou repetir: voluntários.

E desconheço alguém que voluntariamente aceite ser escravizado. Eles serão remunerados, dentro de um programa que já foi implantado em mais de cem países, com competência e sucesso reconhecidos internacionalmente. Menos aqui no Brasil. Claro.

Um sistema político que consegue criar um excedente de médicos, a ponto de espalhá-los pelo mundo, sempre em regiões de extrema pobreza, merece ser tratado com um mínimo de respeito.

E não sofrer os ataques violentos e irracionais que temos presenciado, principalmente nas páginas dos grandes jornais e revistas e nas telas dos telejornais dos barões da mídia. É a política, estúpido!

Quanto ao cidadão do CRM, só digo uma coisa: o que ele declarou, além de criminoso, é patético: nenhum paciente atendido por um médico cubano (que eventualmente erre) vai ser depois socorrido por médicos brasileiros, por um único motivo: eles não estarão lá.


Postado no blog O Provocador em 23/08/2013

Ditados da vovó... no mundo virtual



- Uma impressora disse para outra: essa folha é sua ou é impressão minha?

- Um é pouco, dois é bom, três é chat ou lista virtual...

- Quando a esmola é demais, o santo desconfia que tem vírus anexado.

- O barato sai caro. E lento.

- Melhor prevenir do que formatar.

- Não adianta chorar sobre arquivo deletado.

- Para bom provedor uma senha basta.

- Antes só, do que em chats aborrecidos.

- A pressa é inimiga da conexão.

- Amigos, amigos, senhas à parte.

- Vão-se os arquivos, ficam os backups.

- A arquivo dado não se olha o formato.

- Mais vale um arquivo no HD do que dois baixando.

- Nada se perde, nada se cria, tudo se copia e depois se cola.


Mundo horrorizado





Leila Cordeiro

Não quero parecer piegas ou óbvia nesse texto. Também não gostaria que o leitor buscasse nele razões políticas ou ideológicas, mas que o encarasse como um desabafo...um desabafo de alguém que, como tantos milhões de seres humanos mundo afora, devem estar preocupados com o destino da humanidade.

Esse ataque com gás mortal na Síria, obrigou-me a parar tudo o que eu estava fazendo para dedicar alguns momentos à reflexão, coisa cada vez mais rara em nossas vidas à medida que a velocidade do tempo e dos acontecimentos é tão assustadora que vivemos voltados para o nosso próprio umbigo.

Confesso que tenho dificuldade em começar meu raciocínio... e aqui, como num reality show escrito, estou me colocando completamente vulnerável às emoções ao ver na internet fotos tão chocantes que me levaram às lágrimas.

Num primeiro momento hesitei em vê-las, mas depois tomei coragem e pensei que precisava ter essa visão da tragédia para poder escrever e, principalmente, refletir sobre ela.

Mas tenho certeza que nem as imagens mais chocantes foram necessárias para eu poder dimensionar em palavras o que deve ter acontecido com aquelas pessoas todas, mortas, inocentes alvos da estupidez humana que parece não ter fim.

Pelas informações da mídia e da oposição síria, foram jogadas bombas letais em regiões onde as famílias estavam dormindo e, assim, foram pegas de surpresa, sem terem para onde ir e muito menos se esconder. Não dá nem para imaginar o momento em que se viram sufocadas. Famílias inteiras com suas crianças que não tiveram chance de viver mais do que os poucos anos reservados para elas.

Nas fotos, mais do que chocantes, vemos as vítimas inocentes com olhos entreabertos, alguns esbugalhados, lábios roxos e rostos deesesperados em busca de ar, já que o gás atirado não as deixava respirar mais. Tudo muito triste e muito, muito preocupante.

Parece inocente e simples falar assim, mas é assim que eu consigo me expressar tentanto gritar meu medo, minha preocupação pelo que pode estar vindo por aí. Não é porque eu ou minha família estejamos, a princípio, em segurança que vou deixar de pensar, sofrer, chorar e lamentar profundamente por essas pessoas que não tiveram escolha na hora de nascer no lugar errado.

Eu, como mãe, e acho até que nem precisa ser mãe para sentir na pele tamanho sofrimento, vi fotos de crianças mortas por nada, pela ânsia violenta de poder e disputa que a cada dia faz mais vítimas em todos os lugares do mundo. Estou sim, revoltada, arrasada com o que vi daqui de longe. Confesso que olhei em volta e pensei... porque uns são tão felizes e outros tão miseráveis.

Quero ir mais além, quero me revoltar e não me acomodar, me conformar e pensar "que as coisas são assim mesmo", quero de alguma maneira pedir ajuda a alguém mesmo sem saber a quem.

Confesso que ao ver as imagens de centenas de corpos de inocentes crianças me passaram tantos medos pela cabeça que nem ouso pensar no que o futuro reserva à humanidade, sobretudo porque não consigo vislumbrar sinais de paz e harmonia entre os homens que se alimentam de guerras insensatas e cruéis.


Leila Cordeiro

Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete, SBT e CBS Telenotícias Brasil como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros de poesias publicados: "Pedaços de mim" e "De mala e vida na mão", ambos pela Editora Record. É repórter free-lancer e sócia de uma produtora de vídeos institucionais, junto com Eliakim Araujo.



Postado no site Direto da Redação em 22/08/2013