Quando Thor encontrou Wanderson


Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

Os dois têm, em comum, o nome estranho e improvável e a nacionalidade brasileira.
Thor e Wanderson.

O resto são diferenças que jamais os levariam a se encontrar. Thor, 1%, para usar a expressão consagrada no protesto Ocupe Wall St, anda num carro de quase 3 milhões de reais, uma McLaren. As multas por excesso de velocidade que Thor recebeu no período “probatório”, em que o motorista é testado logo depois de receber carteira de motorista, deveriam tê-lo impedido de dirigir.  Mas regras no Brasil não costumam ser aplicadas para o 1%. A família de Thor tem dinheiro e as conexões que isso traz: não há muito tempo, o governador do Estado tomou carona no helicóptero do pai de Thor, um homem cuja maior ambição não é ser o homem mais sábio do mundo,  ou o mais feliz, ou o mais generoso — e sim o mais rico, um recordista de moedas.

Wanderson é o 99%. Bicicleta em vez de McLaren, e não por modismo ou por consciência ecológica. Simplesmente por necessidade. Feio por não ter a boniteza 

outorgada pelo dinheiro: não poderia comprar o corpo de jogador de rugby adquirido por Thor com duas horas de exercícios diárias, e nem as roupas, e nem os produtos de beleza. Pobre não pode aspirar a grandes feitos estéticos, e nem pequenos, para ser franco.

Contra todas as probabilidades, Thor e Wanderson, com suas vidas paralelas e opostas, acabaram se encontrando na noite de sábado, numa estrada.  Foi um encontro rápido. Thor em sua McLaren e Wanderson em sua bicicleta. Thor mal viu Wanderson. Salvo em circunstâncias excepcionais, os 99% são invisíveis.

No final da reunião relâmpago, Wanderson estava em pedaços, destruído pela McLaren. A imprudência, segundo o pai de Thor, foi de Wanderson.  Não há surpresa nisso porque no Brasil a culpa sempre foi dos 99%.

E agora Thor retoma sua vida de herdeiro enquanto Wanderson lentamente vai desaparecendo de nossas mentes e de nossas conversas até ser devolvido à miserável invisibilidade em que esteve imerso até o breve encontro de sábado à noite.

Postado no Blog O Escrevinhador em 21/03/2012

Os 10 países com mais e menos pessoas no Facebook



março 20th, 2012 | Categoria: Tech & Web | Por: Thales Azamor


   Depois da notícia da consultoria Socialbakers de que o Brasil pode se tornar o segundo maior país no Facebook, vamos conferir oranking dos dez países com mais e menos pessoas com contas na rede social:
.

Os 10 mais:


Estados Unidos: mais de 155 milhões de usuários
Índia: 45 milhões
Indonésia: 43 millhões
Brasil: 42 millhões
México: 33 millhões
Turquia: 31 millhões
Reino Unido: 30 millhões
Filipinas: 27 millhões
França: 24 millhões
Alemanha: 23 millhões


Os 10 menos:

Vaticano: 100
Nauru: 300
Samoa Americana: 720
Tuvalu: 1.820
Ilhas Malvinas: 1.960
Ilhas Aland: 2.740
Quiribati: 2.940
São Tomé e Príncipe: 4.600
Palau: 5.940
Turcomenistão: 5.980

*Até 19 de março de 2012
Lista completa neste link
Fonte: Socialbakers

Postado no Portal R7

" Richard Jakubaszko rebate a manchete: Uma xícara de café gasta 140 litros de água! "


Uma xícara de café gasta 140 litros de água!


Richard Jakubaszko 


 



Esta é a manchete que foi publicada na mídia e na blogosfera. A mídia acrítica e a blogosfera repercutiram tudo, sem quaisquer questionamentos, demonstrando um ambiente completamente idiotizado. Sintetizo abaixo, em itálico e de forma resumida, o que foi relatado. Na sequência faço alguns comentários que me parecem relevantes sobre as causas da falta de sentido crítico da mídia.


