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Contra o obscurantismo, somos todos Paulo Freire



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Ato na PUC de São Paulo manifestou apoio ao educador e defesa de educação popular





São Paulo – Para participantes de ato em apoio a Paulo Freire realizado nesta segunda-feira (23), na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, os recentes ataques ao educador miram a escola pública e a democracia brasileira. Alguns falaram em “obscurantismo” e “tempos sombrios”, ao citar o momento político do país. Um movimento conservador defende a revogação do título de Patrono da Educação Brasileira dado a Freire em 2012.

Para o professor Moacir Gadotti, presidente do Instituto Paulo Freire, o país vive um “apequenamento” desde o ano passado. Segundo ele, a questão envolve não apenas o educador: “É justamente a educação pública brasileira e a educação democrática, sobretudo. Uma educação que conquistamos em parte”.

Ele credita os ataques à falta de reflexão e de conhecimento. “Quando você não tem argumento, acaba usando do preconceito, da ignorância, quando não do ódio”, disse Gadotti, citando o próprio Freire, de quem foi amigo durante mais de duas décadas: “Sou professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação. É esse o caminho”.

Gadotti evocou o perfil “agregador” de Freire para a importância de uma reação, citando o manifesto em defesa do educador e da educação pública. “Está nascendo um movimento que vai congregar, que nos ajudará a superar certa apatia, certa perplexidade. É um pretexto para ampliar nossa luta contra essa desconstrução da democracia, essa piora das políticas públicas e essas políticas regressivas”, acrescentou.

O coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, também considera que a escola pública é o alvo da campanha contra Paulo Freire. Alguns dos críticos, inclusive, admitem que nem sequer leram alguma obra do educador: “Colocar Paulo Freire no centro das discussões talvez seja o único caminho para a gente vencer esse debate.”

A professora Ana Maria Saul, que trabalhou com Paulo Freire na PUC (durante 17 anos) e na Secretaria Municipal da Educação (entre o final dos anos 1980 e início dos 1990), enfatizou a defesa do educador “com uma pedagogia que se compromete com a humanização, contra a opressão”.

Autora do projeto que em 2012 deu origem à Lei 12.612, tornando Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira, a deputada federal Luiza Erundina (Psol-SP) lembrou da aplicação de métodos do educador com trabalhadores rurais na Paraíba, seu estado de origem, e citou a atuação de Dom José Maria Pires, arcebispo emérito paraibano, que morreu em agosto – era também conhecido como Dom Zumbi. Eleita prefeita de São Paulo no final de 1988, ainda pelo PT, ela recordou do convite feito por telefone – prontamente aceito, para sua surpresa – para que Freire assumisse a Secretaria da Educação.

“Ele é mais louvado, referenciado, lá fora. Aqui é um atraso histórico, atávico. Vamos acumular força política para ir além da manutenção do título. Vamos reagir a esse obscurantismo, a essa desgraça de governo. Paulo Freire vive”, exclamou Erundina, ao lado de Ana Maria Araújo Freire, a Nita, viúva do educador, que morreu em 1997.

Tolerância e amor

Segundo Nita, ele era um homem “extremamente amoroso”, que todo sábado e domingo perguntava: “O que tu queres fazer hoje?”, que sempre proporcionou proteção, sem nunca dar ordens ou decidir por ela.

E reagiu a quem o chama de “comunista”, como os defensores da revogação do título: “Ele era socialista e queria uma organização (política) a partir das necessidades brasileiras. Ele queria um socialismo construído pela população”, disse Nita, que conheceu Paulo Freire ainda pequena, em Recife – ambos se casaram depois de viúvos, em 1986.

Ela lamentou que o Brasil atual esteja “dilapidado” e sob ataques de movimentos de extrema-direita. Lembrou de uma mensagem de Chico Buarque, recebida depois do título de patrono: “É o Brasil dizendo que merece Paulo Freire”.

Segundo Nita, o educador sempre foi uma pessoa capaz de “agregar diferentes”.

“Tolerância e capacidade de amar foram os sentimentos mais fortes na vida de Paulo”, disse Nita. “Luto por um homem que foi um dos maiores intelectuais deste país, um dos maiores educadores do mundo, mas luto também pelo homem que amei a cada dia dos 10 anos que vivemos juntos.”


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Postado em Viomundo em 24/10/2017



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Lula : Um homem de visão



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No livro "Comentários a uma sentença anunciada - o processo Lula", 122 juristas apontam que houve arbitrariedades e equívocos jurídicos na condenação de Lula a nove anos e seis meses de prisão determinada por Sergio Moro no ultimo dia 12 de julho.

A professora da PUC do Rio de Janeiro, Gisele Cittadino, uma das organizadoras do livro, explica que a ideia surgiu depois que os juristas tiveram acesso à sentença e começaram espontaneamente a detalhar pontos que revelam o caráter político do texto e a parcialidade do juiz Sérgio Moro.

"Essa é a perseguição mais intolerável que uma sociedade democrática pode suportar. É quando o aparelho de estado recai sobre um ser único, um cidadão civil. O direito, a norma, a lei, a jurisprudência, a doutrina são inteiramente manipulados com o objetivo de dar um fundamento ou um verniz de legalidade a uma decisão judicial", aponta.










Educar nunca deixou de ser uma forma de amor explícito



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Ana Macarini

A criança sofre um grande impacto em sua formação, que pode ser positivo ou negativo, a depender das atitudes e comportamentos dos adultos que a cercam.

Quando somos incoerentes, a criança fica muito confusa; não consegue decidir sobre o que é correto ou não.

Quando nosso comportamento é pautado pelo respeito, pela ética e coerência, ela tem a possibilidade de sentir-se segura e amparada; e, assim, terá bons modelos nos quais possa se espelhar e configurar sua maneira de agir.

Muitas vezes, pode-se pensar que pequenas concessões no dia a dia, a favor do conforto e satisfação imediata do desejo, não prejudicarão a formação do caráter e a maneira de atuar no e com o mundo.

