Mauro Santayana: Uma retirada sem glória nem honra



Mais uma vez, os Estados Unidos concluem uma guerra sem ganhá-la, ao não conseguir impor sua plena vontade aos agredidos. Os soldados norte-americanos não saem do Iraque como saíram de Saigon, em 30 de abril de 1975, escorraçados pelas tropas de Hanói e pelos vietcongs. Desta vez, eles primeiro arrasaram o Iraque, durante uma década de bombardeios constantes.
O despotismo de Saddam não incomodava antes os Estados Unidos, quando coincidia com o interesse de Washington. Tanto era assim, que os norte-americanos estimularam a guerra contra o Irã, e lhe ofereceram suporte bélico e diplomático, mas seu objetivo era o de debilitar os dois países. No momento em que — cometendo erro político elementar — Saddam pretendeu restaurar as fronteiras históricas do Iraque, ao invadir o Kueit, Washington encontrou, com o primeiro Bush, o pretexto para a agressão aérea a Bagdad, a criação da chamada zona de exclusão, em que o bombardeio aéreo era indiscriminado, e o bloqueio econômico.
Foram dezenas de milhares de mortos durante os dez anos de ataques aéreos, prévios à invasão. Entre os sobreviventes da agressão, houve milhares de crianças, acometidas de leucemia pela radiação das munições amalgamadas com urânio empobrecido.
Assim, ao invadir o país por terra, os americanos encontraram um exército debilitado, parte do território arrasado e um governo na defensiva diplomática. O pretexto, que os fatos desmoralizaram, era o de que Saddam Hussein dispunha de armas de destruição em massa.
Ontem, o presidente Obama disse que o Iraque é hoje um “país independente, livre e soberano, muito melhor do que era com Saddam”. Saddam, sabem os observadores internacionais, era muito menos obscurantista do que os príncipes da Arábia Saudita.
Seu povo vivia relativamente bem, suas mulheres não eram tratadas com desrespeito e frequentavam a universidade. Algumas ocupavam cargos importantes no governo, na vida acadêmica e nos laboratórios de pesquisas. Havia tolerância religiosa, não obstante a divergência secular entre os sunitas e os xiitas, que ele conseguia administrar, a fim de assegurar a paz interna.
O vice-primeiro-ministro Tarik Aziz era católico, do rito caldeu. País de cultura islâmica, sim, mas talvez o mais aberto de todos eles a outras culturas e costumes. O país se encontrava em pleno desenvolvimento econômico, com grandes obras de infraestrutura, e mantinha excelentes relações com o Brasil, mediante a troca de petróleo por tecnologia e serviços de engenharia, quando começaram os bombardeios.
Depois disso, nos últimos nove anos, a ocupação norte-americana causou a morte de mais de 100 mil civis, 20 milsoldados iraquianos e 4.800 militares invasores, dos quais 4.500 ianques. Milhares e milhares de cidadãos iraquianos ficaram feridos, bem como soldados invasores, a maioria deles mutilados. As cidades foram arrasadas — mas se dividiram os poços de petróleo entre as empresas dos países que participaram da coligação militar invasora.
Hoje não há quem desconheça as verdadeiras razões da guerra, tanto contra o Iraque, quanto contra o Afeganistão: a necessidade do suprimento de petróleo e gás, do Oriente Médio e do Vale do Cáspio, aos Estados Unidos e à Europa Ocidental. Daí a guerra preemptiva e sem limites, declarada pelo segundo Bush, que se dizia chamado por Deus a fim de ir ao Iraque matar Saddam Hussein. Não só os mortos ficam da agressão ao Iraque. Os americanos saem do país, deixando-o sem energia elétrica suficiente, sem água potável, com 15% de desempregados e, 85% dos que trabalham estão a serviço do governo.
