Como é bom ser odiado – manifesto



Juremir Machado da Silva

Escrever é muito divertido. As reações dos leitores são incríveis. Alguns leem exatamente o que desejam num texto mesmo se o texto não contém uma só linha do que desejam ler. É uma leitura automática, condicionada, seletiva.

Este meu blogue é sensacional. Atrai pessoas que me detestam e que se encarnam em mim como carrapatos grudados num animal de sangue nutritivo. Alguns dão pena por serem casos nitidamente psiquiátricos.

Tem os lacerdinhas, que odeiam o PT, a esquerda, políticas compensatórias e tudo o que não for conservadorismo puro. Sentem saudades da ditadura, sobre a qual sabem pouco, contentando-se com as lendas. São fiéis. Todo santo dia, mentem, deturpam, vociferam, tentam intimidar, repetem seus mantras.

São intelectualmente pobres, praticam insultos primitivos, quanto menos sabem sobre um assunto mais disparam frases do tipo “não fale de assunto que não conhece”, etc. Revoltam-se sempre que há desconstrução dos seus clichês. Vivem do falso como verdade definitiva e tranquilizadora.

Há os que, embora eu os desconheça, simulam uma intimidade total, dando-me conselhos, puxando-me a orelha, avisando-me para “não pisar na bola” ou, escondidos atrás dos seus fakes”, alertam-me de que “pisei na bola”.

A regra não escrita manda que um cronista seja altivo, fleumático, distante, impassível e pratique a filosofia da frase repetida por Roberto Jefferson: “não se queixe, não justifique, não se explique”, não comente, não dê trela, não discuta, ignore, deixe os cães ladrarem, não se rebaixe, seja imortal.

Eu gosto de quebrar regras.

Quanto mais mesquinha a pessoa, mais seu comentário ataca a mesquinharia.

Sempre que um comentário fala em inveja, o autor é invejoso.

Quanto mais condena atitudes ideológica, mas pinga ideologia.

Há insultos recorrentes: medíocre, comunista, reacionário, chato.

Tudo e o contrário.

Eu rio.

Sou tudo isso e um pouco mais.

Sou o medíocre mais medíocre do reino da mediocridade.

Há fãs que, em nome dos seus ídolos, fingem um conhecimento do passado que não possuem e ficam furiosos pelo fato de que eu sei sobre o passado o que eles nunca saberão. Quanto mais sei, mais sou chamado de ignorante.

Escrevi ontem sobre Luis Fernando Verissimo.

Desejo sinceramente que se recupere e escreva muitos textos detonando a direita nojenta que defende a ditadura e outras coisinhas do gênero.

Alguns trataram de ver nisso um pedido desculpas ou um reconhecimento da qualidade literária da obra de LFV de minha parte. Procedimento infantil, primário, hilariante, típico de quem tem cérebro de ervilha.

Outros, ou os mesmos, viram oportunismo, covardia, vontade de aparecer, esses lugares-comuns que povoam o imaginário dos pobres de espírito.

É muito mais do que isso. E muito menos.

Um reconhecimento do acerto de Verissimo quanto à sua leitura política dos fatos em 1995. Ele estava certo em ser pragmaticamente de esquerda. É engraçado ver gente de extrema direita fingindo indignação por causa disso, como se defendessem os mesmos pontos de vista. Tudo encenação.

Por favor, chamem-me de medíocre, de invejoso e de mesquinho até cansar. Eu não me importo, estou acostumado, tenho o couro duro: os insultos da direita me fortalecem. Os insultos dos ignorantes me divertem.

Eu sou o que sou com muito orgulho.

Continuarei defendendo cadeia para terroristas fardados, a anulação da Lei da Anistia, cotas, bolsa-família, ProUni e qualquer política, por mais limitada que seja, capaz de reformar a hegemonia branca e conservadora no Brasil.

Somos um país racista, hipócrita e profundamente desigual.

Temos uma mídia ignorante e conservadora, que, por não ler o que se produz na universidade, continua vomitando idiotices ultrapassadas e defendendo práticas anacrônicas em educação, segurança, drogas, sexualidade.

Eis o meu manifesto.

Insultem-me todos os dias ou vão plantar batatas.

Ou vou colher avencas, lírios, rosas, dálias.

E batatas!

Postado no blog Juremir Machado da Silva em 30/11/2012
Imagem inserida no texto por mim

Nota
Juremir Machado da Siva é escritor gaúcho, historiador, tradutor, jornalista e professor universitário.

Argentina goleia o Brasil em justiça


A Argentina começa hoje o seu megajulgamento da ditadura. Os hermanos não têm dado qualquer alívio aos seus torturadores e aos chefes de todos eles.

Deve ser parte da superioridade ética, sustentada por intelectuais anônimos, do tango sobre o samba ou do drama em relação ao fatalismo do trágico.

Enquanto isso, no Brasil, a verdade aparece como uma infiltração. O assassinato, em Porto Alegre, de um militar ligado ao terrorismo fardado do DOI-Codi levou à descoberta de documentos importantes, que a polícia de Porto Alegre, nada republicanamente, vazou para o grupo RBS.

