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Partido da Vovozinha Feminista - Toda netinha deveria saber




Postado no blog Educação Política em 08/06/2012
Obs.: Há 3 vídeos muito interessantes em anexo

Marcha das Vadias: Não encontrei uma só mulher correta entre elas



Ardilosa, traiçoeira, imperfeita, costela de Adão, estrada por onde adentrou o pecado. A menstruação? Castigo! As dores do parto? Castigo! O ser mulher está envolto em um misto de dor, vergonha e maldição. Existe uma prece matinal que diz: “Abençoado seja Deus, Rei do universo que não nos fez mulher”.



Alguns grupos de jovens de comunidades religiosas promoveram aqui em Porto Alegre, uma série de ações de repudio a Marcha das Vadias, colocando que as mulheres não são vadias e sim princesas delicadas de deus, que são mães honradas. Poucas pessoas sabem, mas frequentei a Igreja Católica até meus 17 anos. Fiz primeira comunhão, crisma, ia em grupo de oração, missa toda a semana e quando comecei a questionar algumas coisas fui colocada a parte… E que bom que fui colocada a parte!


Lembro que na minha adolescência havia um seminarista muito “promissor” na igreja e este acabou se apaixonando por uma amiga, saiu do seminário e começaram a namorar. No dia que a noticia veio a tona, me recordo que fiquei horrorizada, pois essa moça tinha “desviado” o garoto. Lembro-me das senhoras comentando como ela tinha feito a cabeça dele, como ela tinha seduzido, como ela tinha lançado de artimanhas para corromper o pobre rapaz. Ela não era uma mulher correta.


Marcha das Vadias de Porto Alegre/2012. Foto de Ana Rita Dutra.

A culpa é um conceito central quando pensamos nessa mulher legitimada pela patriarcado. Ela tem culpa por ter nascido mulher, ela tem culpa pelo desvio do comportamento masculino, ela tem culpa sobre o seu corpo, ela tem culpa até pela violência que ela sofre. Ela é naturalmente inacabada e imperfeita. E, essa imagem de imperfeição dá o toque para a forma como se encaminha sua vida. Ela tem a mente inferior, ela precisa de um homem para tomar conta dela.

Quando converso com as mulheres sobre a forma como foi o período inicial de sua vida adulta, estas, em sua grande maioria, ouviam com frequência que precisavam de um homem para controlar seas atos, para cuidar delas. Quando os namoros se prolongavam vinha a frase: mas quando ele vai te assumir? Não estou falando de conversas de 1960, falo aqui de conversas que acontecem em 2012.


Marcha das Vadias de Porto Alegre/2012. Foto de Ana Rita Dutra.

A Marcha das Vadias foi um dos assuntos mais comentados nos últimos dias, e trouxe consigo um questionamento sobre a culpa da mulher, sobre esses conjuntos de concepções machistas, patriarcais que culpabilizam a mulher até pela violência que ela sofre. A Marcha das Vadias não é uma manifestação pura e simplesmente sobre sexo, é uma ação sobre violência, sobre a liberdade de ir e vir da mulher, sobre o direito da mulher sobre seu corpo. Corpo dela, corpo único, corpo belo.

Quando vejo a sociedade se manifestando sobre a Marcha das vadias dizendo que: “Elas se vestem como vadias e depois não querem ser tratadas como uma”; vejo ser exposta a mais pura essência do machismo, a profunda raíz que divide as mulheres entre corretas, merecedoras do respeito, atenção e dedicação e as incorretas, as vadias, que podem ser humilhadas, agredidas, violadas, excluídas. Me inquieta a disseminação dessa frase, me inquieta que tantas pessoas não percebam a essência horrorosa, cruel, assassina que esta por de trás disso. Quer dizer que existe uma forma de tratar vadias? Quer dizer que temos o direito de violentar uma mulher porque ela usa saia curta, porque ela esta nua numa esquina? É isso?

