Nazijornalismo




Leandro Fortes

A violência do CQC contra o deputado José Genoíno alcançou, essa semana, um grau de bestialidade que não pode ser dimensionado à luz do humorismo, muito menos no campo do jornalismo. Isso porque o programa apresentado por Marcelo Tas, no comando de uma mesa onde se perfilam três patetas da tristeza a estrebuchar moralismos infantis, não é uma coisa nem outra.

Não é um programa de humor, porque as risadas que eventualmente desperta nos telespectadores não vem do conforto e da alegria da alma, mas dos demônios que cada um esconde em si, do esgoto de bílis negra por onde fluem preconceitos, ódios de classe e sentimentos incompatíveis com o conceito de vida social compartilhada.

Não é jornalismo, porque a missão do jornalista é decodificar o drama humano com nobreza e respeito ao próximo. É da nobre missão do jornalismo equilibrar os fatos de tal maneira que o cidadão comum possa interpretá-los por si só, sem a contaminação perversa da demência alheia, no caso do CQC, manipulada a partir dos interesses de quem vê na execração da política uma forma cínica de garantir audiência.

A utilização de uma criança para esse fim, com a aquiescência do próprio pai, revela o grau de insanidade que esse expediente encerra. 

O que se viu ali não foi apenas a atuação de um farsante travestido de jornalista a fazer graça com a desgraça alheia, mas a perpetuação de um crime contra a dignidade humana, um atentado aos direitos humanos que nos coloca, a todos, reféns de um processo de degradação social liderado por idiotas com um microfone na mão.

A inclusão de um “repórter-mirim” é, talvez, o elemento mais emblemático dessa circunstância, revelador do desrespeito ao ofício do jornalismo, embora seja um expediente comum na imprensa brasileira. 

Por razões de nicho e de mercado, diversos veículos de comunicação brasileiros têm lançado, ao longo do tempo, mão dessa baboseira imprestável, como se fosse possível a uma criança ser repórter, ainda que por brincadeira.

Jornalismo é uma profissão de uma vida toda, a começar da formação acadêmica, a ser percorrida com dificuldade e perseverança. Dar um microfone a uma criança, ou usá-la como instrumento pérfido de manipulação, como fez o CQC com José Genoíno, não faz dela um repórter – e, provavelmente, não irá ajudá-la a construir um bom caráter. É um crime e espero, sinceramente, que alguma medida judicial seja tomada a respeito.

Não existem repórteres-mirins, como não existem médicos-mirins, advogados-mirins e engenheiros-mirins.

Existem, sim, cretinos adultos.

E, a estes, dedico o meu desprezo e a minha repulsa, como cidadão e como jornalista.


Postado no blog O Escrevinhador em 28/03/2013
Imagem inserida por mim


Aqui você encontra maiores detalhes, como o vídeo do cqc



CQC submete Genoino a sessão de tortura psicológica




Eduardo Guimarães


O humor deveria servir para elevar o espírito do homem. Não sei se o humorismo é uma criação divina ou se alguém, algum dia, inventou essa verdadeira forma de arte. Seja quem for que o inventou, porém, não foi pensando em humilhar ou torturar ou em oferecer um instrumento de vingança aos pobres de espírito.

Alguns, como os “humoristas” do programa da TV Bandeirantes CQC, confundem ridicularizar pessoas com fazer humor. Ridicularia e humorismo, porém, não são a mesma coisa. Contudo, antes de abordar a tortura psicológica que eles vêm impondo a um ser humano, farei uma digressão inevitável.

Houve época em que os condenados por aquilo que diziam ser “justiça” – mas que, muitas vezes, não passava de instrumento de tortura usado por um grupo político, social, religioso ou étnico contra outro –, além de ir para o cárcere eram exibidos em praça pública em sessões de humilhação.