"A produção de uma xícara de café exige 140 litros d'água, anunciou a organização de proteção do meio ambiente Fundo Mundial para a Natureza (WWF), em comunicado divulgado dia 13 de março último à margem do Fórum Mundial da Água, celebrado em Marselha, sul da França. A ONG calcula quantos litros são usados na produção da bebida, desde seu cultivo até a fabricação da xícara. Assim, uma xícara de café equivale ao gasto de 140 litros de água, dependendo do material do recipiente e da origem do açúcar.

A organização ambientalista aplicou um indicador elaborado pela Universidade de Twente, na Holanda, para registrar a "pegada hídrica" da xícara de café, que leva em conta o impacto de toda a cadeia de produção na fonte de água doce.

O cálculo de 140 litros para uma xícara de café compreende, segundo o WWF, a água usada no cultivo do pé de café, na colheita, no transporte, na venda e no preparo, explicou a ONG. O indicador inclui, ainda, o volume d'água necessário para a fabricação da xícara em que se bebe o café.

Se forem adicionados leite e açúcar ao café, e se um copo de plástico for empregado para servir a bebida, "a pegada hídrica" de uma xícara de café passará para 200 litros, com variantes se o açúcar for branco, procedente da beterraba, ou mascavo, da cana-de-açúcar”, acrescentou.

ONU alerta sobre ameaça de falta de abastecimento de água. O Fórum Mundial da Água começou em Marselha "de olho na Rio+20"."

COMENTÁRIOS DO BLOGUEIRO:
Esse é o perigo, deram uma calculadora para algum ambientalista, talvez com talento para ser economista, mas sem nenhuma visão holística, ou sistêmica, e sem nenhuma percepção do que é o todo. O resultado é semelhante ao de se entregar uma metralhadora nas mãos de uma criança com raiva. Da mesma forma é o resultado de se entregar um espaço jornalístico, na mídia eletrônica ou impressa, a jornalistas despreparados para a função e para a vida.

A premissa dessa questão é o paradigma de que vai faltar água potável (água doce) para abastecer os 9 bilhões de pessoas que teremos no planeta dentro de 25 ou 30 anos, pois apenas 3% da água existente no planeta é doce, e 97% é salgada.



Primeiro erro: esqueceram (os ambientalistas mal intencionados, e os jornalistas mal informados) de que o planeta Terra deveria chamar-se planeta Água, pois somos mais de 4/5 de água, incluindo os oceanos, é claro. E de que água não acaba (Não existe na química ou física, à exceção da eletrólise, algo que faça a água sumir). A mesma quantidade de água que existe hoje, existia há 2 ou 3 milhões de anos atrás. E de que água se recicla permanentemente, sempre nos 3 estágios que conhecemos: líquido, sólido ou gasoso.


Segundo erro: a calculadora do economista-ambientalista (que é holandês) ensandecido partiu de uma estatística feita em países com pouquíssima água (como Israel e Espanha). Nesses, o problema da água é crítico: "descobriram" que 70% da água consumida eram usadas na irrigação, para agricultura e pecuária, 20% pelas indústrias e 10% por consumo humano. Entenderam (na verdade, decidiram...) que isso levaria ao caos do planeta. Dever-se-ia economizar água na agricultura, e, portanto, os perdulários dos produtores rurais teriam de ser contidos a qualquer custo. Daí para campanhas que atacam o consumo de água pelo boi, e agora pela xícara de cafezinho, foi um pulo muito pequeno. Ignoram que o boi faz xixi. Esquecem de que bebe água de chuva, mas calculam como débito a água da chuva, no pasto e no cafezal, como “água gasta, consumida”. Na tal calculadora não há créditos.

Terceiro erro: o critério de “pegada hídrica” desenvolvido pela Universidade de Twente, na Holanda, não tem aceitação internacional em nenhuma outra universidade, pois utiliza métodos estapafúrdios e emocionais, sem base na boa ciência. O referido indicador nem é polêmico, ele simplesmente não é aceito como ciência. Desta forma, o WWF pega um factoide monstrengo, acrescenta comentários, e a mídia digere e divulga acriticamente todas as besteiras inconvenientes.

