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Enquanto houver Marietas Severo, Faustões não passarão




Eduardo Guimarães



O último domingo foi um dia de efervescência política – como de costume, a partir de São Paulo. Em um improvável dia para tantas emoções, em geral reservado ao descanso ante a semana “útil” que recomeça, demonstrações públicas de civismo e de intolerância.

Por onde começar? Talvez pelo mais importante. O que seja, que nem tudo está perdido.

O título deste texto alude a episódio ocorrido na última edição do programa Domingão do Faustão. O assunto está “bombando” nas redes sociais por conta de uma cena rara, nos últimos tempos. Uma mulher de feições serenas, fala firme, porém suave, se contrapôs a um discurso absurdamente derrotista e deprimente, vertido por um importante comunicador de massas em uma concessão pública de rádio e tevê, transformada em palanque eleitoral de forma absolutamente ilegal e incompatível com a coisa pública.

Antes de prosseguir, um lembrete: a faixa do espectro radioelétrico por onde é transmitida a programação da Rede Globo é como que uma via pública, pertence a todos e não pode ser usada por grupos políticos ou seus representantes, ao menos não sem que grupos políticos de todos os matizes possam se manifestar em igualdade de condições.

Todos sabem que há décadas que as famílias que detêm concessões de rádio e televisão neste país usam essas concessões para difundirem suas opiniões político-ideológicas, mas, no último domingo, essa lógica sofreu um abalo.

Apesar da iniciativa lamentável do apresentador Fausto Silva de formular um discurso derrotista e partidarizado contra o grupo político que ocupa o poder, o que se torna lamentável por ele ter achado lícito fazer esse discurso, ocorreu uma surpresa. Ao contrário do que costuma acontecer, quando a discordância de posições tão polêmicas costuma ser reprimida pelas Redes Globo da vida, convidada do “programa do Faustão” enfrentou, com rara elegância, a estupidez que acabara de ser proferida por seu anfitrião.

O vídeo abaixo mostra como a atriz Marieta Severo, ex-mulher do cantor e compositor Chico Buarque de Hollanda, respondeu a afirmação absurda de Faustão, de que o Brasil seria “o país da corrupção”, “da crise”, enfim, de toda sorte de desgraças por conta de uma situação econômica que não é boa, mas que está longe de ser tão ruim quanto as que viveu em passado não tão distante e que superou com grande sucesso, até há alguns meses.




O grande gol de Marieta foi dizer, com clareza, que viver uma crise econômica não é novidade. Para quem tem memória – e cérebro –, basta lembrar do que o Brasil viveu há pouco mais de uma década, quando políticos que hoje se apresentam como “salvação” para o país pilotaram crise que causou danos muito piores ao emprego, à renda e ao social como um todo, sem falar no estado de miséria em que deixaram a economia do país, ajoelhada aos pés do FMI e sem reservas internacionais.

E só para que não restem dúvidas de que Marieta sabe do que está falando, aí vão alguns dados sobre quanto o país melhorou nos últimos anos, apesar das dificuldades momentâneas.

Produto Interno Bruto:

2002 – R$ 1,48 trilhões

2013 – R$ 4,84 trilhões

PIB per capita:

2002 – R$ 7,6 mil

2013 – R$ 24,1 mil

Dívida líquida do setor público:

2002 – 60% do PIB

2013 – 34% do PIB

Lucro do BNDES:

2002 – R$ 550 milhões

2013 – R$ 8,15 bilhões

Lucro do Banco do Brasil:

2002 – R$ 2 bilhões

2013 – R$ 15,8 bilhões

Lucro da Caixa Econômica Federal:

2002 – R$ 1,1 bilhões

2013 – R$ 6,7 bilhões

Produção de veículos:

2002 – 1,8 milhões

2013 – 3,7 milhões

Investimento Estrangeiro Direto:

2002 – 16,6 bilhões de dólares

2013 – 64 bilhões de dólares

Reservas Internacionais:

2002 – 37 bilhões de dólares

2013 – 375,8 bilhões de dólares

Índice Bovespa:

2002 – 11.268 pontos

2013 – 51.507 pontos

Empregos Gerados:

Governo FHC – 627 mil/ano

Governos Lula e Dilma – 1,79 milhões/ano

Taxa de Desemprego:

2002 – 12,2%

2013 – 5,4%

Valor de Mercado da Petrobras:

2002 – R$ 15,5 bilhões

2014 – R$ 104,9 bilhões

Lucro médio da Petrobras:

Governo FHC – R$ 4,2 bilhões/ano

Governos Lula e Dilma – R$ 25,6 bilhões/ano

Falências Requeridas em Média/ano:

Governo FHC – 25.587

Governos Lula e Dilma – 5.795

Salário Mínimo:

2002 – R$ 200 (1,42 cestas básicas)

2014 – R$ 724 (2,24 cestas básicas)

Dívida Externa em Relação às Reservas:

2002 – 557%

2014 – 81%

Posição entre as Economias do Mundo:

2002 – 13ª

2014 – 7ª

Passagens Aéreas Vendidas:

2002 – 33 milhões

2013 – 100 milhões

Exportações:

2002 – 60,3 bilhões de dólares

2013 – 242 bilhões de dólares

Desigualdade Social:

Governo FHC – Queda de 2,2%

Governo PT – Queda de 11,4%

Taxa de Pobreza:

2002 – 34%

2012 – 15%

Taxa de Extrema Pobreza:

2003 – 15%

2012 – 5,2%

Mortalidade Infantil:

2002 – 25,3 em 1000 nascidos vivos

2012 – 12,9 em 1000 nascidos vivos

Estudantes no Ensino Superior:

2003 – 583.800

2012 – 1.087.400

Risco Brasil (IPEA):

2002 – 1.446

2013 – 224

Operações da Polícia Federal:

Governo FHC – 48

Governo PT – 1.273 (15 mil presos)

FONTES:

47/48 – http://www.dpf.gov.br/agencia/estatisticas

39/40 – http://www.washingtonpost.com

42 – OMS, Unicef, Banco Mundial e ONU

37 – índice de GINI: http://www.ipeadata.gov.br

45 – Ministério da Educação

13 – IBGE

26 – Banco Mundial

Notícias, Informações e Debates sobre o Desenvolvimento do Brasil: http://www.desenvolvimentistas.com.br

Como se vê, país avançou muito em pouco mais de uma década. Alguns números pioraram do fim do ano passado para cá, mas ainda são muito superiores ao passado e a piora é recente.

Desconhecer tudo isso, como fez Faustão, e difundir o derrotismo, o pessimismo a partir de opiniões tão pouco embasadas, baseadas em mera conjuntura – que, como demonstra o retrospecto acima, pode ser revertida como foi a situação dramática do fim do governo Fernando Henrique Cardoso –, é triste.

Mas Marieta salvou o dia.

No mesmo domingo, porém, outros fatos políticos opuseram lucidez e estupidez.

O ex-ministro Guido Mantega voltou a ser agredido publicamente. Desta vez, com virulência ainda maior. As cenas impressionantes sugerem que a agressão poderia ter sido até física, se ocorresse em local que facilita a violência, como a rua.







Apesar de, nesta vez, o restaurante ter tomado providências ao retirar os agressores, infelizmente eles puderam dar seu showzinho.

Porém, mais uma vez, após a tempestade vem a bonança. O Blog do Luis Nassif publicou breve reflexão de lucidez que mostra que há muita gente, por aí, que sabe que não se pode deixar o fascismo proliferar dessa maneira e que a forma de impedir é divulgar evidências do perigo desse tipo de comportamento.

A histeria nazista


O clima de histeria fascista, inteiramente criado pela mídia que abandonou o jornalismo para fazer política, em breve produzirá vítimas fatais. Os argumentos racionais se tornaram inúteis, já que muitas pessoas – incrivelmente mal informadas – pensam com o fígado.

No filme Cabaret, de Bob Fosse, Brian (Michael York) fica muito impressionado com a atitude beligerante dos jovens nazistas que agridem um judeu. O nobre Maximiliam (Helmut Griem) diz que ele não se preocupe. “Vamos deixar que eles acabem com os comunistas, depois nós acabamos com eles”.

O tempo passa e, num almoço campestre, Brian e Maximilian assistem um jovem nazista cantar uma linda canção patriótica (O futuro me pertence) que contamina a todos, homens e mulheres se emocionam em louvor cívico. Briam comenta: “Você ainda acha que eles podem ser controlados?”.

Todos sabem quem tinha razão.




Como se vê, o pior veneno pode vir em uma bela embalagem, muitas vezes em mensagens supostamente patrióticas, mas que contém nada além de ódio.

O fascismo (que permeou o surgimento do nazismo) inspirou-se no nacionalismo e na demonização de grupos acusados de ser responsáveis por todas as agruras do passado, do presente e do futuro. Algo como o que se vê na cena abaixo, o nacionalismo verde-amarelo e os demonizados de plantão.




Felizmente ou infelizmente – depende do ponto de vista –, não foi só. Um ínfimo grupo de representantes do Movimento Brasil Livre foi à inauguração da ciclovia da Paulista fazer provocação político-partidária, por a bela obra ter sido executada por uma prefeitura do PT. Contudo, todos os vídeos disponíveis mostram que foram manifestações isoladas de pessoas que querem impor seus pontos de vista a um direito da cidade de São Paulo de comemorar uma obra de seu interesse.





O grupo, de cinco pessoas, chegou a levantar faixas na altura da Praça do Ciclista, já nas imediações da Paulista com a rua da Consolação, mas a iniciativa foi considerada “afronta” e “provocação” por ciclistas e cicloativistas presentes – que devolveram com gritos de “fascistas, golpistas!” e “A Petrobras é nossa!”.