Toda a história dos Estados Unidos — ao lado de méritos fantásticos de seu povo — foi construída no afã da conquista e da morte. Desde a ocupação da Nova Inglaterra, não só os índios conheceram a sua fúria expansionista: na guerra contra o México, o país vencido perdeu a metade do território pátrio, o que corresponde a quase um terço do atual espaço norte-americano no continente.
Uma das desgraças da vitória americana foi a ruptura do Compromisso do Missouri, com a ampliação do escravagismo aos novos territórios, que seria — pouco mais de dez anos depois — uma das causas do grande confronto interno, entre o Sul e o Norte, a Guerra da Secessão. Lincoln, que a enfrentou, havia sido, em 1847, um dos poucos a se opor ao conflito contra o México.
A partir de então, a ânsia imperialista dos Estados Unidos não teve limites. Suas elites dirigentes e seus governantes, salvo alguns poucos homens lúcidos, moveram-se convencidos de que cabia a Washington dominar o mundo. Ainda se movem nessa fanática determinação. Agora, saem do Iraque e anunciam que deixarão também o Afeganistão, no ano que vem. Mas, ao mesmo tempo, dentro da doutrina Bush da guerra sem fim, preparam-se para nova agressão genocida contra o Irã.
Os Estados Unidos nunca conheceram a presença de invasores estrangeiros. Sua guerra da independência se fez contra tropas britânicas, que não eram invasoras, mas sim ocupantes da metrópole na colônia. As poucas incursões mexicanas na fronteira, de tão frágeis, não contam. Mas há uma força que cresce, e que não poderão derrotar: a do próprio povo norte-americano, cansado de suportar o imperialismo interno de seus banqueiros e das poucas famílias bilionárias que se nutrem da desigualdade.
O povo, mais do que tudo, se sente exaurido do tributo de sangue que, a cada geração, é obrigado a oferecer, nas guerras sem glória, contra povos inermes e quase sempre pacíficos, em nome disso ou daquilo, mas sempre provocadas pelos interesses dos saqueadores das riquezas alheias.
A situação tomou rumo novo, a partir dos anos 80, como apontou, em artigo publicado ontem por El Pais, o biólogo e filósofo catalão Federico Mayor Zaragoza, ex-ministro da Educação de seu país e, durante 12 anos, diretor-geral da Unesco. A aliança de interesses entre Reagan e Margareth Thatcher significou a capitulação do Estado diante do mercado, e se iniciou a era do verdadeiro terror, com 4 bilhões de dólares gastos a cada dia, em armamentos e outras despesas militares, e, a cada dia, 60 mil pessoas mortas de fome no mundo.
Mayor lembra a que levou o novo credo das elites, que Celso Furtado chamou de “fundamentalismo mercantil”: a melancólica erosão da ONU e sua substituição por grupos plutocráticos, como o grupo dos 7, dos 8 e, agora, sob a pressão dos emergentes, dos 20. E na pátria da nova fé nas “razões do mercado”, os Estados Unidos, há hoje 20 milhões de desempregados, 40 milhões de novos pobres e 50 milhões de pessoas sem qualquer seguro de saúde.
A Europa assediada e perplexa, com a falência de suas instituições políticas, está presa na armadilha do euro, que não tem como concorrer com o dólar nem com o yuan, porque yuan e o dólar são emitidos de acordo com a necessidade dos Estados Unidos e da China. Disso conseguiu escapar a Inglaterra, que mantém a sua moeda própria.
Os Estados Unidos, se não houver a reação, esperada, de seu povo, se preparam para manter o terror no mundo, mediante suas armas eletrônicas de alcance global, entre elas os aviões não tripulados. Seu destino, se assim ocorrer, será o do atirador solitário, que se compraz em assassinar os inocentes à distância, até que alguém consiga, com o mesmo método, abatê-lo. E não faltam os que se preparam para isso.

