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Lula fala a blogueiros






A força da blogosfera no Brasil








Lula foi salvo pela mídia digital


Lula está certo em saudar a internet


Nem Getúlio e nem João Goulart tiveram um contraponto ao ataque selvagem da imprensa

Paulo Nogueira 

Lula, com razão, deu ontem graças a Deus pelo aparecimento da internet, “nossa mídia”. Não que a internet seja dele, ou do PT. Mas o fato de que a mídia digital não é controlada pelos suspeitos de sempre – Marinhos, Frias, Civitas, Mesquitas – é de fato alentador não apenas para Lula mas para a democracia.


No Brasil, os interesses privados da mídia desestabilizaram, ao longo da história, mais de um governo que não fizesse o que o chamado 1% queria que fizesse.

Jango, em 1964, foi derrubado. Antes dele, em 1954, Getúlio foi levado ao suicídio.

Não havia o contraponto que a internet oferece. A sociedade era manipulada sem a menor cerimônia.

Lacerda falava no “Mar de Lama” de Getúlio, e todos reproduziam. A maneira mais canalha e mais barata de atacar governos de esquerda é pelo lado da “corrupção”.

Os cidadãos mais influenciados pelo noticiário são levados a crer que o que existe na política é uma roubalheira, e que tirando o partido do poder o problema estará resolvido.

Quem mais fala em corrupção à luz do sol em geral é quem mais à pratica na sombra. Nos últimos anos, por exemplo, as empresas de mídia, por exemplo, levaram a sonegação de impostos ao estado da arte enquanto bradavam em manchetes sermões moralistas e mentirosos.

Mas o que você pode fazer quando todos os microfones estão com os outros?

Getúlio Vargas, num gesto inteligente e ao mesmo tempo desesperado, tentou criar uma alternativa à voz ultraconservadora dos barões da imprensa.

Ajudou o jornalista Samuel Wainer a lançar a Última Hora, jornal voltado para os interesses populares. Mas foi uma voz solitária contra a de uma matilha.

Carlos Lacerda, o desestabilizador mais estridente, começou a atacar Wainer por não ter nascido no Brasil, o que contrariaria a lei que rege a propriedade de mídia no Brasil.

(Ninguém, mais tarde, reclamaria do fato de a família Civita não ser originária do Brasil, excetuados os Mesquitas aristocráticos, porque ali estava mais uma voz da turma.)

Sob as condições em que foram caçados Getúlio e Jango, é presumível que Lula não tivesse resistido ao assédio.

Imagine o circo do mensalão sem o contrapeso da mídia digital. Provavelmente teríamos hoje um presidente chamado Joaquim Barbosa.

Por isso Lula deve ser mesmo grato à internet. E não apenas ele, mas todos aqueles – petistas ou não – que anseiam por um país menos desigual e injusto do que aquele que a elite representada pelas famílias da mídia impuseram aos brasileiros.


 Paulo Nogueira é joornalista baseado em Londres, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.


Postado no blog ContrapontoPig em 03/08/2013


Banda larga democratizada será pá de cal no bloqueio à informação



Laurindo Lalo Leal Filho

Em 1994, o respeitável jornal inglês “The Guardian” atirou no que viu e acertou no que não viu. Em um exercício premonitório encartou numa de suas edições alguns exemplares do que poderia ser o jornal no então longínquo ano de 2004.

A novidade, além do tamanho reduzido, era a personalização das informações. Através de um banco de dados, o jornal saberia exatamente quais eram os interesses de cada um dos seus leitores os quais, através de um cartão magnético, imprimiriam um exemplar pessoal em qualquer banca. 

Havia ainda o requinte de a impressão ser feita em um tipo de fibra impermeável, capaz de resistir a água das banheiras, local onde o jornal poderia ser lido com grande conforto, bem ao gosto dos ingleses.

A forma não vingou, mas o conteúdo personalizado ganhou força através de outro caminho, a internet. Com uma diferença fundamental: o fim da rígida divisão entre emissores e receptores. Papeis que agora são assumidos sem distinção por todos os envolvidos nas trocas de mensagens eletrônicas.

