Mostrando postagens com marcador neoliberalismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador neoliberalismo. Mostrar todas as postagens

Petrobrax ...




AÉCIO NEVES É O ALTER EGO NEOLIBERAL DE FHC - A PETROBRAX

Davis Sena Filho

A turma da Petrobrax (os oldboys neoliberais de FHC) não tem jeito: odeia e despreza o Brasil. Esses neoliberais sentem, porém, mesmo sem tê-las, urticárias na pele só de pensar na autonomia e independência que a Petrobras poderá proporcionar ao povo brasileiro e ao desenvolvimento econômico do País.

O ódio e o rancor dessa gente são incomensuráveis, ao tempo que patético, ainda mais que o Pré-Sal começou a produzir e tem obtido recordes, como o acontecido em março, em que a camada do Pré-Sal atingiu a marca de 387 mil barris de petróleo por dia, além de registrar recordes nas produções de gás natural e fertilizantes.

As lideranças do PSDB, do DEM e do PPS — pautadas pela imprensa direitista de negócios privados — botaram as garras de fora e se regozijam por vislumbrarem a oportunidade de criarem a CPI da Petrobras, empresa símbolo do Brasil e da luta pela nossa emancipação como Nação desde os tempos do presidente trabalhista Getúlio Vargas.

O estadista criador também da Vale do Rio Doce e da CSN, que, juntamente com a Petrobras, formaram a base da nossa industrialização e impulsionaram o Brasil definitivamente para inseri-lo no capitalismo moderno — o capitalismo de massa tão propalado e admirado pela burguesia tacanha, provinciana e desprovida de qualquer estratégia de desenvolvimento, que sempre se beneficiou das obras dos trabalhistas das quais as "elites" quando no poder se tornaram ainda mais ricas, pois se locupletaram, porque, sovinas e descompromissadas com o País, governam para poucos em detrimento da grande maioria.

Como tudo mundo sabe, o (des)governo entreguista e subserviente de FHC — o Neoliberal I — tratou de vender o País e, consequentemente, impedir o acesso da população brasileira às conquistas sociais, tal qual já o fizeram inúmeros presidentes conservadores, testas de ferro das "elites", que edificaram um País rico e demograficamente ocupado por uma sociedade anti solidária através dos séculos.

Esses são o "projeto" de País e "programa" de Governo da direita brasileira, conforme já divulgado pelo candidato tucano à Presidência, senador Aécio Neves, que avisou aos banqueiros, aos grandes empresários de inúmeros setores e à direita nacional e internacional que está "preparado", se eleito, para "para {tomar} decisões impopulares".

E completou sua desfaçatez de caráter ameaçador: "Se o preço [das medidas] for ficar quatro anos com [índices de] impopularidade, pagarei esse preço. Que venha outro [presidente] depois de mim".

Aécio Neves deixou claro que se chegar ao poder vai retroceder e tentar implantar no País mais poderoso da América Latina, vítima de um golpe civil-militar vampiresco em 1964, os princípios do neoliberalismo, ou seja, a exclusão do estado no processo de desenvolvimento econômico do País.

O senador tucano é indubitavelmente o alter ego de FHC — o Neoliberal I. Ele prometeu a seus pares empresários dar total liberdade a tubarões e tigres, adjetivos dos fundamentalistas do mercado, inclusive permitir que haja novamente a alienação do patrimônio público brasileiro, que os tucanos do PSDB jamais construíram, porque o que foi construído e consolidado neste País foi por obra e graça dos trabalhistas. Ponto!

Essa gente carrega consigo o DNA da dependência porque o social realmente nunca o foi e nunca o será a preocupação da direita e muito menos dos tucanos emplumados, que vivem em um mundo paralelo, realidade esta que o povo brasileiro não tem acesso e muito menos condições plausíveis para compreender o que não é justo e sensato.

A verdade é que a Petrobras vai ser sempre o alvo dos conservadores, principalmente quando eles estiverem fora do comando do poder central. Sempre agiram assim no decorrer da história e, ao perceberem os números, os índices e os lucros gigantescos da multinacional brasileira sob a administração do Governo trabalhista, tratam rapidamente de buscar subterfúgios como a criação de uma CPI, que, evidentemente, vai ser usada como ponta de lança da direita brasileira até o dia das eleições, em outubro.

Obviamente que o PT, o Governo trabalhista e sua base de sustentação não vão permitir que haja a instalação de uma CPI, cujo objetivo é sangrar a presidenta Dilma Rousseff, a candidata que lidera as pesquisas. Mesmo as do Ibope e da Datafolha, que são elaboradas com perguntas mequetrefes e rastaqueras ao eleitor e que têm a finalidade de negativizar e desconstruir o Governo Federal, para, já no fim do questionário, perguntar realmente o que interessa à sociedade: saber se o Governo é considerado bom ou ruim. Básico.

A intenção é deixar o Governo em uma situação de refém dos interesses de grupos privados, que depois disseminam as pesquisas ao público conforme as conveniências e interesses políticos dos empresários de mídias que, inquestionavelmente, são parceiros do PSDB e de quaisquer partidos ou candidatos de ideologia conservadora que possam derrotar o candidato das forças progressivas deste País.