No momento em que escrevo, tenho na mente uma canção, “Geni e o Zepelim”, composta e cantada por Chico Buarque. Fez parte do musical Ópera do Malandro, do mesmo autor, lançado em 1978, e do álbum, de 1979, bem como do filme, de 1986 – todos com o mesmo nome.

A Ópera do Malandro conta, entre outras, a história de Geni, um travesti hostilizado na cidade.

O comandante de um dirigível (Zepelin) militar investe contra aquela cidade e decide destruí-la. Porém, apaixona-se por Geni. Sabendo disso, a mesma cidade que fustigava o travesti passa a lhe pedir que interceda por ela junto ao agressor.

Geni, então, usa de seu poder recém-adquirido sobre o militar e salva a cidade, que, na volta à rotina, volta a insultar e a humilhar quem a salvou.

A canção de Chico Buarque eclodiu durante a ditadura militar e teve tal relevância que seu refrão “Joga pedra na Geni” passou a ser usado contra pessoas ou ideias que, em determinadas circunstâncias políticas, viram alvo de execração pública.

A civilização, porém, acabou com as torturas (físicas ou morais) contra aqueles que infringem as leis. Em sociedades civilizadas, a pena de restrição de liberdade e de direitos vários se basta.

A tortura psicológica, a execração pública a que está sendo submetido um homem que entregou sua vida à causa da democracia e que por ela foi torturado fisicamente, portanto, não se coaduna com sociedades civilizadas, mas coaduna-se com o juízo farsesco que condenou José Genoino por “corrupção ativa”.

Só em um país em que pessoas são mandadas para a cadeia sem provas uma tortura mental como a do CQC pode ser aceita.

Pobre Genoino. É um homem sem posses. Tudo o que amealhou em termos de bens pessoais em sua vida parlamentar – atividade na qual a quase totalidade de seus pares no Congresso que o detratam, enriqueceram a olhos vistos – foi uma casa modesta num bairro modesto em São Paulo.

Condenado por “corrupção ativa”. Pobre Genoino. É de revirar o estômago.

Mas admiro a coragem dele. Poderia se recolher ao recesso do lar, à espera da execução da pena que poderá ter que cumprir porque, neste país de homens e mulheres avessos a se sacrificarem por uma causa, poucos entre os que enxergam a injustiça que está sendo cometida ao menos dirão publicamente que se recusam a aceita-la.

Sou dos que não aceitam e, mesmo sem ter como fazer alguma coisa, faço questão de dizer, em alto e bom som, que o que está sendo feito contra Genoino é uma ignominia.

E nem me refiro à condenação injusta e revoltante que lhe foi imposta pelo Supremo Tribunal Federal sob provas “tênues”. Refiro-me à tortura característica de regimes ditatoriais e medievais a que vem sendo submetido por seres amorais como os torturadores da Band.

Solidarizo-me com Genoino pelo linchamento moral que sofreu. Antes de tudo, ele é um ser humano que, mesmo condenado pela justiça, a civilização deveria impedir que fosse torturado, sendo a penalização exclusiva na forma da lei a única admissível. Força, portanto, companheiro. Você não está só.

PS: o CQC usou uma criança para humilhar Genoino. Que grande exemplo de cidadania esse menino recebeu. Aprendeu a tripudiar, a humilhar, a mentir e a ignorar os direitos e os sentimentos de um semelhante. Terá uma longa carreira na mídia que gerou a ditadura anterior, a qual não se limitou a torturar Genoino psicologicamente como fez o CQC.

Se tiver estômago, assista, abaixo, a uma legítima sessão de tortura. A uma punição extrajudicial que se choca com o próprio conceito de civilização. Do contrário, pule o vídeo e, logo abaixo, poderá ouvir a obra imorredoura de Chico Buarque: “Geni e o Zepelin”.


A tortura de Genoino pelo CQC 





Geni e o Zepelin


Postado no blog da Cidadania em 27/03/2013

Ouviu falar destas Marias?