O resultado já pode ser percebido num ainda incipiente mas promissor crescimento da liberdade de expressão pelo mundo. Quem está se dando mal são os grandes grupos empresariais de comunicação, até aqui senhores absolutos da verdade. 

Muitos já acusam o golpe, alguns discretamente, outros de forma ensandecida como certos colunistas da grande mídia que têm suas informações e opiniões contraditadas em blogs e nas redes sociais. 

Um desses, “José Neumânne Pinto, foi ao Congresso pedir uma ‘lei dura’ para a internet, usando um caso de ofensa pessoal, típico no Código Penal, para restabelecer mecanismos de exceção”, como apontou o site Brasil 247.

Antes dele, nas eleições presidenciais a força da comunicação alternativa já havia sido sentida pelo candidato José Serra. Acostumado a controlar os grandes meios de comunicação com telefonemas para seus proprietários e editores e receber deles total apoio, Serra viu-se diante do contraditório exposto por diferentes blogues, chamados por ele de “sujos”. Era o reconhecimento explicito do poder da nova mídia que veio para ficar.

São inúmeras as notícias censuradas pela velha mídia e que só chegam ao conhecimento de parte do público graças a internet. Por exemplo, por qualquer critério jornalístico as mortes de oito apoiadores do presidente Maduro da Venezuela, logo após as eleições naquele país, seriam notícia. Com detalhamento das circunstâncias em que ocorreram e a completa identificação da vítimas. Mas quem se informou pelo Jornal Nacional nada ficou sabendo como bem mostrou o blogueiro Eduardo Guimarães. 

Quando os temas são mais complexos a censura é ainda pior. Basta ver o debate em torno da alta de preços de alguns produtos e os riscos inflacionários. Posições diferentes daquelas que defendem a alta de juros como solução não tem vez na grande mídia. 

No auge dessas discussões a ‘Globonews’, numa conversa entre os seus invariáveis comentaristas, colocou durante alguns minutos na tela a legenda implacável: “Dilema da política econômica: inflação ou juros altos”. Qualquer outra opinião estava liminarmente censurada.

A pá de cal nesse bloqueio informativo a que os brasileiros estão submetidos há décadas será dada quando a banda larga da internet se universalizar. Virá o momento em que informações urgentes não passarão mais pelos grandes meios para chegar ao público. 

Aliás, quem já está ligado à rede testemunhou isso na notícia da prisão do segundo suspeito dos atentados em Boston, divulgada em primeira mão através do twitter. 

Em São Paulo, a prefeitura anuncia o acesso gratuito à internet nas ruas, passo decisivo para o avanço da democratização das informações.

Com isso, parte da profecia do 'Guardian' se concretizará, com o cidadão buscando as notícias de forma personalizada mas sem a necessidade do cartão magnético. Ficam faltando, para os ingleses, computadores e celulares impermeáveis a água da banheira. 


Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial). Twitter: @lalolealfilho.

Postado no site Carta Maior em 17/05/2013


Nossa luta é contra um inimigo comum




Eu tenho orgulho de ter visto a blogosfera política brasileira nascer, e mais orgulho ainda de vê-la hoje madura, forte, plural, mais combativa do que nunca. 

Foi um parto difícil, num momento embaraçoso. Em 2005, quando estoura o escândalo do mensalão, emerge Ricardo Noblat, com um blog logo incorporado ao Estadão.

Antes da sociedade perceber que, além de um deprimente caso de caixa 2, havia uma instrumentalização midiática para a realização de um terceiro turno político e um golpe “branco” no governo Lula, a perplexidade era generalizada. 

Até porque não havia nenhum contraponto. A mídia reinava absoluta. Foi o auge do império dos colunistas, quando a duvidosa verve de meia dúzia de escribas corporativos correspondia ao que se chamava, pomposamente, de opinião pública. 

Até o delicado Alberto Dines, editor do Observatório da Imprensa, havia entrado na onda, publicando catilinas diárias contra Lula e o PT, sem fazer a mínima ponderação sobre o papel da mídia. O único blog político lido em grande escala era o de Noblat, que viveu seus “anos de ouro”. Hoje Noblat é um colunista decadente, sem pegada, um melancólico propagador de fofocas inventadas por ele mesmo. 