Obs.: Postado no blog Viomundo em 16/12/20011

Sorrir faz bem !


Torce que abre



Resolvendo o cubo Mágico


Surpresa

"A morte de Deus" e o Natal sem religião



Torna-se cada vez mais difícil associar a Natal ao nascimento de Cristo. Existe muito pouco hoje, na "maior festa da Cristandade" que conduza à conclusão de o Natal ser realmente uma festa cristã. É complicado, realmente, vender geladeiras e máquinas de lavar roupa, com as menções a Deus.

O poema de Machado de Assis em que ele pergunta se somos nós que mudamos ou se o Natal, parece anteceder a uma questão hoje corrente: a irreligiosidade da sociedade contemporânea. Émile Zola - que foi um dos primeiros críticos a elogiar os pintores impressionistas - achou de chamá-los de "realistas": eles, de fato, romperam uma tradição do cristianismo, de pintarem o ideal, como seriam as cenas religiosas. Mesmo quando retratavam alguém, não raro, um Rubens, um Delacroix ou mesmo um Ingres, trataram de fazê-lo, tendo como pano de fundo, digamos, uma cena idealizada, ou antes, um fundo nenhum. Foi o que fez Charles Dickens. Em seu famoso conto de Natal ("Christmas Carol"), tratou de pôr fantasmas na mente culpada do empresário que maltrata seu empregado, a partir da descrição de um literal pesadelo. O espectro, que arrasta correntes pela casa, e que o persegue no meio da noite, é claramente o demônio de sua consciência. Em seu poema, Machado de Assis não fala da questão do consumo que, em seu tempo, era muito precário em comparação com o que se vê hoje em dia. Mas ao detectar uma transformação ("Mudaria o Natal ou mudei eu"?), o escritor projeta a resposta que o mundo deu no futuro: o Natal, em si, já não é uma festa religiosa. Tudo indica que o que mudou foi o Natal.

Talvez a questão resida, de novo, no Papai Noel, um ícone de mentira, que sabemos ser de mentira, e que, por isso mesmo, não passa de um ícore. Na verdade, o personagem não tem nada de religioso: ele atravessa os ares com seu trenó, deixa presentes às crianças, mas não reivindica qualquer ligação com o além. Não é o Cristo da Manjedoura que o envia. Quando muito, talvez, sugira, pelas cores, a Coca-Cola: foi com o refrigerante que o Papai Noel apareceu na forma que tem hoje. O mais é a mistura: os sinos tocam em Belém "para o nosso bem", etc e tal -mas os personagens da Manjedoura parecem resolutamente secundários, coadjuvantes quase. E para os chamados "crentes" - que na atualidade constituem mais de um terço dos religiosos do país- o Presépio sequer existe. Assim também nas representações públicas. No máximo, temos a parafernália das luzes que se enrolam nas árvores, ou que despencam dos edifícios como um espetáculo feérico - mas que parece ter mais a ver com o neon da publicidade do que com as cenas consagradas pela tradição - aquela que se estreita numa gruta, com o Menino, a Virgem, os pastores vindos ao longe - anjos luminosos, uma estrela guia, e as músicas ressoando desde a estratosfera.

Quando Nietszche disse que Deus estava morto, a reação alcançou todos os setores das religiões; a grita geral atingiu vários níveis e o próprio Nietszche foi anatemizado. Sua constatação, de que as religiões perdiam seus elos com a totalidade dos homens, a começar pela sua posição no Estado, nunca foi contestada pelos fatos. E o alarido que se seguiu a sua conclusão, fez muita gente contabilizar, não só os milagre - como os de Fátima, de Lourdes e outros -, mas todo um elenco de fatos extraordinários, os quais, entretanto, nem de longe parece terem tido o condão de ressuscitar Deus. 

Evidentemente, existem os religiosos: o Papa ainda reza a Missa do Galo, os crentes em suas denominação cada vez mais numerosas (a contar pelo número de pastores "empreendedoristas"), continuam a erguer seus braços na saudação a Cristo Jesus e em seus "aleluias". Algumas igrejas católicas esplendem em cores e luzes. Além do mais, há o islamismo. Dizer que Maomé já não tem Deus para ser seu último profeta, parece desconsiderar uma religião que cresceu desmesuradamente nos últimos anos, a ponto de os islâmicos serem, no mundo atual, em números, uma comunidade muito maior que a cristã. De fato, há aspectos de guerra religiosa na resposta que muitos muçulmanos dão às bombas dos EUA e da Otan, que negam, em princípio, a morte de Deus. No entanto, pode-se objetar que, ainda assim, soa inclusive para muitos seguidores do Profeta, quase uma regressão conceber a organização das sociedades em Estados Religiosos. No próprio Irã, aliás, há quem dê como como em dias contados, a manutenção da predominância dos clérigos na condução do Estado. Lá, também Alá estaria morto. 

A questão, contudo, não parece simples; e não é. Há anos, um religioso escreveu um livro sobre a arte sacra do nosso tempo. Defendia que ela existiria, a despeito da irreligiosidade desenfreada que paradoxalmente se seguiu à Segunda Guerra. Referia-se ao catolicismo e nomeava alguns artistas contemporâneos. Olivier Messiaen que morreu não faz muito, foi, realmente, um compositor que sempre se postou como católico. Escreveu obras textualmente, "para Jesus" e guardou-se de que sua fé era inquebrantável, o que não deixou de ser reafirmado até sua morte. Georges Rouault, pintor, um pouco mais velho que Messiaen, francês como ele, fez uma obra quase que inteiramente religiosa. Françoise Gilot, ex-mulher de Picasso, autora de um livro sobre o pintor, refere-se a Rouault como um artista, eminentemente, religioso. O próprio escritor inglês Graham Greene, morto há uns vintes anos, expôs o problema religioso no âmbito das questões existenciais prioritárias do nosso tempo. Mas, pelo fato de ter colocado a questão, justamente como "um problema", não parece ter esmorecido a questão concreta de que, com ou sem "o problema", Deus estaria, de fato, morto.