Neste ínterim, passamos aos "controles e à gestão da água", eis que para irrigar sua lavoura o agricultor (principalmente o brasileiro) deve fazer "estudos de impacto ambiental". Numa boa, ambientalistas e especialistas de água, como que surgidos do nada, passaram a faturar uma graninha extra em consultoria, e as agências reguladoras proliferaram mundo afora. Não se financia um pivot de irrigação sem que haja um "estudo de impacto ambiental". Fazer uma barraginha ou poço artesiano é quase um crime ambiental. Se a gente contasse isso para um visitante extraterrestre ele iria embora em definitivo... As finesses e firulas do raciocínio ambientalista, tipo se for açúcar cristal branco ou mascavo é hilária, mas tenta dar embasamento ao "estudo científico". Como diz o ex-ministro Delfim Netto, toda estatística bem torturada confessa qualquer coisa...

Ora, água é vital à vida. Por isso os cientistas procuram sinais de água em planetas pelo universo infinito. Até o ponto de achar que a água é vital a gente concorda com os ambientalistas. O que se deve ter em mente, de forma clara, é que o consumo de água, em qualquer situação, seja agrícola ou industrial, não "gasta" água, apenas interfere em seu processo. Quando usada na agricultura, na forma de irrigação, ou também por chuvas, como é calculada na métrica neurótica e emocional dos ambientalistas-economistas, a água não vai para o "quinto dos infernos" como costumo afirmar em conversas com amigos. Essa água revitaliza o solo, dá sustentabilidade à produção de alimentos, é filtrada em suas impurezas, e vai para o lençol freático. Dali retorna para os rios ou vai para os aquíferos, e destes para os mares. Nos mares haverá evaporação, que são as nuvens, e estas, depois de centenas ou milhares de quilômetros percorridos, em chuvas. É o destino de toda água, em todo o planeta, inexorável, queiram ou não os ambientalistas.

Urbano versus rural?
Portanto, quando o homem interfere no ciclo de vida da água (doce), e faz com que cada gota de água demore mais tempo para chegar aos mares, estará beneficiando e dando sustentabilidade à vida. É simples e cristalino. Ao contrário disso, os urbanos, especialmente em grandes núcleos populacionais, emporcalham a água de seus rios com esgotos, resíduos e entulhos, tornando esses rios poluídos e sem vida. Com uma agravante perversa: as grandes cidades não possuem lençóis freáticos, pois estão asfaltadas, cimentadas e azulejadas. As árvores não têm espaço para receber água em suas raízes, por esta razão desabam com ventos um pouco mais fortes. Como há pouca evapotranspiração as cidades são mais quentes e por isso recebem mais chuvas, para esfriar. Mas quando chove as águas não penetram no solo impermeabilizado, rolam céleres para os rios poluídos, inundando tudo pelo caminho.

Insanidade humana e ambiental! Não há dúvidas de que os ambientalistas-economistas são urbanos, trabalham no ar condicionado de seus gabinetes, fazem 3 refeições ao dia, e nunca se perguntam de onde vem o alimento que consomem. Estes são comprados no supermercado do bairro, e isso é o suficiente para eles. Da mesma forma os colegas jornalistas que repetem as ensandecidas invenções das “pegadas hídricas”.

Na visão e opinião dos ambientalistas urbanos, e também de alguns jornalistas mal informados, o produtor rural é um criminoso ambiental. Por isso ele precisa ser execrado e queimado em praça pública, como exemplo... Já escrevi sobre isso dúzias de vezes, chega a dar cansaço mental repetir as mesmas coisas, e um desânimo enorme de ver que os ambientalistas, ainda por cima, se acham no caminho certo, e possuem a certeza de que ganharão o reino dos céus pela sua luta verde. Eles querem a punição de todo agricultor que plante em pé de morro, através do Código Florestal, por exemplo. Querem proibir e proibir. Esquecem que o que desaba e desmorona é morro urbano desmatado, mal urbanizado, com construções sem fundações, nas chamadas favelas. Com esse raciocínio desequilibrado encaminham-se para fundar uma sociedade ambientalista supranacional. Querem governar o mundo! E aquilo que imaginam e especulam hoje poderá virar lei no futuro.

Vejam que cálculo ridículo, qual o sentido prático de saber que uma xícara de cafezinho de 60 ml gastou 140 litros de água? Eles que parem de tomar cafezinho e de comer suas picanhas, assim não se sentirão culpados, pois quem sente culpa e quer punir a todos por isso não ganha o reino dos Céus...