Silvana Barbara

Nesta semana da Páscoa é muito comum a atenção maior dada a Jesus Cristo, o protagonista, por assim dizer, da chamada Semana Santa. São nestes dias que os(as) cristãos(ãs) se lembram com mais veemência sobre sua vida e morte. Porém, existiram personagens muito importantes que fizeram parte da vida de Cristo, e que não recebem a devida alusão nesta época. 

Tratam-se das mulheres que participaram da história de Jesus, as quais os Evangelhos Canônicos encobrem o que elas realmente foram e como contribuíram para divulgar a voz feminina, nos tempos em que as mulheres eram ainda mais inferiorizadas. Este post irá tratar das duas mulheres que fizeram parte da vida de Cristo com mais proximidade, as quais são Maria (sua mãe) e Maria Madalena.

Diferente dos Evangelhos Canônicos, que formam a base da Igreja Romana, os Evangelhos Apócrifos ou Gnósticos apresentam conteúdo e ensinamentos mais voltados para a importância do conhecimento e o lado humanizado das pessoas, inclusive de Jesus Cristo, que é apresentado como um homem mais revolucionário. 

São também nesta perspectiva que aparecem as duas mulheres mencionadas. Estas são dotadas de uma importante liderança, o que causava até mesmo uma certa inveja vinda dos apóstolos de Cristo.

Os Evangelhos Apócrifos são livros que não fazem parte do Cânon da Bíblia, mas que apareceram em paralelo com estas Escrituras.

Foram ocultados pela Igreja Romana por apresentarem ideais gnósticos, considerados como hereges. As Escrituras Apócrifas foram encontradas no ano de 1945, em Nag Hamadi, contando mais de 1950 anos.

Serão aqui destacadas algumas características de Maria, a mãe de Jesus, e Maria Madalena, baseadas na leitura do conteúdo dos Apócrifos que relatam sobre a vida destas mulheres.

Keisha Castle-Hughes no filme “The Nativity History” (2006).

Maria (a mãe de Jesus)

Deixando de lado o fato de Maria, a mãe de Jesus Cristo, ser uma mulher lutadora, os Evangelhos Canônicos a apresentam como uma passiva mãe, que ficava observando as ações de seu filho apenas como auxiliadora. Mas, pelos Apócrifos, Maria teve uma presença muito mais importante na vida de Cristo.

Maria exercia liderança na época, até mesmo sobre os apóstolos de Cristo. Era muito admirada e respeitada no templo pelos sacerdotes, algo que pode ser considerado bastante evoluído para aqueles tempos.

Desde muito jovem, Maria foi uma mulher à frente de seu tempo. Rejeitava casamentos, estudava (inclusive a Torá, livro sobre leis e conduta). Ela se opunha aos padrões e modo de vida imposto às mulheres pela sociedade. Além de estudar muito, era questionadora e não aceitava tudo que lhe diziam sem fazer alguma crítica. 

Vale lembrar que, se ainda hoje o sistema não aceita uma mulher à frente das decisões, na época de Maria era quase impossível, diante da soberania existente dos homens cristãos. Pelos Evangelhos Apócrifos, só poderia ser esta mulher determinada, que enfrentou muitos preconceitos, a mãe do homem que iria revolucionar o mundo.

Maria competia a liderança com homens, mas a subestimação a ela infiltrada pelos Evangelhos Canônicos, a coloca em um papel de apenas intercessora.

A relação de Maria com Jesus também é pouca explorada na Bíblia de Cânon. Neste livro, esta mulher é exaltada como a mãe de todos os cristãos, mas mostra poucas conversas entre mãe e filho. Alguns filmes sobre a vida de Cristo apresentam Maria como uma mulher que sentia a falta de seu filho ao seu lado, pois ele vivia na peregrinação. Por vezes, ela aparece até mesmo temerosa com o que possa acontecer com ele, como é o caso do filme “Maria, Filha de seu Filho”.