Contudo, o tucano Aécio Neves ainda insiste em prometer o que já foi feito pelo presidente neoliberal, FHC. Aquele mesmo que foi ao FMI três vezes, humilhado, de joelhos e com o pires nas mãos, porque quebrou o Brasil três vezes, além de ser o "pai" do apagão, de 14 meses, bem como do emblemático naufrágio da P-36, que, simbolicamente, refletiu a irresponsabilidade e a falta de zelo de um governo relapso com a causa pública.

O governo neoliberal, de caráter entreguista, colonizado e com vocação para o erro, como se fosse um delinqüente contumaz, que não se importa, de forma alguma, com as conseqüências causadas ao País e ao seu povo, que ficaram desprovidos de suas empresas estatais, estratégicas para o desenvolvimento do Brasil, a exemplo da Telebras, uma holding de 12 empresas telefônicas, que tiveram suas ações vendidas a preço de banana, sendo que hoje temos uma telefonia das mais caras do mundo, cujas remessas de lucros bilionárias ajudam alguns países europeus a saírem do buraco em que se meteram desde o fim de 2008.

A Petrobras está a experimentar um dos melhores momentos desde sua fundação, em 3 de outubro de 1953. Tem batido recordes seguidos. Suas refinarias produziram em março quatro milhões de barris de diesel S-10, 20 milhões de barris S-500 e 14,8 milhões de barris de gasolina, além de ultrapassar a barreira dos 100 milhões de metros cúbicos por dia de gás natural.

E o Aécio, político porta-voz dos interesses das classes ricas e do empresariado, vem com essa de dizer que está pronto para cometer desatinos "impopulares", que talvez sejam esses:

1) redução da oferta de créditos para a casa própria e para as pequenas e médias empresas; 2) Cortes nos empréstimos à classe média (o Bolsa Coxinha); 3) aumento das taxas de juros; congelamento de salários e pensões; 4) flexibilização da CLT; 4) aumento da tarifa da energia elétrica; 5) congelamento da tabela de imposto de renda pessoa física; 6) aumento do preço dos combustíveis; 7) extinção do Bolsa Família e de outros programas de fomento e de apelo social, a exemplo do Luz para Todos, bem como interferir de forma a prejudicar programas como 8) o Enem, o Pronatec e o Minha Casa, Minha Vida, dentre muitos outros.

A vitória eleitoral dos tucanos do PSDB significa retrocesso social, político e econômico, além de representar um abalo psicológico, que vai influenciar negativamente na autoestima do povo brasileiro. Um povo que nos últimos 12 anos teve acesso a incontáveis benefícios, entre eles a ascensão social, no que tange a consumir, a estudar, a trabalhar e a comprar bens duráveis, como casas, apartamentos, automóveis, elétricos e eletrônicos, assim como a frequentar bares, restaurantes, casas de shows, cinemas e os saguões dos aeroportos.

Porque se tem uma coisa que essa direita carcomida pelo tempo e perversa em sua natureza sabe fazer é trair e derrotar seu próprio povo e País, para que os grupos nacionais e internacionais que ela representa possam continuar a manter seus privilégios, bem como fortalecer o controle do estado e o domínio sobre os trabalhadores. Quem duvida, leia sobre a influência dos norte-americanos no golpe de 1964. Pura traição!

A Petrobras, mais do que qualquer grande estatal brasileira, sempre foi o alvo preferencial de partidos políticos de direita e dos empresários que os financiam e os evidenciam, a exemplo das Organizações(?) Globo, inimiga histórica da poderosa estatal, que no governo do ex-presidente FHC — o Neoliberal I — foi relegada a um segundo plano.

Os investimentos destinados à grande empresa nacional diminuíram muito, bem como a proposital falta de manutenção de seu parque industrial visava desqualificá-la como empresa para ficar mais fácil vendê-la às grandes corporações internacionais de petróleo, como ficou evidenciado no episódio do naufrágio, em março de 2001, da P-36, a maior plataforma de produção de petróleo do mundo, que custou na época aos cofres públicos US$ 350 milhões.

A verdade é que a intenção era fatiá-la ou desmembrá-la para ser vendida com o nome de Petrobrax. Alguns "gênios" fundamentalistas do mercado, pois fanáticos, consideravam o "Bras" de Brasil pouco vendável, bem como até hoje são possuidores de um sentimento de repulsa a tudo aquilo que possa lembrar o nome do Brasil e, consequentemente, sua independência perante os países imperialistas, que sempre defenderam os interesses da burguesia nativa de caráter entreguista.

Uma "elite" que atua e age em diversos segmentos, além de influenciar, por intermédio de seus canais, a classe média historicamente lacerdista e portadora de um gigantesco complexo de vira-lata, que a leva a ser submissa e comportada o suficiente para não questionar o domínio daqueles que ela considera as cortes estrangeiras dominantes e superiores, a serem seguidas e imitadas.

A classe que trata o sistema que a explora como normal, como se fosse algo da providência ou de ordem natural. Aquela que tem ódio e sente intolerância, porque despreza os povos pobres, os países subdesenvolvidos, ao tempo que trata as sociedades ricas e poderosas como suas soberanas, a quem essa classe acha que deve obediência, a seguir seus costumes e valores, pois serviçal, admiradora daqueles que se resignam a um papel secundário, pois de almas subalternas e mentes colonizadas. A classe de coração de espantalho.

