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Crianças vítimas da ditadura militar. Ditadura e tortura nunca mais !






Quando o Presidente da Argentina Néstor Kirchner manda retirar os quadros dos ditadores militares





O ditador argentino Jorge Videla morreu hoje, na prisão, como devem morrer os assassinos, sequestradores e genocidas. No Brasil, os genocidas de farda morrem de pijama, no lar.


Vereador conta em detalhes como o coronel Ustra o torturou



Clique no link abaixo para ver o vídeo




Comissão da Verdade e uma de suas histórias assustadoras


anistia ditadura agestado Comissão da Verdade e uma de suas histórias assustadoras

Marco Antonio Araújo

Há pessoas que acham que a abertura dos arquivos da ditadura militar e a luta para esmiuçar os detalhes sobre militantes mortos e desaparecidos é um esforço inútil, coisa de esquerda rancorosa vingativa. Pois não é.

Um país sem memória está condenado a repetir os erros do passado. E muitos foram cometidos. Conhecer a própria história é a única forma de reconhecê-los. 

Nesta semana tivemos uma prova disso, no chocante depoimento do ex-delegado da Polícia Civil Claudio Guerra. É aterrador.

Entre os muitos esclarecimentos prestados, em entrevista concedida no Espírito Santo a um vereador integrante da Comissão Municipal da Verdade de São Paulo, Guerra (que coincidência, né?) admitiu que foi o autor da explosão de uma bomba no jornal O Estado de S. Paulo, na década de 1980.

Também confirmou o que muita gente séria sempre denunciou: o governo militar, no período final do golpe de estado, desencadeou em todo o Brasil atentados com o objetivo de desmoralizar a esquerda no País, para "não permitir a abertura política”.

Uma das partes mais assustadoras da conversa é quando o ex-delegado afirma que “ficava clandestinamente à disposição do escritório do Sistema Nacional de Informações (SNI)” e realizava execuções a pedido do órgão. 

Guerra se lembra de, em São Paulo, ter executado pelo menos três pessoas a pedido do governo. “Só vim saber o nome de pessoas que morreram quando fomos ver datas e locais que fiz a execução”. Um profissional.

Tortura e assassinatos eram praticados inclusive por expoentes da repressão, como o coronel Brilhante Ustra e o delegado Sérgio Paranhos Fleury. Este último, além de corrupto, segundo Guerra, tinha prazer em torturar pessoalmente os presos políticos. Covarde, metralhou os líderes comunistas no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa, em 1976. "Não teve resistência, o Fleury metralhou. As armas que disseram que estavam lá foram ‘plantadas’, afirmo com toda a segurança”, contou.

Esse mar de sangue foi patrocinado com recursos vindos de bancos, como o Mercantil do Estado de São Paulo, e empresas, como a Ultragas e o jornal Folha de S. Paulo. Isso mesmo, um jornal. 

Depois os barões da mídia ficam negando que colaboraram criminosamente com o terrorismo de Estado.

Otávio Frias, então dono da publicação, visitava o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), e "era amigo pessoal de Fleury”, afirmou o ex-delegado.

Que cena: um poderoso jornalista visitando o local onde militantes eram barbaramente espancados, mortos e depois cremados. 

Sim, queimados, pois, friamente, os heróis da "revolução de 64" perceberam que enterrar suas vítimas “estava dando problema e, a partir de 1973 ou 1974 começaram a cremar".

São relatos tão assustadores que falam por si. Dispensam comentários. 

E depois tem gente que acha, sentada em seus sofás, que isso é remoer o passado. Nesse caso, remoer é pouco. Basta lembrar das cinzas...


Postado no blog O Provocador em 25/04/2013


Porque é vital que o mensalão seja avaliado por uma corte internacional


Há muitos sinais de que foram cometidos erros graves pelo Supremo.

Paulo Nogueira

Vamos refletir sem paixões partidárias.


Não sei se isso é possível num país tão polarizado, mas para o Diário é: nosso partido é a Escandinávia, e os leitores sabem disso.

Pois bem.

Faz sentido aceitar estoicamente o julgamento do Mensalão depois que vieram à luz, depois do veredito do final do ano passado, tantos descalabros entre os juízes do Supremo Tribunal Federal?

Mesmo leigos hoje são capazes de dissertar, com propriedade, sobre pataquadas ocorridas no julgamento.

Nossa mais alta corte – sejamos francos – é de segunda, ou terceira, classe. Seus integrantes são, numa palavra, fracas.

Fux é o maior exemplo, mas não o único.

Há sinais de que nenhum deles sabia o que é o chamado BV, Bônus por Volume – uma propina legal inventada pela Globo para forçar as agências a anunciar nela.

E o BV pode explicar coisas que sequer foram discutidas num julgamento em que o STF, sob as câmaras interesseiras da televisão, mais pareceu o BBB.

E então, com toda a precariedade do STF, e mais a pressão da mídia, você é condenado a dez anos de prisão e chamado de chefe de quadrilha, como aconteceu com Dirceu.

Faça as contas: ele já passou dos 60 faz algum tempo. Poderia viver seus últimos anos na cadeia.

E condenado por quem? Não por Cíceros, não por Catões – mas por Barbosas e Fuxes, e mais a máquina dos Marinhos.