Já nos Evangelhos Apócrifos, há mais diálogos entre mãe e filho, dando inclusive a entender que eles se entendiam muito bem. 

Nestes Evangelhos, Jesus escuta mais sua mãe, revelando a importância dela em sua vida. Nos Canônicos, Cristo a trata com inferioridade, pois, na condição de mulher, não entende das ações para propagar as chamadas “Boas Novas”. Também se destaca a imagem de Maria como passiva e submissa, propagada pela Igreja.

Nos livros Apócrifos, a educação de Jesus era de responsabilidade somente de Maria. José, seu marido, não tinha a liderança, e era ela que tomava as rédeas.

A Maria, mulher líder e lutadora, precisa ser mais divulgada nas religiões. Infelizmente, o machismo da Igreja baniu da história esta imagem de uma mulher forte, que se igualava aos homens e se destacava na liderança.

Maria Madalena

Maria Madalena, pelos Apócrifos, foi a mulher que Cristo amou tanto a ponto de a ela informar sobre fatos e conhecimentos não revelados aos apóstolos.

Madalena falava aos apóstolos, com liderança, o que Jesus ocultava a eles. Por inveja, e se sentindo inferiores por Cristo fazer importantes revelações a uma mulher, os apóstolos duvidavam das palavras de Madalena.

Em trechos de seus Evangelhos, André e Pedro demonstram repúdio ao fato de Jesus, segundo eles, confiar mais em uma mulher no que neles.

Monica Bellucci como Maria Madalena no filme “A Paixão de Cristo” (2004).

Além da mulher muito amada por Cristo, pelos Apócrifos, Maria Madalena também foi uma liderança feminina, fato que ameaçava os apóstolos. Isto demonstra que Cristo valorizava a imagem das mulheres como lutadoras e líderes, diferente de como é mostrado na Bíblia.

E mais, os Apócrifos até mesmo questionam o fato de que Madalena foi realmente uma prostituta. Sabe-se que muitas mulheres, por sua independência e a maneira de como não se submetiam aos homens, eram consideradas prostitutas para que fossem esquecidas da história.

Na relação de Madalena com Jesus, nas Escrituras Apócrifas, ele é mostrado como mais humano, mais homem e menos santo, no sentido literal da palavra, o que a Igreja geralmente renega.

Madalena não era somente a companheira que escutava o que Jesus tinha a dizer. Ela acompanhava-o em suas andanças, ajudando a propagar uma nova revolução, as “Boas Novas”.

Segundo consta nos Apócrifos, Pedro era o apóstolo que mais se incomodava com a presença de Maria Madalena entre os homens que seguiam a Cristo. 

Sua intolerância a ela era tanta que chegou a pedir a Cristo para expulsá-la do grupo. Para Pedro, o fato daquela mulher tomar a palavra e não deixar espaço para os apóstolos, era um atrapalho. Madalena tinha muitos conhecimentos, sendo que estes formam a base do Gnosticismo, seita muito combatida pela Igreja.

Outro fato muito importante sobre Maria Madalena, é o de que na história ela não está relacionada com nenhum homem, ou seja, não é esposa, irmã ou filha. Trata-se de uma independência bastante curiosa para uma época em que dominava a supremacia masculina.

Madalena não é citada em livros importantes da Bíblia, como os Atos dos Apóstolos e o Apocalipse. Isto indica que a presença de uma liderança feminina não era aceitável naquela sociedade patriarcal.

Jesus Cristo falava com Madalena sobre assuntos que, segundo ele mesmo diz, os apóstolos não entenderiam. Desta forma, tornou-se mais “viável” para o cristianismo apagar a imagem e existência de Madalena. Afinal, era um absurdo uma mulher ter mais espaço do que os homens. Então ela simplesmente desapareceu.

Ao contrário do que se observa na Bíblia do Cânon, a que a Igreja permitiu divulgar e está nos lares da maioria das famílias brasileiras, os Escritos Apócrifos reservam um espaço feminino em suas histórias. 