A refinaria de Pasadena é matéria requentada. Sobre essa questão, tal qual à CPI da Petrobras, até os recém-nascidos e os mortos sabem que essas maledicências são efêmeras e que, sobretudo, têm por propósito as eleições de outubro. Fazer o que, não é? Quando o candidato conservador, Aécio Neves, abre a boca não diz nada com coisa nenhuma se percebe, sem sombra de dúvida, que a direita não tem programa de governo e muito menos projeto de País.

Por isto e por causa disto, a burguesia precisa (como os seres vivos necessitam de ar para viver) de subterfúgios, exemplificados em CPI, denúncias vazias, declarações em off, vazamentos em doses homeopáticas para que a imprensa de mercado faça sua novelinha maledicente, golpista e de péssimo enredo, no que concerne à divulgação de processos, investigações e inquéritos sigilosos, materiais esses cujas origens remontam a indivíduos ligados à Polícia Federal, à Receita Federal, ao Ministério Público, ao Supremo, a fim de combater os governantes trabalhistas, que mudaram o Brasil, melhoram para melhor as condições de vida do povo brasileiro, bem como são favoritos para vencer as eleições presidenciais deste ano.

O Brasil que o Aécio Neves diz querer em jantar com os tubarões ou tigres da economia não existe mais. Alguém, do PSDB ou do campo da direita, deveria avisá-lo. Aécio é jovem, mas sua cabeça é portadora da senilidade dos reacionários e dos egoístas. O Brasil desses burgueses não tem volta, porque os benefícios e conquistas sociais modificaram para sempre o discernimento dos brasileiros sobre os fatos e as realidades, bem como os inspiraram a querer mais, como deixaram claro e isentas de dúvidas as manifestações de junho passado.

A Petrobras é nossa! E a CSN, a Telebras e a Vale do Rio Doce, obras generosas do trabalhista e nacionalista Getúlio Vargas, deveriam voltar para as mãos do povo brasileiro. O PSDB e seus aliados do DEM e do PPS não têm compromisso com o Brasil. Aécio Neves significa retrocesso econômico e atraso social! Ele representa o que todo mundo sabe e já viu: o alter ego neoliberal de FHC — a PetrobraX.


Postado no site Brasil247 em 08/04/2014


Uma história do homem, do neandertal ao neoliberal


Arando a terra, pintura de Sennedjem. Tumba egípcia, c. 1200 a.C., Tebas
A humanidade de hoje é predominantemente descendente dos grupos que inovaram a agricultura

Uma análise da evolução do planeta observa que as decisões políticas em benefício de uma elite não são inexoráveis. Sempre há, como agora, possibilidades que levem em conta a vida das maiorias.


Renato Pompeu

Até hoje, apesar de a globalização e de o entrelaçamento de todos os povos do mundo numa interdependência recíproca já datarem de décadas, a história do mundo, ou história geral, na maioria das escolas e universidades e na quase totalidade dos livros, é narrada e interpretada como se a Europa Ocidental tivesse sido sempre o centro mais importante do mundo, com destaque para Grécia, Roma, a Idade Média e a Revolução Industrial. 

Só nos últimos poucos anos é que têm surgido no Ocidente livros de história de um ponto de vista mais global, que mostram notadamente que, diante de impérios como a China, a Índia e a Pérsia e da expansão do Islã, a Europa Ocidental foi na maior parte dos séculos e milênios uma península isolada e atrasada.

Agora que a Ásia está ressurgindo como protagonista mundial, podemos ver mais claramente que o período de ascendência do Ocidente sobre o mundo durou pouco mais de um século, desde os fins do século 18 até recentemente. Fora desse período, a China e a Índia foram sempre muito mais ricas e muito mais poderosas. 

Até mesmo os melhores pensadores europeus, como Hegel, Marx e Engels, foram dominados pelo eurocentrismo, embora procurassem se informar sobre outros povos.

Essa tradição ocidentocêntrica continuou entre os historiadores marxistas – por exemplo, o famoso livro do marxista americano Leo Huberman, História da Riqueza do Homem, mal menciona regiões­ não ocidentais.

Agora, porém, surgiu na Inglaterra e nos Estados Unidos a primeira história globalizada do mundo escrita por um marxista. Trata-se de A Marxist History of the World: From Neanderthals to Neoliberals, do arqueólogo e historiador inglês Neil Faulkner, autor anteriormente de estudos sobre sítios arqueológicos britânicos, as Olimpíadas gregas e a Roma antiga. 

A obra foi editada pela Pluto Press e o título pode ser traduzido por “Uma história marxista do mundo, dos neandertais aos neoliberais”, numa manifestação do típico humor sarcástico inglês.

Questão de escolha

Como obra marxista, a de Faulkner restabelece a visão de processo dinâmico cultivada mais por Marx que por Engels e pelos marxistas tradicionais. 

Não defende teses de que os desenvolvimentos históricos estiveram sempre predeterminados por estruturas econômicas que aprisionam o destino humano em rumos inexoráveis. 