Pode-se, certamente, ler de muitas maneiras a afirmação ("aforismo") de Nietzsche. A um homem convicto de sua fé - e há um sem número deles, inclusive entre grandes intelectuais e cientistas - a consideração seria ociosa, até contraditória. Teria de se a avaliar a questão com as devidas reservas: José Saramago, um decidido agnóstico, não imputou a Deus o "grande mal do mundo"? Como considerá-lo morto, se a cada homem-bomba no Iraque ou no Afeganistão, reacende-se a questão do martírio, que só se concebe na crença de uma fé inquebrantável? Realmente, é assim. Mas se torna cada vez mais difícil associar a Natal ao nascimento de Cristo. Ou melhor: existe muito pouco, na "maior festa da Cristandade" que conduza à conclusão de o Natal ser realmente uma festa cristã. 
Claro, alguém dirá que é próprio do capitalismo não estreitar comemorações na religião. Complicado, realmente, vender certos produtos com as menções a Deus. Geladeiras e máquinas de lavar roupa, com as bênçãos do Manjedoura, são difíceis de engolir. Os religiosos que o digam. 

Há as medalhinhas católicas e os dízimos protestantes, sem dúvida: todos são produtos vendidos ou comprados "em nome de Deus". Os pagadores de promessa, que se reúnem em Aparecida, aumentam sempre, talvez não na mesma proporção de tempos atrás, mas são numeroso; só que, em todas as manifestações, o que nos identifica já não é a totalidade do ser religioso socialmente, senão a especifidade de o sermos, no âmbito de nossas respectivas igrejas e templos. 

Parece ser, enfim, inelutável entre os homens, a existência de um sentimento religioso difuso. Mas já Deus é um traço subjetivo, que não se expõe na última análise das músicas, cantadas nos templos, que só têm de verdadeiramente religioso a invocação direta a Deus. Canta-se Deus em forma de rock, de música de alto consumo, mas justamente por ser também Deus um objeto de consumo. Ou seja, parece que Deus prescinde de uma música especial, de comportamentos que distingam os religiosos dos consumidores. Somos crentes para invocarmos Deus, mas não para nos alijarmos dos outros como uma característica especial. 

Durante as perseguições religiosas na Roma antiga, a marca do cristão era uma espécie de divisor de águas: não havia a "mercadoria Deus". Deve ser por Papai Noel mostrar-se tão importante, que se prescindem as ginásticas para não ofendermos ninguém, ao não invocarmos Deus justamente naquela que seria a marca da "maior festa da Cristandade"? 

A pensar, certamente.

Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

Postado no blog Carta Maior em  9/12/2011


iPad ou Netbook – Qual é melhor?     iPad x Netbook



Hoje em dia, uma pergunta tem sido cada vez mais recorrente entre pessoas ligadas em tecnologia: iPad ou netbook, qual escolher? Afinal, qual é melhor e para que atividades cada um deles é o mais adequado? Estrela atual do universo da tecnologia, o iPad, exemplar mais conhecido dos tablets (nome que se dá a esse tipo de aparelho), une computador, videogame, tocador de música e vídeo e leitor de livro digital.

Misto de smartphone e netbook, o iPad tem como um de seus maiores inconvenientes a tela sensível ao toque (touch screen), que dificulta a digitação de textos mais longos. Inicialmente bastante caro – custa cerca de R$ 2 mil –, tem tido seu preço baixado, já que outros fabricantes além da Apple vêm lançado seus similares, como o TouchPad, da HP, com o diferencial da webcam frontal para facilitar as conversações. É apropriado para quem necessita de conectividade, e também pode ser usado em palestras e aulas pois permite o manuseio de imagens. Antes de comprar, o usuário deve examinar bem o produto e confrontá-lo com as suas necessidades.