Você não precisa ser a favor de Dirceu. Basta ver quem é contra. A Globo, por exemplo. Quando a Globo apoiou uma boa causa no Brasil?

Roberto Marinho era dono de um jornal medíocre e pequeno quando encontrou, na ditadura militar, um aliado. Ganhou televisão, ganhou facilidades, e todos sabemos o que deu: mais que o apoio cego à ditadura, a alma.

A Globo virou grande não pelo talento de Roberto Marinho, que aliás jamais escreveu que se saiba uma legenda. Mas pelas absurdar vantagens que desfrutou na ditadura em troca de apoio.

Isso está registrado no livro Dossiê Geisel, da editora FGV, um vital retrato da ditadura feito a partir dos documentos pessoais de Geisel.

Leia.

Ali estão citados os encontros que Roberto Marinho fazia com empresários para promover entre eles a causa da ditadura.

Armando Falcão, ministro da Justiça de Geisel, se referia a Roberto Marinho como “o mais fiel e constante aliado” da ditadura entre os donos da mídia. E falava também dos pedidos de Roberto Marinho na contrapartida de tamanha fidelidade e constância.

A Globo grande nasceu desse conluio. Meritocracia zero, ou abaixo de zero.

E então você se chama Dirceu e se vê na iminência de fazer as malas e partir para o xilindró porque a Globo quer que isso aconteça.

Dirceu tem que ser duramente criticado, sim. Como uma das lideranças mais importantes do PT, fez menos do que deveria para reformar o Brasil nestes dez anos.

O Brasil avançou socialmente, mas menos do que poderia e deveria.

Um trabalho sério teria promovido mudanças, por exemplo, no Supremo. Você não pode colocar um Barbosa – por ser negro – ou um Fux – por matar no peito – e imaginar que vai transformar o STF num tribunal de sábios.

A conta pode chegar e chegou.

Mas isso é uma digressão.

De volta: você se chama Dirceu e foi condenado por eles.

A quem apelar?

Sim, à Corte Internacional da Organização dos Estados Americanos.

Seja o que for que a OEA delibere, lá a voz da mídia não perturbará tanto, não influenciará tanto, não terá efeito tão nocivo ao que se entende que seja justiça. A mesquinharia de Barbosa vai contar pouco.

Dirceu e os demais réus demoraram para fazer a coisa certa.




O jornalista Paulo Nogueira, baseado em Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.






Postado no site Sul 21 em 20/04/2013


Jango, o subversivo, e a traição militar


João Goulart Presidente do Brasil 1961-1964 deposto pelo golpe militar de 1º de Abril de 1964 (golpe apoiado pelos Estados Unidos, pelas Organizações Globo e pela elite brasileira)


Juremir Machado da Silva

Nesta segunda-feira, a partir das 13h30, tem seminário na Câmara de Vereadores sobre o golpe de 1964. Almino Afonso e Waldir Pires, colaboradores de primeiro escalão de Jango, participarão. 

Depois de passar três anos estudando a vida de João Goulart e de ter lido mais de dez mil páginas de documentos sobre a sua ascensão, queda e morte no exílio, cheguei a uma conclusão devastadora: Jango era um subversivo.

Sim, os militares que o derrubaram, a serviço de civis conservadores e dos interesses dos Estados Unidos, traindo a a pátria, tinham razão: Jango era um perigoso subversivo.

A primeira subversão aconteceu quando ainda ele era ministro do Trabalho de Getúlio Vargas e convenceu o presidente a dar um aumento de 100% no salário mínimo. Pressionado por um manifesto de coronéis dotados de idealismo cívico e materialismo patronal, Getúlio demitiu Jango. Mas deu o aumento.

Nada mais subversivo do que um aumento desses em favor da ralé. Instalado no poder, Jango desandou a praticar ou a propor atos subversivos.

Um deles, dos mais perigosos e lesivos aos cofres dos patrões gananciosos, continua a melhorar os nossos fins de ano: em julho de 1962, o fazendeiro subversivo – guindado ao Planalto graças à loucura bem rasteira de Jânio Quadros – fez aprovar o décimo-terceiro salário.

Num país em que parlamentares ganhavam até poucos dias 15 salários por ano e continuam a inventar subterfúgios para mamar, Jango criou um décimo-terceiro salário para todo mundo. 

Não é coisa de comunista? Não se deve ter ódio de um homem que defende cem por cento de aumento no salário mínimo e concebe um décimo-terceiro salário para os trabalhadores? Ô horror!

A veia subversiva de Jango acentuou-se com o passar do tempo.

Numa nação de altíssima concentração de terras e de uma massa de miseráveis parasitada por uma elite estúpida, voraz e impiedosa, decidiu fazer uma reforma agrária. Aí foi demais!

As forças “sensatas”, “produtivas” e “ordeiras” da nação trataram de armar-se contra tamanho despautério. De quebra, Jango resolveu que era também necessária uma reforma urbana, fazendo com que imóveis fechados pudessem ser habitados.

Não satisfeito, queria também defender a população da alta dos preços. Num dos seus arroubos subversivos, achou interessante estender a legislação trabalhista ao mundo rural que continuava a viver na Idade Média.