Ele tenta mostrar, a cada passo, como as estruturas econômicas permitiam uma série de saídas e de evoluções, e não apenas as que efetivamente ocorreram, procura estabelecer que, em cada situação histórica, os seres humanos sempre podem escolher que saída adotar.

Como obra de história, a de Faulkner se destaca por não parar no tempo. 

A maior parte dos livros contemporâneos de história do mundo se detém num ponto do passado, em geral a Segunda Guerra Mundial ou, na melhor das hipóteses, o colapso dos países socialistas.

Mas o autor chega até os dias de hoje, e isso é particularmente importante porque ele considera a atual crise estrutural do capitalismo mundial o maior desafio que a humanidade teve de enfrentar em todos os tempos.

Faulkner reforça sua tese de que nosso destino não está traçado inexoravelmente pelas estruturas econômicas vigentes, pois dentro dessas estruturas há forças que permitem diferentes saídas, das que beneficiem uma elite da população às que beneficiem a maioria.

Como bom marxista não ortodoxo, defende a tese de que nada está predeterminado, tudo depende da luta, tudo depende do empenho de cada um e de todos em mudar o seu destino.

Não era obrigatório, por exemplo, que os antigos primatas hominídeos se transformassem em seres humanos socialmente cooperativos, nem era inevitável que no Paleolítico Superior houvesse uma revolução tecnológica no uso de instrumentos de pedra. Tudo isso foi objeto de escolhas conscientes.

Já no Neolítico, havia pelo menos duas saídas para alimentar a crescente população de sociedades comunísticas: ou a guerra global por recursos escassos, ou a intensificação da agricultura.

Na verdade, conforme a região, as duas situações ocorreram, sendo a humanidade de hoje predominantemente descendente dos grupos que inovaram na agricultura, na proteção militar, no controle da irrigação, na coleta de impostos, no controle da distribuição da produção, enquanto a maioria continuava no cultivo. 

Tudo isso decorreu da criatividade humana, do mesmo modo que a saída da crise atual vai depender da criatividade de bilhões de pessoas.

No Egito e no Grande Zimbábue (na África), na Suméria (na Ásia) e no México (na América do Norte), a intensificação da agricultura permitiu que houvesse um superávit alimentar que sustentava enormes populações de governantes, soldados e sacerdotes, que não precisavam produzir a própria comida. 

Que isso foi objeto de escolhas conscientes, e não de reflexos sociais inexoráveis a partir das condições econômicas, fica provado pelas enormes diferenças estruturais, sociais e culturais entre as sociedades egípcia, zimbabuana, suméria e mexicana. A única coisa em comum são seus artefatos de cobre.

Quando se adotam instrumentos de bronze, se sucedem, principalmente na Mesopotâmia e no Egito, impérios que nascem, ascendem, chegam ao auge, decaem e desaparecem, sempre em meio a crises e guerras, num processo que se replica várias vezes.

Aqui Faulkner, que está longe de ser um historiador “objetivo” e sempre toma partido da maioria, se insurge como um profeta bíblico contra as vitórias das minorias, que segundo ele transformaram a Idade do Bronze numa sucessão de desperdício de recursos e de violências e guerras intermináveis.

Ele vai notar, mais adiante, que hoje estamos diante de escolhas semelhantes.

O próximo grande passo da história não foi dado no Egito, no Grande Zimbábue, na Suméria ou no México, mas em pontos periféricos (na época), como a Pérsia, onde se passou a adotar instrumentos agrícolas e de artesanato e armas de ferro, não mais de bronze.

O excedente de alimentos aumentou enormemente em relação à Idade do Bronze: a Idade do Ferro se consolidou mais ou menos 1.300 anos antes de Cristo.

Surgem os impérios Indiano e Chinês. Aqui Faulkner vai observar que, com a instauração da propriedade privada, as mulheres passaram a perder seu papel central e crucial na sociedade para ficar em posições subordinadas.

Em outro capítulo bem interessante, demonstrará que o advento do judaísmo, do cristianismo e do islamismo foi em grande parte produzido pelos mitos vigentes entre as camadas oprimidas e pelas suas aspirações.

A globalização triunfa de novo no livro do arqueólogo com a descrição dos esplendores dos impérios Bizantino, Islâmico, Indiano e Chinês, enquanto a Europa sofria a invasão dos bárbaros e permanecia em isolamento atrasado até o início das grandes navegações e até começar a se consolidar o capitalismo, a partir da exploração das colônias. Embora o autor não deixe de mencionar as civilizações da África, da Mesoamérica e dos Andes, aqui já estamos caminhando em terrenos mais familiares.

Mas Faulkner inova mais uma vez no final: ele chega até 2012.

Diz que a crise financeira de 2008 representa a passagem de “uma bolha para um buraco negro” e que, quatro anos depois, a elite neoliberal está emaranhada nas contradições que seu próprio domínio envolve.

E adverte: a saída dessa situação não está de modo algum predeterminada pelas condições econômicas; depende da ação consciente de todos os seres humanos em relação às situações concretas em que nos encontramos. 

Trata-se de um apelo à luta em favor das maiorias oprimidas.