Já o netbook é um computador portátil menor e mais barato do que um notebook, que prioriza a portabilidade e o acesso a internet, com poder de processamento limitado – não é indicado para programas de imagens e banco de dados, por exemplo. Entre as principais vantagens estão boa memória, rede sem fio, pouco peso e tamanho reduzido, de uma bolsa feminina. É muito indicado, ainda, para a edição de textos, planilhas simples, pesquisas na internet, envio de e-mails e apresentações escolares. Vale frisar que os netbooks apresentam diferentes tipos de acesso à internet: conexão 3G, Wi-Fi, Bluetooth e placa de rede.

De acordo com pesquisas dos fabricantes, o público-alvo dos computadores netbook geralmente são pessoas que precisam de máquinas ultra portáteis, sem configurações extremamente robustas. O iPad também tem grande aceitação por profissionais dinâmicos e executivos, graças à sua versatilidade – como, por exemplo, a capacidade de criar arquivos para Excel e apresentações para Powerpoint.

Obs: Postado no Novidades da Informática Blog

Mousse de Chocolate





Ingredientes


1 barra de chocolate meio amargo de mais ou menos 200 gr
1 lata de leite condensado
1 lata de creme de leite sem o soro
4 ovos

8 colheres de açúcar



Preparo


Bater na batedeira as 4 claras em neve bem firme sem açúcar. Reservar.
Bater na batedeira as 4 gemas com o açúcar até ficar uma gemada bem clarinha.
Misturar, com a batedeira, o leite condensado na gemada.
Derreter o chocolate em banho maria.
Acrescentar o chocolate derretido á gemada misturando com a batedeira.
Acrescentar, misturando bem, mas suavemente, isto é, sem a batedeira, o creme de leite sem soro.
Por último misturar bem, mas suavemente, isto é, sem a batedeira, as claras em neve.

Colocar em potinhos de 100 gr com ou sem tampinhas.
Colocar na geladeira, por no mínimo 10 horas, antes de servir.
Rende, mais ou menos, 15 potinhos.

Opcional: Colocar por cima chocolate ralado ou granulado antes de levar para gelar.

Obs:  para retirar o soro do creme de leite levar a latinha ao congelador por, mais ou menos, 45 min antes de começar a receita. Ao abrir a latinha colocar uma colher no canto virando a latinha para que só o soro escorra.



"A verdade é a única maneira possível de esquecer"




Juan Gelman não é só um dos maiores poetas contemporâneos, como também um incansável militante da causa contra o esquecimento dos crimes cometidos pelas ditaduras militares que ensanguentaram o cone Sul nos anos 70 e 80. O filho e a nora foram assassinados pelas ditaduras na Argentina e no Uruguai. A neta foi roubada por militares. Em entrevista a Eduardo Febbro, ele fala sobre sua busca por verdade e justiça, defende as comissões da verdade e comenta a participação do Brasil na Operação Condor.

Juan Gelman não é só um dos maiores poetas contemporâneos, como também um incansável militante da causa contra o esquecimento dos crimes cometidos pelas ditaduras militares que ensanguentaram o cone Sul nos anos 70 e 80. Juan Gelman estremece: com sua poesia, com a memória da repressão que carrega dentro de si e com o combate contra os censores dessa memória e seu empenho por não deixar impunes os responsáveis da barbárie. 

Sua história cabe em suas próprias palavras: “Sou pai de um filho de 20 anos, sequestrado, torturado, assassinado em 1976. Sou sogro de sua esposa, sequestrada quando tinha 19 anos, levada de Buenos Aires para Montevidéu grávida de 8 meses e meio e assassinada pela ditadura militar uruguaia dois meses depois de dar à luz. Sou avô de uma neta da qual me roubaram seus primeiros 23 anos de vida”.

Já se passaram quase 30 anos desde o fim da ditadura argentina e Juan Gelman segue buscando a verdade sobre o que aconteceu com seu filho, sua nora e sua neta. Em janeiro de 2010, o coronel aposentado uruguaio Manuel Cordero Piacentini, acusado do sequestro do filho, da nora e da neta Gelman, foi extraditado pelo Brasil para a Argentina. Cordero havia escapado da justiça em 2004, mas foi capturado em 2005, em Santana do Livramento. 

Em agosto de 2010, o Supremo Tribunal Federal do Brasil autorizou sua extradição para a Argentina. O militar uruguaio operava dentro da operação Condor, essa multinacional do crime montada pelas ditaduras da Argentina, Uruguai, Brasil, Paraguai e Chile para perseguir opositores políticos. Cordero é acusado de desempenhar um papel central no centro de detenção clandestino conhecido como Automotores Orletti.