Nas camisetas usadas pelo grupo provocador havia o nome do movimento “Brasil Livre”, e, nas costas, a frase “Estatais gastaram mais que o previsto”.

Felizmente, assim como nos outros atos de intolerância, este último também foi enfrentado por um belo clima de festa, de congraçamento ante medida de interesse público que promete civilizar a cidade e que está sendo bem avaliada por especialistas e por expressiva parcela dos paulistanos, como mostra o vídeo abaixo, do insuspeito Estadão.



Enfim, foi um domingo intenso. Um domingo que resumiu o momento pelo qual passa o país, em que estupidez e lucidez disputam espaço.

Dirão que a estupidez está vencendo, mas não é bem assim. Os grupos que querem o quanto pior, melhor, podem estar se aproveitando da comoção episódica diante de ajustes pontuais na economia, mas este país tem potencial de sobra para superar essa conjuntura e voltar ao prumo em que vinha até há algum tempo e que acabará sendo retomado, que ninguém duvide.


Postado no Blog da Cidadania em 29/06/2015


Preguiça de Pensar ?


Que absurdo! Esse filho da put* precisa saber o que eu acho disso! - disse o comentarista médio de internet depois de ler o título de um texto de dez parágrafos.


O que está por trás das opiniões irredutíveis, dos comentários raivosos e da recusa de algumas pessoas em aceitar fatos concretos e científicos?


Lara Vascouto

Eu tenho uma mania pouco saudável: ler comentários em notícias e artigos na internet. Eu sei, esse é um erro básico de quem usa a internet regularmente, mas eu não resisto. 

Uma parte de mim ainda acredita que os comentários podem servir ao seu propósito: acrescentar informações, iniciar discussões mais profundas, questionar de maneira equilibrada e trazer novos e esclarecedores pontos de vista. 

Ao invés disso, no entanto, o que eu costumo encontrar são opiniões irredutíveis e agressivas, muitas vezes atacando o autor do artigo ou os autores de outros comentários. Além disso, a impressão que eu tenho, frequentemente, é a de que grande parte dos leitores mais agressivos nem chegou a entender o texto. Ou pior, nem chegou a lê-lo na íntegra.

Conversando sobre isso com uma amiga recentemente, eis que ela solta, frustrada: argh, esse pessoal tem preguiça de pensar! Concordei vigorosamente com ela e, contentes com a nossa sintonia de pensamento, demos o assunto por encerrado. 

Mais tarde, no entanto, não consegui parar de pensar nisso. Será mesmo que as pessoas têm preguiça de pensar? Afinal, mesmo entre as pessoas que claramente leram determinado texto, você vai encontrar recusas agressivas e opiniões furiosas. 

O que está por trás, de verdade, das opiniões irredutíveis e agressivas que poluem a internet? Além disso, o que faz com que algumas pessoas se recusem a aceitar fatos científicos, reflexões bem embasadas e experiências vivenciadas no próprio dia-a-dia? 

Encontramos por aí milhares de pessoas que se recusam a acreditar na evolução; que não levam a sério o suicídio coletivo que estamos cavando com a destruição do planeta; que acham que as mulheres reclamam de boca cheia quando falam sobre desigualdade de gênero; que argumentam que o racismo não existe no Brasil e que quem fala sobre isso é racista…contra os brancos!; etc, etc, etc. Simplesmente não consegui acreditar que tudo isso fosse o resultado de simples preguiça de pensar e, pesquisando o assunto, eis que descubro que o buraco é realmente mais embaixo.

Em 1950, o célebre psicólogo Leon Festinger publicou um estudo que se tornou famoso no campo da psicologia. Para tal, ele e seus colegas se infiltraram nos Seekers, um pequeno culto que acreditava que extraterrestres estavam se comunicando com a líder do grupo através de mensagens psicografadas.

Através de uma dessas mensagens, os aliens haviam passado a data em que a Terra seria destruída: 21 de dezembro de 1954. Com a aproximação do evento, muitos seguidores do culto largaram seus empregos, venderam seus bens e se prepararam para ser resgatados por discos voadores, tomando o cuidado até de remover zíperes de calças e casacos, pois o metal poderia ser perigoso dentro da nave alienígena. Taí um motivo inusitado para os pais não deixarem seus filhos usarem piercings.

Quando a data marcada veio e se foi e nada do que foi prometido aconteceu, a equipe de Festinger estava junto com os Seekers e pôde observar em primeira mão a sua reação. Surpreendentemente, ao invés de rejeitar a crença absurda depois da prova irrefutável de sua inexistência, os Seekers rapidamente começaram a racionalizar os acontecimentos. 