Joaquim cai no caldeirão



Davis Sena Filho 


Hoje, em Brasília, durante 15 minutos, o herói da direita brasileira, juiz Joaquim Barbosa, concedeu entrevista ao garoto-propaganda global e "bom moço" da burguesia e da classe média brasileira, o "saltimbanco" e empresário Luciano Huck.

Huck é o considerado pelos controladores do sistema de consumo e pelo cidadão mediano brasileiro um self made man. E o garoto da Globo sabe que se comunica com uma das classes médias mais complexada, pedante e preconceituosa do mundo, e que, por ignorância e arrogância, adere, sem raciocinar, aos valores e aos princípios de uma burguesia que sempre vai barrá-la em seus bailes.

Porém, esses pobres infelizes e vítimas de seus enganos jamais vão aprender que nunca vão ser ricos e muito menos serão convidados para frequentar os salões de nossa burguesia entreguista, subserviente, portadora de um gigantesco complexo de vira-lata, ao tempo que herdeira legítima da escravidão.

Joaquim Barbosa também tem esses valores fúteis, frugais, sedimentados em uma vaidade vã e em uma prepotência e arrogância que não dignificam o exercício do Direito e de seu cargo nomeado, que requer sabedoria e humildade, realidades que tal cidadão não as possui e nunca as vai possuir.

O condestável juiz se considera também um self made man, ou seja, aquele que se fez por si só, o que não é verdade. Huck, antes da fama, já era rico, e Joaquim teve todos os meios para ascender socialmente, principalmente com a ajuda do estado brasileiro, onde ele fez sua carreira e conseguiu chegar onde chegou ao ser nomeado pelo ex-presidente Lula, que queria um negro no STF.

Joaquim Barbosa é o legítimo filho do estado nacional, com a verve da UDN e o palavreado agressivo de Carlos Lacerda. Picado pela mosca azul, trilha por caminhos até então repletos de obstáculos, no que tange ao juiz ter as portas abertas pelos figurões da iniciativa privada. 

Cientes da luta política que travam com os governos trabalhistas do PT, a imprensa privada e seus aliados do PSDB perceberam, rapidamente, que o juiz autoritário e sem educação no trato com as pessoas poderia se transformar em seu Batman midiático, um símbolo da luta contra a corrupção, e um instrumento de luta política contra aqueles que vencem, nas urnas, as eleições presidenciais há onze anos.

Tal juiz rasgou a Constituição, o Código penal e ignorou os autos dos processos relativos ao mentirão, mesmo com provas contundentes, a exemplo dos recibos apresentados pelos réus, que comprovaram que as transações eram regulares e legais. Um dia esse juiz vai ter de responder por seus atos e injustiças, constitucionalmente e na forma da lei.

Só que o juiz Joaquim Barbosa, criador contumaz de crises artificiais tal qual seu colega, juiz Gilmar Mendes, está resoluto em adiar propositalmente as questões sobre o mentirão para 2014, ano eleitoral, a fim de favorecer o campo da direita, como aconteceu com o julgamento do mentirão exatamente no decorrer das eleições de outubro do ano passado.

Foi uma estratégia açodada da direita para desgastar o PT e o Governo trabalhista, bem como uma "arma" para atingir o ex-presidente Lula e a presidenta Dilma, e, consequentemente, quiçá, conquistar dividendo eleitoral, fato este que realmente não ocorreu, como comprova a eleição do petista, Fernando Haddad, para prefeito da cidade de São Paulo.

Eis que o Luciano Huck, o garoto-propaganda, o genro que os pais da classe média rancorosa, consumista e ignorante querem para casar com suas filhas, resolve fazer um "documentário" e um de seus personagens, ao que parece, é o global e midiático juiz picado pela mosca azul, o "senhor da razão", Joaquim Barbosa, o Batman encapuzado e o herói de uma classe média e de uma imprensa alienígena que há pouco tempo o odiava, pois ele teimava em discutir, e ferozmente, com até então ídolo dos reacionários brasileiros, o condestável juiz Gilmar Mendes.

Só que ninguém sabia ou imaginaria que as crises apopléticas, a falta de educação, a gritaria e a total ausência de compostura do juiz temperamental eram decorrentes, na verdade, de ciúmes, porque, ao que parece, Joaquim tinha inveja de Gilmar, pois queria também ser paparicado e "idolatrado" pelo sistema midiático de negócios privados pertencente à nossa burguesia herdeira e saudosa da escravidão e da ditadura militar.

Luciano Huck, um tucano alienado e que confunde seu programinha televisivo chamado de Caldeirão com a dura realidade dos brasileiros despossuídos pela sorte ou por décadas de abandono do estado burguês e patrimonialista, pensa, em sua “ingenuidade” e ignorância política que os governos trabalhistas estão a brincar com as realidades e as desigualdades brasileiras. Afinal, o dono do caldeirão se informa nos jornais da TV Globo e nas publicações da Veja, da Folha e do Estadão.

Por seu turno, sem sombra de dúvida, não são órgãos adequados e confiáveis para informar sobre o Brasil, porque simplesmente esses meios de comunicação se recusam a mostrar o País, bem como não repercutem as conquistas sociais e econômicas do povo brasileiro, que os ajuda a enriquecer, pois compra seus produtos de péssima qualidade editorial.