Grave engano! Nossos deslizes ou “jeitinhos” são observados com curiosa atenção pelos pequenos. E, mesmo que eles não nos compreendam, ou não tenham ainda recursos para refletir a respeito, irão reproduzir o que fazemos e o que dizemos.

Quando a criança deixa de fazer a tarefa da escola porque ficou até tarde numa festa ou evento, às vezes exclusivamente porque estava acompanhando os responsáveis, estamos passando uma mensagem.

Quando provocamos uma falta às aulas para viajar mais cedo e não pegar trânsito (em várias sextas-feiras e vésperas de feriado), estamos passando uma mensagem.

Quando premiamos a criança por ela ter lido uma quantidade estipulada de livros, estamos passando uma mensagem.

Quando não fazemos questão de que a criança trate com gentileza a todas as pessoas, sob quaisquer circunstâncias ou não somos um exemplo do que preconizamos como regra, estamos passando uma mensagem.

Quando ficamos ausentes, ainda que estejamos presentes de corpo, estamos passando uma mensagem.

Quando somos inconstantes no que elegemos como prioridade na vida, estamos passando uma mensagem.

Portanto, é preciso que se faça uma reflexão profunda acerca de nossas atitudes, porque é por meio delas que os pequenos vão construir seu modo de se expressar e seu caráter.

Se optarmos por trazer as crianças para conviver conosco em nossas vidas, é necessário assumir a tarefa de educá-las integralmente, todos os segundos de todos os dias. Educar nunca deixou de ser uma forma de amor explícito.

As crianças são extremamente vulneráveis e observadoras. Vão aprender conosco sempre, seja o bem ou o mal feito, pensado, expressado, sentido e vivido.

De nada adiantará garantir a frequência em escolas caras, oferecer cursos de Língua Estrangeira, clubes selecionados, viagens extraordinárias, se deixarmos que lhes falte a força que move o mundo e que promove as reais transformações: educação, bons exemplos, ética e generosidade!

Criança aprende pelo exemplo, seja ele bom ou péssimo! Sendo assim, vale demais a pena economizar no discurso e investir nas atitudes verdadeiras. O mundo que receberá as gerações futuras só terá pelo que nos agradecer.



Postado em Conti Outra







“ Educai as crianças e não será preciso
 punir os homens ” 


Pitágoras - 500 A.C.






Documentário incrível : Lute como uma menina



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Este documentário Lute como uma menina conta a história das meninas que participaram do movimento secundarista que ocupou escolas e foi as ruas para lutar contra um projeto de reorganização escolar imposto pelo governador de São Paulo, que previa o fechamento de quase cem escolas. 

As meninas contam suas histórias enfrentando figuras de autoridade, desde a luta pela autogestão das escolas até a violência desenfreada da policia militar. Uma importante reflexão sobre o feminismo, o atual modelo educacional, e o poder popular.

Direção: Flávio Colombini e Beatriz Alonso

Este filme só foi possível devido à colaboração especial do cinegrafista Caio Castor, dos Jornalistas Livres, e de muitos outros cinegrafistas e fotógrafos que documentaram a luta secundarista e gentilmente cederam suas imagens.






Estudantes, coragem !


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Ódio, o sentimento que inebria 




Ele chega aos poucos e, sem que notemos, vai tomando conta de tudo. Depois de dominar os pensamentos e as reflexões, ele passa a comandar nossas atitudes as quais se apresentarão, muitas vezes, sob o fogo cruel do nosso julgamento. Contudo, ressalta-se que, se esse julgamento está comprometido por falsos juízos a priori, a sentença será equivocada, pois a cegueira do ódio entorpece a consciência.

Assim, nessa nação moribunda, nós estamos caminhando e nos contaminando com esse patógeno letal - o ódio disseminado. São comuns as legiões de "moralistas" que julgam os outros. Por eles, são julgados os estudantes das escolas ocupadas, os movimentos sociais e as minorias, todavia os referidos moralistas realizam seus pareceres sob a roupagem tenebrosa do aniquilamento do contraditório. Eles são incapazes de aceitar o outro, sobretudo se a essência desse outro for diferente. Então, para justificar o ódio, abrem-se as cortinas das agressões cujo fel do perverso se apresenta em julgamentos excludentes. A sentença desse juízo aparecerá de várias formas, mas uma coisa é certa - o contraditório nunca será respeitado.

A consequência imediata disso será o surgimento de estratificações onde se propagará a idéia de que existem dois lados: os que "estão certos" e os que "estão errados". Lembremos da camisa com os seguintes dizeres: "eu não tive culpa, votei no Aécio". Dois lados antagônicos - os que votaram "certo" cutucando os que, supostamente, votaram "errado". Talvez, hoje, depois das inúmeras denúncias, o "certo" era mais uma bravata do que uma verdade.

Essas falsas-verdades corrompem o ser e o reflexo pode ser bem cruel. Agredir e excluir, pejorativamente, o diferente transforma-nos em seres embrutecidos. Você não deve abdicar do seu pensamento e daquilo que você acha certo, mas você precisa entender que o seu pensamento não sobrepuja o do outro. Na verdade, nunca sobrepujará. Não há hierarquia no que tange visão de mundo e conceituação filosófica de vida.

O pensar de cada um é soberano. Ele é inteligível em todas as esferas. Ele é único e verdadeiro. Ele é seu e pertence a ti. Não cabe nenhum ataque a ele. Ninguém pode neutralizá-lo ou impor outra vontade que corrompa seus valores. Pode-se discordar do que você pensa, mas nenhuma pessoa poderá te achincalhar em face disso. Essa situação é uma das válvulas de escape desse ódio inebriante. De forma perversa, tudo aquilo e todo aquele que se posiciona diferente são atacados.

Entendam que todo movimento social é bem vindo e deve ser aceito. Desde que pautado numa construção ética e pacífica, quaisquer construções coletivas são bem vindas. Desse modo, se a coletividade dos estudantes quer e se organiza para ocupar escolas, não há equívoco no valor dessa atitude. Talvez, o ódio apareça na não aceitação bitolada do achar que tal evento nacional é somente por política. Ou melhor, que um coletivo pensante não é capaz de pensar, visto que, são contaminados por "patógenos de esquerda".