A tendência subversiva de Jango era tamanha que ele, feito um louco vermelho, influenciado por doidos subversivos como Darci Ribeiro, pretendeu que os pobres também deveriam chegar às universidades. Uma loucura.

Por fim, atolado na subversão, começou a achar natural que subalternos de certos setores das forças armadas pudessem casar-se.

O subversivo Jango chegou ao ponto de semear a indisciplina nos meios militares considerando normal que detentores de postos inferiores pudessem “contrair” matrimônio.

Melhor nem falar na questão de votar e ser votado.

Agora entendo melhor os golpistas de 1964 que atuaram patrioticamente em favor dos Estados Unidos da América. 

Era preciso agir, derrubar o homem, afastá-lo do Brasil, impedi-lo de voltar, fazer tudo o que os EUA pedissem. Com ele no poder, o Brasil corria um risco terrível de ficar melhor.

Olhando para trás, penso que se pode perdoar Jango por quase tudo, menos pelo décimo-terceiro salário. Que ideia altamente subversiva!

Obrigar os pobres patrões a darem mais uma lasquinha dos seus modestos ganhos aos trabalhadores. Essa, com certeza, foi uma das ações mais subversivas de Jango. Só ela já justificaria o golpe. 

Depois, viriam a reforma a agrária, a lei da remessa de lucros para o estrangeiro e outras reformas de base.

Nunca a traição à pátria foi tão justificada.


* Juremir Machado da Silva é historiador, escritor, professor universitário.


Postado no blog Juremir Machado da Silva em 31/03/2013
Imagem inserida por mim assim como sua legenda


Minha homenagem ao jornalista Luiz Carlos Azenha e a todos os blogueiros corajosos !














É muito triste que ainda haja brasileiros que comemoram, em 31 de março, o Golpe Militar ! Estão comemorando a morte, a tortura, o sofrimento, atraso político e a subserviência aos interesses do " grande império ".



VENEZUELA CONHECE A HISTÓRIA DO BRASIL: DOCUMENTÁRIO O DIA QUE DUROU 21 ANOS DESVENDA EMBAIXADOR LINCOLN GORDON

Gordon: Embaixador que planejou o golpe de 64
Gordon: embaixador que coordenou o golpe de 64

Assistir ao documentário O dia que durou 21 anos é entender um pouco porque a Venezuela costuma expulsar embaixadores norte-americanos. 

O apoio a golpes de Estado parece ser uma prática constante daquele país. Depois de quase 40 anos do golpe brasileiro, a Venezuela sofreu um golpe, também com o apoio dos EUA.

Bom, a Venezuela não é o tema desse documentário. Ele fala do Brasil no ano de 1964. Mas, depois de ver esse filme, talvez seja necessário manter-se bem informado sobre os embaixadores e sua atuação.

O filme, rico em gravações e documentos oficiais, mostra a atuação do agente dos EUA, Lincoln Gordon, que estava no Brasil travestido de embaixador.

Um bom trabalho jornalístico, que não esquece da participação da mídia no Golpe.

 O curioso é que a maioria dos entrevistados no filme são estudiosos norte-americanos.



Postado no blog Educação Política em 20/03/2013


O papa e os filhos de si mesmo




Mauro Santayana

É significativo que o novo papa tenha falado tanto em perdão. 

Essa insistência coloca em dúvida a defesa que dele fazem diante das acusações de que teria colaborado com o regime militar argentino e com o sequestro de filhos dos militantes de esquerda, feitos prisioneiros uns e assassinados outros. 

Essas crianças, das quais roubaram a identidade, foram entregues a casais ligados ao sistema. Esse mesmo crime, com a hipócrita justificativa da caridade, foi também praticado pelos bispos espanhóis da Opus dei, durante o franquismo. Ao não conhecerem sua verdadeira origem, as vítimas dos sequestros se tornam filhos de si mesmos. 

Renegam, e com razão, os que os adotaram, e não têm onde ancorar o seu afeto. 

Qualquer seja a verdade, o papa foi eleito conforme as regras tradicionais, e não há poder na Terra que o destitua. 

As leis canônicas não preveem o impeachment do bispo de Roma. 

Resta esperar que o novo pontífice – título vindo do sincretismo do catolicismo com o paganismo romano – erga realmente uma ponte entre o cristianismo primitivo, que era dos pobres, e o mundo moderno. 

Se isso ocorrer, os seus pecados, se os houve, esmaecerão, e ele cumprirá o seu dever de católico e de cristão. O perdão, ele só poderá obter de sua própria consciência, onde Deus costuma habitar, se nela houver lugar para essa presença.

O mais importante não é o passado do Papa. Depois de Pio XII, Wojtyla e Ratzinger, de nítidos laços com os poderosos deste mundo, o que os verdadeiros cristãos esperam do Papa é que ele seja fiel ao Evangelho e conduza a Igreja ao reencontro com o homem de Nazaré que, em sua vida, martírio e morte, encarnou toda a fragilidade da espécie humana. 

A grande lição de Cristo, que a Igreja nunca assumiu, é a de que a vida só é alegria e paz na solidariedade para com os nossos semelhantes.