A blogosfera “nossa”, anti-corporativa, majoritariamente de esquerda, progressista, ainda não existia. Não enquanto o movimento significativo que logo mais iria se tornar. Eu já operava o Óleo do Diabo, atualizava o site Arte e Política e publicava artigos em alguns sites mais conhecidos. Mas ainda éramos pequenos demais.
Até que um dia, eu vi algo espantoso. Dines escrevera um texto especialmente amargurado, repetindo os clichês antipetistas da grande mídia, boa parte deles ancorado em informações dúbias, e a caixa de comentários daquele post simplesmente explodiu. 

Até então, eu só via, no Noblat, no Observatório, em toda parte, comentários da direita raivosa. Parecia que a esquerda tinha desaparecido do país, envergonhada com o mensalão.

Quando eu vi aqueles comentários, percebi que algo de novo nascia. Dito e feito. A partir daquele momento, todo post no Observatório enchia de comentários lúcidos, críticos, racionais, inteligentes, escritos por um grupo impressionantemente plural: garçons do Recife, donas de casa de Porto Alegre, engenheiros, funcionários públicos. Intelectuais também comentavam, mas houve uma pequena revolução: pela primeira vez, a internet permitia que pessoas “comuns”, estranhas ao circuito classe média zona sul do Rio e Higienópolis de Sampa, se manifestassem. 

Quando o fizeram, mostraram muito mais bom senso e educação do que as bestas feras que comentavam no blog do Estadão; e o melhor: sempre na contramão da hegemonia midiática. 

As pessoas, em suma, diziam: “peralá! tudo bem, o PT errou e tal, mas e aí? o que vamos fazer agora? Vamos derrubar o Lula? FHC não errou também? Não cometeu erros muito piores? Lula não está fazendo um bom governo?” Mais que isso, as pessoas começaram a suspeitar que o seu voto, a sua vontade, estavam sendo violados por setores que, historicamente, sempre conseguiram engambelar o povo, seja pela astúcia, seja pela força. Lula podia ter todos os defeitos, mas era “nosso”, era muito melhor do que o presidente “deles”. 

Enfim, houve o que deveria ser entendido como Justiça. Justiça não é condenar sumariamente, e sim pôr as ações humanas numa balança, ponderar, com espírito aberto, objetivo, prático, compreensivo, generoso, magnânimo. É fazer exatamente o contrário do que faz a nossa mídia, o contrário do que fez o STF durante o julgamento do mensalão. 

Mas voltando à blogosfera. Ela cresceu, abastecida pelo combustível humano, um público crescente. 

Por trás do processo, está ainda o que poderíamos chamar de “revolução da maturidade”. 

Até os anos 70, e mesmo nos anos 80, os jovens sempre dominavam as manifestações políticas simbólicas. A partir de meados dos anos 2000, tínhamos uma juventude convenientemente dopada por décadas de imperialismo americano e cansada do radicalismo ideológico da geração anterior. Ou seja, totalmente desmotivada para a luta política.

E eis que chega a internet, permitindo que pessoas de todas as idades – sobretudo mais velhas – exercessem a sua cidadania mesmo sem a disposição para sair na rua gritando palavras de ordem e empunhando bandeiras. 

O indivíduo pacato, de meia idade, de repente viu a chance de ser protagonista na luta ideológica da comunicação. E o foi, com incrível galhardia. 

A blogosfera política de esquerda nascera e dispunha de um exército intelectual. Um exército diferente, sem comando vertical, sem hierarquia, composto por gente calejada. Um exército de guerreiros livres, ligados entre si apenas por um punhado de velhas e boas ideias nacionalistas. 

Quase todos marcados pelo longo e terrível silêncio que se lhes impuseram, através da brutalidade dos coturnos, primeiro, e pelo poder de uma mídia concentrada e monolítica, em seguida. 