Pai dos Céus perdoa-os, eles não sabem o que fazem! Mas manda esse pessoal pensar, ao menos isso! E que a mídia não replique essas bobagens!


Richard Jakubaszko 


Jornalista e publicitário, escritor, especialista em comunicação e marketing no agronegócio. Editor e publisher da revista DBO Agrotecnologia e autor de livros no segmento, como "Marketing Rural: como se comunicar com o homem que fala com Deus", em 2ª edição; "Marketing da Terra", e "Meu filho, um dia tudo isso será teu", todos pela Editora UFV da Universidade Federal de Viçosa - MG. 

Postado no Blog Richard Jakubaszko em 18/03/2012

Fantásticos livros voadores


OS FANTÁSTICOS LIVROS VOADORES: DIVERTIDA ANIMAÇÃO E O PODER QUE AS HISTÓRIAS E LETRAS TÊM DE VOAR...









Postado no Blog Educação Política em 18/03/2012

" Trabalho infantil "






Você está entrando no DIÁRIO GAUCHE um blog com vista para o mar incerto do século 21






Foto-legendaSagira Ansari, de 11 anos (à direita), enrola cigarros de tabaco com a sua família, em casa, no estado indiano de Bengala Ocidental, em 26 de janeiro último.

Sagira é uma entre milhões de crianças trabalhadoras nos recantos mais escondidos da Índia profunda. Muitas crianças trabalham em indústrias perigosas mas cruciais para a economia indiana: nas olarias que abastecem a indústria da construção civil, nos campos encharcados de pesticidas que produzem os alimentos da Índia, um país com 800 milhões de almas, ou fazendo cigarros com as mãos e respirando o pó do tabaco de forma permanente.

Sagira e sua família ganham cerca de 1,5 dólar para cada um mil cigarros enrolados, o que representa algo como 150 dólares/mês, de trabalho de toda a família, inclusive as crianças.  Rafiq Maqbool/AP


Relacionamentos, Traições, Ciúmes e Redes Sociais



por Fabio Valentim

 
                                         A traição ocorre, quando existe a quebra de confiança, respeito e amor. 


A internet, como tenho dito outrora, tornou democrática e mais penetrante, a pornografia no dia a dia dos usuários. É até difícil imaginar uma pessoa que nunca viu nada de erótico na internet, pelo fato da mesma estar tão penetrante e inerente na essência da internet. Mas a questão que estamos falando não é bem a exibição de imagens pornográficas, como também a propagação do erotismo. Estamos falando da interação erótica entre duas pessoas, ou seja o tão falado sexo verbal, em outras palavras, o sexo virtual entre duas pessoas distantes (ou não), em busca do prazer e do orgasmo. No sexo virtual, passamos a ter interações interessantes entre amigos, propagando ainda mais o conceito desexo casual.

E é óbvio que isso afetou os relacionamentos, deixando os ciumentos, mais especialmente as ciumentas, totalmente em polvorosas, imaginando o que seus amados estão fazendo na internet, se estão tendo interações bem quentes com outras mulheres. O mesmo pode dizer dos homens imaginando suas mulheres tendo certas interações com certos homens. E atualmente é muito mais fácil uma pulada de cerca na internet, do que antigamente. Existem diversas ferramentas pra isso, que vai desde e-mails, salas de bate-papo, SMS, até redes sociais. Atualmente estão se propagando no mercado, redes sociais voltados para sexo e relacionamentos liberais.

Mas com tenho dito anteriormente, e disse várias vezes aqui, existem três bases para um relacionamento amoroso, que são confiança, respeito e amor. Uma pessoa que não tem confiança no seu parceiro, nunca vai conseguir sustentar a relação. É preciso sim ter uma confiança, acima de tudo, e saber lidar com o ciúmes, não deixando que os ciúmes tomem conta de você, pois isso não é nada saudável para a relação. Atualmente, aumentou drasticamente o número de separações, por conta de traições na internet, seja através de redes sociais ou outros meios. Também, de nada adianta ficar bisbilhotando a vida do seu parceiro na internet, o que mostra, a sua total insegurança, além de não evitar a traição. Como eu disse, quem ama, confia, e essas atitudes, normalmente geram conflitos. Lembre de uma coisa de que você não é dono da vida do outro, são simplesmente companheiros, que compartilham as suas vidas.