Quando dividimos as dores do sofrimento alheio, as nossas próprias dores se aliviam, e o trânsito por este “vale de lágrimas” se faz mais suportável. 

 A Igreja se associou aos poderosos de cada tempo e, como lhe era conveniente, manteve instituições de caridade. 

Como alguns ricos, ela consolou sua consciência com a esmola. Os primeiros a receber o título de santos foram homens poderosos, que compraram a santidade com as sobras de suas riquezas.

Ao escolher o nome de Francisco, e de confirmar que buscava no poverello de Assis a inspiração de seu pontificado, Bergoglio dá um sinal importante de seu propósito, ou de sua astúcia.

Não sabemos se, sendo sincero, ele será capaz de escapar ao acosso conservador e oportunista da Cúria Romana. 

Cabe-lhe, na hipótese da sinceridade – como chefe de uma instituição política – por mais herege pareça o conselho, seguir a orientação de Maquiavel, e agir com maior energia logo no início, a fim de preservar o principado conquistado. 

Isso significa reformar, de alto abaixo, a administração do Vaticano, com a convocação de prelados do mundo inteiro, de forma a conter o apetite de poder do clero italiano, identificado com a história peninsular, construída nas conhecidas intrigas políticas europeias. 

Os grandes líderes se legitimam na ação. Forma-se, até mesmo alimentado de esperança, o consenso de que a Igreja terá que demolir seus alicerces milaneses e retornar às catacumbas romanas, para que possa sobreviver.

Seus pecados repetidos, da simonia à luxúria, não a levaram ao Inferno, ainda que muitos de seus dirigentes tenham lá chegado, na visão profética de Dante. 

É da teologia prática que a contrição absolve os pecadores. 

Se Francisco conduzi-la ao caminho de Damasco, é possível que, como Paulo, ela se desfaça da cegueira voluntária e atenda ao chamado de Cristo. 

É possível, mas pouco provável.


Postado no blog Conversa Afiada em 20/03/2013



O jornal que incomoda fardas e batinas




Na manhã seguinte ao anúncio de um Papa argentino, o jornal ‘Página 12’ sacudiu Buenos Aires com a manchete: ‘!Dios, Mio!’


Na 6ª feira, dois dias depois, como relata o correspondente de Carta Maior, Eduardo Febbro, direto do Vaticano, o porta-voz da Santa Sé reclamou do que classificaria como ‘acusações caluniosas e difamatórias’ envolvendo o passado do Sumo Pontífice.

Em seguida atribui-as a ‘elementos da esquerda anticlerical’.

Alvo: o ‘Página 12’ .

Com ele, seu diretor, o jornalista Horácio Verbitsky, autor de um livro sobre o as suspeitas que ensombrecem a trajetória do cardeal Jorge Mário Bergoglio, durante a ditadura argentina.

A cúpula da Igreja acerta ao qualificar o ‘Página 12’ como ‘de esquerda’ – algo que ostenta e do qual se orgulha praticando um jornalismo analítico, crítico, ancorado em fatos.

Mas erra esfericamente ao espetá-lo como ‘anticlerical’. 

O destaque que o jornal dispensa ao tema dos direitos humanos não se restringe ao caso Bergoglio.

Fundado ao final da ditadura, em maio de 1987, o ‘Página 12’ é reconhecido como o grande ponto de encontro da luta pelo direito à memória na Argentina.

Não foi algo premeditado.

No crepúsculo da ditadura militar, um grupo de jornalistas de esquerda vislumbrou a oportunidade de criar um veículo enxuto, no máximo 12 páginas (daí o nome), mas dotado de densa capacidade analítica.

E, sobretudo, radicalmente comprometido com a redemocratização e com os seus desafios.

A receita das 12 páginas baseava-se num cálculo curioso.

Era o máximo que se conseguiria produzir com qualidade naquele momento; e o suficiente para a sociedade reaprender a refletir sobre ela mesma.

A fidelidade a essa diretriz (hoje o total de páginas cresceu e a edição digital tem mais de 500 mil acessos/dia) levou-o, naturalmente, a investigar os crimes da ditadura.

Seu jornalismo tornou-se um acelerador da transição que os interesses favorecidos pelo regime militar gostariam de maquiar.

Não apenas interesses econômicos. 

Lá, como cá, existe um núcleo de poderosas empresas de comunicação, alvo agora da ‘Ley de Medios’, no caso da Argentina, que, por interesse financeiro, identidade ideológica ou simples covardia integrou-se ao aparato repressivo. 

Usufruiu e desfruta vantagens dessa intimidade. Até hoje. O quase monopólio das comunicações é uma delas – combatida agora pelo governo de lá.

Naturalmente, a pauta dos direitos humanos dispunha de um espaço acanhado e ambíguo nessa engrenagem.

Não por falta de familiaridade com o assunto.

Mais de uma centena de jornalistas foram presos e muitos desapareceram na ditadura argentina. 

A principal fábrica de papel de imprensa do país foi praticamente expropriada de seus donos.

Eles estavam presos, foram torturados. E então a transferência de propriedade se deu. 

A sociedade compradora tinha como participantes o próprio governo militar e os principais jornais apoiadores do regime. Entre eles o ‘El Clarín’, de oposição frontal ao governo Cristina, atualmente.