Pergunto-vos, quais outras forças estão alimentando uma discussão nacional sobre a PEC 241? A resposta é simples: basicamente nenhuma.

Em face disso, seguremos esse ódio e analisemos os nossos ataques. Não é possível gozar de prazer ao ver truculências de autoridades policiais contra estudantes. Não validem a brutalidade pela tela do ódio ideológico do qual você discorda. Sejamos maiores e melhores, mesmo que a nossa visão de mundo seja diferente.

Aos estudantes, coragem e meu sincero respeito!


Dr. Régis Eric Maia Barros

Médico Psiquiatra

Mestre e doutor em Saúde Mental pela FMRP-USP



Postado em Conversa Afiada em 17/11/2016



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Eles estão lutando pela Educação e pela Democracia com Coração de Estudante



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A lição democrática aos procuradores do Rio de Janeiro





A lição democrática aos procuradores da República do Rio 


Marcelo Auler
“A ocupação de escolas, e já também de faculdades, não vai cessar, caso o governo não admita que cometeu um ato de autoritarismo, com a imposição de uma alegada “reforma do ensino” sem a discutir sequer com uma das várias partes diretamente envolvidas no assunto“. (Janio de Freitas, em Ocupação de escolas não vai acabar se governo não admitir autoritarismo, Folha de S. Paulo, domingo 06/11)

Na quinta-feira (03/11) indiferente à tentativa do MPF de esvaziar os prédios, alunos do Pedro II decidiram manter a ocupação. Querem fazer valer a opinião deles em um assunto que lhe diz respeito. Isto não é exercício da cidadania? 

O vaticínio de Janio de Freitas em sua coluna, publicada domingo (05/11) na Folha de S. Paulo, deveria servir a alguns membros do Ministério Público, em especial o MPF do Rio de Janeiro, que tentam resolver a questão das ocupações das escolas por jovens estudantes com a força policial.

Caso específico dos procuradores da República Fábio Aragão e Marcelo Muller que recorreram ao Judiciário Federal fluminense na tentativa de desocuparem os prédios do centenário Colégio Pedro II, na cidade do Rio de Janeiro. 

Como já destacou o JornalGGN em A lição de cidadania do reitor do Pedro II ao Ministério Público Federal, no qual mostra a nota oficial do reitor do Colégio, Oscar Halac – “que vai se tornar um símbolo da resistência cidadã contra os esbirros de procuradores autoritários” – na qual ele deixa claro duas coisas básicas com as quais os procuradores não se preocuparam (veja integra da nota abaixo):
“A garantia de segurança dos estudantes do Colégio Pedro II que, mesmo na condição de ocupantes, são alunos do mais que sesquicentenário educandário”. 
E ainda, entre os estudantes e os adultos raivosos, o reitor tomou posição clara.
“Eu fico com a pureza da resposta das crianças. É a vida, é bonita” (“O que é, o que é” – Luiz Gonzaga Junior). 
Mas, como se não bastasse a lição dada pelo reitor aos dois procuradores da República, trago ao conhecimento dos leitores, e deles, um posicionamento claro e direto sobre a questão, totalmente diverso do que pensam Aragão e Muller. Foi redigido simplesmente por colegas seus que participam do movimento Transforma Ministério Publico

Trata-se de um grupo com 170 membros, do MPF, MPT e MPs dos estados de SP, MG, CE, PR, PE, BA, RJ e DF. A nota deste grupo de promotores e procuradores de todo o Brasil, foi emitida no final de semana. 

Nela, cuja leitura se recomenda, os membros deste coletivo dos MPs estaduais e federal, deixam claro logo no primeiro parágrafo que os jovens estudantes exercem seu direito de cidadania ao defenderam um posição, qual seja, que sejam ouvidos na reforma daquilo que lhes toca diretamente.

“A ocupação dos espaços educacionais que vêm ocorrendo no país são formas de os estudantes se posicionarem frente às políticas públicas e alterações legislativas em debate, e que podem comprometer a qualidade da educação. Seus atos políticos devem ser entendidos, portanto, como exercício dos direitos fundamentais de liberdade de pensamento, de reunião e de manifestação assegurados pela Constituição da República de 1988, no artigo 5º, incisos IV, IX e XVI”.

Tal como Janio de Freitas colocou na sua coluna de domingo, o Transforma MP deixa claro também a questão do autoritarismo do governo, na medida em que não promove o amplo debate necessário, democraticamente.

“A tramitação da Reforma do Ensino Médio por meio da Medida Provisória nº 746/2016 e da Proposta de Emenda à Constituição 55 (antiga PEC 241), que estabelece, para os próximos 20 anos, teto de gastos públicos, inclusive para o setor da Educação, além de outras iniciativas legislativas com impacto na política educacional (planos de educação, leis sobre questões de gênero e Escola sem Partido, por exemplo), sem que haja um amplo debate com a sociedade, são motivos relevantes para que os jovens utilizem recursos de mobilização para serem ouvidos pelo Poder Público. Trata-se de garantir a eficácia da Lei Federal nº 12.852/2012 (Estatuto da Juventude), que estabelece aos jovens o direito público subjetivo de “participação social e política na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude”. (abaixo a integra da nota)



O Coletivo por um Ministério Público Transformador, entidade associativa composta por membros do Ministério Público, pautando-se nos primados da democracia e da cidadania, afirma seu apoio às recentes manifestações políticas dos estudantes brasileiros.