Indo além disso, vemos muitos relacionamento que nasceram da internet, relacionamentos que se tornaram reais. Pessoas distantes acabam se apaixonando, e no fim, acabam até se casando e formando uma família, é que torna legal a parte boa das redes sociais: o de promover encontros. Encontros amorosos são o grande trunfo da internet, que criam novas relações e ainda fortalecem as relações mais existentes, seja pelo lado positivo, seja pelo lado negativo. A internet é um mundo perigoso, admito, mas não é nada mais que a representação fiel da vida real, em que vivemos.



Postado no Blog Baú do Valentim em 19/03/2012


Ministério da Justiça: Campanha alerta pais sobre a importância da classificação indicativa


Pais e educadores, atenção para esta campanha iniciada hoje pelo Ministério da Justiça sobre a importância da classificação indicativa dos programas de TV.
Nossas crianças passam muito tempo assistindo televisão, é preciso, portanto, atenção ao que elas assistem.
Estudos mostram que as crianças estão propensas a imitar o que assistem em filmes, desenhos, novelas e não distinguem ficção e realidade. Daí a importância de se oferecer ferramentas para que a família faça a escolha sobre o que assistir ou não.
Atualização: veja um dos filmes da campanha
                                   

 

Postado no Blog Maria Frô em 19/03/2012

Uma versão da luta de classes



Juremir Machado da Silva

Nada de novo no front.
Filho de bilionário atropela ciclista na Baixada Fluminense, próximo de Xerém, em Duque de Caxias.
Ninguém bateu continência.
Salvo, talvez, a polícia para o condutor.
O jovem rico pilotava uma Mercedes SLR McLaren.
Esse carro custa R$ 2 milhões 700.
O atropelador chama-se Thor.
Seu pai é um certo Eike Batista.
Sua mãe, Luma de Oliveira
O atropelado chamava-se Wanderson.
Foi abandonado pela mãe.
Não conheceu o pai.
Vivia de bicos.
O coração do morto parou dentro do carro.
O coração do motorista não saiu do lugar.
A perícia nunca foi tão ágil.
O carro foi retirado do local em tempo recorde.
Thor nem foi conduzido, como é de praxe, a uma delegacia.
Wanderson nunca teria chance de atropelar um Thor.
A isso se chama de ordem “natural” das coisas.
Ou simples e infeliz coincidência.
Antigamente era luta de classes.

Postado no Blog Juremir Machado da Silva do jornal Correio do Povo on line
em 19/03/2012

Weissheimer: Essas lésbicas são terríveis!