Muitas mulheres que se destacaram nos chamados Velho e Novo Testamento, caíram no ostracismo, pois não é interessante para a Igreja mostrar mulheres determinadas, lutadoras, que faziam questão de mostrar que estavam ali em igualdade com os homens. Inclusive muitas foram líderes muito mais eficazes, mas que ficaram no esquecimento.

O fato é que não se evolui. Os Evangelhos Apócrifos deveriam estar nas religiões que pregam o cristianismo, serem comentados, analisados e debatidos nas missas, incorporados em grupos de jovens e de orações, e divulgado amplamente. 

Mas isto não acontece porque as forças adquiridas pelas mulheres incomodam e, em religiões onde elas não ocupam determinadas posições, seria um risco causar uma perigosa revolução feminina e desbancar o patriarcado ainda existente.

* As referências sobre os Evangelhos Apócrifos são dos livros: Evangelhos Apócrifos (2007) e Apócrifos e Pseudo-Epígrafes (2004).

Postado no Blogueiras Feministas em 28/03/2013


Sem tantos `porquês´, sobra espaço para o silêncio que apazigua...




Rosana Braga 

Longe de mim julgar equivocado o instinto questionador da maioria das pessoas, talvez da raça humana. Querer encontrar respostas certamente nos impulsiona a muitos bons lugares. Entretanto, há que se ponderar sobre os excessos.

O problema não está em desejar compreender, mas em acreditar que a compreensão é sempre necessária ou possível, ou ainda que só se pode aquietar a alma depois de obter as tais respostas.

Buda deixou um ensinamento na frase seguinte que a mim parece responder senão quase todas, ao menos muitas das questões mais angustiantes que costumamos criar: "A mente não conhece respostas. O coração não conhece perguntas".

Pois... que só questiona quem não sabe. Quem sabe, apenas abre caminho para que a vida aconteça. Sem se fazer refém de perguntas que nada preenchem. Sem resistir ao que é, ao que está. Sem duvidar da perfeita engrenagem que gira ao perfeito ritmo do Universo.

Quem sabe tem fé e só quem tem fé sabe! Não uma fé mágica, mas uma fé sábia! Porém, infelizmente, a maioria de nós, especialmente nos momentos mais delicados, mais dolorosos e mais intensamente complexos, não confia!

Desavisadamente, insiste em acreditar que o coração é bobo, ingênuo, emotivo demais. Insiste em apostar que as emoções, tão instáveis e dinâmicas, tão humanamente confusas, são ditadas pelo coração. Não são!

Tudo o que é fugaz, vulnerável e volátil tem a ver com o que está voltado para fora, suspenso, solto do que é próprio da pessoa - sempre genuinamente singular, dona da única sabedoria capaz de apaziguar de verdade qualquer tormenta interior.

É fato que, a despeito de resistir a esta ideia, tanto mais você saberá quanto menos perguntar. Tanto mais perceberá o sentido quanto mais relaxar, quanto mais aceitar, quanto mais silenciar.

Não há paz no tumulto de sua mente. Não há compreensão no afã da busca. Não há amor na confusão do desejo. Pensar, buscar e desejar fazem parte do exercício de viver, sim. Fazem parte do aprendizado e do amadurecimento. Mas a evolução está justamente em parar de pensar tanto, de buscar tanto e de desejar tanto.

Quando o seu momento for de tristeza e dor, luto e escuridão, seja em qualquer grau, apenas tente respirar fundo, fechar os olhos e aquietar-se. Tudo o que for realmente necessário... estará aí. E se você ainda não conseguiu se dar conta disso, é porque ainda não está suficientemente em silêncio para ouvir e ver!

Postado no site Somos Todos Um



FHC esquece ! Mas o povo não ...







