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Machista exibicionista comeu um dobrado com as "vadias"


Aposto que terá mané que dirá que as mulheres são ‘feminazis’, e que o machista exibicionista só estava ‘exercendo sua liberdade de expressão’.


Foto Augusto Daster Pontual. Marcha das Vadias, Brasília.
Abaixo o vídeo onde o exibicionista machista provoca as mulheres, abrindo a braguilha para mostrar seu órgão genital, mas acaba impedido pela multidão. Por pouco o imbecil não foi linchado.
O que passa na cabeça de um cretino deste ofender mulheres num dia em que elas saem às ruas exatamente para protestar contra o machismo e a violência machista?
Para a sorte do machista exibicionista ele foi preso em seguida.

                     
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Postado no blog Maria Frô em 31/05/2012

O bom moço


É notório que o modelo familiar se altera de acordo com variações sociais e pela cultura inserida. Estas alterações ocorrem, em muitos casos, pelas conquistas das mulheres em nossa sociedade. Sendo que estas estão se tornando, ao passar dos anos, cada vez mais independentes e reivindicadoras de igualdade entre os gêneros.
Levando em consideração a sexualidade da mulher, apesar do muito machismo ainda existente, os pais já aceitam que suas filhas adolescentes tenham vida sexual. Mas esta permissão está, geralmente, enquadrada em um parâmetro: os pais preferem que suas filhas tenham um relacionamento sério com um rapaz que considerem de “boa índole”. E o problema está no que é considerada uma pessoa de boa índole. Para muitos pais, as simples condições para que o rapaz tenha esta característica é que seja trabalhador e dedicado à sua namorada.
Apesar das mudanças no padrão familiar, o casamento ainda é um projeto ansiado pelos pais e pelos próprios adolescentes. Os pais desejam que seus filhos se casem e construam sua própria família, sendo este um projeto de longo prazo. Porém, o problema maior realmente está nas filhas adolescentes. Sabendo desta preocupação dos pais, muitos “rapazes bem intencionados” vêm utilizando-se de um bom papo e atitudes bem pensadas para conquistar quem mais interessa: a família da pretendente.
Eis então que surge o Bom Moço, que prepara seu arsenal de como fazer a propaganda deste impecável pretendente que está interessado na adolescente.
A estratégia segue estes tópicos:
1. A ideia é se apresentar aos pais da pretendente com falas que eles querem ouvir. Primeiramente ele argumenta que pretende um compromisso sério com a adolescente, e apresenta-se como um homem de muitas qualidades.
Pronto, assim o indivíduo termina sua apresentação. Ele é trabalhador e deseja compromisso sério, com estas qualidades, os pais acreditam que este é o homem certo para sua filha.
2. A aliança de compromisso: Logicamente, nada pode ficar na conversa. Para demonstrar sua seriedade, o Bom Moço oferece logo um “presente” à sua namorada, uma aliança de compromisso. Como muitas adolescentes ainda sonham, a menina sente-se muito feliz com a novidade, e conta aos pais, que têm a mesma reação.
3. Começam os ciúmes. Com pouco tempo de relacionamento, o Bom Moço já começa com suas crises exageradas de ciúmes. Proibição de sair com amigos, verificação no celular, visitas nos perfis da namorada nas redes sociais… Tudo isto para demonstrar que, como homem apaixonado, tem medo de perder sua “razão de viver” por algum outro qualquer. E em muitos casos, a família da adolescente é conivente com estas atitudes.
Cena do filme "Educação" (2009)
Em pouco tempo, a adolescente e seus pais descobrem que aquele moço tão educado, tão preocupado com as tradições familiares, na verdade era uma personagem. O Bom Moço de repente começa a se apresentar como realmente é, sendo que a adolescente começa a sofrer ameaças, aumentam as crises de ciúmes, até chegar muitas vezes, à violência física.
Este investimento em relacionamentos nada saudáveis, acontece muitas vezes, por causa do machismo enrustido nos novos padrões de família. Os pais aceitam a vida sexual de suas filhas adolescentes, mas desde que seja em um relacionamento sério, o namorado apaixonado. E aí percebe-se a máscara da nossa sociedade quando o assunto é liberdade sexual da mulher.
Desde novas, as mulheres devem ser moldadas a não ter liberdade sobre seu próprio corpo, mas sim seguir um padrão. O problema é que, pensando em preservar a “moral” de suas filhas, muitos pais deixam que homens mal intencionados aproximem-se delas, trazendo problemas que muitas vezes acabam por envolver toda a família.
Também aqui se pode acrescentar que estas pretensões precoces de casar e constituir família, podem fazer com que a adolescente não tenha outras direções na vida, deixando de lado o aproveitamento das conquistas das mulheres. Isto está relacionado, por exemplo, com o fato de estudar e ter uma profissão. Para algumas moças, como se estivéssemos num retrocesso, ter um marido e filhos representa o maior projeto que podem realmente ter grandes resultados.
A orientação sexual das adolescentes, vindos dos pais, é a melhor forma de fazer com que as meninas entendam a liberdade sexual da mulher. Devido sua falta de maturidade, ouvem e acabam reproduzindo muitas atitudes sem pensar. Com medo que suas filhas tenham um comportamento sexual “pouco adequado a sua condição de mulher”, os pais torcem para que apareça para suas filhas um pretendente bem educado, trabalhador, que esteja à procura de compromisso sério. Dentro de todo este contexto, surge o Bom Moço, com todas estas falsas qualidades, alimentadas e aprovadas pela sociedade machista.