Logo, uma nova mensagem chegou através da líder do grupo: o pequeno grupo, que esperara a noite inteira, havia espalhado tanta luz que deus resolveu salvar o mundo da destruição. Ou seja, o fato de eles terem acreditado na profecia salvou a Terra da profecia! Mais bizarro ainda foi que aconteceu depois disso. Ao invés de continuarem, então, sua existência quieta e pacífica, os Seekers começaram a tentar converter outras pessoas para o culto. De repente, porque a sua crença foi tão brutalmente desafiada, ela se tornou ainda mais urgente e verdadeira para eles.

Desde então, muitos outros estudos comprovaram que as nossas crenças pré-existentes, por mais ilógicas que sejam, são tão poderosas que são capazes de influenciar as nossas opiniões, mesmo quando novos fatos e descobertas são apresentados.

Basicamente, nós tendemos a acreditar em informações que confirmam as nossas crenças e a ignorar, fazer pouco caso, ou até vociferar contra informações que as desafiam.

O problema, chamado de raciocínio motivado, pode ser explicado pela descoberta neurocientífica de que as nossas emoções são ativadas antes do nosso raciocínio, quando somos confrontados com novas pessoas, situações e ideias. 

A repulsa natural que sentimos contra informações que desafiam a nossa visão de mundo, por sua vez, contamina o nosso raciocínio, fazendo com que ao invés de raciocinar sobre um determinado assunto, nós o racionalizemos, buscando pensamentos e memórias falsos que reforcem as nossas crenças preexistentes. 

É por isso que, às vezes, ao invés de uma frase agressiva, você vai ver um verdadeiro texto agressivo nos comentários, empenhado em justificar a opinião contrária com fatos, relatos e informações facilmente refutáveis (às vezes até pelo próprio texto que está sendo criticado). É o famoso ‘falou, falou e não disse nada’.

Baseados em crenças preexistentes, nós também decidimos se uma fonte é confiável ou não. Ou seja, nós costumamos invalidar uma fonte, seja ela científica ou não, caso essa fonte apresente informações que vão contra as nossas crenças.

Por esse motivo, infelizmente, é extremamente difícil conseguir convencer as pessoas de algo diretamente, através de dados claros e cálculos irrepreensíveis, se esse algo desafia a visão de mundo dessas pessoas. 

Pior: muitas vezes, quando confrontadas com fatos irrefutáveis, elas se tornam ainda mais radicais e fervorosas.

Pensando em tudo isso, não pude deixar de concluir: não é exatamente preguiça de pensar – apesar de ela ter, sim, um papel nessa história toda – mas sim medo de pensar o responsável principal por muitas aberrações que vemos, não só na internet, como no mundo. 

Afinal, pensar – raciocinar mesmo – além de muitas vezes exigir que a pessoa confronte e abandone suas próprias crenças, frequentemente exige que ela assuma responsabilidades e aceite mudanças. E este é um processo doloroso, contra o qual a nossa própria biologia luta o tempo todo.

No entanto, felizmente nós também somos seres extremamente sociais. Com isso, nós sentimos forte a necessidade de validação de nossas atitudes e crenças, o que torna o raciocínio motivado vulnerável para processos racionais de debate e crítica. 

O questionamento constante e o pensamento crítico, portanto, devem ser incentivados por todos e em todas as esferas da sociedade.

Afinal, como apontado pela célebre filósofa e cientista política Hannah Arendt, a recusa em refletir, em se fazer perguntas difíceis, em dialogar frequentemente consigo próprio e a nossa propensão a sucumbir a falhas de pensamento e de julgamento são todos fatores que já levaram – e levam todos os dias – o ser humano a realizar atrocidades inimagináveis.

E contra isso nós devemos lutar, nem que isso signifique ter que lutar contra si próprio.


Postado no Conti Outra



A boçalidade do mal


Guido Mantega e a autorização para deletar a diferença


Eliane Brum

Em 19 de fevereiro, Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda dos governos de Lula e de Dilma Rousseff, estava na lanchonete do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, quando foi hostilizado por uma mulher, com o apoio de outras pessoas ao redor. Os gritos: “Vá pro SUS!”. Entre eles, “safado” e “fdp”. Mantega era acompanhado por sua esposa, Eliane Berger, psicanalista. Ela faz um longo tratamento contra o câncer no hospital, mas o casal estava ali para visitar um amigo. O episódio se tornou público na semana passada, quando um vídeo mostrando a cena foi divulgado no YouTube.

Entre as várias questões importantes sobre o momento atual do Brasil – mas não só do Brasil – que o episódio suscita, esta me parece particularmente interessante:

“Que passo é esse que se dá entre a discordância com relação à política econômica e a impossibilidade de sustentar o lugar do outro no espaço público?”.

A pergunta consta de uma carta escrita pelo Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública (MPASP), que encontrou na cena vivida por Guido e Eliane ecos do período que antecedeu a Segunda Guerra, na Alemanha nazista, quando se iniciou a construção de um clima de intolerância contra judeus, assim como contra ciganos, homossexuais e pessoas com deficiências mentais e/ou físicas. O desfecho todos conhecem. Em apoio a Guido e Eliane, mas também pela valorização do Sistema Único de Saúde (SUS), que atende milhões de brasileiros, o MPASP lançou a hashtag #VamosTodosProSUS.