1. A ocupação dos espaços educacionais que vêm ocorrendo no país são formas de os estudantes se posicionarem frente às políticas públicas e alterações legislativas em debate, e que podem comprometer a qualidade da educação. Seus atos políticos devem ser entendidos, portanto, como exercício dos direitos fundamentais de liberdade de pensamento, de reunião e de manifestação assegurados pela Constituição da República de 1988, no artigo 5º, incisos IV, IX e XVI.
2. A tramitação da Reforma do Ensino Médio por meio da Medida Provisória nº 746/2016 e da Proposta de Emenda à Constituição 55 (antiga PEC 241), que estabelece, para os próximos 20 anos, teto de gastos públicos, inclusive para o setor da Educação, além de outras iniciativas legislativas com impacto na política educacional (planos de educação, leis sobre questões de gênero e Escola sem Partido, por exemplo), sem que haja um amplo debate com a sociedade, são motivos relevantes para que os jovens utilizem recursos de mobilização para serem ouvidos pelo Poder Público. Trata- se de garantir a eficácia da Lei Federal nº 12.852/2012 (Estatuto da Juventude), que estabelece aos jovens o direito público subjetivo de “participação social e política na formulação, execução e avaliação das políticas públicas de juventude”.
3. As ocupações dos espaços educacionais como reivindicação dessa participação são canais legítimos de expressão das inquietações dos estudantes, devendo ser garantida sua segurança, para que se desenvolvam de forma pacífica e pedagógica, com respeito às representações juvenis, associações, entidades estudantis, redes, coletivos e movimentos sociais, cuja legitimidade é expressamente reconhecida nos termos do artigo 5o daquele Estatuto.
4. O movimento de ocupação dos estabelecimentos educacionais, que se iniciou no Estado de São Paulo em 2015 e que vem se espalhando pelo País, atingindo agora vinte Estados e o Distrito Federal, revela o poder político e de organização dos jovens, resultado de uma educação que amplia a visão cidadã, a partir do debate e da informação. Não há dúvida de que há muito a avançar no que diz respeito à qualidade da educação no País, especialmente garantindo maiores oportunidades para as populações mais vulneráveis, razão pela qual não se pode admitir retrocesso nessa seara.
5. O Estatuto da Criança e do Adolescente ampara também o direito de crianças e adolescentes de ir, vir e estar em logradouros públicos e espaços públicos e comunitários, além dos direitos de opinião, expressão e participação na vida política do País (arts.15 e 16 da Lei 8.069/90), assim como diversos tratados internacionais recepcionados pelo ordenamento jurídico brasileiro, notadamente a Convenção Internacional sobre direitos das Crianças da ONU.

6. Assim, o atual movimento de ocupação das escolas deve ser compreendido pela sociedade e pelo poder público na perspectiva de um legítimo exercício de direitos fundamentais outorgados pela ordem jurídica às crianças, adolescentes e jovens brasileiros, a serem assegurados com absoluta prioridade pela família, sociedade e Estado, conforme art.227 da Constituição da República.
7. A pretensão de enquadrar as ocupações como atos ilegais, que merecem repressão e ações judiciais de reintegração possessória, nega aos estudantes a possibilidade de reivindicação de seu espaço político de participação, nega suas vozes, seus espíritos e sua cidadania. É evidente que o movimento estudantil não tem por objetivo a tomada da posse de escolas, no sentindo patrimonial. O que a juventude brasileira revela é a necessidade de ocupar suas escolas como espaço de cidadania, de debate político, de consciência crítica e de manifestação de sua subjetividade individual e coletiva.
8. Cabe ao Ministério Público, como defensor do regime democrático, atuar para garantir que a desejada manifestação política de crianças, adolescentes e jovens se dê de forma pacífica, sem violação aos seus direitos, articulando para que haja espaços de diálogo entre os manifestantes e o Poder Público. Deve a instituição utilizar-se de mecanismos resolutivos para que esses os estudantes tenham voz e sejam escutados em suas demandas, interesses e necessidades.
9. Portanto, o Coletivo por um Ministério Público Transformador repudia a repressão às ocupações, com a retirada forçada dos estudantes por meio de aparato policial, notadamente com o uso ilegal de algemas, força excessiva e privação de direitos humanos básicos (corte de luz, água, alimentos, emprego de equipamentos sonoros, etc.), como tem sido amplamente noticiado pela mídia. Essas são práticas ilegais, que ignoram o legítimo exercício do direito de manifestação política dos estudantes e são, por conseguinte, incompatíveis com o Estado Democrático de Direito.
10. Por fim, convidamos os atores do sistema de justiça a promover uma atuação frente ao movimento de ocupação das escolas direcionada à mediação entre os interesses em conflito, estimulando e fomentando um espaço de diálogo entre os estudantes e o Poder Público, com o objetivo de viabilizar a pretensão de efetiva participação dos estudantes nas discussões políticas que afetam seus interesses neste grave momento de crise política e econômica vivenciado pela sociedade brasileira.

Pode-se e deve-se recorrer ainda a outro discurso do final de semana, desta feita, pronunciado no Vaticano, pelo Papa Francisco aos representantes dos Movimentos Sociais de 69 países, como divulgamos em Papa Francisco: “Austeridade não é sinônimo de ajuste”


Ali, com todas as palavras, de maneira clara, o Papa exorta os cidadãos, cristãos ou não, a ocuparem seus papel na história a favor da refundação da Democracia, tal e qual o Brasil anda necessitado.

“Vocês, organizações dos excluídos e tantas organizações de outros setores da sociedade, são chamados a revitalizar, a refundar as democracias que estão passando por uma verdadeira crise. Não caiam na tentação da limitação que voz reduz a atores secundários, ou pior, a meros administradores da miséria existente”.

Avançando, o pontífice alerta a todos, o que vale também para os jovens que ocupam centenas de escolas Brasil à fora, na expectativa de serem ouvidos por este governo que só está no poder por conta de um golpe parlamentar/midiático:

“Neste tempo de paralisias, desorientação e propostas destrutivas, a participação como protagonistas dos povos que buscam o bem comum pode vencer, com a ajuda de Deus, os falsos profetas que exploram o medo e o desespero, que vendem fórmulas mágicas de ódio e crueldade ou de um bem-estar egoístico e uma segurança ilusória”.
Sem conseguir acessar a inicial apresentada pelos dois procuradores do Rio em um plantão judiciário, recorro ao que escreveu a Agência Brasil em Reitor do Colégio Pedro II diz a juiz que busca solução pacífica para ocupação
“No documento, os procuradores Fábio Moraes de Aragão e Marcelo Paranhos de Oliveira Muller falam em “invasão de bens públicos”, “valendo-se de meios violentos e/ou grave ameaça” e omissão do Colégio Pedro II e da União em requerer a “utilização de força policial, independentemente de ordem judicial, para a retomada dos bens públicos invadidos”.