Penso que, nas criações de meninos e meninas, reforçamos essa triste ideia. Reforçamos implicitamente que ela deve se comportar de tal forma, para não parecer uma vadia, pois se ela for uma vadia poderá ser agredida, e se isso acontecer? Não adianta chorar, ela que provocou. Castramos e retiramos das meninas toda e qualquer expressão que possa ter relação com a mínima sexualidade. Pois, a minima sexualização na mente inferior feminina pode culminar no nascimento de uma vadia, que um dia ainda vai envergonhar a família. Simone de Beavouir nos diz, na parte II do Segundo Sexo, como nos fala sobre a exaltação do pênis do menino e a anulação dos órgãos genitais da menina:

"A sorte da menina é muito diferente. Nem mães, nem amas tem reverência e ternura por suas partes genitais; não chamam a atenção para esse órgão secreto de que só o invólucro se vê e não se deixa tocar; em certo sentido, a menina não tem sexo. Não sente essa ausência como uma falha; seu corpo é evidentemente uma plenitude para ela, mas ela se acha situada no mundo de um modo diferente do menino e um conjunto de fatores pode transformar a seus olhos a diferença em inferioridade." (p.14)


Marcha das Vadias de Porto Alegre/2012. Foto de Ana Rita Dutra.

Essa mesma lógica que a Grande Simone de Beauvoir compartilha conosco em 1949, ainda está presente em 2012. Ainda está presente na idealização de uma mulher correta, uma mulher anulada totalmente de sua sexualidade. E, quando essa sexualidade existe ela deve ser vivenciada para o parceiro, dentro de uma relação fechada e que é aceita socialmente. Qualquer relação fora desta regra coloca a mulher como vadia e culpada por toda e qualquer violência que venha a sofrer.

Dia 27 de maio, aconteceu a Marcha das Vadias de Porto Alegre. Alguns veículos de comunicação estimam mais de 2 mil pessoas. Para algumas pessoas deve ter sido a maior quantidade de mulheres que merecem ser estupradas e são a vergonha da família por metro quadrado.


Marcha das Vadias de Porto Alegre/2012. Foto de Ana Rita Dutra

A organização do evento, em grande parte passando pelas redes sociais obteve uma grande resposta, uma resposta positiva. Na Marcha das Vadias do ano passado, creio que éramos menos de 100 mulheres. Lembro-me de ter ficado emocionada com a participação dessas pessoas levantando seus cartazes e dizendo: A culpa nunca é da vítima! Esse ano ocorreu a adesão de mais pessoas, e mesmo que se levante a questão de que algumas pessoas estavam ali sem estarem envolvidas realmente com a problemática, o que pude observar foi que a maioria dos participantes estavam engajados na luta pelo fim da violência contra a mulher, levantando suas bandeiras.

Entre tantos grupos que participaram do evento, destaco um grupo de mulheres defensoras do parto normal humanizado que participaram da Marcha com seus bebês no sling, trazendo cartazes lembrando que a violência obstétrica também é violência contra a mulher. Emocionou-me também as mulheres lésbicas, gritando bem alto: O amor não tem idade, sou lésbica na maturidade. Teve também um senhor, já de avançada idade, que acompanhou toda a Marcha e pedia para que alguns jovens o ajudassem com a bengala na hora em que todos gritavam: “Quem não pula é machista”. Este senhor estava lá querendo pular. Apoiando a luta por um mundo com muito mais liberdade, respeito e sem violência.

Não tenho como citar aqui todos os grupos que participaram, que se engajaram na realização da Marcha de Porto Alegre, mas posso colocar para o resto do Brasil que foi um momento muito importante, emocionante, onde o feminismo tomou as ruas e mostrou a sua força. Mostrou para que veio.

Não encontrei uma só mulher correta entre todas elas… Que bom! Que bom que o que é considerado incorreto em um sistema opressor, violador, esta tomando as ruas. E que cada vez mais possamos ressignificar palavras. Possamos agir e lutar para manter os direitos já conquistados e revindicar novos direitos.

Coloque mais feminismo no seu feminino!





Pesquisadora, educadora, especialista em Memória Social e Identidades Culturais Blogueira e feminista! Defensora dos direitos sexuais e reprodutivos, da liberdade religiosa, dos direitos das mulheres e meninas! Lutadora e sonhadora! Acredito sim num mundo melhor agora!!!


Postado no blog Blogueiras Feministas em 01/06/2012


Machista exibicionista comeu um dobrado com as "vadias"


Aposto que terá mané que dirá que as mulheres são ‘feminazis’, e que o machista exibicionista só estava ‘exercendo sua liberdade de expressão’.