Silvana Bárbara G. da Silva

Designer e pesquisadora. Militante em constante aprendizado pelas causas feministas, raciais e estudantis.

Postado no blog Blogueiras Feministas em 04/05/2012


Vale tudo: a mulher careca e o desrespeito disfarçado de diversão




Não se falou em outra coisa desde ontem, ao menos nas redes sociais: Babi Rossi, a assistente de palco que teve seus cabelos raspados ao vivo em um programa humorístico. Algumas pessoas se divertiram, outras se indignaram, outras se indignaram com a indignação alheia. E, assim se estabeleceu aquele ciclo de opinião que já nos acostumamos a ver. formado e disseminado com argumentos bastante utilizados.


Um deles, simplista e rasteiro, menciona a medonha categoria das: “vagabundas ambiciosas que fazem tudo por dinheiro e mostram o corpo em qualquer lugar”. Também chamadas de “mulheres que não se valorizam”. É por ele – justamente por ser simplista e rasteiro – que começo.
Babi Rossi. Cena do programa "Pânico na Band" do dia 22/04/2012, Rede Bandeirantes.
O incômodo não é exatamente a mulher pelada. Não é a bunda, não são os peitos. Não precisa defender que as pessoas andem abotoadas até o pescoço e cobertas até os dedinhos dos pés e, nem obrigá-las a sair com porções generosas de corpo pra fora. O que incomoda é a pessoa que se “expõe”. Estou pegando ojeriza ao termo porque ele aparece com frequência nos discursos moralistas, do raivoso ao condescendente. Aquele “ai meu bem, você é tão bonita, devia se valorizar mais” ou“essa roupa não está à sua altura”.
A pessoa deixa de ser, aos olhos de seus críticos, corpo para ser carne. Vendida aos pedaços,“os peitos da Fulana”, “as coxas da Beltrana”, “adivinhe de quem é este bumbum”. Como dizem, tanto faz se a assistente de palco tem cabelo ou não, está lá a bunda.
“Foi combinado”, “ela se sujeitou a isso”, todos já tivemos essa conversa antes. A participação da moça no açoug… ops! programa, é expressão da liberdade ou da sujeição a um sistema de valores cretino, que bota preço (baixo, por sinal) em partes do corpo e prega etiquetas, em geral pouco lisonjeiras, todas com prazo de validade baixíssimo?  Se é combinado e a “atração” não topa participar ela vai dar a lugar a outra na fila, que sabemos que anda bem rápido. E ninguém quer perder a vez. Já fiquei em emprego ruim porque precisava dele e, não vamos aqui hierarquizar ou classificar ocupações, porque elas atendem a várias necessidades humanas. Dinheiro, vaidade, aceitação, prestígio, realização pessoal, não vou estabelecer o que vale mais, você vai?
gravura francesa do século XIX, “La Belle Hottentot”
Se a moça concordou, então vale tudo? Vale virar piada, vale comer barata, vale degustar olho de cabra e milkshake de minhoca? Percebam como é antiga essa discussão e como ainda não deixamos de ter sushis eróticos metafóricos nas nossas telas. Ainda somos brindados por cenas grotescas e violentas veiculadas por canais de televisão abertos, concessões públicas. Fica patente então que para essas pessoas, agraciadas com o nada modesto direito de tocar um canal de televisão efaturar com isso, a televisão pública é uma piada e seu público é palhaço.
Se não foi combinado, então o que dizer? “Ela estava lá mesmo, estava sujeita a isso estando no programa”, “ela merece, essas moças são vagabundas loucas pra aparecer”, “o pessoal curte assistir então eles mostram na TV, oras”. Fica difícil, na verdade, defender de forma consistente o “entretenimento” de natureza aviltante, sobretudo esse que já se tornou um clássico dominical: a exposição da mulher como entretenimento “para a família” e quase nunca como a produtora do entretenimento. É disso que se trata, diversão aviltante, porque se não é indigna para a pessoa em frente às câmeras, certamente o é para quem está em frente à tela. As pessoas estão sendo chamadas de imbecis pelos profissionais que ganham (muito) dinheiro para “divertir” a audiência e se preocupam com a mulher pelada na televisão, “olha só que indecente, que pouca vergonha esse bando de vadia sem roupa!”.
Acho significativo que esse tipo de coisa aconteça tendo uma mulher como personagem principal. Outro homem teve seu cabelo raspado no mesmo programa, mas não riu de nervoso. A moça vive da aparência dela e foi tosquiada sob gargalhadas e interjeições como “que horror!”. Diferente da mulher que raspa seu cabelo em casa, voluntariamente, ou da mulher que raspa seus cabelos em função de uma quimioterapia. Sobretudo no segundo caso, essa pessoa não vai ouvir gargalhadas em volta em meio ao barulho da maquininha, não vai ser comparada ao Predador.