Pode-se aqui fazer a ressalva de que a discordância vai muito além da política econômica e que o ex-ministro petista encarnaria na lanchonete de um dos hospitais privados mais caros do país algo bem mais complexo. Mas a pergunta olha para um ponto preciso do cotidiano atual do Brasil: em que momento a opinião ou a ação ou as escolhas do outro, da qual divergimos, se transforma numa impossibilidade de suportar que o outro exista? E, assim, é preciso eliminá-lo, seja expulsando-o do lugar, como no caso de Guido e Eliane, seja eliminando sua própria existência – simbólica, como em alguns projetos de lei que tramitam no Congresso, visando suprimir direitos fundamentais dos povos indígenas ou de outras minorias; física, como nos crimes de assassinato por homofobia ou preconceito racial.

O que significa, afinal, esse passo a mais, o limite ultrapassado, que tem sido chamado de “espiral de ódio” ou “espiral de intolerância”, num país supostamente dividido (e o supostamente aqui não é um penduricalho)? De que matéria é feita essa fronteira rompida?
"A descoberta de que aquele vizinho simpático com quem trocávamos amenidades no elevador defende o linchamento de homossexuais tem um impacto profundo"
A resposta admite muitos ângulos. Na minha hipótese, entre tantas possíveis, peço uma espécie de licença poética à filósofa Hannah Arendt, para brincar com o conceito complexo que ela tão brilhantemente criou e chamar esse passo a mais de “a boçalidade do mal”. Não banalidade, mas boçalidade mesmo. Arendt, para quem não lembra, alcançou “a banalidade do mal” ao testemunhar o julgamento do nazista Adolf Eichmann, em Jerusalém, e perceber que ele não era um monstro com um cérebro deformado, nem demonstrava um ódio pessoal e profundo pelos judeus, nem tampouco se dilacerava em questões de bem e de mal. Eichmann era um homem decepcionantemente comezinho que acreditava apenas ter seguido as regras do Estado e obedecido à lei vigente ao desempenhar seu papel no assassinato de milhões de seres humanos. Eichmann seria só mais um burocrata cumprindo ordens que não lhe ocorreu questionar. A banalidade do mal se instala na ausência do pensamento.

A boçalidade do mal, uma das explicações possíveis para o atual momento, é um fenômeno gerado pela experiência da internet. Ou pelo menos ligado a ela. Desde que as redes sociais abriram a possibilidade de que cada um expressasse livremente, digamos, o seu “eu mais profundo”, a sua “verdade mais intrínseca”, descobrimos a extensão da cloaca humana. Quebrou-se ali um pilar fundamental da convivência, um que Nelson Rodrigues alertava em uma de suas frases mais agudas: “Se cada um soubesse o que o outro faz dentro de quatro paredes, ninguém se cumprimentava”. O que se passou foi que descobrimos não apenas o que cada um faz entre quatro paredes, mas também o que acontece entre as duas orelhas de cada um. Descobrimos o que cada um de fato pensa sem nenhuma mediação ou freio. E descobrimos que a barbárie íntima e cotidiana sempre esteve lá, aqui, para além do que poderíamos supor, em dimensões da realidade que só a ficção tinha dado conta até então.

Descobrimos, por exemplo, que aquele vizinho simpático com quem trocávamos amenidades bem educadas no elevador defende o linchamento de homossexuais. E que mesmo os mais comedidos são capazes de exercer sua crueldade e travesti-la de liberdade de expressão. Nas postagens e comentários das redes sociais, seus autores deixam claro o orgulho do seu ódio e muitas vezes também da sua ignorância. Com frequência reivindicam uma condição de “cidadãos de bem” como justificativa para cometer todo o tipo de maldade, assim como para exercer com desenvoltura seu racismo, sua coleção de preconceitos e sua abissal intolerância com qualquer diferença.

Foi como um encanto às avessas – ou um desencanto. A imagem devolvida por esse espelho é obscena para além da imaginação. Ao libertar o indivíduo de suas amarras sociais, o que apareceu era muito pior do que a mais pessimista investigação da alma humana. Como qualquer um que acompanha comentários em sites e postagens nas redes sociais sabe bem, é aterrador o que as pessoas são capazes de dizer para um outro, e, ao fazê-lo, é ainda mais aterrador o que dizem de si. Como o Eichmann de Hannah Arendt, nenhum desses tantos é um tipo de monstro, o que facilitaria tudo, mas apenas ordinariamente humano.
"Ao permitir que cada indivíduo se mostrasse sem máscaras, a internet arrancou da humanidade a ilusão sobre si mesma"
Ainda temos muito a investigar sobre como a internet, uma das poucas coisas que de fato merecem ser chamadas de revolucionárias, transformaram a nossa vida e o nosso modo de pensar e a forma como nos enxergamos. Mas acho que é subestimado o efeito daquilo que a internet arrancou da humanidade ao permitir que cada indivíduo se mostrasse sem máscaras: a ilusão sobre si mesma. Essa ilusão era cara, e cumpria uma função – ou muitas – tanto na expressão individual quanto na coletiva. Acho que aí se escavou um buraco bem fundo, ainda por ser melhor desvendado.