O ‘Página 12’ não se deteve diante das conveniências. E vasculhou esses impérios sombrios.

Fez o equivalente em relação aos direitos humanos em outros países. Não raro, com a mesma mordacidade que incomoda agora o Vaticano.

Quando Pinochet morreu em 2006, a manchete indagava: ‘Que terá feito o inferno para merecer isso?’ 

A condenação do ditador Videla à prisão perpétua, em 2010, mereceu letras garrafais: ‘Deus existe!’

Foi com essa ironia, debochada, às vezes, mas sempre intransigente em defesa dos direitos humano, que o ‘Página 12’ tornou-se um espaço apropriado pelos familiares dos desaparecidos políticos.

Por solicitação de Estela Carlotto, atual dirigente das Abuelas de Plaza de Mayo, passou a publicar, desde 1988, pequenas atualizações da trajetória familiar de vítimas da ditadura.

Os anúncios sugerem uma espécie de prosseguimento da vida dos que foram precoce e violentamente apartados dela.

Filhos que perderam os pais ainda crianças, mencionam os netos que esses avós jamais viram; avós falam dos bisnetos.

O efeito é tocante. Ao se deparar com a foto de um jovem desaparecido, sabe-se que hoje ele poderia estar brincando com os netinhos, filhos dos filho que agora tem a idade com a qual ele morreu.

Em 2007, o ‘Página 12’ recebeu na Espanha o prêmio da Liberdade de Imprensa, instituído pela Casa da América, junto com a Chancelaria espanhola e o governo da Catalunha.

Motivo: a seriedade na defesa dos direitos humanos e o compromisso com o rigor da informação, requisito da liberdade de expressão.

No momento em que pairam sombras sobre o Vaticano, o que deve fazer essa cepa de jornalismo? 

O ‘Página 12’ faz o que, em geral, desagrada aos poderes terrenos e celestiais: investiga, pergunta, rememora.

Ao contrário do que sugere o porta-voz da Santa Sé, não se trata de um cacoete anticlerical. 

O assunto extravasa o campo religioso e envolve uma questão de interesse político de toda a sociedade.

Trata-se de uma responsabilidade ecumênica e universal, da qual o ‘Página 12’ não abre mão: o dever de todos, sobretudo das autoridades, de zelar e fazer respeitar os direitos humanos e democráticos dos cidadãos. 

Sob quaisquer circunstancias; mas principalmente quando são ameaçados. Como na ditadura dos anos 70/80. 

Há dúvidas se o passado do cardeal Mario Jorge Bergoglio nesse campo honra o manto santo que agora envolve Francisco, o desenvolto sucessor do atormentado Bento XVI.

As dúvidas estão marmorizadas em um lusco-fusco de pejo, silêncios e versões contrastantes. 

É preciso esclarecer.

Há nomes, testemunhos, relatos, datas e um cenário dantesco: os anos de chumbo vividos pela sociedade argentina, entre 1976 e 1983.

O país do então líder dos jesuítas, Mario Jorge Bergoglio, vivia o inferno na terra, sob a ação genocida de uma ditadura cujos atos confirmam a indiferença aterrorizante dos aparatos clandestinos em relação à vida e à dor.

O que se ouve ainda arrepia.

A mesma sensação inspira o rosto endurecido e gasto dos líderes militares, julgados e condenados. Um a um; em grande parte, graças a pressão inquebrantável das denúncias e investigações ecoadas nas edições do 'Página 12'

Em sete anos, o aparato militar montou e azeitou uma máquina de torturar, matar e eclipsar corpos que operou de forma infatigável.

Nessa moenda 30 mil pessoas foram liquidadas ou desapareceram. 

Mais de 4 mil e duzentos corpos por ano. 

Filhos de militantes de esquerda foram sequestrados, entregues a famílias simpáticas ao regime. 

Muitos permanecem nesse limbo.

No dia em que a ‘fumata bianca’ do Vaticano anunciou o ‘habemus papam’ e em seguida emergiu a figura do cardeal argentino, no balcão do Vaticano, Graciela Yorio esmurrou as paredes de seu apartamento, a 11.200 quilômetros de distancia, em Buenos Aires. 

O relato está nos jornais argentinos e também na Folha de São Paulo.

A revolta deve-se a uma certeza guardada há 36 anos na memória dessa sexagenária.

Em maio de 1976, seu irmão, padre Orlando Yorio, foi delatado à ditadura sedenta e recém-instalada.

Juntamente com o sacerdote Francisco Jalics, este vivo, na Alemanha— Yorio ficou cinco meses nas mãos dos militares.

Incomunicáveis, na temível Escola Mecânica da Marinha, adaptada para ser a máquina de moer ossos do regime.

O delator dos dois religiosos teria sido o cardeal Bergoglio -- o Papa, então com cerca de 40 anos, líder conservador dos jesuítas argentinos.

Essa é a convicção de Graciela, baseada no que ouviu do irmão, falecido em 2000, militante da Teologia da Libertação, como Jalics. 

Jalics não se pronunciou. Alegando viagem, emitiu uma nota na Alemanha em que se diz em paz e reconciliado com Bergoglio.