Foto Augusto Daster Pontual. Marcha das Vadias, Brasília.
Abaixo o vídeo onde o exibicionista machista provoca as mulheres, abrindo a braguilha para mostrar seu órgão genital, mas acaba impedido pela multidão. Por pouco o imbecil não foi linchado.
O que passa na cabeça de um cretino deste ofender mulheres num dia em que elas saem às ruas exatamente para protestar contra o machismo e a violência machista?
Para a sorte do machista exibicionista ele foi preso em seguida.

                     
Leia também:
Postado no blog Maria Frô em 31/05/2012

Simone de Beauvoir: o que é ser mulher?


Hoje é o aniversário de 
Simone de Beauvoir. Se estivesse viva, ela faria 104 anos. É dela uma das principais frases do movimento feminista: “Não se nasce mulher, torna-se mulher.” A mulher não tem um destino biológico, ela é formada dentro de uma cultura que define qual o seu papel no seio da sociedade. As mulheres, durante muito tempo, ficaram aprisionadas ao papel de mãe e esposa, sendo a outra opção o convento. Porém, a própria Simone rompe com esse destino feminino e faz de sua vida algo completamente diferente do esperado para uma mulher.

Simone de Beauvoir. Foto de Rex Features/Sipa Press
Nascida em uma família da alta burguesia francesa, Simone era a mais velha de duas filhas. Durante sua infância a família faliu e, por considerar que as filhas não conseguiriam bons casamentos, pois não havia dinheiro para um bom dote, George de Beauvoir se convenceu de que somente o sucesso acadêmico poderia tirar as filhas da pobreza. De fato, Simone de Beauvoir teve mais poder de escolha que muitas mulheres de sua época. A educação e o desenvolvimento acadêmico são até hoje maneiras de forjar mulheres mais independentes, que rompem com os padrões de sua época. Ela faz uma crítica aos valores burgueses nos quais foi criada no livro “Memórias de uma moça bem comportada”.
Simone de Beauvoir tinha 41 anos quando publicou “O Segundo Sexo”, em 1949. Já naquela época a obra levantou inúmeras polêmicas. Uma das principais acusações é que Simone ridicularizava os homens. Isso é uma acusação que muitos usam contra o feminismo. Porém, as pessoas parecem não querer compreender o que realmente se passa na vida das mulheres e como todo o poder está concentrado nas mãos dos homens. “O Segundo Sexo” não é uma fonte historiografica para conhecer a história da mulher desde a antiguidade. É uma obra de inspiração, fundamental para descortinar a maneira pela qual as mulheres são criadas justamente para serem menos que os homens. Você pode baixar “O Segundo Sexo” em .pdf no blog Livros Feministas.
Lendo algumas das críticas que foram feitas a “O Segundo Sexo”, muitas parecem absurdas, mas ainda lemos opiniões conservadoras e moralizantes em diversos cadernos de opinião da mídia brasileira, especialmente quando se trata da sexualidade feminina. Entre seus críticos estava François Mauriac, escritor francês, que em uma de suas enquetes no Figaro Littéraire perguntou: “Estaria a iniciação sexual da mulher no seu devido lugar no sumário de uma revista literária e filosófica séria?” A questão dividiu os intelectuais. Para muitos “O Segundo Sexo” é um “manual de egoísmo erótico,” recheado de “ousadias pornográficas”; não passa de “uma visão erótica do universo”, um manifesto de “egoísmo sexual.” Jean Kanapa insiste: “Mas sim, pornografia. Não a boa e saudável sacanagem, nem o erotismo picante e ligeiro, mas a baixa descrição licenciosa, a obscenidade que revolta o coração.” A polêmica mistura tudo. A contracepção e o aborto são ligados nas mesmas frases às neuroses, ao vício, à perversidade, e à homossexualidade. Segundo uma carta da enquete, “a literatura de hoje é uma literatura de esnobes, de neuróticos e de impotentes.” Claude Delmas deplora “a publicação por Simone de Beauvoir dessa enjoativa apologia da inversão sexual e do aborto.” Pierre de Boisdeffre em Liberté de l’ésprit assinala “o sucesso de O Segundo Sexo junto aos invertidos e excitados de todo tipo.” Leia mais em O Auê do Segundo Sexo de Sylvie Chaperon, publicado no Cadernos Pagu 12, de 1999.
Capa da edição brasileira de 2009 do livro O Segundo Sexo.