Contudo, torna-se imperativo que essa direita com cara de Miami entenda, definitivamente, que o PT e seus governos trabalhistas fazem política de estado, a exemplo da recuperação do salário mínino, das escolas técnicas, das universidades, do Enem, do Bolsa Família, do advento dos PAC 1 e 2 e da recuperação constante da infraestrutura do País, abandonada a décadas por políticas irresponsáveis efetivadas pelos militares e pelos tucanos, que venderam o Brasil e foram pedir esmolas três vezes ao FMI, de joelhos e com o pires nas mãos, porque quebraram o Brasil três vezes. Simples assim.

Luciano Huck, aquele "artista" que pensa, equivocadamente, que seu "caldeirão" de enganos e fantasias é exemplo de cooperação e solidariedade para com as pessoa necessitadas ou não, incorre em grave erro. 

Tal capitalista, porta-voz de banqueiros por meio de comerciais, não passa de um embuste, que tenta lograr simpatias às causas políticas e econômicas da nossa "elite" perversa, que confunde o assistencialismo típico dos conservadores com os programas sociais efetivados por políticos e técnicos vinculados ao PT ou não.

Políticas sociais e econômicas que mexeram, de fato, com as estruturas de nossa sociedade, pois retirou da pobreza cerca de 30 milhões de pessoas e levou às classe C e D mais de 40 milhões de pessoas, a fortalecer, a partir dessa realidade, o mercado interno brasileiro, responsável maior pelo o Brasil não sentir com tanta força e ênfase a crise internacional, que, desde 2008, abala os países mais poderosos do mundo, tão apreciados e admirados pelos nossos burgueses colonizados e subservientes aos ditames dos interesses estrangeiros.

O neoliberalismo fracassou. As economias dos países desenvolvidos foram "derretidas", os órgãos de espoliação internacional como o FMI, o Bird, a OMC e a ONU estão, aos poucos, a mudar suas estratégias globais no que concerne à economia, ao rígido controle do sistema bancário e às receitas neoliberais que levaram à falência países de grande expressão como a Argentina e que deixou o Brasil e seu povo em condições pré-falimentares.

E a nossa direita, violenta, insensata e cínica, insiste em defender o que não deu certo, o que não se justifica e o que não se aplica por razões tão óbvias que não é necessário ser um economista genial para perceber que o neoliberalismo era um sistema de pirataria e rapinagem, que desregulamentou a economia, bem como foi um fracasso retumbante no que diz respeito ao que é humano, justo e honrado.

Luciano Huck é um playboy que está a "brincar" de ganhar dinheiro com a miséria, a dor alheia ou simplesmente desejo e sonho de consumo de quem o assiste e vai ser "premiado", por intermédio de seu assistencialismo barato que não mexe nas estruturas, pois é um paliativo.

Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes adoram esse mundo de fantasia, reprise dos parques de diversões de Orlando (EUA), pois valorizam o status quo e a vaidade de se considerarem acima dos mortais. 

O juiz Joaquim alcançou o Olimpo e entrou nas graças da burguesia global. Esses juízes se transformaram em estrelas midiáticas, sem quaisquer preocupações com a discrição, a reclusão e o silêncio, postura obrigatória que qualquer juiz deveria ter.

Se Joaquim Barbosa quer ser político, candidato ou ator, ou qualquer coisa que o valha, que ele peça o boné e vai lutar pelo o que quer e deseja.

A sua atuação no mentirão foi lamentável, bem como as atividades "extracurriculares" do juiz Gilmar Mendes, que envergonham o Judiciário. 

Não se deve também esquecer que o procurador-geral, Roberto Gurgel, "sentou" em processos que não interessavam ao campo da direita, pois deixariam muitos de seus membros em evidência, bem como, de forma antagônica, o PGR Gurgel fez questão de deixar público e notório os processos que envolviam os políticos do PT.

Para dar um único exemplo de tantos outros processos que povoam o imaginário da sociedade, os escaninhos do Judiciário e os noticiários da imprensa de mercado, até hoje o mensalão do PSDB não tem data para começar a ser julgado pelo STF.

E tão cedo não vai ser lembrado pelas manchetes dos jornais dos barões da imprensa corporativa.

Afinal, o Supremo é composto por muitos juízes conservadores e que adoram ser globais. 

Joaquim é o Batman; Huck é o Robin. A direita seria capaz de lançá-los a uma candidatura presidencial. O problema é o caldeirão, um dia, pode entornar. É isso aí.

Postado no Blog do Saraiva e no blog Palavra Livre em 23/05/2013

Sempre os norte-americanos e seu capitalismo*³


Naomi Klein

Como o mundo moderno se tornou tão desigual*²

O legado miserável de Reagan, Thatcher e Pinochet*¹

Paulo Nogueira

No livro “Doutrina do Choque”, a escritora Naomi Klein dá uma aula de mundo moderno.

Uma aula brilhante de mundo moderno. É uma maneira sintética de definir o livro A Doutrina do Choque, da escritora, jornalista e ativista canadense Naomi Klein, 44 anos.

Vou colocar, no pé deste artigo, um documentário baseado na obra, com legenda em português. Recomendo que seja visto, e compartilhado.