Como aprendi na experiência de escrever na internet que não custa repetir o óbvio, de forma nenhuma estou dizendo que a internet, um sonho tão estupendo que jamais fomos capazes de sonhá-lo, é algo nocivo em si. A mesma possibilidade de se mostrar, que nos revelou o ódio, gerou também experiências maravilhosas, inclusive de negação do ódio. Assim como permitiu que pessoas pudessem descobrir na rede que suas fantasias sexuais não eram perversas nem condenadas ao exílio, mas passíveis de serem compartilhadas com outros adultos que também as têm. Do mesmo modo, a internet ampliou a denúncia de atrocidades e a transformação de realidades injustas, tanto quanto tornou o embate no campo da política muito mais democrático.

Meu objetivo aqui é chamar a atenção para um aspecto que me parece muito profundo e definidor de nossas relações atuais. A sociedade brasileira, assim como outras, mas da sua forma particular, sempre foi atravessada pela violência. Fundada na eliminação do outro, primeiro dos povos indígenas, depois dos negros escravizados, sua base foi o esvaziamento do diferente como pessoa, e seus ecos continuam fortes. A internet trouxe um novo elemento a esse contexto. Quero entender como indivíduos se apropriaram de suas possibilidades para exercer seu ódio – e como essa experiência alterou nosso cotidiano para muito além da rede.
"Finalmente era possível “dizer tudo”, e isso passou a ser confundido com autenticidade e liberdade"
É difícil saber qual foi a primeira baixa. Mas talvez tenha sido a do pudor. Primeiro, porque cada um que passou a expressar em público ideias que até então eram confinadas dentro de casa ou mesmo dentro de si, descobriu, para seu júbilo, que havia vários outros que pensavam do mesmo jeito. Mesmo que esse pensamento fosse incitação ao crime, discriminação racial, homofobia, defesa do linchamento. Que chamar uma mulher de “vagabunda” ou um negro de “macaco”, defender o “assassinato em massa de gays”, “exterminar esse bando de índios que só atrapalham” ou “acabar com a raça desses nordestinos safados” não só era possível, como rendia público e aplausos. Pensamentos que antes rastejavam pelas sombras passaram a ganhar o palco e a amealhar seguidores. E aqueles que antes não ousavam proclamar seu ódio cara a cara, sentiram-se fortalecidos ao descobrirem-se legião. Finalmente era possível “dizer tudo”. E dizer tudo passou a ser confundido com autenticidade e com liberdade.

Para muitos, havia e há a expectativa de que o conhecimento transmitido pela oralidade, caso de vários povos tradicionais e de várias camadas da população brasileira com riquíssima produção oral, tenha o mesmo reconhecimento na construção da memória que os documentos escritos. Na experiência da internet, aconteceu um fenômeno inverso: a escrita, que até então era uma expressão na qual se pesava mais cada palavra, por acreditar-se mais permanente, ganhou uma ligeireza que historicamente esteve ligada à palavra falada nas camadas letradas da população. As implicações são muitas, algumas bem interessantes, como a apropriação da escrita por segmentos que antes não se sentiam à vontade com ela. Outras mostram as distorções apontadas aqui, assim como a inconsciência de que cada um está construindo a sua memória: na internet, a possibilidade de apagar os posts é uma ilusão, já que quase sempre eles já foram copiados e replicados por outros, levando à impossibilidade do esquecimento

O fenômeno ajuda a explicar, entre tantos episódios, a resposta de Washington Quaquá, prefeito de Maricá e presidente do PT fluminense, uma figura com responsabilidade pública, além de pessoal, às agressões contra Guido Mantega. Em seu perfil no Facebook, ele sentiu-se livre para expressar sua indignação contra o que aconteceu na lanchonete do Einstein nos seguintes termos: “Contra o fascismo a porrada. Não podemos engolir esses fascistas burguesinhos de merda! (...) Vamos pagar com a mesma moeda: agrediu, devolvemos dando porrada!”.
"O outro, se não for um clone, só existe como inimigo"
O ódio, e também a ignorância, ao serem compartilhados no espaço público das redes, deixaram de ser algo a ser reprimido e trabalhado, no primeiro caso, e ocultado e superado, no segundo, para ser ostentado. E quando me refiro à ignorância, me refiro também a declarações de não saber e de não querer saber e de achar que não precisa saber. Me arrisco a dizer que havia mais chances quando as pessoas tinham pudor, em vez de orgulho, de declarar que acham museus uma chatice ou que não leram o texto que acabaram de desancar, porque pelo menos poderia haver uma possibilidade de se arriscar a uma obra de arte que as tocasse ou a descobrir num texto algo que provocasse nelas um pensamento novo.