Hoje a blogosfera está madura. A consolidação de um blog como o Diário do Centro do Mundo, do Paulo Nogueira, trouxe a elegância europeia, o cuidado profissional, o apartidarismo, a verve simultaneamente culta e popular, de que estávamos precisando. O Brasil 247 trouxe uma pegada comercial, grandiloquente, temerária. É como se víssemos um amigo sempre maltrapilho, solitário, decadente, aparecer num carro bonito, vestindo trajes elegantes, acompanhado por uma bela e atraente representante do sexo feminino.
Estou citando os que chegaram por último, visto que não preciso mencionar nossos colegas mais tradicionais, protagonistas das lutas políticas que temos travado desde alguns anos: o cada vez mais ferino, divertido e brutal Paulo Henrique Amorim; o incansável Eduardo Guimarães, com sua pontaria certeira; o ponderado mas sempre incisivo Luis Nassif; os queridos Azenha e Rodrigo Vianna, e tantos outros. 

Tudo isso é muito bom para o nosso campo político, a esquerda progressista, nacionalista, desenvolvimentista.
Entretanto, há uma derradeira prova de maturidade que ainda estamos construindo. É uma prova cheia de dilemas, riscos e armadilhas, mas ao cabo a blogosfera conseguirá superá-los todos com sua pluralidade.

A blogosfera progressista nasceu no meio de uma guerra da mídia contra o governo trabalhista de Luiz Inácio Lula da Silva. E se posicionou assertivamente ao lado do campo popular. Lula e Dilma tiveram o apoio que faltou a Getúlio e a Jango. Até hoje, esse apoio é o único contraponto que se pode encontrar para se ter uma visão balanceada de política e economia. 

Mas essa função da blogosfera, de ser um contraponto “governista” ao criticismo antigovernista da mídia também está sendo superada. Até porque a mídia não é sempre antigovernista. 

A grande mídia desempenha, às vezes magnificamente, a grande farsa da imparcialidade, sempre com objetivo de acumular munição para atacar de maneira mais fulminante. 

A blogosfera tem dificuldade para se libertar dessa dicotomia às vezes tão pobre de governo versus mídia, justamente porque parece uma guerra interminável.

E o próprio governo parece satisfeito com uma situação em que apenas os dois têm voz: governo e mídia dominam o debate público, abafando todas as necessárias nuances. Por isso uma Lei da Mídia é importante, para que a sociedade brasileira tenha acesso a pontos-de-vista que não são nem os do governo, nem da grande mídia, mas de setores sociais relevantes, que possam contribuir para o progresso nacional. 

Também nisso a blogosfera amadureceu, ou antes, ela ajudou a construir uma estabilidade política tão sólida que lhe permite fazer duras críticas à gestão de Dilma Rousseff sem, com isso, abrir espaços vulneráveis para a direita atacar pelos flancos. 

É o que acontece na política de comunicação do governo, que é reacionária e obscurantista.

A Secom dá mais dinheiro para jornais do que para a internet brasileira, uma das maiores do mundo.

E aqui repito: o aumento de recursos federais na internet não é para abastecer nenhuma blogosfera “progressista”, e sim para irrigar toda a vasta rede de sites, blogs e portais independentes da web nacional: sites de história, portais de educação, blogs de movimentos sociais, blogs especializados em micropolíticas, em filosofia, arquitetura, cinema, música etc.

O que é realmente absurdo é ver o governo dando mais dinheiro para jornais impressos, que atingem pouca gente, e cujos anúncios acabam no lixo no dia seguinte, do que publicar na internet, que não derruba árvores, os anúncios permanecem e há um ambiente democrático de interação. Mais que isso: a internet gera empregos. É, de longe, o maior gerador de empregos no ramo da comunicação social, ao contrário do mundinho cada vez mais decadente, repressor, baixo astral, das edições impressas. 

Entende-se que as grandes agências privadas de publicidade resistam em entrar na internet, por causa dos famigerados bônus de volume que recebem das grandes empresas de mídia impressa e televisiva.

Mas as agências não têm a função social de fomentar a pluralidade política que tem o governo. 

Seja como for, a blogosfera progressista, com todas as críticas que faz ao governo, mesmo sendo apunhalada pelas costas na questão da comunicação, ainda não tem, a meu ver, outra opção ideológica a não ser apoiar a presidenta em 2014. 

Não falo da opção de um punhado de blogueiros e sim da tendência inevitável de um movimento que tem hoje centenas de milhares de pessoas. 