Presidente FHC, PT não governa para quem o senhor governou

Ilustríssimo senhor doutor Fernando Henrique Cardoso,

Quem lhe escreve é um cidadão comum, sem filiação político-partidária e que ainda guarda na memória o sofrimento pelo qual passou quando o senhor – vá lá – “governou” o Brasil. Aquela foi uma época de muito sofrimento para todos, presidente.

Eis por que leio no jornal O Estado de São Paulo, estupefato, que o senhor declarou, na segunda-feira (25.3), textualmente, que “Essa gente não sabe governar o país”.

Por óbvio, o senhor se referiu ao Partido dos Trabalhadores, ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma Rousseff, quem, desde os primeiros momentos da posse, brindou-o com cortesias que, a meu ver, foram exageradas e que, agora, o senhor retribui dessa forma.

Até entendo que, aos 80 e tantos anos, tendo deixado uma obra administrativa que a maioria absoluta dos brasileiros repudia até hoje – como mostram as sucessivas eleições que o seu partido perdeu –, o senhor esteja amargurado.

Contudo, presidente FHC, peço que entenda que o povo brasileiro – que ontem, quando lhe dava seus votos, o senhor dizia sábio – não o odeia. Apenas rejeita a sua forma de governar.

O senhor diz que o PT não sabe governar. O que as urnas dizem é que o PT realmente não sabe governar, mas não é para os milhões que o elegeram, reelegeram e re-reelegeram. O PT não sabe governar para os que foram priorizados pelo seu governo.

Para o povo brasileiro, presidente FHC, o PT sabe governar porque, em lugar do desemprego de 12,8% que o senhor deixou, implantou pleno emprego, com salários que se valorizam a cada mês.

Para o povo brasileiro, presidente FHC, o PT sabe governar porque, em lugar dos programas sociais de mentirinha que o senhor deixou, pôs o maior programa social do mundo, o qual retirou dezenas de milhões da pobreza e outros tantos milhões da miséria.

Para o povo brasileiro, presidente FHC, o PT sabe governar porque, em lugar da ausência total de divisas que o senhor deixou, construiu reservas cambiais de centenas e centenas de bilhões de dólares que, hoje, garantem imunidade do país a crises internacionais muito mais graves do que aquelas crises localizadas só em países mal governados que ocorreram à sua época.

Para o povo brasileiro, presidente FHC, o PT saber governar porque hoje a maioria afrodescendente que o IBGE diz haver no país está chegando às universidades, que não são mais “coisa de rico” como no seu tempo.

Para o povo brasileiro, presidente FHC, o PT sabe governar porque, ao contrário do que ocorreu no seu governo, hoje o Brasil não é visto como um país-mendigo que vagueia pelo mundo com o pires na mão – hoje, este país empresta dinheiro a países em dificuldades.

Para o povo brasileiro, presidente FHC, o PT sabe governar porque, ao contrário de juros de até 45% ao mês que o senhor chegou a pagar aos agradecidos banqueiros que lhe doaram o prédio do Instituto que leva seu nome, o PT reduziu esses juros a um dígito.

Para o povo brasileiro, presidente FHC, o PT sabe governar porque está, após tanto tempo, acabando com negociatas como as que tornaram a energia elétrica no Brasil a segunda mais cara do mundo.

Poderia ficar escrevendo laudas e mais laudas para explicar as razões pelas quais o povo brasileiro não elege mais presidentes do seu partido após a verdadeira praga de gafanhotos que foi seu governo, mas acho que já me fiz entender.

Este povo lhe nega votos enquanto ignora as mesuras desmesuradas e os elogios sem fundamento que alguns donos de impérios de mídia lhe fazem à toa, presidente. É que o povo brasileiro sabe que o senhor sabia governar, sim, mas apenas para uma minoria abastada.

Assim sendo, presidente, o senhor haverá de concordar que os brasileiros rejeitarem seguidamente o PSDB no comando do país confere a esta missiva uma verossimilhança que não será a sua desfaçatez que irá anular.