Naomi, como é aceito já consensualmente, identifica em Reagan e Thatcher, cada um num lado do Atlântico, um movimento que levaria a uma extraordinária concentração de renda no mundo.

Ambos representaram administrações de ricos, por ricos e para ricos. Os impostos para as grandes corporações e para os milionários foram sendo reduzidos de forma lenta, segura e gradual.

Desregulamentações irresponsáveis feitas por Reagan e Thatcher, e copiadas amplamente, permitiram a altos executivos manobras predatórias e absurdamente arriscadas com as quais eles, no curto prazo, levantaram bônus multimilionários.

O drama se viu no médio prazo. A crise financeira internacional de 2007, até hoje ardendo mundo afora, derivou exatamente da ganância irresponsável e afinal destruidora que as desregulamentações estimularam nas grandes empresas e nos altos executivos.

No epicentro da crise estavam financiamentos imobiliários sem qualquer critério decente nos Estados Unidos, expediente com o qual banqueiros levantaram bônus multimilionários antes de levar seus bancos à bancarrota com as previsíveis inadimplências. (Ruiria, com os bancos, também a ilusão de que o reaganismo e o thatcherismo fossem eficientes.)

Tudo isso, essencialmente, é aceito.

O engenho de Naomi Klein está em recuar alguns anos mais para estudar a origem da calamidade econômica que tomaria o mundo a partir de 2007.

O marco zero, diz ela, não foi nem Thatcher e nem Reagan. Foi o general Augusto Pinochet, que em 1973 deu, com o apoio decisivo dos Estados Unidos, um golpe militar e derrubou o governo democraticamente eleito de Salvador Allende no Chile.

Foi lá, no Chile de Pinochet, que pela primeira vez apareceria a expressão “doutrina de choque”. O autor não era um chileno, mas o economista americano Milton Friedman, professor da Universidade de Chicago.


Friedman dominou a economia chilena sob Pinochet

Um programa criado pelo governo americano dera, na década de 1960, muitas bolsas de estudo para estudantes chilenos estudarem em Chicago, sob Friedman, um arquiconservador cujas ideias beneficiam o que hoje se conhece como 1% e desfavorecem os demais 99%.

Dado o golpe, os estudantes chilenos de Friedman, os “Chicago Boys”, tomaram o comando da economia sob Pinochet e promoveram a “Doutrina do Choque” – reformas altamente nocivas aos trabalhadores, impostas pela violência extrema da ditadura militar.

Da “Doutrina do Choque” emergiria, no Chile, uma sociedade abjetamente iníqua que anteciparia, como nota Naomi Klein, o que se vê hoje no mundo contemporâneo.

O Brasil, de forma mais amena, antecipara o Chile: o golpe militar, também apoiado pelos Estados Unidos (e pelas grandes empresas de jornalismo, aliás), veio nove anos antes, em 1964. Tivemos nossos Chicago Boys, mas em menor quantidade, como Carlos Langoni, que foi presidente do Banco Central.

Com sua sinistra “Doutrina do Choque”, Friedman, morto em 2006, é o arquiteto do mundo iníquo tão questionado e tão merecidamente combatido em nossos dias.

Um dos méritos de Naomi Klein é deixar isso claro – além de lembrar a todos que situações de grande desigualdade são insustentáveis a longo prazo, como a guilhotina provou na França dos anos 1790.


Postado no blog Luis Nassif Online em 01/01/2013

Nota:

*1 Título original do artigo de Paulo Nogueira.
*2 Título sobreposto pelo jornalista Luis Nassif.
*3 Título sobreposto por mim.


O neoliberalismo e a morte da Terra





Da Carta Maior - 17/06/2012


Ao que parece, o homem está à espera de uma catástrofe – como foi a peste negra, no século 14 – a fim de compreender as dimensões de seus erros. O que está matando o mundo, hoje, é a peste da ganância do capitalismo, que transformou a razão científica em mera servidora do dinheiro, principalmente a partir do neoliberalismo.



Não se pode esperar muito da Conferência do Rio. Há quarenta anos que o problema do meio ambiente vem sendo discutido e, nesse tempo, pouco se fez de objetivo a fim de assegurar as condições que a biosfera oferece à Natureza. Ao que parece, o homem está à espera de uma catástrofe – como foi a peste negra, no século 14 – a fim de compreender as dimensões de seus erros. Naquele século emblemático – no qual historiadores encontram semelhanças com o nosso – a população européia quase desapareceu. Pulgas e ratos levaram a peste da Ásia e encontraram o continente vulnerável à bactéria Yersinia pestis: segundo os cálculos, mais de um terço dos europeus pereceram no curso de quatro anos. Como vemos, seres aparentemente tão frágeis são capazes de promover hecatombes.

