A foto que está chacoalhando as mulheres árabes




Paulo Nogueira no Diário do Centro do Mundo

Uma imagem de mulher jovem está provocando uma formidável controvérsia mundial no Facebook.

É uma foto banal e ao mesmo tempo extremamente provocativa.

Banal porque não há nudez nem completa e nem parcial, a não ser que você considere braços de fora alguma coisa no gênero.

Provocativa porque a foto é de uma síria de 21 anos, Dana Bakdounis. Dana postou há poucas semanas uma foto sem véu num grupo criado no Facebook por mulheres árabes em busca de igualdade de direitos.

Nela, segura sua identidade e um bilhete manuscrito que é um pequeno manifesto, intitulado “A primeira coisa que senti quando tirei meu véu”. Nele afirma: “Estou com o Movimento de Liberação da Mulher Árabe porque, ao longo de 20 anos, não me permitiram sentir o vento em meu cabelo e em meu corpo”.


A foto, ninguém sabe explicar por que, foi uma sensação instantânea. Em pouco tempo, atraiu 1 600 likes, foi compartilhada 600 vezes e foi objeto de 250 comentários.

Com isso, o grupo ganhou uma visibilidade que ainda não tinha. Os debates se acirrariam ainda mais pouco depois, quando o Facebook simplesmente tirou a foto do ar, sem explicações, e também bloqueou a conta pessoal de Dana.

Censura? Um ataque à liberdade de expressão? Os protestos tomaram a página do grupo no Facebook, hoje com 70 000 integrantes e transformado num fórum vivo de debates de jovens mulheres ávidas insatisfeitas com sua situação. Uma delas disse: “Se vocês fazem este tipo de censura então não podem reivindicar os méritos pela Primavera Árabe.”

O Facebook acabaria, depois de idas e vindas, liberando a foto, e também a conta de Dana. “Minha vida mudou depois que tirei o véu”, diz ela. “Recebi muitas manifestações de solidariedade de outras mulheres com véu. Elas diziam ter vontade de fazer a mesma coisa, mas acrescentavam que faltava a audácia que tive.”

Meses atrás, quando o então presidente da França Nicolas Sarkozy iniciou na França uma cínica e eleitoreira caça às burcas sob o argumento de que estava ajudando as mulheres árabes, escrevi que era uma falácia.

Todos os movimentos históricos de conquista de direitos nasceram das próprias vítimas de injustiça, e não de tutores.

Sempre foi assim, das sufragettes, as mulheres inglesas que lutaram pelo direito ao voto no começo do século passado, aos negros americanos que combateram por sua inclusão social, para ficar em apenas dois casos.

A foto de Dana pode ser um sinal de que as mulheres árabes estão efetivamente decididas a batalhar, elas também, por sua própria Primavera. Se for isso, a imagem entrará para a história da humanidade.


Postado no blog O Escrevinhador em 27/11/2012



O modelo da boa sociedade não é a meritocracia




No livro “A sociedade dos iguais”, Pierre Rosanvallon traça a história das políticas em favor da igualdade que marcaram o século XIX e o século XX. Em entrevista à Carta Maior, Rosanvallon analisa a crise contemporânea marcada por uma perigosa dualidade: o avanço da democracia política, dos direitos, e a paulatina desaparição do laço social que cria e alimenta as sociedades democráticas. E critica as teorias da justiça promovidas por autores como John Rawls e suas ideias de igualdade de possibilidades e de meritocracia. A reportagem é de Eduardo Febbro. 

Eduardo Febbro, de Paris 

De todas as reflexões e livros que apareceram nos últimos anos sobre a democracia e a crise, o ensaio do professor Pierre Rosanvallon é o mais vasto e profundo. Com seu livro “A sociedade dos iguais” (Edições Manantial), Rosanvallon traça a história fascinante das políticas em favor da igualdade que marcaram o século XIX e o século XX, ao mesmo em que moderniza o termo com reflexões substanciais. 

Pierre Rosanvallon ocupa desde 2001 a cátedra de História de Política Moderna e Contemporânea no Collége de France e é também diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais. Próximo do Partido Socialista francês, Rosanvallon tem como horizonte intelectual a reflexão sobre a democracia, sua história, o papel do Estado e da justiça social nas sociedades contemporâneas. 

Seus livros traçam um corpo de reflexões que vão muito mais além do já trilhado diagnóstico do mal. “A contrademocracia, a política na era da desconfiança”, “Por uma história conceitual do político”, “A legitimidade democrática” ou “O capitalismo utópico, história da ideia de mercado” aportam um caudal impressionante de reflexões sobre um sistema político do qual, apesar de tudo, desconhecemos seus impulsos. “A sociedade dos iguais” responde perfeitamente à crise contemporânea marcada por uma perigosa dualidade: o avanço da democracia política, dos direitos, e a paulatina desaparição do laço social que cria e alimenta as sociedades democráticas. 