A nota compassiva não nega a dor que leva Graciela ainda a esmurrar paredes.

A estupefação tampouco é apenas dela.

Ainda que setores progressistas argentinos optem por uma certa moderação em público, muitas vozes não se calam.

Estela Carlotto, a dirigente das Abuelas de Mayo, em entrevista ao ‘Página 12’ deste sábado, procura manter a objetividade num relato que adiciona mais nuvens às sombras.

Carlotto afirma que o Cardeal Bergoglio nunca fez um gesto de solidariedade para ajudar a luta mundialmente reconhecida das mães e avós de desaparecidos políticos argentinos. 

Poderia, mas não facilitou a reunião do grupo com o Papa. Ao contrário.

O primeiro encontro, em 1980, no Brasil, só aconteceu por interferência de religiosos brasileiros. 

As abuelas só seriam recebidas em Roma três anos mais tarde; de novo, graças a contatos alheios ao cardeal Bergoglio.

Prossegue Estela Carlotto.

O cardeal teria sido conivente com o sequestro de pelo menos uma criança nascida na prisão. 

Procurado por familiares da desaparecida política, Elena de la Quadra, teria aconselhado: ‘Não busquem mais por essa criança que está em boas mãos’. 

E desfechou sentença equivalente em relação às demais.

O ‘Jornal Página 12’ tem sido o principal eco desses relatos e dessa revolta, que muitos relativizam e gostariam de esquecer. 

O que o jornal faz ao investigar as dúvidas que pairam sobre Francisco é coerente com o 'manual de redação' sedimentado na prática da democracia argentina nesses 25 anos de existência: não sacrificar a memória ao conforto das conveniências.

Pode soar anticlerical a setores da Igreja que gostariam de esquecer o que já se cometeu neste mundo, em nome de Deus.

Mas é um reducionismo improcedente, que se dissolve na trajetória reconhecidamente qualificada do 'Página 12'.

Na Argentina, graças à persistência de vozes como a de seus jornalistas, a memória deixou de ser o espaço da formalidade.

Hoje ela é vista como um pedaço do futuro. Um mirante poderoso para se entender o presente e superar as forças, e a lógica, que esmagaram a sociedade no passado.

Carta Maior orgulha-se de ser parceira do jornalismo criterioso e corajoso de ‘Página 12’ no Brasil.



Postado no site Carta Maior em 16/03/2013


Novo papa é associado a sequestros de jesuítas e bebê durante ditadura argentina





Cardeal se orgulha de amizade com um dos comandantes da Junta Militar que em sete anos deixou 30 mil mortos, e foi chamado a depor em vários processos

Anunciado hoje (13) como novo papa em uma votação tida como surpreendente, o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio é investigado dentro de seu país pela colaboração com a ditadura. 

Nos dois processos mais famosos, responde pela ajuda que teria dado ao sequestro e à tortura de dois jesuítas e à apropriação de bebês, prática comum do último regime militar (1976-83).

A participação de Bergoglio no governo responsável pela morte de 30 mil pessoas é antiga e famosa, mas os sinais mais claros surgiram ao longo da última década, quando, após a derrubada de leis que protegiam os repressores do passado, foi possível dar início a julgamentos. 

O próprio cardeal se orgulhava das boas relações com o comandante da Marinha Emilio Massera, integrante da primeira Junta Militar e responsável, em 1955, por derrubar Juan Perón durante a autodenominada Revolução Gloriosa – um golpe de Estado, na realidade.

Foi na Marinha que se formou o principal campo de concentração do regime iniciado em 1976. A Escola de Mecânica (Esma, na sigla em castelhano) recebeu 5 mil prisioneiros, e menos de 200 deles saíram com vida. A causa Esma é uma das principais iniciadas nos últimos anos, e tem resultado em desdobramentos que alcançaram Bergoglio.

Ciente disso, e ansioso pela possibilidade de assumir o papado em caso de renúncia de Joseph Ratzigner, Bento XVI, Bergoglio encomendou em 2010 uma operação de "limpeza" de seu nome. 

Segundo reportagem do jornal argentino Página12, o livro El Jesuíta foi escrito com a intenção de desfazer as más impressões criadas em torno do religioso pelo período em que comandou a Companhia de Jesus, entre 1973 e 1979.

Em 2010, juízes do Tribunal Oral Federal número 5 foram até a sede do arcebispado de Buenos Aires tomar o depoimento do cardeal, acusado de trabalhar pelo sequestro e pela tortura de dois jesuítas em 1976. Naquele momento, Bergoglio comandava a Companhia de Jesus em San Miguel, e uma série de testemunhos o conectam ao crime. 

Francisco Jalics e Orlando Yorio, as próprias vítimas do sequestro, acusam Bergoglio de havê-los denunciado, em uma operação policial na qual desapareceram Mónica Candelaria Mignone,María Marta Vázquez Ocampo e Martha Ocampo de Vázquez. 

Em 2011, o jornalista Horacio Verbistky descobriu um documento do Ministério das Relações Exteriores e Culto da Argentina que corrobora a suspeita. Naquele momento, Jalics, húngaro, havia feito um pedido de renovação de seu passaporte. O informe da chancelaria aponta que Bergoglio apontou que havia “suspeitas de contato com guerrilheiros” e “conflitos de obediência”. A solicitação do jesuíta foi negada.