Um dos documentos prova que o deputado petebista Rubens Paiva esteve preso nas instalações cariocas infernais do DOI-Codi.

As nossas forças armadas têm mentido sobre isso há décadas. Assim como se mentiu durante anos sobre o assassinato de Vladimir Herzog, transformado em suicídio, o único enforcamento ajoelhado da história da humanidade.

Um dos terroristas fardados, protagonista do fracassado atentado do Rio-Centro, continua na ativa e, segundo o jornalista Marcos Rolim, é professor na academia do Exército em Brasília. Um escracho.

Três questões não podem calar:

1) Quando nossas Forças Armadas pedirão oficialmente desculpas à nação, começando, por exemplo, pelas famílias de Herzog e Rubens Paiva?

2) Quando nossas Forças Armadas admitirão as suas culpas e ajudaram a tornar públicos todos os documentos que permanecem escondidos?

3) Quando serão liberados os documentos sob a guarda do III Exército, hoje Comando do Sul, existentes em Porto Alegre. Ou também serão misteriosamente vazados para a RBS?

A Argentina está goleando o Brasil em matéria de acerto de contas com o passado. Por aqui, o revanchismo dos defensores da ditadura está cada vez mais forte e impudente. Há ódio contra a democracia que se instalou permitindo a eleição de muitos dos torturados do regime militar.

O jeitinho brasileiro é apenas uma forma de tapar o sol com a peneira.

O Brasil precisa rever a sua Lei da Anistia para não continuar a manter uma duplicidade vergonhosa: os ativistas políticos que se opuseram ao regime militar foram processados, julgados, condenados, torturados, exilados ou mortos. Os torturadores a serviço do regime jamais foram molestados.

Há algo fora de compasso.

Até quando temeremos as chantagens dos revanchistas?

Até quando conviveremos com torturadores de Estado em liberdade?

Até quando aceitaremos de braços cruzados as provocações dos que cometeram crimes contra a humanidade?

O atentado do Rio Centro aconteceu depois da Lei da Anistia. A documentação agora descoberta mostra como se tentou transformar um golpe hediondo de militares em uma ação da esquerda. Ficará por isso mesmo?

O ritmo do momento, porém, é outro.

Que tal trocar o funk pelo tango eletrônico?


Postado no blog Juremir Machado da Silva em 28/11/2012

Vladimir Herzog, jornalista assassinado em uma cela do DOI-Codi, completaria 75 anos em junho de 2012.

Vladimir Herzog (foto), jornalista assassinado em uma cela do DOI-Codi, completaria 75 anos em junho de 2012


No dia 21 de janeiro de 1971, o empresário e engenheiro civil Rubens Beyrodt Paiva, 41 anos, casado, pai de cinco filhos, ex-deputado federal pelo PTB de São Paulo, cassado pelo regime militar em 1964, foi levado de sua residência no Rio de Janeiro por agentes secretos do governo para "prestar depoimento".

Depois desse dia, Rubens Paiva nunca mais foi visto. Investigações realizadas por amigos e familiares apontam que ele foi brutalmente torturado nas dependências de um quartel militar, vindo a morrer menos de 24 horas depois do sequestro. Seu corpo nunca foi encontrado.


Gentileza gera gentileza



As câmeras de segurança captam, também, coisas boas


Criatividade para o Natal














Sininho de garrafa pet












Quem manda no Brasil



Há uma enorme diferença entre governar e deter o poder.
O PT governa o país desde 2003, depois de vencer três eleições presidenciais em seguida.
Apesar disso, não detém o poder.
Ele continua a ser exercido pela mesmas forças que o partido derrotou nas urnas - grandes empresários, latifundiários, banqueiros, militares etc etc.
São esses os personagens que, paradoxalmente, se beneficiam do governo do PT, que criou um verdadeiro mercado de consumo no país, mas fazem de tudo para defenestrá-lo do Palácio do Planalto.
São eles que movem essa guerra sem trégua, sem limites, com batalhas às vezes à luz do dia, mas quase sempre travadas nos subterrâneos da República.
Essas forças nunca permitirão que um governo trabalhista, social-democrata, se consolide no Brasil, tome o poder no Brasil.
Essas forças preferem arruinar o país a vê-lo sob o controle de outras pessoas fora de seu círculo, de sua classe.
Nunca capitularão, nunca permitirão que o Brasil se transforme numa verdadeira República, numa democracia, num país moderno e justo.
Nunca permitirão que as terríveis desigualdades sociais que destróem o futuro do país terminem.
Nunca permitirão que haja Justiça para todos, sem distinção - e não apenas para alguns, os seus inimigos.
Essas forças podem até permitir que o PT, ou outro partido assemelhado, ganhe mais uma eleição presidencial.
Desde que tudo o que importa mesmo continue nas mãos de quem realmente manda.
O resto é perfumaria.

Postado no blog Crônicas do Motta em 28/11/2012