Com grande rigor, Rosanvallon esmiúça as teorias da justiça promovidas por autores como John Rawls e seu conseguinte ideal: a igualdade de possibilidades e sua aliada principal, a meritocracia. Rosanvallon destaca como entre a revolução conservadora encarnada pela ex-primeira ministra britânica Margaret Thatcher e pelo ex-presidente norte-americano Ronald Reagan e a posterior queda do comunismo surgiu um novo capitalismo que mudou a fase da história. Mas esse novo capitalismo destroçou a capacidade de os seres humanos viverem e construírem juntos como iguais e não apenas como consumidores ou forças majoritárias. Rosanvallon moderniza então o termo da igualdade entendida não já como uma questão de distribuição das riquezas mas sim como uma filosofia da relação social. 

Em entrevista à Carta Maior, realizada em Paris, Pierre Rosanvallon aborda os conteúdos essenciais de seu livro. 

Praticamente para qualquer lugar que se olhe, a democracia vive um processo de degradação potente. No caso concreto do Ocidente, a impressão é de que os valores democráticos mudaram de planeta. 

Isso se deve a que, há 30 anos, nos países da Europa, nos Estados Unidos e em praticamente todo o mundo, houve um crescimento extraordinário das desigualdades. Podemos inclusive falar de uma mundialização das desigualdades. Trata-se de um fenômeno espetacular. Há cerca de 20 anos, as diferenças entre os países diminuíram. As rendas medidas na China, Brasil ou Argentina se aproximaram das da Europa.

No entanto, em cada um desses países, as desigualdades aumentaram. Ao mesmo tempo em que a China se desenvolvia, as desigualdades se multiplicaram de forma vertiginosa. Esse problema concerne ao conjunto dos países. A Europa é o caso mais emblemático porque o aumento da desigualdade surge logo depois de um século de redução das desigualdades.

Entre a Primeira Guerra Mundial e a primeira crise do petróleo, nos anos 70, na Europa e nos EUA houve uma redução espetacular das desigualdades. Podemos dizer que, para a Europa, o século 20 foi o século da redução da desigualdade. Agora estamos no século da multiplicação das desigualdades. 

6 jovens que estão mudando o mundo pela educação


Educação

Patrícia Gomes
O mundo hoje torce pela recuperação da jovem paquistanesa Malala Yousafzai, 14, que sofreu neste mês um atentado enquanto ia para a escola por defender o direito do acesso das meninas à educação. O caso de Malala mobilizou autoridades, políticos e gente comum, que tem compartilhado sua foto nas redes sociais. A boa notícia é que a moça não está só. Como Malala, há muitos jovens que estão transformando, cada um a sua forma, o seu entorno pela educação. Alguns, inclusive, estão indo muito além de mudar a realidade local. O Porvir mapeou alguns desses casos de pequenos empreendedores de mentes brilhantes. Confira!

1. Malala Yousafzai 14 anos menina que só queria poder estudar

Malala é uma jovem paquistanesa que, desde muito nova, ficou conhecida por seu ativismo em favor da educação das meninas no distrito de Swat, dominado pelo talebã. Em 2009, então com 11 anos, ela começou a escrever um blog para a BBC em que relatava as dificuldades de viver em uma região onde a violência era algo normal. Na mesma época, o jornal The New York Times produziu o documentário Class Dismissed (Aula Cancelada, em livre tradução), em que mostrava a menina e sua família às vésperas da escola onde estudava ser fechada pelos extremistas. No vídeo, ela e seu pai falam do sonho que a jovem tem de ser médica e de seu medo de ser obrigada a parar de estudar.

Confira o documentário, em inglês (cuidado, cenas fortes de violência).





Em 9 de outubro, Malala sofreu um atentado enquanto ia para a escola. A van em que estava com outras meninas foi interceptada por homens armados e ela foi atingida por tiros no ombro e na cabeça. A menina foi levada às pressas para um hospital local em estado crítico e, tão logo suas condições de saúde permitiram, ela foi removida para a Inglaterra. O Talebã confirmou a autoria do ataque e reafirmou que segue com sua intenção de matar Malala e seu pai. Apesar disso, a parte boa é que, segundo a imprensa britânica, o estado de saúde da garota ainda inspira cuidados, mas ela apresenta melhoras consistentes e já consegue ficar de pé. Uma legião de pessoas tocadas pelo que aconteceu com ela tem compartilhado sua foto e sua história nas redes sociais.