Nenhuma obra, literária ou acadêmica, de Simone de Beauvoir foi recebida com indiferença. Sua principal contribuição é sempre propor a discussão democrática e as rupturas das estruturas psíquicas, sociais e políticas. Por ser escrito por uma mulher e para mulheres, “O Segundo Sexo” levanta diversas questões, até mesmo no meio literário. Há muito tempo a literatura classificada como feminina é sinônimo de textos sem grande aprofundamento teórico. Além disso, não era comum tratar de assuntos como sexualidade, maternidade e identidades sexuais, mesmo na França do pós-guerra.
Em 2009, Fernanda Montenegro estreou a peça “Viver Sem Tempos Mortos”, baseada nas cartas autobiográficas de Simone de Beauvoir. A temporada de 2011 foi encerrada em dezembro, mas há a possibilidade da peça reestrear novamente no futuro. Em entrevista a Revista Bravo, Fernanda Montenegro respondeu algumas perguntas sobre sua relação com a obra de Beauvoir:
Qual o primeiro livro dela que você leu?
Foi O Segundo Sexo, que saiu em 1949 e se transformou num clássico da literatura feminista, sobretudo por apregoar que as mulheres não nascem mulheres, mas se tornam mulheres. Ou melhor: que as características associadas tradicionalmente à condição feminina derivam menos de imposições da natureza e mais de mitos disseminados pela cultura. O livro, portanto, colocava em xeque a maneira como os homens olhavam as mulheres e como as próprias mulheres se enxergavam. Tais ideias, avassaladoras, incendiaram os jovens de minha geração e nortearam as nossas discussões cotidianas. Falávamos daquilo em todo canto, nos identificávamos com aquelas análises. Simone, no fundo, organizou pensamentos e sensações que já circulavam entre nós. Contribuiu, assim, para mudar concretamente as nossas trajetórias.
De que modo alterou a sua?
Sou descendente de italianos e portugueses, um pessoal muito simples, muito batalhador, e me criei nos subúrbios cariocas. Desde cedo, conheci mulheres que trabalhavam. E reparei que, entre os operários, na briga pela sobrevivência, os melindres do feminino e as prepotências do masculino se diluíam. Era necessário tocar o barco, garantir o sustento da família sem dar bola para certos pudores burgueses. Nesse sentido, a pregação feminista de que as mulheres deviam ir à luta profissionalmente não me impressionou tanto. Um outro conceito me seduziu bem mais: o da liberdade. A noção de que tínhamos direito às nossas próprias vidas, de que poderíamos escolher o nosso rumo e de que a nossa sexualidade nos pertencia. Eis o ponto em que o livro de Simone me fisgou profundamente. Lembro-me de quando vi pela primeira vez a cena da bomba atômica explodindo. Ou de quando me mostraram as imagens dos campos de concentração nazistas. O impacto negativo que aquilo me causou foi parecido com o impacto positivo que O Segundo Sexo exerceu sobre mim. Garota, já suspeitava que não herdaria o legado de minha mãe e de minhas avós, que não caminharia à sombra masculina. O livro de Simone me trouxe os argumentos para levar a suspeita adiante. Continue lendo em A vida é um demorado adeus.
Justamente por ter uma lógica própria de se colocar no mundo, Simone decidiu escrever “O Segundo Sexo” ao perceber que nunca havia se perguntado: o que é ser mulher? Essa continua sendo uma pergunta atual, que deve ser feita por todas nós em algum momento da vida.
[+] Vídeos – Arquivo N, programa da Globo News especial sobre Simone de Beauvoir com entrevistas, imagens e declarações: Parte 1parte 2 e parte 3.
[+] Não nasci mulher, e você? – Texto de Mari Moscou
[+] Parabéns, Querida Simone! Sempre! – Texto de Suely Oliveira

Srta. Bia

Uma feminista lambateira tropical.
Postado no Blog Blogueiras Feministas em 09/01/2012


Independência e Autonomia Femininas

Por Ana Paula Vosne Martins



Passos para uma relação mais igualitária


Há uma distinção entre libertação e autonomia. A libertação refere-se a uma ação que visa romper com uma condição negativa, geralmente de subalternidade e inferioridade. A libertação faz parte de um movimento que pode ser sócio-histórico ou individual visando alcançar independência, capacidade de se auto-governar, liberdade. 