Por exemplo, ontem o Estadão publicou um artigo que aborda a imagem dos candidatos a presidente junto ao mercado financeiro. Em determinado trecho, topamos com a seguinte afirmação: 

Aécio desperta a confiança do setor [financeiro] em relação à condução da economia. “Ele é música para os ouvidos do mercado. Ele é visto como o resgate da agenda de FHC. É mais ortodoxo”, disse o economista de um banco estrangeiro. 

Francamente, isso é de gelar a espinha. Se a crítica que a blogosfera faz à Dilma é justamente ceder demais ao conservadorismo, tudo o que não queremos é que o poder volte às mãos do próprio núcleo conservador. Sobretudo “este” núcleo conservador tucano, com suas diabólicas preferências por políticas recessivas.

Nas últimas semanas, aliás, assistimos a um verdadeiro “freak show” neoliberal, com articulistas publicando textos em jornais de grande circulação, em que defendem o aumento do desemprego.

Se os neoslibelês sempre foram odiados, agora que soltaram a sua franga anti-humanista em público, eles serão eternamente desprezados.

Defender desemprego num país como o Brasil, onde o colchão de proteção social é mais fino que a antena de uma formiga, só encontra paralelo na decisão de Margareth Thatcher enquanto ministra da Educação, que, no auge de uma crise econômica na Inglaterra, mandou cortar o leite distribuído para crianças nas escolas. 

Aécio Neves, apesar de sua pose de bom garoto – em contraste com a fama e a cara de mau de José Serra -, representa uma visão de mundo, em política e economia, profundamente conservadora. 

Se a Serra falta caráter, Aécio simboliza a extrema direita econômica do PSDB e seu despudorado entusiasmo por juros altos e desemprego. 

Para 2014, devemos entender uma coisa: vai ter segundo turno, e será entre Aécio Neves e Dilma Rousseff. Campos e Marina serão apenas os bois de piranha da mídia e do PSDB para permitir que Aécio chegue ao segundo turno. 

Uma vitória no primeiro turno é um acaso com o qual seria estupidez contar.

O embate político, hoje no Brasil, volta a ser entre direita e esquerda, e por isso mesmo devemos trabalhar para convencer a nossa presidenta de que ela precisa, desde já, adotar políticas mais corajosamente progressistas, em todos os campos. 

Se fizer isso, não contará apenas com o apoio burocrático de uma esquerda mais anti-tucana do que pró-dilma; conquistará não apenas o nosso cérebro, mas incendiará corações sedentos de esperança, esfomeados por mudanças, desesperados pelo desejo de enterrar, de uma vez por todas, esse maldito neoliberalismo colonial, que é apenas uma artimanha mafiosa para transferir nossa riqueza, nosso patrimônio, nossa soberania, para um punhado de imperialistas espertalhões. 

Encerro o post citando o primeiro capítulo da Constituição Brasileira de 1988, acrescentando pequenos comentários. 

TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: 

I – a soberania [sem privatização];

II – a cidadania [sem criminalização da política];

III – a dignidade da pessoa humana [sem condenações espúrias no STF];

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa [com emprego pleno, e juros baixos];

V – o pluralismo político [com uma lei da mídia moderna].


Postado no blog DoLadoDeLá em 23/04/2013
Imagem acima do texto inserida por mim 

Minha homenagem ao jornalista Luiz Carlos Azenha e a todos os blogueiros corajosos !














O império contra-ataca



Eduardo Guimarães

A esta altura, você já deve estar sabendo – e, se não sabia, agora saberá – que Luiz Carlos Azenha, jornalista-repórter da TV Record e editor do site Viomundo, foi condenado pela Justiça do Rio de Janeiro a indenizar o diretor de jornalismo da Globo, Ali Kamel, em 30 mil reais. Segundo a sentença, por Azenha ter movido “campanha insultuosa” contra ele.

Kamel vem obtendo sucessivas – e esquisitíssimas – vitórias na Justiça do Rio, assim como a emissora que o emprega, ao lado de outros grandes veículos de comunicação, conseguiu condenar, no STF, inimigos dessa corrente política que congrega partidos de oposição e impérios de comunicação.