2. Brittany Wenger 17 anos jovem que ajudou a diagnosticar o câncer

A norte-americana Brittany Wenger, 17, criou um programa de computador que ajuda os médicos a detectarem câncer de mama. A jovem levou dois anos para concluir suas pesquisas e, em julho, foi a vencedora do 2o Prêmio Google de Feira de Ciências, que condecora pesquisas de jovens cientistas de todo o mundo. Pelo programa, os médicos podem inserir características das células doentes (como aparência, tamanho e espessura) e o app aponta sua probabilidade de malignidade. “Tive casos de câncer na família, especificamente câncer de mama”, diz a jovem à emissora norte-americana ABC. Brittany quer continuar seus estudos e se tornar médica oncologista pediatra. No mesmo vídeo, sua mãe conta que, desde pequena, a menina é questionadora. “Quando ela tinha 3 ou 4 anos, ela sempre perguntava o porquê das coisas. As pessoas diziam que ia passar. Hoje ela tem 17 e continua perguntando.”



3. William Kamkwamba 25 anos menino que dominou 
o vento aos 14

William Kamkwamba hoje tem 25 anos, mas seus feitos começaram quando ele ainda tinha 14 no Maláui, no sudoeste da África. Em sua TED Talk de 2009, o rapaz conta que seu país sofreu com uma fome muito forte em 2001. Naquele ano, sua família, que vivia de plantar milho, só comia uma vez por dia; ele e seus irmãos desmaiavam com frequência de fraqueza. “Eu olhei para o meu pai e para aqueles campos secos e aquilo era um futuro que eu não podia aceitar”, diz ele. Mal tendo como sobreviver, seus pais não puderam arcar com as despesas da educação de William, que precisou deixar os estudos. “Mas eu estava determinado a fazer o que fosse possível para nunca parar de estudar”, afirmou. Ia à biblioteca local e lia livros, especialmente de ciências. 

Em um deles, viu o desenho de um moinho de vento e descobriu que aquela estrutura era capaz de bombear água e gerar eletricidade. Ele buscou os materiais de que precisava em um ferro-velho. “Eu consegui construir minha máquina”, disse o rapaz que, com sua engenhoca feita com partes de bicicleta, canos de PVC e um ventilador de caminhão, conseguiu levar luz à casa de seus pais. “As pessoas faziam fila na porta de casa para carregar seus celulares”, contou. A história do menino que dominou o vento foi contada na biografia “The boy who harnessed the wind” e inspirou uma onda de outros projetos pela África que buscam levar energia elétrica a lugarejos afastados a partir de mecanismos simples.

Veja TED Talk de William (2009).





4. Daniel Burd 16 anos menino que descobriu bactérias que comem plástico




O trabalho de escola do canadense Daniel Burd, 16, fez a ciência refazer as contas. Sua descoberta transformou os milhares de anos necessários para decompor plástico em apenas três meses. O jovem fez um experimento em que misturava lixo, água e plástico e deixou o tempo agir. Ele percebeu que o plástico estava, de fato, se decompondo muito mais rapidamente que pelo curso natural. Refez o experimento em outros meios e temperaturas e viu que o processo se repetia. Analisando o material, Daniel identificou que as responsáveis pela ação eram duas bactérias.
5. Isadora Faber, 13 anos e Martha Payne, 9 anos meninas que denunciaram suas escolas


A brasileira Isadora Faber, 13, criou a página Diário de Classe no Facebook e virou um fenômeno na internet. A menina começou a usar a rede para denunciar os problemas de sua escola, em Florianópolis. Ela tirava fotos de fios soltos e desencapados, portas quebradas, ventiladores que não funcionavam. A página virou um sucesso instantâneo e hoje tem quase 350 mil apoiadores. Isadora conta que sua inspiração para criar a página foi a escocesa Martha Payne, 9, que montou o blog NeverSecond para reclamar da qualidade da merenda de sua escola. Com o sucesso da brasileira, muitos outros diários de classes surgiram pelo Brasil e hoje Isadora lidera movimentos em prol da qualidade da educação pública no Brasil.

Veja vídeo feito por Isadora Faber.


Postado no blog Porvir O futuro Se Aprende em 23/10/2012


Nota

É, sem dúvida, muito boa a iniciativa da menina Isadora Faber de criar uma página no Facebook para falar de problemas da sua escola, pois atitudes como esta fazem das redes sociais ferramentas de melhorias e transformações de comportamentos sociais e da sociedade.

Mas acho que, nesta página, as pessoas deveriam aproveitar a grande repercussão para dar visibilidade não só aos problemas para que sejam resolvidos, mas também, às iniciativas e atitudes louváveis, que com certeza existem, dos professores, diretores e funcionários, que, em sua maioria, são pessoas que trabalham com amor e dedicação.