Chegue a 1:20 minuto no vídeo e veja se a moça acha graça de verdade. “Ela tem o espírito do programa, é muito corajosa”, repete o apresentador galhofeiro. No momento 2:30 minutos, a moça chora. Assobios, gritos, gargalhadas. A partir de 4:07 minutos, um apresentador raspa a cabeça com ar contrariado, que também pode ser falso, mas as risadas da trupe só recomeçam depois que anunciam que a moça vai se ver no espelho após o intervalo comercial.
Ao longo da História os cabelos raspados têm um simbolismo pouco positivo, de modo geral. Isso se acentua mais ainda quando os cabelos são femininos. Mulheres adúlteras tinham sua cabeça raspada, loucos, doentes e prisioneir@s também, assim como amantes de soldados alemães na Segunda Guerra Mundial.
A cabeça raspada significava a infâmia, o escárnio, a vergonha. Muitas bruxas eram retratadas carecas e as mulheres acusadas desse crime também tinham seus cabelos cortados. Os cabelos são a característica identificadora da pessoa. Raspá-los significa privá-la de parte da sua identidade, nivelar, igualar a outras. Quando o ato não é voluntário, o golpe para a auto-estima pode ser alto. Em ‘O Primo Basílio’, romance de Eça de Queirós, Luísa tem seus longos cabelos raspados em função de uma doença e a cena descreve o sofrimento de Jorge, o marido, a cada tesourada. Quando Luísa acorda do torpor, o diálogo é o seguinte:
— Cortaram-me o cabelo… — murmurou tristemente.
— É para te fazer bem — disse-lhe Jorge, quase tão agonizante como ela. — Cresce logo. Até te vem melhor.
Ela não respondeu; duas lágrimas silenciosas correram-lhe pelos cantos dos olhos.

Anúncio de exibição de Saartjie Baartman, século XVIII.

Saartjie Baartman nasceu em uma aldeia sul-africana, por volta da década de 1780. Órfã, tornou-se escrava de fazendeiros holandeses. Em 1810, viajou para a Inglaterra, depois de ser convencida de que ficaria rica se apresentando às pessoas interessadas em conhecerem-na. Ela foi chamada de “Vênus Hotentote” e mostrada em feiras,freakshows, para uma audiência escandalizada com suas características físicas incomuns naquele contexto: o grande acúmulo de gordura em suas nádegas (uma condição chamada de esteatopigia) e o tamanho de seus pequenos lábios, bastante visíveis, como se fosse um “avental” escondendo a vulva.
Aparentemente ela não permitia que seus órgãos genitais fossem vistos, e utilizava um tecido cobrindo a região, mas a visão de seu corpo evocava um misto de espanto, indignação e aludia a supostas características sexuais. Não era à toa o apelido pelo qual ficou conhecida. Sociedades abolicionistas se manifestaram contra seu aprisionamento e exibição. Alguns argumentos eram que, em meio à proibição da escravidão, ela era considerada uma posse. Outros afirmavam que as exibições degradantes (nas quais ela deveria se movimentar, andar, sentar, levantar conforme lhe fosse solicitado), que ocorriam com seu consentimento, haviam sido obtidas sob coação.
Saartjie foi vendida a um francês e exibida em condições piores na França, pagando uma quantia extra os visitantes podiam tocá-la. Ela foi estudada e retratada por cientistas e pintores. Quando o interesse de visitantes e estudiosos diminuiu, tornou-se alcoólatra e se prostituiu, morrendo em 1815 de pneumonia, varíola ou sífilis. Seu cérebro e seus genitais foram conservados e exibidos (!!!) no Museu do Homem em Paris até 1974. Em 1994, o presidente sul-africano Nelson Mandela, solicitou ao governo francês que os restos mortais de Saartjie fossem repatriados. O pedido foi atendido somente em 2002. Seu nome foi dado a umcentro de apoio a mulheres e crianças vítimas de violência.
O caso de Saartjie tornou-se icônico por resumir a um só tempo a condição da população escrava, dos negros, dos povos colonizados, dos africanos e das mulheres. A Panicat Babi Rossi não é a nova Saartjie. Tem muito mais poder de escolha que a jovem sul-africana jamais teve, mas mais de duzentos anos as separam e o corpo feminino continua sendo alvo de controle, escárnio e condenação.
[+] Meus dois tostões sobre a panicat por Marjorie Rodrigues.
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Agradeço a Triana Ballesta, Liliane Gusmão, Camila Gläser, André Taffarello e Talita R. da Silva pela leitura e pelos comentários do texto. Agradeço também a tod@s debatedor@s da lista pelas observações a respeito do infame caso dos cabelos raspados.

Deh Capella

Sou bibliotecária, mãe, feminista, leitora, musical, curiosa. Baby, we were born to run.




Postado no blog Blogueiras Feministas em 24/04/2012