O império da direita midiática no Brasil já conseguiu muito mais. Conseguiu manter o país sob uma ditadura militar durante duas décadas. O império da direita brasileira já conseguiu derrubar um governo legitimamente eleito e, depois, sustentou um regime que, por falta de votos, impediu este povo de escolher seus dirigentes.

A direita midiática, porém, perdeu poder. Hoje, exercita-o investindo contra trabalhadores da indústria da comunicação, mas não consegue mais dar golpes e eleger os governos que quer.

Azenha, ao lado de tantos outros, ajudou a derrotar a Globo em 2006, em 2010 e em 2012 – neste último ano, foi possível impedir o campeão da direita, candidato duas vezes a presidente, de se eleger como prefeito de São Paulo.

A Globo e seus tentáculos, bem como o exército de militantes – quase todos anônimos – que mantêm na internet, dirão que é muita pretensão achar que a blogosfera derrotou o império destro-midiático. Entretanto, as investidas desse império contra blogueiros referenda a tese que tentarão desqualificar.

O diretor da Globo não investiria contra Azenha, Paulo Henrique Amorim, Rodrigo Vianna, Cloaca News e tantos outros blogueiros, ou um colunista da Veja não investiria contra este que escreve, entre tantos outros, se nós não os incomodássemos. Incomodamos, e muito.

O ex-ministro da Secom Franklin Martins explicou, no último encontro de blogueiros progressistas, em Salvador, que o que nossos blogs fazem é visto como um perigo e um incômodo imensos por esses impérios de comunicação.

Para entender como simples blogs podem incomodar tanto esse império midiático que mantém 90% da comunicação de massas na mão de meia dúzia de famílias bilionárias, uma analogia: você sabe, leitor, por que as ditaduras censuram até uma distribuição de panfletos na rua? Sabe por que censuram uma música ou uma peça de teatro?

A comunicação, seja de que forma for feita, é “viral”. A informação esgueira-se por qualquer fresta que deixarem aberta e se espalha em progressão geométrica, mesmo que de forma lenta.

Uma Globo tem o poder da instantaneidade na comunicação. O que sai no Jornal Nacional às 20:31 hs., em questão de minutos já é sabido e consabido em todo território nacional e até no exterior. Contudo, a informação em um simples blog vai circulando devagar, muito devagar, mas sempre, sem parar.

As pessoas recebem artigo que escrevo em seus e-mails, em seus perfis nas redes sociais ou recebem indicação daquele texto ou até daquele blog através de amigos. E os argumentos que eu uso, por exemplo, vão sendo contrapostos à informação instantânea que a Globo, também por exemplo, difundiu.

Quando não existia a internet, esse processo era milhões de vezes mais lento e, ainda assim, assustava os déspotas que precisam falar sozinhos para mentir com “sucesso”.

Em campanhas eleitorais, aliás, a internet é muito mais importante. Por que a audiência em blogs políticos sobe tanto em períodos eleitorais? Porque pessoas pouco ligadas em política vão buscar informações adicionais na internet, já que muita gente já se deu conta de que o noticiário tradicional não conta a história toda.

Entendo as razões que o Azenha alega para encerrar seu site. É um repórter de sucesso, tem uma carreira pela frente e uma família a sustentar. Seu sufocamento financeiro pelas seguidas ações que Ali Kamel move contra si – e nas quais a Globo tem muito interesse – pode fazê-lo perder boa parte de seus bens, amealhados com trabalho honesto.

Além disso, assim como todos os outros blogueiros, Azenha não recebe dinheiro público que o governo Dilma Rousseff despeja aos borbotões nos cofres de uma Globo, que, apesar de ter só 45% da audiência, recebe 60% de todas as verbas publicitárias do governo federal.

É revoltante? Claro. Azenha tem todas as razões plausíveis para desistir de enfrentar esse poder discricionário e antidemocrático? Tem. Mas deve? Aí é outra questão.

Ao contrário do que parece, o império destro-midiático está perdendo o embate. O esforço que vem fazendo desde meados do ano passado, quando iniciou a sua última investida contra o governo Dilma e contra o PT, custou-lhe centenas de milhões de dólares.

Que resultado a Globo obteve com edições inteiras do Jornal Nacional focadas em destruir a imagem do PT? Zero. O PT, em pesquisa recente, aparece com 29% de preferência dos brasileiros – um patamar histórico – e se tornou, em 2012, o partido mais votado do país. E, de quebra, ainda tomou São Paulo do PSDB.