O que está matando o mundo, hoje, vale repetir, é a peste da ganância do capitalismo, que transformou a razão científica em mera servidora do dinheiro, principalmente a partir do neoliberalismo. Todos nós sabemos que os nutrientes químicos, como o nitrogênio, e agrotóxicos, estão matando os rios e extensões cada vez maiores dos oceanos. A Monsanto continua, firme, em nome da liberdade do mercado, a envenenar os solos e os mananciais de água – isso sem falar nas suas sementes transgênicas. O que já era ruim em 1972, quando se reuniu, em Estocolomo, a Primeira Conferência sobre o Meio-Ambiente, tornou-se muito pior a partir da conjuração anti-estado, promovida por Reagan, Thatcher – e, como coringa solto na jogada, o papa Karol Wojtila. Nestes últimos trinta e dois anos, não obstante as sucessivas declarações de alarme, e três novas conferências realizadas, pouco se fez de objetivo, a fim de salvar a natureza. Assim, o neoliberalismo acelera o assassinato da Terra.

A realidade nos impõe uma constatação: enquanto os Estados Unidos que, para o bem e para o mal, são o modelo da civilização contemporânea, não mudarem a sua matriz energética, e não contiverem a insensatez da bio-engenharia a serviço dos interesses do grande capital, o mundo continuará sua marcha para a tragédia.

Em nosso caso, a salvação da biodiversidade com que nos privilegiou a Natureza e, em seguida, a História, vem correndo novos e evitáveis riscos, a partir do desmantelamento do Estado, promovido pelo governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso.

Desde Getúlio Vargas, o Brasil dispunha de grupos técnicos de planejamento de infraestrutura a médio e longo prazo. Durante o governo de Juscelino, esses grupos se tornaram a vanguarda do desenvolvimento da economia nacional. Os governos militares mantiveram alguns deles, reorganizaram outros e esvaziaram os demais. Um desses grupos, talvez o mais importante para o nosso desenvolvimento, era o Geipot – reorganizado em 1965, durante o governo de Castelo Branco, abandonado por Fernando Henrique e hoje em liquidação. A União teve o prejuízo de 400 milhões de reais na execução das obras da Ferrovia Norte-Sul, por falta de um órgão como o Geipot. O serviço das empreiteiras não foi fiscalizado, dia-a-dia, como deveria ter sido, e erros graves, além da não execução das obras planejadas, como estações e depósitos, foram constatados pela nova diretoria da Valec, a estatal que administra a implantação do grande trecho ferroviário.

Outra imprevisão do governo se manifesta agora, na Hidrelétrica do Jirau. Dois milhões de metros cúbicos de madeira e lenha, retirados da área a ser coberta pelas águas, estão destinados a apodrecer, por falta de aproveitamento econômico. A retirada dessa cobertura vegetal deveria ter sido planejada com antecedência e seu aproveitamento, da mesma forma.

Outras áreas da Amazônia estão sendo desmatadas para a exportação – legal e ilegal – da madeira, com os danos conhecidos ao meio-ambiente. É urgente que se planifique o aproveitamento racional da madeira e dos outros bens naturais existentes nas áreas a serem inundadas nas outras hidrelétricas em construção no território brasileiro. Há, ainda, no fundo da futura represa – cujo enchimento se iniciará ainda este ano – muita cobertura vegetal que, se não retirada a tempo, irá provocar danos imensos ao ambiente, ao produzir metano, um dos gases mais poluidores da atmosfera, além do carbono.

A eficiência do Estado se garante mediante o estudo prévio de suas necessidades e de suas possibilidades, ou seja, de planejamento. Desde o Império, empreendedores e homens de Estado pensaram em termos de planejamento. Até hoje é válido o projeto ferroviário de Mauá, que previa a ligação ferroviária entre o Norte e o Sul, entre o Leste e o Oeste, e o aproveitamento dos rios para o transporte de carga pesada. Vargas, na plataforma eleitoral de 1930, reafirmou a necessidade de planejamento e seguiu a idéia durante o Estado Novo. Vargas retomou o projeto nacional, em 1951 e Juscelino deu-lhe prosseguimento de forma vigorosa, em seu mandato. Com a desconstrução do estado nacional, o governo Fernando Henrique deixou o planejamento por conta das empreiteiras e dos estrangeiros. Vale lembrar a contratação da Booz Allen pelo governo tucano, para “identificar os gargalos” que dificultam o desenvolvimento do país, quando não faltam técnicos competentes nos quadros da administração federal para cuidar do planejamento dos projetos de infra-estrutura no Brasil, como é o caso dos transportes e da energia.

É hora de o Estado assumir diretamente a sua responsabilidade e buscar os meios constitucionais para acabar com as agências reguladoras e devolver aos ministérios as tarefas que devem ser suas. As agências reguladoras foram, nos Estados Unidos de Roosevelt e do New DealNew Deal, o instrumento do Estado para conduzir a economia nos anos de crise. No Brasil, elas tiveram o objetivo contrário, o de entregar aos agentes privados, a serviço dos interesses estrangeiros, a administração dos setores estratégicos nacionais, como a energia elétrica, as telecomunicações, as rodovias, as ferrovias e os portos – isso sem falar na saúde, com a Anvisa.

Mauro Santayana é colunista político do Jornal do Brasil, diário de que foi correspondente na Europa (1968 a 1973). Foi redator-secretário da Ultima Hora (1959), e trabalhou nos principais jornais brasileiros, entre eles, a Folha de S. Paulo (1976-82), de que foi colunista político e correspondente na Península Ibérica e na África do Norte.