Em 2010, o médico Lorenzo Riquelme, então com 58 anos, declarou que o grupo que o sequestrou e torturou saiu da sede da Companhia de Jesus. 

Militante da Juventude Peronista e do movimento cristão, Riquelme deu a declaração com base no que foi dito a sua mulher, também raptada. Ela trabalhava no Observatório de Física Cósmica de San Miguel, que passou de um reduto peronista a um lugar de atuação de homens infiltrados da Marinha e sob controle de Bergoglio. 

Mom Debussy, um jesuíta que tinha a confiança de Bergoglio, afirmou que algumas vezes o cardeal lhe contou sobre os projetos de Massera, sempre demonstrando simpatia pelo regime, e que pretendia vender à Marinha o Observatório de Física. Debussy disse ainda que os trabalhadores do Observatório eram demitidos pelo religioso depois de voltar das sessões de tortura.

Outro documento oficial, datado de 1976, narra o que o líder religioso defendeu a comandantes militares. Advogou esclarecer a posição da Igreja Católica, de suporte ao regime, afirmando que “de nenhuma maneira pretendemos formular uma posição de crítica ao governo”, dado que um fracasso “levaria, com muita probabilidade, ao marxismo”. 

Em 2011, veio à tona a possível participação de Bergoglio em um caso de sequestro de bebês, uma prática adotada pelo regime, que executou várias mulheres grávidas ou com filhos pequenos.

O Tribunal Oral Federal número 6 convocou o cardeal a depor no processo de Estela de la Cuadra, uma das fundadoras das Avós da Praça de Maio. Segundo Estela, o agora papa tem relevantes informações sobre o desaparecimento de sua sobrinha, Ana, roubada dos braços da mãe em uma delegacia de La Plata, cidade vizinha a Buenos Aires. 

No mesmo ano, a Justiça francesa determinou que o Judiciário argentino tomasse o depoimento de Bergoglio pela suspeita de participação no desaparecimento de um padre francês que morou na Companhia de Jesus.

O testemunho de uma monja em 1984 já indicava a relação do então chefe da congregação com o sequestro que resultou nas mortes de Gabriel Longueville e do sacerdote Carlos de Dios Murias.

Postado no site Carta Capital e no blog O Esquerdopata

Sempre os norte-americanos e seu capitalismo*³


Naomi Klein

Como o mundo moderno se tornou tão desigual*²

O legado miserável de Reagan, Thatcher e Pinochet*¹

Paulo Nogueira

No livro “Doutrina do Choque”, a escritora Naomi Klein dá uma aula de mundo moderno.

Uma aula brilhante de mundo moderno. É uma maneira sintética de definir o livro A Doutrina do Choque, da escritora, jornalista e ativista canadense Naomi Klein, 44 anos.

Vou colocar, no pé deste artigo, um documentário baseado na obra, com legenda em português. Recomendo que seja visto, e compartilhado.

Naomi, como é aceito já consensualmente, identifica em Reagan e Thatcher, cada um num lado do Atlântico, um movimento que levaria a uma extraordinária concentração de renda no mundo.

Ambos representaram administrações de ricos, por ricos e para ricos. Os impostos para as grandes corporações e para os milionários foram sendo reduzidos de forma lenta, segura e gradual.

Desregulamentações irresponsáveis feitas por Reagan e Thatcher, e copiadas amplamente, permitiram a altos executivos manobras predatórias e absurdamente arriscadas com as quais eles, no curto prazo, levantaram bônus multimilionários.

O drama se viu no médio prazo. A crise financeira internacional de 2007, até hoje ardendo mundo afora, derivou exatamente da ganância irresponsável e afinal destruidora que as desregulamentações estimularam nas grandes empresas e nos altos executivos.

No epicentro da crise estavam financiamentos imobiliários sem qualquer critério decente nos Estados Unidos, expediente com o qual banqueiros levantaram bônus multimilionários antes de levar seus bancos à bancarrota com as previsíveis inadimplências. (Ruiria, com os bancos, também a ilusão de que o reaganismo e o thatcherismo fossem eficientes.)

Tudo isso, essencialmente, é aceito.

O engenho de Naomi Klein está em recuar alguns anos mais para estudar a origem da calamidade econômica que tomaria o mundo a partir de 2007.

O marco zero, diz ela, não foi nem Thatcher e nem Reagan. Foi o general Augusto Pinochet, que em 1973 deu, com o apoio decisivo dos Estados Unidos, um golpe militar e derrubou o governo democraticamente eleito de Salvador Allende no Chile.

Foi lá, no Chile de Pinochet, que pela primeira vez apareceria a expressão “doutrina de choque”. O autor não era um chileno, mas o economista americano Milton Friedman, professor da Universidade de Chicago.


Friedman dominou a economia chilena sob Pinochet

Um programa criado pelo governo americano dera, na década de 1960, muitas bolsas de estudo para estudantes chilenos estudarem em Chicago, sob Friedman, um arquiconservador cujas ideias beneficiam o que hoje se conhece como 1% e desfavorecem os demais 99%.