Ainda cabe recurso a Azenha na ação que Ali Kamel venceu contra si em primeira instância. O caso pode chegar ao Supremo Tribunal Federal, que está mudando de perfil. Além disso, mesmo se vier a perder, não tenho a menor dúvida de que boa parte do público da blogosfera se cotizaria e pagaria a indenização por ele.

Não é fácil ser blogueiro. O próprio Azenha relatou, recentemente, os riscos de violência física que este blogueiro corre, já que não conseguirão tirar nada de mim porque não tenho o que tirarem, em termos financeiros.

Há o caso Falha de SP, site do jornalista Lino Bocchini, quem está ameaçado de ter que pagar uma indenização pesada à Folha de São Paulo. Blogueiros que incomodam a direita midiática são assassinados ou espancados por todo o país. É uma “profissão” perigo que requer muita resiliência e coragem.

Todavia, os blogueiros têm um papel histórico. Se não nos deixarmos intimidar, poderemos consolidar a democracia no Brasil minando um poder discricionário e antidemocrático que meia dúzia de famílias bilionárias ainda detêm, mas que diminuiu muito e continuará diminuindo.

Diante de tudo isso, exorto o jornalista – e amigo do peito – Luiz Carlos Azenha a não desistir. Não temos a opção de desistir. Sem dinheiro, sem patrocínio, sofrendo processos e até violência física, estamos ajudando (muito) a mudar o Brasil. A recompensa que receberemos será o agradecimento das gerações futuras, que viverão em um país melhor.

Postado no. Blog da Cidadania em 30/03/2013

Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa




por Luiz Carlos Azenha

Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.

Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.

Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.

Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.

Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.

Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a persegui-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.

Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.

Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.

Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.

Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.

No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.

Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.

Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.

Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.

Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.

Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.

Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.

O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.

Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.

Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?

O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.

Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.

Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.

Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão — entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.

Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.

E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.

Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que as Organizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.

Eu os vejo por aí.

PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.

PS do Viomundo 2: Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira.

Postado no site Carta Capital em 31/03/2013


E nós? A blogosfera progressista?




Está anunciada pelo PIG uma mega cobertura sobre o julgamento do chamado mensalão. É aquilo que já sabemos: mentiras no atacado, máscaras de “mosqueteiros da ética”, holofotes apenas no que pode contabilizar aos interesses nada republicanos de árvore, pássaro e porcos.(Demos, tucanos e PiG).

E nós? A blogosfera progressista? Vamos cruzar os braços e assistir impassíveis ao massacre do século? Temos duas opções: ou nos posicionamos na defesa da verdade, ou ajudamos, com nosso silêncio, a derrota eleitoral, moral e ética dos nossos ideais de esquerda.

Prestem atenção! Podemos fazer a diferença no contra ponto da mega cobertura, com nosso show de humor, com nossa competência em atingir muito mais pessoas que os velhos porquinhos (PiG). Será uma luta de Davi e Golias, com a vantagem de que com nosso chassi menor, temos mais mobilidade e jogo de cintura. Vamos lá!







     





A crença míope nos superpoderes de blogueiros



Por Luiz Carlos Azenha

Confesso que, de uns tempos para cá, minha tolerância com a hipocrisia é próxima de zero.

Acho perda de tempo participar de polêmicas cuja função essencial é mascarar a realidade, além de alimentar o desejo de alguns por circo.

Circo move tráfego na rede.

A ação do PSDB relativa aos blogueiros Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif não busca debater o essencial, ou seja, o uso do dinheiro público em publicidade ou propaganda. Se buscasse, haveria de tratar do conjunto: quais são os gastos de governos federal, estaduais e municipais com propaganda? Quanto recebem a Globo, a Veja, a Folha e o Estadão proporcionalmente ao bolo?

Os governos não poderiam reduzir estes custos investindo mais na internet, por exemplo, dada a crescente capacidade de disseminação de informações através das redes sociais? É viável fazer como o agora senador Roberto Requião, que quando governador do Paraná cortou todas as verbas publicitárias, a não ser as de campanhas de utilidade pública? Cabem políticas públicas para promover a pluralidade e a diversidade de opiniões?

