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O “Fervedouro” de água borbulhante






Um grande poço de águas cristalinas, formado por uma nascente. Ao centro, um olho jorra uma mistura de água e areia em grande quantidade e forte pressão. A profundidade não é conhecida, mas nada ali afunda devido a chamada pressão hidrostática. O lençol freático tem como barreira uma rocha impermeável e, quando encontra uma rota de fuga cospe a água como um vulcão. A água misturada com a arreia tem alta densidade e que, somado ao fluxo intenso, impedem que qualquer forasteiro, seja ele gordo ou magro, alto ou baixo, de romper a barreira invisível. Invariavelmente, quem tenta é empurrado para a superfície.


O fenômeno natural conhecido como ressurgência, no estado do Tocantins foi apelidado de Fervedouro. A ressurgência mais conhecida e visitada está a 45 quilômetros de Mateiros, uma pequena cidade no coração do Parque Estadual do Jalapão. A água é morna, mas está longe de atingir altas temperaturas.

Mas os moradores da região estão certo quanto ao apelido. De acordo com o dicionário Aurélio, Fervedouro significa “movimento semelhante ao de um líquido a ferver; agitação”.

Natureza delicada, os fervedouros tem limite de visitantes

E a primeira impressão é exatamente essa: um caldeirão de água borbulhante, rodeado de bananeiras, buritis e mata de galeria.


Peixe Solto: Um dos melhores “Programas de Índio” que já vivi. Com amigas, com o marido ou a trabalho, o Fervedouro vale cada minuto da longa viagem.

A melhor época, apesar do calor sufocante e da poeira, é entre maio e setembro. Você pode conhecer as ressurgências e outros atrativos do Jalapão a partir de Palmas, capital do Tocantins. 

Para quem curte um “off road”, não tem lugar melhor. Mas é necessário planejar a viagem, a região ainda tem pouca estrutura para receber os aventureiros.

Postado no blog Peixe Solto em 09/10/2012
Imagens  2, 3 e 4 de cima para baixo inseridas por mim


Capacidade de se encantar


 Martha Medeiros

 
                Muita gente diz que adora viajar, mas depois que volta só recorda das coisas que deram errado. Sendo viajar um convite ao imprevisto, lógico que algumas coisas darão errado,  faz parte do pacote. Desde coisas ingratas, como a perda de uma conexão ou ter a mala extraviada, até xaropices menos relevantes, como ficar na última fila da plateia do musical ou um garçom mal-humorado não entender o seu pedido. Ainda assim, abra bem os olhos e veja onde você está: em Fernando de Noronha, em Paris, em Honolulu, em Mykonos. Poderia ser pior, não poderia?
                Outro dia uma amiga que já deu a volta ao mundo uma dezena de vezes comentou que lamentava ver alguns viajantes tão blasés diante de situações que costumam maravilhar a  todos. São os que fazem um safári na Namíbia e estão mais preocupados com os mosquitos do que em admirar a paisagem, ou que estão à beira do mar numa praia da Tailândia e não se conformam de ter esquecido no hotel a nécessaire com os medicamentos, ou que não saboreiam um prato espetacular porque estão ocupados calculando quanto terão que deixar de gorjeta.
                Não saboreiam nada, aliás. Estão diante das geleiras da Patagônia e não refletem sobre a imponência da natureza, estão sentados num café em Milão e não percebem a elegância dos transeuntes, entram numa gôndola em Veneza e passam o trajeto brigando contra a máquina fotográfica que emperrou, visitam Ouro Preto e não se emocionam com o tesouro da arquitetura barroca – mas se queixam das ladeiras, claro.
                Vão à Provence e torcem o nariz para o cheiro dos queijos, olham para o céu estrelado do Atacama  sofrendo com o excesso de silêncio,  vão para Trancoso e reclamam de não ter onde usar salto alto, vão para a India sem informação alguma e aí estranham o gosto esquisito daquele hamburger: ué, não é carne de vaca, bem? Aliás, viajar sem estar minimamente informado sobre o destino escolhido é bem parecido com não ir.     
                Estão assistindo a um show de música no Central Park, mas não tiram o olho do Ipad.  Vão ao Rio, mas têm medo de ir à Lapa. Estão em Buenos Aires, mas nem pensar em prestigiar o tango – “programa de velho!” São os que olham tudo de cima, julgando, depreciando, como se o fato de se entregar ao local visitado fosse uma espécie de servilismo – típico daqueles que têm vergonha de serem turistas.
                É muito bacana passar um longo tempo numa cidade estrangeira e adquirir hábitos comuns aos nativos para se sentir mais próximo da cultura local, mas quem pode fazer essas imersões com frequência? Na maior parte das vezes, somos turistas mesmo: estamos com um pé lá e outro cá. Então, estando lá, que nos rendamos ao inesperado, ao sublime, ao belo. Nada adianta levar o corpo pra passear se a alma não sai de casa.