Já a autonomia é um estado que não precisa estar relacionado com o movimento de ruptura com uma ordem anterior de dominação. A autonomia  exige consciência, capacidade de escolha, liberdade de pensamento e de ação, enfim, uma atitude em relação a si e ao mundo que não é de oposição a uma situação negativa, mas de afirmação de si na relação com o mundo e com os outros. 



Em nossa sociedade percebo que as mulheres se libertaram de uma condição de subalternidade social, jurídica e política, mas não chegaram à autonomia enquanto indivíduos. Indivíduos autônomos não são dependentes, o que parece óbvio, mas infelizmente não é. 



Não quero dizer que somente as mulheres são dependentes, pois os homens também o são de diversas maneiras, contudo gostaria de refletir sobre esta especificidade da dependência feminina. Está claro que não me refiro à dependência econômica, mas à dependência das expectativas masculinas; a esta necessidade de adequação a um modelo feminino estereotipado que agrade os homens, como se tudo dependesse disto. 



É esta dependência que infantiliza as mulheres de diferentes classes sociais e níveis de escolaridade, pois não se trata de um fenômeno de classe, mas cultural. Tal condição se sustenta em arraigados valores e crenças que opõem homens e mulheres como se fossem indivíduos de mundos diferentes – talvez seja por isso que livros de auto-ajuda que tratam das relações de gênero façam tanto sucesso, pois só reafirmam esta oposição e dão conselhos para “lidar” melhor com ela ou tirar vantagens.



É esta pretensa autoridade masculina em julgar e dizer o que é melhor, o que é mais adequado e desejável que precisa ser enfrentada pelas mulheres. No entanto, tal atitude desmistificadora demanda mulheres autônomas, que sejam corajosas, que tenham auto-estima e tudo isto não vem de graça ou é concedido por alguém ou alguma instituição: é fruto de ação assertiva e de consciência e isto só se conquista coletivamente, ou seja, por uma educação para a autonomia.



Diferenças de comportamento na hora de encontrar o parceiro



Penso que a necessidade afetiva de encontrar alguém com quem se possa viver e compartilhar dores e amores é igual para homens e mulheres, pois ambos são seres racionais e emocionais. O que faz parecer que os homens ajam de forma mais “natural” em relação a esta necessidade são os modelos de masculinidade construídos histórica e culturalmente. 



Nossa cultura ainda reforça muito a necessidade e a dependência feminina dos homens, como se a existência das mulheres dependesse da presença do homem em suas vidas. Isso nos faz pensar por que, por tanto tempo, as mulheres solteiras foram alvo de piedade ou de zombarias, muito mais que os homens solteiros; por que o casamento é ainda cercado de fantasias românticas para as mulheres muito mais do que é para os homens; enfim, tantos outros exemplos que poderíamos lembrar aqui de uma assimetria notável entre as expectativas femininas e masculinas no que diz respeito às relações amorosas. 



É preciso encarar que estas assimetrias nada têm de natural ou de instinto. As mulheres não têm um instinto gregário mais forte do que os homens, mas elas são educadas desde muito pequenas a desejar viver com um homem e a ter filhos com ele sob certas condições, a partir de um modelo muito limitado: mães têm filhos e cuidam deles; pais fazem filhos e os sustentam; maridos cuidam de suas esposas e estas devem fazer por merecer tais cuidados e atenções.



Não há nada de errado em desejar ser mãe e ter filhos, pelo contrário, se for um desejo nada melhor e mais satisfatório que ele se realize. A questão que se coloca hoje para as mulheres é a limitação de suas vidas a este modelo; é achar que toda a felicidade deste mundo se resume a certas fantasias, pois no mundo real homens e mulheres não agem conforme os príncipes e as princesas dos contos infantis. São o que são, seres contraditórios e imperfeitos; e o nosso desafio é romper com as fantasias e os modelos infantilizados de masculinidade e feminilidade para vivermos relações mais igualitárias.



OBS: Ana Paula Vosne Martins é doutora em História pela UNICAMP, com pós-doutorado pela Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ e uma das coordenadoras do Núcleo de Estudos de Gênero da Universidade Federal do Paraná. É também autora dos livros “Visões do feminino: a medicina da mulher nos séculos XIX e XX” (Editora Fiocruz)  e “Um lar em terra estranha” (Ed. Aos Quatro Ventos)


Postado no Blog Educa