Atenciosamente,

Eduardo Guimarães.


O Estado de São Paulo

25 de março de 2013


GUSTAVO PORTO – Agência Estado

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez nesta segunda-feira duras críticas ao governo, ao PT e à base aliada. “Essa gente não sabe governar o País. Olha o que fizeram com o petróleo. É um crime”, exemplificou, numa referência à crise da Petrobras.

Fernando Henrique participa do Congresso do PSDB, em São Paulo.

“Juntaram o governo, com o partido, com o Estado, com o mesmo marqueteiro”, completou, numa referência aos anúncios feitos pela presidente Dilma Rousseff da redução do preço da energia e da desoneração da cesta básica, em cadeia nacional de rádio e televisão.

Ele classificou a alta de 0,9% no Produto Interno Bruto (PIB) como um “pibinho que chega numa época em que outros países crescem”.

FHC alertou ainda para a alta da inflação e rebateu as afirmações de que o PSDB é partido de ricos e banqueiros. “Quem dá dinheiro para banqueiros sem parar são eles. Dão ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que dá aos bancos”, ironizou.

O ex-presidente deixou o evento antes do pronunciamento do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do senador Aécio Neves (PSDB-MG).


Postado no Blog da Cidadania de Eduardo Guimarães em 26/03/2013


Nota

Sempre é bom lembrar que quem quase destruiu a Petrobras e tentou mudar seu nome com X para poder vendê-la foi FHC.

Afundamento da P36 em 2001: Morreram 11 trabalhadores.






Aluno com deficiência física defende mestrado em Educação





O estudante da UFRGS Cláudio Luciano Dusik defendeu na manhã de hoje, 26, a dissertação “Tecnologia Virtual silábico-alfabético: tecnologia assistiva para pessoas com deficiência”, no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRGS. Ele é o primeiro aluno com deficiência física a concluir mestrado no programa.

No mestrado, Cláudio, que é formado em Psicologia e possui conhecimentos em Informática, foi instigado a lapidar um teclado virtual que utilizava.

O software foi então aperfeiçoado e permite agora que pessoas com diferentes limitações possam utilizá-lo, a partir de uma característica de adaptação.

Sob a orientação da professora Lucila Maria Costi Santarosa, a dissertação detalha a nova tecnologia assistida – o aplicativo de um teclado virtual - e relata cases de cinco usuários. O estudante pretende agora colocar sua criação livremente à disposição de pessoas que, a exemplo dele, necessitem do recurso para poder escrever com apoio do computador e interagir virtualmente.

Cláudio tem atrofia muscular espinhal (AME), doença genética que causa degeneração dos neurônios motores. Apesar disso, e com apenas o movimento de um dedo, ele utiliza o mouse para digitar e acessar a internet, com autonomia. Atualmente, atua como tutor em cursos da Universidade Aberta do Brasil.

O uso da cadeira de rodas não impediu o estudante de levar adiante sua pesquisa. Cursou todas as disciplinas de forma presencial e semipresencial. Nos deslocamentos de Esteio, onde mora, até Porto Alegre, o estudante contou com a companhia da mãe no transporte especial. Muitas orientações da professora Lucila foram realizadas pelo Skype para que ele não precisasse vir à Faculdade de Educação.

A mãe de Cláudio, Elza Arnoldo, que acompanha os esforços e conquistas do filho, estava muito contente com seu pioneirismo. Para ela, ele é um exemplo de que é possível às pessoas com deficiência vencer o medo, a vergonha e o receio e enfrentar as batalhas do mundo.

“Quando criança, os médicos diziam que o Cláudio teria de sete a quatorze anos de vida. Vivíamos em luto. Ele foi para a escola só para brincar e ter amigos. Hoje está defendendo seu mestrado. É um exemplo para todas as pessoas com deficiência”, comentou Elza.