O ex-militar uruguaio está implicado em dez desaparecimentos, entre eles, os de Marcelo Gelman, filho de Gelman, e sua esposa, María Claudia García, que estava grávida de oito meses quando foi presa. Sem o empenho do poeta, o rosto dos criminosos nunca teria sido conhecido. 

Gelman moveu céu e terra até averiguar que a esposa de seu filho tinha sido transportada a Montevidéu, onde deu luz a uma menina antes de desaparecer. A menina foi adotada por um militar uruguaio e durante muitos anos nada se soube dela. Juan Gelman a recuperou em 2000: “No dia 14 de janeiro de 1977 foi deixada em uma cesta na porta de uma família que pensei serem meus pais até que fiquei sabendo que era filha de desaparecidos”, relatou a neta de Gelman, que hoje se chama María Macarena Gelman García. Macarena nasceu na prisão clandestina do Serviço de Informação de Defesa de Montevidéu, no dia 1° de novembro de 1976.

A obra poética de Juan Gelman é extensa e de uma originalidade e profundidade que lhe valeram numerosas distinções, entre elas o prêmio mais importante em língua espanhola, o Cervantes, obtido em 2007. Gelman, que nasceu na Argentina em 1933 e atualmente reside no México, é um poeta excepcional. Seu primeiro livro, Violino e outras questões, marcou uma fronteira na poesia escrita em espanhol. Sua obra está marcada pela busca de uma linguagem transcendente onde se combinam realismo crítico e intimismo, uma trama verbal deliciosa na qual está presente o compromisso social e político. 

Juan Gelman é a busca: buscar, sempre buscar, entre as palavras, na realidade, buscar justiça, buscar que nunca se apague a linguagem da memória, que é justiça, que é restauração.

Introduzo duas perguntas ditadas pela atualidade: o descobrimento no Brasil de documentos que constatam que você estava sob vigilância pela Operação Condor. Qual é sua análise, tantos anos depois, dessas descobertas?

Não há muito o que dizer. A participação do Brasil na Operação Condor é notória. No Rio desapareceram vários dirigentes montoneros em 1979, por exemplo.

O Brasil acaba de criar sua Comissão da Verdade. No sul da América Latina, é um dos últimos países a aceitar as investigações. Na sua opinião, qual o valor e utilidade desse tipo de comissão?

Elas são úteis para averiguar o que aconteceu, coisa que nunca se consegue por completo por causa do silêncio dos repressores e o silenciamento dos arquivos militares que não são abertos. Mas se não servem para dar o passo seguinte, ou seja, fazer justiça, sua utilidade é relativa, ainda que nada desdenhável.

Você acredita que, tantos anos depois dos fatos e com uma democracia já consolidada, esse tipo de comissões da verdade ainda conservam seu sentido?

Absolutamente. A ignorância do ocorrido impede a conquista de uma consciência cívica sadia.


Você segue permanentemente comprometido com a busca da verdade. Há algumas semanas, voltou a se manifestar sobre a causa do desaparecimento de bebês. Essa busca tem sido uma espécie de arqueologia: tudo é clandestino, oculto, tapado por cumplicidades. Como é essa experiência que requer uma vontade inquebrantável e que expõe permanentemente a dor?

Por um lado, é uma experiência dolorosa. Por outro, a busca do destino dos seres queridos o retira, interiormente, do papel de vítima. É muito difícil para muitos, cabe dizer, conseguir algo nesta investigação, mas as pessoas se empenham nela. Outros são vencidos pela impotência.

O que a verdade e o julgamento dos culpados trazem?

Já não estamos na época de Péricles, na qual os cidadãos deviam esquecer por decreto os crimes de uma ditadura.

Você sente que o Estado devolve algo às vítimas ou a seus familiares quando cumpre com sua missão de fazer justiça ou de assumir plenamente as investigações?

Assumir as investigações e fazer justiça são obrigações do Estado. Quando ela as cumpre, faz o que os familiares das vítimas não estão em condições de fazer e abre a eles a possibilidade de esvaziar alguns rincões de sua dor. Em algumas ocasiões permite o encontro dos restos do “desaparecido”, dar-lhe uma sepultura, ter um lugar de memória e homenagem, recuperar sua história.