Sempre se culpa o anonimato permitido pela rede pelas brutalidades ali cometidas. É verdade que o anonimato é uma realidade, que há os “fakes” (perfis falsos) e há toda uma manipulação para falsificar reações negativas a determinados textos e opiniões, seja por grupos organizados, seja como tarefa de equipes de gerenciamento de crise de clientes públicos e privados. Tanto quanto há campanhas de desqualificação fabricadas como “espontâneas”, nas quais mentiras ou boatos são disseminados como verdades comprovadas, causando enormes estragos em vidas e causas.

Mas suspeito que, no que se refere ao indivíduo, a notícia – boa ou má – é que o anonimato foi em grande medida um primeiro estágio superado. Uma espécie de ensaio para ver o que acontece, antes de se arriscar com o próprio RG. Não tenho pesquisa, só observação cotidiana. Testemunho dia a dia o quanto gente com nome e sobrenome reais é capaz de difundir ódio, ofensas, boatos, preconceitos, discriminação e incitação ao crime sem nenhum pudor ou cuidado com o efeito de suas palavras na destruição da reputação e da vida de pessoas também reais. A preocupação de magoar ou entristecer alguém, então, essa nem é levada em conta. Ao contrário, o cuidado que aparece é o de garantir que a pessoa atacada leia o que se escreveu sobre ela, o cuidado que se toma é o da certeza de ferir o outro. O outro, se não for um clone, só existe como inimigo.
"Na eleição de 2014, descobriu-se que os bárbaros eram até ontem os aliados na empreitada da civilização"
O problema, quando se aponta os “bárbaros”, e aqui me incluo, é justamente que os bárbaros são sempre os outros. Neste sentido, a eleição de 2014, da qual derivou a tese, para mim bastante questionável, do “Brasil partido”, bagunçou um bocado essa crença. Não foi à toa que amizades antigas se desfizeram, parentes brigaram e até amores foram abalados, que até hoje há gente que se gostava que não voltou a se falar. As redes sociais, a internet, viraram um campo de guerra, num nível maior do que em qualquer outra eleição ou momento histórico. Só que, desta vez, os bárbaros eram até ontem os aliados na empreitada da civilização.

Descobriu-se então que pessoas com quem se compartilhou sonhos ou pessoas que se considerava éticas – pessoas do “lado certo” – eram capazes de lançar argumentos desonestos – e que sabiam ser desonestos – e até mentiras descaradas, assim como de torturar números e manipular conceitos. Eram capazes de fazer tudo o que sempre condenaram, em nome do objetivo supostamente maior de ganhar a eleição. Os bárbaros não eram mais os outros, os de longe. Desta vez, eram os de perto, bem de perto, que queriam não apenas vencer, mas destruir o diferente ou o divergente, eu ou você. O bárbaro era um igual, o que torna tudo mais complicado.

Não se sai imune desse confronto com a realidade do outro, a parte mais fácil. Não se sai impune desse confronto com a realidade de si, este um enfrentamento só levado adiante pelos que têm coragem. Como sabemos, enquanto for possível e talvez mesmo quando não seja mais, cada um fará de tudo para não se enxergar como bárbaro, mesmo que para isso precise mentir para si mesmo. É duro reconhecer os próprios crimes, assim como as traições, mesmo as bem pequenas, e as vilanias. Mas, no fundo, cada um sabe o que fez e os limites que ultrapassou. O que aconteceu na eleição de 2014 é que os bons e os limpinhos descobriram algumas nuances a mais de sua condição humana, e descobriram o pior: também eles (nós?) não são capazes de respeitar a opinião e a escolha diferente da sua. Também eles (nós?) não quiseram debater, mas destruir. De repente, só havia “haters” (odiadores). De novo: desse confronto não se sai impune. A boçalidade do mal ganhou dimensões imprevistas.
"A experiência poderosa de se mostrar sem recalques transcendeu e influenciou a vida para além das redes"
Seria improvável que a experiência vivida na internet, na qual o que aconteceu nas eleições foi apenas o momento de maior desvendamento, não mudasse o comportamento quando se está cara a cara com o outro, quando se está em carne e osso e ódio diante do outro, nos espaços concretos do cotidiano. Seria no mínimo estranho que a experiência poderosa de se manifestar sem freios, de se mostrar “por inteiro”, de eliminar qualquer recalque individual ou trava social e de “dizer tudo” – e assim ser “autêntico”, “livre” e “verdadeiro” – não influenciasse a vida para além da rede. Seria impossível que, sob determinadas condições e circunstâncias, os comportamentos não se misturassem. Seria inevitável que essa “autorização” para “dizer tudo” não alterasse os que dela se apropriaram e se expandisse para outras realidades da vida. E a legitimidade ganhada lá não se transferisse para outros campos. Seria pouco lógico acreditar que a facilidade do “deletar” e do “bloquear” da internet, um dedo leve e só aparentemente indolor sobre uma tecla, não transcendesse de alguma forma. Não se trata, afinal, de dois mundos, mas do mesmo mundo – e do mesmo indivíduo.