As ocupações são caracterizadas pelos procuradores como ilegais, declarando que se trata de “esbulho possessório”. 


O texto fala que menores não podem pernoitar sem autorização dos responsáveis e que duas mães de alunos do colégio relataram que há risco aos adolescentes pois ocorre uso de entorpecentes e estupro nas ocupações. O texto cita também o caso do homicídio ocorrido em uma ocupação no Paraná.

A petição pede a presença de oficiais de Justiça com auxílio de força policial “ao alvorecer” e a autorização para “uso moderado e progressivo da força para a retirada dos ocupantes”, inclusive com a prisão dos maiores de 18 anos que se recusarem a fazer a “desocupação voluntária” e a apreensão dos menores“. 

Alás, Aragão foi o mesmo que em outubro recorreu à reitoria mandando retirar as faixas “Fora Temer” que os alunos do Pedro II fixaram na fachada da escola. Outra medida pra lá de discutível.

Chamar de “esbulho possessório” o fato de os alunos de uma escola ocuparem suas salas de aula, nos parece forçar uma barra com uma tese bastante discutível. Falar em uso de drogas e práticas sexuais é realmente desconhecer a realidade destes jovens. Quisessem eles adotar tais praticas, o fariam independentemente de estarem ou não ocupando as escolas.

O que parece ainda mais grave é pedir o auxílio de força policial e prisão dos alunos maiores de 18 anos e apreensão dos menores. 

Certamente, nenhum destes dois procuradores participou de movimentos estudantis na sua época de bancos escolares. O que é uma pena, pois teriam aprendido a repeitar movimentos democráticos. 

A sorte é que tanto o juiz de plantão – Carlos Alexandre Benjamim -, que negou o exame do pedido de tutela antecipada por entender que o caso não se enquadra na urgência requerida para julgamento em dias de plantão judiciário, como o juiz titular da 17ª Vara Federal, Eugênio Rosa de Queiroz, para a qual o processo foi distribuído, foram mais comedidos. A ponto de o titular da 17ª Vara merecer elogios do reitor em sua nota oficial, como se verifica abaixo. 

Nota Oficial do Reitor do Colégio Pedro II 


Falta agora os procuradores entenderem, quer pela posição do juiz, quer pela brilhante nota do reitor, ou mesmo pelo que dizem seus colegas de Ministério Publico na nota do Movimento Transforma MP, que não é com força policial que se lida com movimentos democráticos. Mas, quem sabe, com diálogo. Aliás, não apenas os dois procuradores, mas o governo golpista também. Todos precisam passar por uma transformação. 


Postado em Marcelo Auler Repórter em 07/11/2016 





Faixa que o procurador Aragão mandou retirar 


Lula visitou o Campus de Lagoa do Sino da Ufscar : Ao lado do escritor Raduan Nassar, o ex-presidente foi ao interior de SP para receber homenagem




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PSDB uniu Lula a Raduan Nassar


Tucano não quis, mas o ministro Haddad quis!


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ao município de Buri (263 km de São Paulo) nesta terça-feira. Ele foi recebido no campus da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos). Lá, junto com o escritor Raduan Nassar, descobriu a placa do novo Laboratório de Agricultura Familiar, do Centro de Ciências da Terra da universidade. Mas por que Lula e Raduan tiveram a honra de inaugurar o laboratório da instituição federal?

O que hoje é o campus Lagoa do Sino da Ufscar, na cidade de Buri, já foi uma fazenda particular de 640 hectares, propriedade da família de Raduan. Em 2007, o escritor – vencedor do Prêmio Camões de Literatura – decidiu doar suas terras à Universidade de São Paulo, instituição pública estadual.

Ele mesmo conta: “Eu tentei doar. Fiquei três anos enfrentando a burocracia do governo estadual para que minha fazenda se tornasse parte da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP). Mas não consegui”.

Tamanha foi a dificuldade e falta de interesse do Estado de São Paulo com o potencial doador, que ele desistiu. Desistiu de doar para a USP, mas não da ideia de tornar sua propriedade uma ferramenta em prol da pesquisa e do ensino público e gratuito.

Raduan foi, então, à Presidência da República, conforme explica: “Em 2009, eu falei com [a escritora] Marilene Felinto, que por sua vez conversou com Gilberto Carvalho [então trabalhando na Presidência da República]. Eu disse que queria doar, mas disse também que se a burocracia levasse mais de três meses, eu então desistiria de vez, e iria vender a fazenda.”

O assunto logo chegou ao conhecimento do então presidente Lula, que falou com seu ministro da Educação da época, Fernando Haddad. O ex-presidente explica como foi: “Eu disse pro Raduan, 'se São Paulo não quer, pode deixar que nós queremos'. Falei com o ministro Haddad, e em menos de duas semanas a fazenda passou a fazer parte da Ufscar, dentro do plano de expansão das univeridades federais, que estávamos pondo em prática”.

Hoje, o campus Lagoa do Sino tem 500 alunos e abriga cinco cursos de engenharia, com especial vocação e direcionamento para as áreas de segurança alimentar e agricultura familiar.

O atual governo federal, no entanto, não mostra interesse em seguir desenvolvendo o projeto original do campus. Professores e alunos temem o sucateamento do espaço público, a redução no número de vagas e cursos e, finalmente, a privatização do campus, única instituição pública de ensino superior atendendo as cidades da região.

É neste contexto de retrocesso que Lula e Raduan foram recebidos nesta terça-feira para inaugurar o Laboratório de Agricultura Familiar. Foram recebidos com festa e homenagens, sob aplausos e gritos de luta e resistência. Como disse Lula: “Os mesmos que hoje reduzem os investimentos da educação pública já defenderam que somente ricos pudessem ter acesso ao ensino superior. Mas não vamos deixar de lutar, os estudantes e todo o povo brasileiro sabem defender suas conquistas”. Que assim seja. 