Fica difícil saber o que está incomodando mais o conservadorismo católico e seus porta-vozes: se a decisão pela retirada dos crucifixos das salas do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul ou o fato dela ter resultado de uma iniciativa da Liga Brasileira das Lésbicas e de outras entidades de defesa dos direitos de homossexuais.
por Marco Aurélio Weissheimer, em Carta Maior
É notável a quantidade de falácias e preconceitos que vêm sendo esgrimidos em público contra a decisão de retirar os crucifixos das salas do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Olhando para alguns dos artigos publicados recentemente, especialmente no jornal Zero Hora, fica difícil saber o que está incomodando mais o conservadorismo católico gaúcho e seus porta-vozes mais ou menos envergonhados: se a decisão pela retirada dos crucifixos ou o fato dela ter resultado de uma iniciativa da Liga Brasileira das Lésbicas e de outras entidades de defesa dos direitos de homossexuais.
O ex-senador Paulo Brossard não escondeu seu, digamos, desconforto. Em artigo intitulado Tempos Apolípticos  (ZH – 12/03/2012), Brossard critica a decisão “atendendo postulação de ONG representante de opção sexual minoritária”. No artigo, isso é dito logo após o ex-senador revelar que a filha, Magda, advertiu-o de que “estamos a viver tempos do Apocalipse sem nos darmos conta”.
A única associação feita no artigo ao Apocalipse é com a iniciativa desta “opção sexual minoritária”. No final, Brossard “confessa” surpresa com “a circunstância de ter sido uma ONG de lésbicas que tenha obtido a escarninha medida em causa” e pergunta se a mesma entidade vai propor “a demolição do Cristo que domina os céus do Rio de Janeiro”.
Como jurista, Brossard deveria saber que o princípio da separação entre Estado e Igreja não implica, absolutamente, “a demolição do Cristo que domina os céus do Rio de Janeiro”. Aqui, o preconceito e a falácia andam de mãos dadas (como aliás, costuma acontecer). O que mais essas lésbicas vão querer agora? Demolir o Cristo Redentor? Acabar com o Natal?
A mesma dobradinha entre falácia e preconceito é exibida no artigo O crucificado, do jornalista Flávio Tavares (ZH – 18/03/2012), que também questiona a motivação das lésbicas e mesmo a legitimidade de sua organização, advertindo para perigos futuros. Tavares sugere que pode ser tudo ressentimento: “Desejarão as lésbicas repetir a intolerância de que foram vítimas?” – escreve, questionando se a liga que as representa não “é mero papel timbrado, como tantas no Brasil?” E adverte para os riscos de acabarem com o Natal e os feriados religiosos.
“Dizer que somos um Estado laico que não admite símbolos religiosos é falso e inadmissível. A ser assim, teríamos de terminar com o Natal e os feriados religiosos que pululam pelo calendário”.
Ao contrário de Brossard, o jornalista ainda poderia merecer o desconto de seu evidente desconhecimento a respeito do teor do princípio de separação entre Estado e Igreja, que não proíbe o uso de símbolos religiosos ou a prática de manifestações religiosas pelas pessoas.
Ao contrário do que o jornalista e o jurista dizem, a proibição de símbolos religiosos em repartições públicas não é uma medida intolerante que desrespeita a liberdade de culto. É exatamente o contrário. No caso brasileiro, como a Igreja católica não é a religião oficial do Estado (como nenhuma outra o é, aliás), como existem outras religiões no país, e como vale aqui o princípio da liberdade de culto, o Estado e suas instituições, como o Judiciário, deve se manter equidistante das preferências religiosas particulares de seus cidadãos e cidadãs.
O Estado laico ou secular foi inventado, entre outras coisas, para garantir e proteger a liberdade religiosa de cada cidadão, inclusive a liberdade de não ter religião. A ideia é evitar que alguma religião em particular exerça controle ou interfira em questões políticas.
Todos os doutos juristas que vêm se manifestando a respeito do tema sabem disso, obviamente, ou deveriam saber, ao menos. A invenção do Estado laico foi regada com muito sangue e injustiça. Muito sangue, aliás, derramado pela própria Igreja Católica, que torturou e queimou milhares de pessoas na fogueira. Se há juristas interessados em ostentar em suas salas um símbolo de injustiça, poderiam, por exemplo, colocar na parede um retrato de Giordano Bruno, submetido a um “julgamento ultrajante”, brutalmente torturado e mutilado antes de ser queimado na fogueira.
A religião do Estado republicano é a Constituição. É para isso, entre outras coisas, que foi criada essa coisa chamada República. Nem sempre foi assim. Chegou-se a isso após muito sangue, injustiça e intolerância. A República é tolerante e generosa com a diferença. Ela não exige, por exemplo, que os templos religiosos coloquem uma Constituição na parede.
Mas tem gente com medo do iminente apocalipse que se aproxima. Esses dias terríveis onde as lésbicas – essa “opção sexual minoritária”, como diz Brossard – têm o poder de influir no que ocorre no interior dos tribunais. Como bom católico que é, Brossard foi pedir ajuda ao guardião da fé Dom Dadeus Grings, um ferrenho crítico dos direitos dos homossexuais e um revisionista do Holocausto. O diálogo pode ter sido mais ou menos assim: “Antigamente não se falava em homossexual”, reclamou, saudoso, Dom Dadeus a Brossard. “Minha filha Magda disse que é o Apocalipse”, respondeu o ex-ministro do STF…Pausa para um sinal da cruz.
Essas lésbicas são terríveis. Só falta elas pedirem agora o fim da isenção de impostos para as igrejas. É o fim dos tempos…
Marco Aurélio Weissheimer é editor-chefe da Carta Maior

Postado no Blog Viomundo em 19/03/2012