A mulher que se sentiu “no direito” de xingar Guido Mantega e por extensão Eliane Berger, e tornar sua presença na lanchonete do hospital insuportável, assim como as pessoas que se sentiram “no direito” de aumentar o coro de xingamentos, possivelmente acreditem que estavam apenas exercendo a liberdade de expressão como “cidadãos de bem indignados com o PT”, uma frase corriqueira nos dias de hoje, quase uma bandeira. Ao mandar Guido e Eliane para outro lugar – e não para qualquer lugar, mas “pro SUS” – devem acreditar que o Sistema Único de Saúde é a versão contemporânea do inferno, para a qual só devem ir os proscritos do mundo. Possivelmente acreditem também que o espaço do Hospital Israelita Albert Einstein deve continuar reservado para uma gente “diferenciada”. Em nenhum momento parecem ter enxergado Guido e Eliane como pessoas, nem se lembrado de que quem está num hospital, seja por si mesmo, seja por alguém que ama, está numa situação de fragilidade semelhante a deles. O direito ao ódio e à eliminação do outro mostrou-se soberano: aquele que é diferente de mim, eu mato. Ou deleto. Simbolicamente, no geral; fisicamente, com frequência assustadora.

Mas, claro, nada disso é importante. Nem é importante a greve dos caminhoneiros ou a falta de água na casa dos mais pobres. Tampouco a destruição de estátuas milenares pelo Estado Islâmico. Essencial mesmo é o grande debate da semana que passou: descobrir se o vestido era branco e dourado – ou preto e azul. Até mesmo sobre tal irrelevância, a selvageria do bate-boca nas redes mostrou que não é possível ter opinião diferente.

Já demos um passo além da banalidade. Nosso tempo é o da boçalidade.


Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com 


Postado no El País em 02/03/2015


Nota

Sobre o texto acima o Jornalista Fernando Brito postou em seu blog Tijolaço em 03/03/2015 :



Recebo de uma amiga, via Facebook, um texto muito interessante – e preocupante - da escritora, repórter e documentarista Eliane Brum, que muitos devem conhecer por seus livros, participação em programas de rádio e colunas na revista Época.

É longo, bem escrito, lúcido e toca em uma das coisas que mais me aflige, hoje.

A brutalidade que vem marcando o nosso comportamento.

Estamos caminhando (ou sendo conduzidos) pelo caminho terrível da quebra dos sentimentos (e também das convenções, entendidas como sistema de regras de convívio) coletivos.

Um processo que se inicia lá atrás, há 30 anos, com o secessionismo de nações, de etnias, de grupos culturais, até o que andou se chamando por aqui de “tribalismo”.

Os partidos políticos, os sindicatos, as associações, tudo aquilo que nos unia foi sendo reduzido a “comunidades”.

Quase seitas, nós que gostamos tanto de menosprezar os islâmicos.

Qualquer semelhança com um filme do processo civilizatório humano passado ao contrário não é mera coincidência.

Passamos a amar as prisões, as condenações, os “bandidos bons, os bandidos mortos”, os negrinhos amarrados no poste.

Ah, sim, também desprezamos os nordestinos, os gays, os pretos, os pobres, os “bolsa-família” vagabundos e, ia esquecendo, o voto da população.

E tem do lado de cá, também, porque nos apressamos a apontar como “politicamente incorreto” e em rejeitar como “coxinha” quem embarca nesta maré que não são, absolutamente, eles que constroem, mas gente muito bem articulada.

Alguns diriam que estamos nos tornando “bárbaros”.

Não, não, estamos nos tornando “romanos”.

Ou absorvendo a expressão grega de que “quem não é um grego é um bárbaro”.

Os que não são iguais a nós, automaticamente, é que são os “bárbaros”. Como diz a Eliane, “o problema, quando se aponta os “bárbaros”, e aqui me incluo, é justamente que os bárbaros são sempre os outros”.

E os bárbaros devem ser eliminados.

Nestes tempos virtuais, “deletados”.

Por isso, achei tão legal o texto da gaúcha Eliane – os gaúchos, de tantas pelejas brutas, têm uma frase que afirma que “a luta não quita a fidalguia” – e dele reproduzo um pequeno trecho, recomendando a leitura integral.
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Nota

Não reproduzi o trecho citado por Fernando Brito, pois acima reproduzo o texto integral postado no El País.