Postado em Conversa Afiada em 02/11/2016 











O Trono de Estudar




Chico Buarque, Paulo Miklos, Zélia Duncan, Arnaldo Antunes, Dado Villa-Lobos e tantos outros artistas que dispensam apresentação gravaram a música O Trono do Estudar, composta por Dani Black, em apoio aos jovens que ocuparam escolas em São Paulo. 

A iniciativa foi da Minha Sampa, idealizada por Manoela Miklos. A canção é também um manifesto pela educação. Em tempos de ódio e pensamentos estreitos, posicionamentos como esse são fundamentais. E a única resposta que vale a pena é por meio da música, da cultura, da educação. "Me negar conhecimento é me negar o que é meu", diz a letra. "E nem me colocando numa jaula, porque sala de aula essa jaula vai virar". 






Ana Júlia : Estudante de 16 anos defende ocupações e dá aula aos deputados !



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Paraná 247 - O discurso de uma estudante de 16 anos na Assembleia Legislativa do Paraná tem repercutido com força nas redes sociais. Ana Júlia defendeu emocionada as ocupações nas escolas do Brasil contra medidas do governo Temer e deu uma verdadeira aula aos deputados que não compreendem o movimento e são contra o diálogo com os movimentos sociais.

Mais de mil escolas estão ocupadas no País, sendo cerca de 800 apenas no Paraná. 

Segundo Ana Júlia, os estudantes se sentem insultados quando são chamados de "doutrinados", como vêm fazendo o governo paranaense, de Beto Richa (PSDB), e parlamentares da base governista na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, em crítica ao PT e partidos de esquerda.

"É um insulto a nós, que estamos lá, nos dedicando, procurando motivação todos os dias, sermos chamados de doutrinados. É um insulto aos estudantes, aos professores", diz Ana Júlia. 

"Nós não estamos lá de brincadeira. Nós sabemos pelo que nós estamos lutando. Nossa bandeira é a educação. Nossa única bandeira é a educação", acrescenta a estudante.

Segundo ela, com a medida provisória da reforma da educação, “o Brasil está fadado ao fracasso”. 

Ela também faz duras críticas ao projeto Escola Sem Partido e à PEC 241, que congela os gastos públicos por 20 anos.

Assista:






Postado em Brasil 247 em 26/10/2016



Como qualificar o colunista da Veja que pediu “menos escolas, mais prisões”?




Eduardo Guimarães

Quem achou que a agressão moral praticada por um dos “ideólogos” do grupo fascista “Revoltados On Line” a um frentista seria o fundo do poço da ultradireita brasileira, errou. Mesmo as agressões físicas que os neofascistas tupiniquins vêm praticando não se comparam a recente ato criminoso praticado pelo colunista da revista Veja Rodrigo Constantino.

Em seu “blog”, asquerosamente instalado no portal da revista semanal, esse elemento publicou um post cujo título é mais do que suficiente para definir não apenas a “obra”, mas o autor: “Menos escolas, mais prisões!

Um texto com esse título não precisa ser lido para ser repudiado. Infelizmente, por falta de Educação e excesso de encarceramentos até mesmo os setores mais instruídos da sociedade têm o péssimo hábito de ler apenas os títulos dos textos, que, na era da avalanche de informações na internet, têm que resumir o conteúdo a que remetem para não ser ignorados.

Houve tempo em que um título bem engendrado estimulava o leitor a descobrir o conteúdo a que remetia. Hoje, porém, as pessoas formam conceitos com base em frases curtas que intitulam textos que frequentemente não dizem o que a chamada insinua. Desse modo, uma frase como a que intitula o post do colunista da Veja tem, por si só, um efeito altamente danoso.

Só por isso o texto “Menos escolas, mais prisões” já deveria ser repudiado, pois quem escreve em um veículo de grande alcance tem que ter responsabilidade. Todavia, a leitura completa dessa excrescência elucubrada por Constantino não atenua a barbaridade que é o título.

Ao ser cobrado por seus leitores pela barbaridade que cometeu, Constantino ainda tentou minimizar seu crime de lesa-pátria – e, muito provavelmente, de lesa-humanidade – com um post scriptum que acusa quem ficou chocado de “não saber” o que é uma “hipérbole”, que é o que teria usado no título.

Eis o remendo de Constantino:
“PS: Algum esquerdista qualquer divulgou esse meu texto e o blog foi invadido por bárbaros. Já tem até gente pedindo minha prisão pelo texto, ou seja, querem mais prisão para gente como eu, não para o assassino do médico ciclista Jaime Gold. É que são grandes humanistas, como Lenin, Stalin e Che. Ironicamente, eles me dão razão, corroboram a crítica de que temos uma péssima qualidade de ensino. Só sabem me xingar de “fascista”, não entenderam a crítica que faço ao sistema de ensino, não sabem o que significa “hipérbole” e ainda negam que exista doutrinação marxista em nossas escolas. Alguns leram apenas o título! Ou seja, uns alienados deformados justamente por esse ensino que critico, e gente que, por isso, acha que não precisamos de mais prisões ou do fim dessa doutrinação da qual foram vítimas”
Quem, evidentemente, não sabe o que é uma hipérbole é o próprio Constantino. Senão, vejamos: hipérbole é um recurso de estilo que se baseia em um exagero altamente evidente e propositado para conferir dramaticidade a uma ideia. Exemplo: se eu digo que já expliquei alguma coisa “um bilhão de vezes” a alguém, é evidente que se trata de uma figura de linguagem porque ninguém conseguiria explicar nada tantas vezes. Não é necessário, pois, explicar que, em verdade, a explicação não foi repetida nessa proporção. Isso é uma legítima hipérbole.