Há outras questões, tão interessantes quanto. Deve um partido tentar definir a pauta de um blog eminentemente pessoal? Por que o anúncio de empresas públicas supostamente compra um blogueiro mas não compra um dono de jornal? Crítica é ataque às instituições? Ao criticar o Congresso, o governo federal ou o Judiciário os colunistas dos grandes jornais estariam ‘atacando as instituições’? 

Mas, se o financiamento dos jornais para os quais escrevem — ou das emissoras de rádio e TV nas quais trabalham — é feito parcialmente com dinheiro público, eles podem ‘atacar as instituições’ livremente e os blogueiros não? E a liberdade de expressão e o direito ao contraditório?

Trato destes temas com tranquilidade. O Viomundo, pelo menos por enquanto, é mantido com anúncios Google. 

O Leandro Guedes, que nos representa comercialmente, desenvolve ferramentas para que nosso financiamento seja proporcionado pelos próprios leitores. Desde que começou a fazer isso, há dois meses, não está autorizado nem a enviar os media kits (com dados de audiência, etc) a empresas públicas ou governos federal, estaduais ou municipais. Esperamos que a grande mídia siga nosso exemplo.

[Pausa para gargalhar]

Não sei o que moveu o PSDB. Provavelmente, pela escolha dos alvos, José Serra. Tenho comigo que algum mago, daqueles que cobram fortunas para fazer campanha, tenha concluído que existe uma relação entre a altíssima taxa de rejeição de Serra e a blogosfera/mídias sociais.

Não sei se o diagnóstico está certo ou errado, mas a cura é duvidosa. Parte do pressuposto de que blogueiros sejam capazes de mover legiões de internautas. A crença nisso é uma farsa, muitas vezes alimentada por quem está chegando agora ou está “investido” na blogosfera.

Quem lida com os internautas no dia a dia e respeita a diversidade de opiniões descobre que este é um meio horizontal. Não é estruturado hierarquicamente. Não obedece a comandos. O valor das opiniões não está na autoridade, nem no currículo, nem no status do autor: deriva da qualidade, da lógica, da originalidade da argumentação. Deriva da capacidade de apontar algo que outros não notaram. De desvendar conexões encobertas. De colocar fatos em perspectiva histórica. De ajudar a concatenar e, portanto, fixar ideias que circulavam desconexas no “inconsciente coletivo digital”. Simplificando, quando a piada é boa ganha o mundo.

Aquela foto de Serra sobre o skate, na capa da Folha, pode ter sido feita num momento autêntico de descontração, mas cristalizou a imagem de um candidato tentando parecer o que não é: jovem. Se dezenas de milhares de pessoas perceberam isso ao mesmo tempo e puderam conversar sobre isso nas redes sociais — o que não poderiam ter feito no passado, quando dependiam de passar pelo crivo de um repórter, de um editor e do dono de um grande jornal e de escrever carta para a coluna do leitor – é culpa dos blogueiros?

Acreditar que dois blogueiros — ou duas dúzias — sejam capazes de mover a rede é subestimar a inteligência dos internautas. Ou alguém acredita que tem um comunista escondido embaixo de cada Curtir?

Com ferramentas razoavelmente simples como o twitter e o Facebook, hoje cada leitor pode exercer como nunca seu direito de escolha, de interagir e de se fazer ouvir. É natural que quem vive no mundo das hierarquias rígidas estranhe, se sinta intimidado ou frustrado. O que está em curso nas redes sociais é o equivalente a uma segunda revolução do controle remoto.

Portanto, não estamos diante de uma tentativa do PSDB de defender as instituições ou de zelar pelo dinheiro público. Pode ser uma resposta exagerada ou míope diante de um fenômeno que o partido não consegue entender ou pretendia replicar e não consegue. 

Quem sabe exista um desejo subjacente de controle, de um ‘choque de ordem’ que preceda a privatização da crítica e do conhecimento intelectual, colocando ambos dentro de parâmetros aceitáveis pelo mercado (sobre isso, escreveu Slavoj Zizek). Ou é tentativa de intimidação, pura e simples.


Postado no blog Viomundo em 24/07/2012