Ela também lembrou que ao enfrentar as barreiras, Cláudio provocou alterações nas vias públicas, na disponibilização de transportes e na acessibilidade aos locais de estudos.






Postado no Portal UFRGS em 26/03/2013






Ciclista que perdeu o braço na Paulista diz que sente "pena" do motorista que o atropelou


David abraça Thiago , que o socorreu no dia do acidente


Ana Ignacio, do R7

Jovem repetiu que perdoa o condutor e falou que pretende voltar a andar de bicicleta

David Santos Souza, 21 anos, reencontrou pela primeira vez, desde o acidente no dia 10 de março, Thiago dos Santos e Agenor Jr., os dois rapazes que o socorreram na rua após ser atropelado na avenida Paulista. Segundo David, ele morreu naquela noite.

— Eu estava morto no chão. O Thiago que me trouxe de volta à vida.

David participou de uma entrevista coletiva nesta terça-feira (26) realizada no escritório de seu advogado, Ademar Gomes. O jovem repetiu que perdoa Alex Siwek, o motorista que o atropelou, mas disse que sente pena dele.

— Tenho muita pena dele porque minha criação me ensinou a respeitar todos os seres e ele não teve essa criação da família. Minha cabeça foi a única coisa que ele não tirou do lugar. Está mais direcionada do que nunca.

Otimista e vestindo uma camiseta com estampa de bicicletas, David não tem dúvida do que voltará a fazer em breve.

— Vou voltar a andar de bicicleta, sim. É meu maior orgulho andar de bicicleta e vou adaptar uma para mim.

David contou que pretende criar uma associação de proteção ao ciclista.

— Já está na internet e queremos aprimorar.

O jovem declarou também, que se Siwek estivesse preso, ele iria até lá para falar com ele. No entanto, com sua saída da cadeia, David não sabe se ira procurá-lo.

— Gostaria [de vê-lo] pelo menos uma vez.

Questionado sobre a possibilidade de Siewk arcar com os custos de seu tratamento, David apenas respondeu que gostaria que o jovem tivesse uma postura diferente desta vez.

— Espero que agora ele faça a parte dele, já que não fez quando jogou meu braço [fora].

Atendimento

Thiago e Agenor estavam passando a pé na avenida Paulista quando ouviram o barulho do acidente e foram socorrer David. Thiago, que é técnico em enfermagem, ficou preocupado com a quantidade de sangue.

— Pensei que ele tivesse morrido. Fiz o procedimento para reanimar, respiração boca a boca, massagem cardíaca e apertei o braço.

Agenor contou que quando viu que Thiago havia conseguido reanimar David resolveu procurar pelo braço do ciclista. 

— Saí pela Paulista tentando procurar o braço. 

Sem encontrar, Agenor ficou junto com Thiago aguardando a chegada do resgate — que, segundo os dois, chegou em cerca de 20 minutos — e conversando com David. 

— Ele estava respondendo algumas perguntas e queria que ele ficasse calmo.

David ficou muito emocionado ao encontrar os dois rapazes que o resgataram após o acidente. 

— Estou arrepiado até agora!


Além disso, David disse também que está muito otimista em relação a sua recuperação.

— Outra pessoa eu já sou. Ainda tenho muito para viver, mas minha cabeça mudou totalmente em relação à vida. Vou ver o mundo de outra forma, vou ter dificuldades mas vou me adaptar ao máximo.

Ademar Gomes, advogado de David, declarou que não tem dúvida de que Siwek deve responder por tentativa de homicídio.

— Entendo que houve dolo eventual. Alex sai da danceteria embriagado, atravessa o farol vermelho e vem em ziguezague, invade a ciclovia. Essa pessoa não teve compaixão de parar e socorrer. Ele tem má índole, ficou provado que ele tem má índole. Ele cometeu um crime com agravantes.

Gomes disse também que irá entrar com pedido de indenização por danos morais e materiais.


Postado no Portal R7 em 26/03/2013