Não é o caso do título do texto de Constantino, pois já no primeiro parágrafo o autor justifica a proposta maluca de construirmos menos escolas e mais prisões.
“Não há discurso mais fácil do que repetir que a solução é mais educação. Nada mais é preciso depois dessa sentença mágica: seu autor é automaticamente visto como um ser nobre, sensível, um humanista. Quem pode ser contra mais educação? Claro que o debate sério e honesto deverá ser qualificado depois: qual educação? Quem paga? Que modelo? E esse ensino público que temos? Será que mais dinheiro público resolve mesmo? E há garantia de que mais escolas levam a menos crime, por exemplo? (…)”.
Quem paga pela Educação para quem quiser estudar e não tiver dinheiro para pagar escola? Em qualquer país civilizado, é o Estado. Até mesmo na Disneylândia do neoliberalismo, os Estados Unidos, o Estado banca Educação para todos. Nesse primeiro parágrafo, porém, Constantino põe em questão a mera existência do ensino público e gratuito.

Como se não bastasse, ainda formula uma questão cuja resposta não pode ser outra a não ser um sonoro SIM. Nem o neoliberal mais empedernido duvidaria de que Educação para quem não tem acesso certamente não eliminaria a opção de todos pela criminalidade, mas, por certo, reduziria o contingente dos que fazem essa opção.

Há uma vastidão de trabalhos científicos que dão conta de que a Educação é um poderoso instrumento de combate à criminalidade. Quem não sabe disso?

Um exemplo: a potencialidade da escola como um fator para influenciar o comportamento dos alunos e reduzir a violência foi comprovada pela economista Kalinca Léia Becker em sua tese de doutorado realizada no programa de pós-graduação em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultutra Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. A pesquisa foi orientada por Ana Lúcia Kassouf, professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq e mostra que quando ocorre o investimento de 1% na educação, 0,1% do índice de criminalidade é reduzido.

Se formos buscar estudos que comprovem o potencial da Educação no combate à degeneração moral das sociedades, haverá tanto material disponível que demoraria uma vida para ler.

Ao fim dessa peça tétrica de estupidez composta pelo colunista da Veja, ele ainda trata de reafirmar sua tese de que é melhor construir mais prisões e menos escolas. O último parágrafo de seu texto não deixa dúvida de que ele não usou uma hipérbole em seu texto e que acredita piamente na ideia-força dele:
“(…) Diante desse quadro de ensino público caótico e marxista, e da falta de lugar nas prisões, talvez seja o caso de concluir, com alguma hipérbole, que precisamos de MENOS ESCOLAS, MAIS PRISÕES!”.
Que “hipérbole”? Constantino está ou não pregando que, em vez de educar jovens, é melhor construir mais prisões? A premissa imbecil de que estudar Karl Marx leva o indivíduo a cometer crimes não anula a “solução final” do indigitado “colunista” de que é melhor prender jovens do que permitir que tenham contato com a obra de um dos maiores pensadores da história da humanidade, estudada nos quatro cantos da Terra.

Há um projeto de lei na Câmara dos Deputados que poderia resolver o dilema que perturba o colunista da Veja. Um deputado federal desocupado, Rogerio Marinho (PSDB-RN), titular da Comissão de Educação daquela casa, propôs, recentemente, lei que torna crime o “assédio ideológico” em ambiente escolar. O projeto psicótico prevê pena de detenção de três meses a um ano e multa, com possibilidade de aumento da punição, caso o ato seja praticado por educadores ou “afete negativamente a vida acadêmica da vítima”.

Esse projeto fascista, por incrível que pareça, é menos danoso que a proposta de Constantino porque ao menos não busca eliminar a Educação pública em prol de mais vagas nas prisões. Ao menos admite que é preciso educar os nossos jovens, ainda que incorra na loucura de querer impedir que um professor expresse um ponto de vista legítimo que o educando pode ou não assimilar no decorrer da vida.

Se houvesse no Brasil essa doutrinação “marxista” nas escolas a que o tal colunista alude, esta sociedade seria majoritariamente pró comunismo. É preciso dizer que isso não existe?

O post escrito por Constantino em seu “blog” no portal da Veja alcançou – até o momento em que este texto foi escrito – nada mais, nada menos do que incríveis 13 mil “curtidas” no Facebook. Mais de uma dezena de milhar de pessoas alfabetizadas concordaram com ele. Previsivelmente, grande parte delas concordou com o título “curtindo-o” naquela rede social sem sequer ter lido mais nada além da linha fina da matéria.

Ao fim e ao cabo desta reflexão, o que aflige seu autor é encontrar uma forma de qualificar Constantino que esteja à altura de seu nível de boçalidade, de egoísmo, de truculência, de falta de caráter. Infelizmente, não é tarefa fácil. Pensei nisso desde a noite de sábado até o fim da tarde de domingo e não consegui encontrar um qualificativo à altura.

Convido o leitor a sugerir um adjetivo que dê conta de definir adequadamente alguém como esse colunista da Veja. Mas, sendo sincero, duvido que alguém encontre definição que esteja à altura de alguém que comete um crime de tal envergadura.


Postado no Blog da Cidadania em 07/06/2015


Beto Richa, o espancador de professores





Uma boa frase está repercutindo no Twitter:

“Em protesto pela intervenção militar você é tratado com educação. Em protesto pela educação você é tratado com intervenção militar.”

Os manés que tiram selfies com PMs em manifestações anti Dilma deveriam, daqui por diante, guardar na mente a selvageria com que foram tratados os professores grevistas no Paraná.

“Déficit de Atenção” : por que deixei a Ritalina




Marcela Picanço, no Obvius

Alguns dados apontam que nos últimos anos os casos de Déficit de Atenção triplicaram entre nossas crianças. Eu estou entre essas crianças. Com uns treze anos comecei a tomar um remédio com tarja preta chamado Ritalina, que pra mim, de fato fazia uma diferença enorme.

Quando eu era criança fui chamada várias vezes de hiperativa, desconcentrada. Meus professores adoravam falar como eu me dispersava rápido. Engraçado, continuo assim, mas hoje tento usar isso ao meu favor. 

O remédio vai soltando doses ao longo do dia e pode durar até 8 horas. Tomava antes de ir para escola e ficar ligada na aula. Nunca fui boa em matemática, física, química, mas me esforçava o bastante pra não ficar de recuperação. Lembro que eu achava que o remédio fazia uma diferença significativa na hora de fazer uma prova. Eu realmente me transformava, durante 8 horas, em uma pessoa mais focada. O déficit de atenção é mais comum do que se imagina.