Você disse no discurso de entrega do Prêmio Cervantes que “a nossa verdade é a verdade do sofrimento”. No entanto, neste mesmo discurso, você destacou que o único tratamento é a verdade e a justiça. Chega-se, assim, ao esquecimento ou ao apaziguamento?

É a única maneira possível de “esquecer”.

Volto a esse discurso, onde você evoca aqueles que, ao contrário, dizem que não se deve voltar ao passado e “vilipendiam este esforço de memória”. O que você diz hoje a esses militantes do esquecimento?

O que disse a eles nesta ocasião: alguns devem estar muito interessados em que não haja memória dos crimes e das ofensas à democracia perpetradas pela ditadura militar. Na Argentina não muitos recordam a participação em, ou a cumplicidade com, ou os benefícios recebidos de, que caracterizam certos partidos políticos.

Você disse em uma entrevista: “Sempre estamos escrevendo para nos inteirarmos do que queremos dizer”. Essa é sua experiência com a poesia?

Eu me refiro aí ao que me leva a escrever poesia, algo que ignoro e que muitas vezes tampouco descubro com o escrito.

Muitos acreditam hoje que a hipermodernidade matou a poesia, ou, em todo caso, nossa capacidade para lê-la. Mas lendo seus poemas, essa afirmação se desfaz. Por acaso a poesia é algo inato no ser humano, algo assim como o amor que precisa ser despertado e explorado?

Pelo que se sabe há 50 séculos de poesia atrás de nós. Seu tempo atravessou catástrofes naturais, desastres provocados pelo homem, regimes políticos e sociais diferentes. E ela segue aí.

Você escreveu: “A poesia é resistência simplesmente por existir”. Em que forma a poesia resiste ou engrandece nossa capacidade de resistência?

Hoje, mais do que nunca, é resistência contra a vil mercantilização desta época em que querem recortar, uniformizar nosso espírito, para convertê-lo em terra abandonada para qualquer autoritarismo. A poesia não muda o sistema social imperante, ela enriquece aqueles que, algum dia, haverão de fazê-lo.

Você recorre muitas vezes a neologismos. Que função eles têm para você: ir mais além do sentido, buscar outro, ou só jogar com o som?

São tentativas de cruzar os limites da linguagem, nunca jogos.

Você escreveu: “Escuto algo no ato de escrever”. É muito bonito, mas fica para mim uma pergunta: “escuta-se mais do que se plasma na escrita”?

Muitíssimo mais.