Mostrar só o lado ruim leva-nos a questionar o real propósito de alguma coisa, ao passo que mostrar os dois lados leva ao equilíbrio e ao crescimento.

A crítica pura e simples pode ser destrutiva e o reconhecimento de coisas boas é construtivo e leva à mais e mais atitudes ou comportamentos elogiáveis.

A educação pública tem muitos e sérios problemas que precisam ser resolvidos, como a infraestrutura das escolas, a merenda, a falta de bibliotecas, a pouca valorização dos professores e funcionários, etc. 

A criação desta página deve inspirar outras pessoas a criarem mais espaços para discussão, apresentação dos problemas, sugestões de soluções e exemplos de soluções reais encontradas em outras comunidades e que podem e devem ser copiadas, bem como mostrar o quanto nossos professores são merecedores de respeito e maior valorização.

E, tomara que as páginas criadas por escolas, professores ou outrem, que tenham boas iniciativas a serem compartilhadas e copiadas, sejam tão acessadas e tenham tantos seguidores  quanto a página da menina Isadora.

Parabéns Isadora por tua iniciativa madura e digna de tentar colocar um tijolinho para a construção de uma Educação melhor para que o futuro seja tudo aquilo que as crianças sonham e merecem.

Rosa Maria

Boa música : Fafá de Belém









Boa música : Simone









Boa música : Maria Betânia









Indiciamento de Gurgel tem provas irrefutáveis. PSDB quer pizza.





O Procurador-Geral da República Roberto Gurgel reclama de seu indiciamento no relatório do deputado Odair Cunha (PT-MG), na CPI do Cachoeira. Chamou de "revanchismo". Porém, sem nenhuma razão, pois o deputado apenas cumpriu o seu dever, de forma irretocável.

Se não indiciasse o Procurador-Geral estaria dando um "jeitinho", aliviando, e produzindo "pizza".

No fim do texto publico a íntegra do trecho do relatório que trata do indiciamento. Não adianta Gurgel chamar de "revanchismo". A única saída para ele seria rebater objetivamente ponto por ponto as provas irrefutáveis (o que parece ser impossível, pelas próprias tentativas anteriores).

As provas são tão irrefutáveis, que o Procurador-Geral entrou com mandato de segurança no STF pedindo em caráter liminar a proibição de outros procuradores investigá-lo, através do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público). Ora, quem, inocente, se recusaria a ser investigado por seus próprios pares? Imaginem um General se recusar a responder um IPM (Inquérito Policial Militar), diante de algum episódio nebuloso. Com que moral ele poderia continuar comandando suas tropas?

Antes de irmos ao texto do relatório, cabe alguns comentários:

1. Foi o próprio Gurgel quem despertou as suspeitas sobre si mesmo, ao paralisar as investigações da Operação Vegas, em 2009, quando esta caiu em suas mãos. Poderia ter admitido erro, pelo menos. Em vez disso apresentou explicações que caíram em contradição e, infelizmente, a emenda saiu pior do que o soneto, confirmando que algo de muito errado foi feito.

2. É imperioso ao crime organizado infiltrar-se nas entranhas do Estado, arregimentando agentes estatais encarregados do efetivo combate à criminalidade. O alto poder de corrupção do crime organizado, fazendo com que pessoas do Estado participem da atividade, causa inércia, ou melhor, paralisação estatal no combate ao crime. 

Quando Gurgel paralisou a investigação da Operação Vegas, independentemente de qual tenha sido a sua intenção, ficou exposta uma vulnerabilidade da Procuradoria à influência da organização criminosa. Isso é algo muito grave para ser varrido para baixo do tapete, e a instituição Ministério Público é a maior interessada em não deixar margem para qualquer tipo de dúvidas que possa macular sua imagem, independente de pessoas que estejam no cargo de chefia. É o próprio Procurador-Geral quem deveria pedir uma investigação sobre este seus atos que suscitaram dúvidas, para o próprio bem da instituição que comanda. 

3. O relator provou com a análise da cronologia dos fatos, com os depoimentos dos delegados federais, com as respostas por escrito do próprio Roberto Gurgel, e com as leis e regras a que um Procurador-Geral deve obediência, que houve infração.

Está certo o relator, e está errado os parlamentares que querem blindar Gurgel, retirando seu indiciamento do relatório. Isso é fazer pizza com coisa muito séria, diante de provas robustas e que o Procurador-Geral não conseguiu refutá-las. 

A íntegra do trecho que indicia o Procurador-Geral está no link:

*osamigosdopresidentelula 

Posted 1 hour ago by Blog Justiceira de Esquerda