Dado o golpe, os estudantes chilenos de Friedman, os “Chicago Boys”, tomaram o comando da economia sob Pinochet e promoveram a “Doutrina do Choque” – reformas altamente nocivas aos trabalhadores, impostas pela violência extrema da ditadura militar.

Da “Doutrina do Choque” emergiria, no Chile, uma sociedade abjetamente iníqua que anteciparia, como nota Naomi Klein, o que se vê hoje no mundo contemporâneo.

O Brasil, de forma mais amena, antecipara o Chile: o golpe militar, também apoiado pelos Estados Unidos (e pelas grandes empresas de jornalismo, aliás), veio nove anos antes, em 1964. Tivemos nossos Chicago Boys, mas em menor quantidade, como Carlos Langoni, que foi presidente do Banco Central.

Com sua sinistra “Doutrina do Choque”, Friedman, morto em 2006, é o arquiteto do mundo iníquo tão questionado e tão merecidamente combatido em nossos dias.

Um dos méritos de Naomi Klein é deixar isso claro – além de lembrar a todos que situações de grande desigualdade são insustentáveis a longo prazo, como a guilhotina provou na França dos anos 1790.


Postado no blog Luis Nassif Online em 01/01/2013

Nota:

*1 Título original do artigo de Paulo Nogueira.
*2 Título sobreposto pelo jornalista Luis Nassif.
*3 Título sobreposto por mim.


Argentina goleia o Brasil em justiça


A Argentina começa hoje o seu megajulgamento da ditadura. Os hermanos não têm dado qualquer alívio aos seus torturadores e aos chefes de todos eles.

Deve ser parte da superioridade ética, sustentada por intelectuais anônimos, do tango sobre o samba ou do drama em relação ao fatalismo do trágico.

Enquanto isso, no Brasil, a verdade aparece como uma infiltração. O assassinato, em Porto Alegre, de um militar ligado ao terrorismo fardado do DOI-Codi levou à descoberta de documentos importantes, que a polícia de Porto Alegre, nada republicanamente, vazou para o grupo RBS.

Um dos documentos prova que o deputado petebista Rubens Paiva esteve preso nas instalações cariocas infernais do DOI-Codi.

As nossas forças armadas têm mentido sobre isso há décadas. Assim como se mentiu durante anos sobre o assassinato de Vladimir Herzog, transformado em suicídio, o único enforcamento ajoelhado da história da humanidade.

Um dos terroristas fardados, protagonista do fracassado atentado do Rio-Centro, continua na ativa e, segundo o jornalista Marcos Rolim, é professor na academia do Exército em Brasília. Um escracho.

Três questões não podem calar:

1) Quando nossas Forças Armadas pedirão oficialmente desculpas à nação, começando, por exemplo, pelas famílias de Herzog e Rubens Paiva?

2) Quando nossas Forças Armadas admitirão as suas culpas e ajudaram a tornar públicos todos os documentos que permanecem escondidos?

3) Quando serão liberados os documentos sob a guarda do III Exército, hoje Comando do Sul, existentes em Porto Alegre. Ou também serão misteriosamente vazados para a RBS?

A Argentina está goleando o Brasil em matéria de acerto de contas com o passado. Por aqui, o revanchismo dos defensores da ditadura está cada vez mais forte e impudente. Há ódio contra a democracia que se instalou permitindo a eleição de muitos dos torturados do regime militar.

O jeitinho brasileiro é apenas uma forma de tapar o sol com a peneira.

O Brasil precisa rever a sua Lei da Anistia para não continuar a manter uma duplicidade vergonhosa: os ativistas políticos que se opuseram ao regime militar foram processados, julgados, condenados, torturados, exilados ou mortos. Os torturadores a serviço do regime jamais foram molestados.

Há algo fora de compasso.

Até quando temeremos as chantagens dos revanchistas?

Até quando conviveremos com torturadores de Estado em liberdade?

Até quando aceitaremos de braços cruzados as provocações dos que cometeram crimes contra a humanidade?

O atentado do Rio Centro aconteceu depois da Lei da Anistia. A documentação agora descoberta mostra como se tentou transformar um golpe hediondo de militares em uma ação da esquerda. Ficará por isso mesmo?

O ritmo do momento, porém, é outro.

Que tal trocar o funk pelo tango eletrônico?


Postado no blog Juremir Machado da Silva em 28/11/2012

Vladimir Herzog, jornalista assassinado em uma cela do DOI-Codi, completaria 75 anos em junho de 2012.

Vladimir Herzog (foto), jornalista assassinado em uma cela do DOI-Codi, completaria 75 anos em junho de 2012


No dia 21 de janeiro de 1971, o empresário e engenheiro civil Rubens Beyrodt Paiva, 41 anos, casado, pai de cinco filhos, ex-deputado federal pelo PTB de São Paulo, cassado pelo regime militar em 1964, foi levado de sua residência no Rio de Janeiro por agentes secretos do governo para "prestar depoimento".

Depois desse dia, Rubens Paiva nunca mais foi visto. Investigações realizadas por amigos e familiares apontam que ele foi brutalmente torturado nas dependências de um quartel militar, vindo a morrer menos de 24 horas depois do sequestro. Seu corpo nunca foi encontrado.