Tradução: Katarina Peixoto

Publicado no blog Carta Maior em 13/12/2011

Rafael Patto: Para que a mentira não se torne verdade




Para que uma mentida repetida várias vezes não se consagre como verdade
Em 11 de dezembro de 2009, morria, aos 83 anos, no Rio de Janeiro, o ex-ministro da Saúde, Jamil Haddad.   Deputado Estadual, Senador e Deputado Federal, foi Prefeito do Rio de Janeiro por indicação do então governador da Guanabara, Leonel Brizola.
Militante do MDB durante o regime ditatorial, viria a ser um dos fundadores do PSB.   Em 1992, a convite do ex-presidente Itamar Franco, assumiu o Ministério da Saúde. Ali, concretizou o que provavelmente seja sua obra de maior alcance social: a instituição dos medicamentos genéricos.
Por meio do Decreto-Lei n° 793/93, foi promovida uma verdadeira transformação na dinâmica da comercialização de medicamentos no Brasil.   Jamil Haddad é provavelmente uma das maiores vítimas da falta de honestidade e do mau-caratismo de José Serra, que, despudoradamente, se apropriou dos méritos de uma realização que não lhe pertence.
Usurpação grosseira de alguém que não dispõe de meios próprios para inscrever com dignidade seu nome na história política do Brasil. Acrescente-se que essa mentira que já soa como verdade, dada a falta de contestação, só se assegura graças à conivência da mídia brasileira que se acumplicia com a desfaçatez de José Serra, e ainda silenciou, até o dia de sua morte, as tentativas de seu verdadeiro autor de desmascarar a mentira do tucano.
O Decreto-Lei 793/93 foi revogado por FHC e, posteriormente, foi praticamente plagiado sob a forma da Lei n° 9.787/99. Com o diferencial de que, enquanto o Decreto-Lei proposto pelo ministro Haddad e assinado pelo ex-presidente Itamar franco impunha a obrigatoriedade da utilização da denominação genérica nos editais de licitação pública de compra de medicamentos pelo SUS, a Lei de Serra/FHC se referia meramente a uma preferência dos medicamentos genéricos em relação aos de marca produzidos pelos grandes laboratórios comerciais.
É o que diz o § 2°, Art. 3°, da Lei n° 9.787, de 10 de fevereiro de 1999 (FHC/Serra)
“Nas aquisições de medicamentos sob qualquer modalidade de compra, e as prescrições médicas e odontológicas de medicamentos, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, o medicamento genéricoterá preferência sobre os demais em condições de igualdade de preço”.
Compare com o texto do Decreto-Lei n° 793, de 05 de abril de 1993 (Itamar/Haddad)
Art. 35. Somente será aviada a receita médica ou odontológica que: I – contiver a denominação genérica do medicamento prescrito; §2° É obrigatória a utilização das denominações genéricas (Denominação Comum Brasileira) em todas as prescrições de profissionais autorizados, nos dos serviços públicos, conveniados e contratados, no âmbito do Sistema Único de Saúde.
Art. 40. Parágrafo único. Nas compras e licitações públicas de medicamentos realizadas pela Administração Pública é obrigatória a utilização da denominação genérica nos editais, propostas licitatórias, contratos e notas fiscais.
Além disso, a Lei de Serra/FHC acresce um parágrafo ao Artigo n° 57, da Lei n° 6360/76, que promove uma inversão em relação ao decreto-lei de Haddad/Itamar no que se refere ao destaque, nas embalagens e caixas dos medicamentos, dos nomes comerciais e da denominação genérica.
Segundo o dispositivo de 1993, o nome de marca não poderia ocupar espaço superior a 1/3 do espaço ocupado pela impressão da denominação genérica. Já a lei de 1999 estabelece que é a fonte e o destaque da denominação genérica que não poderão ser inferiores à metade do destaque reservado ao nome comercial do medicamento.
Ou seja, enquanto a legislação original dos medicamentos genéricos de autoria de Jamil Haddad assegurava a primazia à denominação genérica, a lei adulterada de José Serra e FHC, consoante os interesses comerciais dos laboratórios, simplesmente reservava uma reduzida e discreta cota mínima de espaço para a impressão da denominação genérica nas caixas dos medicamentos, a fim de que o apelo comercial dos nomes de marca fosse comprometido.
Veja o que diz um e outro dispositivo:  
Decreto-Lei n° 793, de 05 de abril de 1993 (Itamar/Haddad)
Art.1°. Todo estabelecimento de dispensação de medicamentos deverá dispor, em local visível e de fácil acesso, a lista de medicamentos correspondentes às denominações genéricas, e os seus correspondentes de nome e/ou marca.
Art. 4°. Constarão, ainda, obrigatoriamente, das embalagens, rótulos, bulas prospectos, textos, ou qualquer outro tipo de material de divulgação e informação médica, referentes a medicamentos, drogas e insumos farmacêuticos, a terminologia da Denominação Comum Brasileira (DCB) em destaque com relação ao nome e/ou marca, observadas ainda as seguintes exigências: I – O tamanho das letras do nome e/ou marca não poderá exceder a 1/3 (um terço) do tamanho das letras da denominação genérica; II – O tipo de letra da impressão do nome e/ou marca será idêntico ao da denominação genérica; III – O nome e/ou marca deverão estar situados no mesmo campo de impressão, com o mesmo fundo gráfico e abaixo da denominação genérica do produto; IV – As letras deverão guardar entre si as devidas proporções de distâncias indispensáveis à sua fácil leitura e destaque.
Art. 18. Parágrafo único. É obrigatório o uso da denominação genérica nos registros e autorizações relativos à produção, fracionamento, comercialização e importação de medicamentos.  
Lei n° 9.787, de 10 de fevereiro de 1999 (FHC/Serra)
Art. 57. Parágrafo único. Os medicamentos que ostentam nome comercial ou marca ostentarão também, obrigatoriamente com o mesmo destaque e de forma legível, nas peças referidas no caput deste artigo, nas embalagens e materiais promocionais, a Denominação Comum Brasileira ou, na sua falta, a Denominação Comum Internacional em letras e caracteres cujo tamanho não será inferior a um meio do tamanho das letras e caracteres do nome comercial ou marca.
Mais um embuste de José Serra: o genérico que ele vive proclamando como sendo de sua autoria não passa de um afago nos interesses da indústria farmoquímica.
Publicado no blog Vi o mundo por Luiz Carlos Azenha em 12/12/2011