Assim que entrei na faculdade resolvi largar o remédio. Fui percebendo, ao longo dos anos, que eu não precisava dele para escrever uma boa redação, ou pra ler um livro que eu gostava, nem pra fazer prova de história. Não precisei do remédio para decorar um dos meus primeiros textos de teatro. Eu nem tomava o remédio pra ir pra aula de teatro e eu era uma pessoa igualmente focada nessas aulas. 

Foi aí que minha mãe resolveu perguntar à minha médica por que eu ficava concentrada nas coisas que eu gostava de fazer. Ela disse que isso era normal. Nas áreas que eu tinha mais habilidade, os sintomas não apareciam de modo que me atrapalhassem. Que doença engraçada, né? Mal do século, eu diria. 

A nossa sociedade está criando doenças para quem estiver fora do padrão de comportamento esperado.

Então, vi que o problema não estava em mim e nem na maioria das crianças que precisa tomar um remédio para entrar num padrão social. 

O problema está no nosso ensino totalmente precário, que se preocupa mais se o aluno vai passar em medicina do que se ele será um bom cidadão.

É claro que em alguns casos específicos, o uso da Ritalina é de extrema importância e eficácia, mas acredito que, na maioria das vezes, o Déficit de Atenção poderia ser tratado de outras formas.

Estudei minha vida toda numa escola diferente, que se importava com a cabeça dos seus alunos e valorizava o que eles tinham de melhor, incentivando a arte, o esporte e a ciência. Lembro que as notas eram dividias em 40% de provas e os outros 60% eram de comportamento. Se você soubesse lidar bem com um grupo, participasse da aula, fosse educado e responsável, já era o suficiente pra passar de ano. E ninguém deixava de estudar, afinal queríamos ter notas boas. 

Depois fui pra uma escola que tinha tantos alunos que os professores não conseguiam gravar o nome nem da metade deles. Nunca mais falamos em preconceito ou direitos humanos. Nunca mais falamos sobre ler livros sem ser por obrigação. Depois, mais tarde, os professores reclamavam que líamos pouco — mas como, se tínhamos tão pouco incentivo? Lembro que na minha outra escola ganhei gosto pela leitura quando eu ainda era bem pequena. Devorava livros e mais livros, afinal a gente tinha uma aula só de leitura.

Me mudei para essa nova escola porque precisava passar no vestibular, mas não via sentido nenhum em nada daquilo. Fui me sentindo cada vez mais idiota porque eu não conseguia ir bem em nenhuma matéria de exatas, mas falaram que pra passar no vestibular era preciso saber mais exatas do que humanas. 

Aumentei a dose de Ritalina pra poder ficar pelo menos na média. Fico pensando quantas crianças vão ter que se sentir burras e diferentes e tomar um remédio tarja preta pra ficar na média na escola, pra ficar na média na vida, pra ser sempre medíocre porque a educação não nos dá a oportunidade de sermos brilhantes.

No ensino médio, os adolescentes são constantemente comparados, como em uma empresa, para que haja desde cedo um espirito de competição. Infelizmente essa competição é completamente injusta, pois as pessoas têm habilidades diferentes. Como já disse Albert Einstein “Todo mundo é um gênio, mas se você julgar um peixe por sua capacidade de subir em árvores, ele passará sua vida inteira acreditando ser estúpido” e é exatamente isso que nosso ensino faz.

A qualidade de uma escola é medida pelo número de aprovações que seus alunos têm no vestibular e não pela pessoa que ela está formando para o mundo. 

Como queremos ter profissionais mais dedicados se, desde pequenos, somos ensinados que se importar com o outro não é o que importa, mas sim ser sempre melhor que todo mundo? 

Infelizmente, nossa educação forma pessoas cada vez mais quadradas, que pensam dentro de uma caixinha. Não se permitem ir atrás das informações e nem na melhor forma de resolver problemas. As aulas de artes são totalmente técnicas e insuportáveis. 

Não nos dão oportunidade de sermos realmente quem queremos ser e crescemos adultos chatos, controladores e depressivos.

Infelizmente nosso comportamento é resultado da educação que tivemos e isso só vai mudar quando todas as áreas foram igualmente valorizadas nas escolas e entre os alunos. Cada vez teremos mais crianças com déficit de atenção. 

Principalmente agora com a tecnologia, que todas elas podem ter acesso rápido a tudo. Por que elas ficariam prestando atenção em uma aula chata? Por que elas ficariam prestando atenção em algo que podem aprender em um segundo procurando no Google? 

O nosso sistema educacional precisa mudar rapidamente, pois não podemos achar que o ensino pode continuar o mesmo de vinte anos atrás, quando não existia tanta informação com facilidade. 

As crianças estão perdendo o interesse na escola. Elas estão vendo o mundo de possibilidades que existe ao redor delas, vendo tudo que elas podem criar e transformar e os colégios continuam insistindo naquele velho formato.

Todas as pessoas têm uma genialidade, mas o mundo insiste, por algum motivo, que sejamos medíocres, dentro de um padrão. Não valorizam o aluno bagunceiro, nem o que vive no mundo da lua. Esses mesmos que, no futuro, provavelmente serão os adultos mais criativos.

Nossa educação mata nossa criatividade. Na escola não temos nenhuma oportunidade de nos mostrar e nem de crescer intelectualmente, pois quanto mais velhos ficamos, taxam de ridículo aquilo que fazemos de diferente, mas que se for estimulado, poderia ser genial. 

É triste a situação em que vivemos, mas já foram inauguradas escolas com uma proposta totalmente diferente de ensino, onde as matérias não são separadas, mas são aprendidas juntas, como se fosse uma só. Os alunos também não são separados por turmas de acordo com a idade, mas sim pelas habilidades que apresentam.

Espero que esse realmente seja o futuro do nosso ensino e que não criemos mais doenças para fazer as crianças se sentirem anormais. “Somos todos folhas da mesma árvore”, esse era o lema da minha primeira escola. Ainda bem que aprendi assim.


Postado no site Outras Palavras em 18/12/2014