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Filhos: o notável cuidado homossexual


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Nos EUA, pesquisa revela : família-margarina não é única.
Casais homoafetivos dedicam mais tempo para os filhos que a média. Tendência tem a ver com opção ativa pela paternidade.


Marcio Caparica, no LadoBi

Já está ficando repetitivo, mas o batalhão pró-família-de-margarina é ainda mais monocórdio com seus temores sobre “o que será das criancinhas”, então a gente não perde a oportunidade de bater na mesma tecla para desancá-los. 

Um estudo realizado pelo Centro de Pesquisa de População da Universidade do Texas descobriu que famílias formadas por casais homoafetivos dedicam muito mais tempo a seus filhos que casais heterossexuais, segundo o jornal britânico The Independent.

O estudo analisou informações fornecidas pelo Censo norte-americano a respeito de mais de 40 mil casais. Pares de duas mães passavam em média 100 minutos por dia com seus filhos, e pares de dois pais pouco menos que isso. Em comparação, os pais em casais heterossexuais dedicam em média apenas 50 minutos por dia com seus filhos.

Contabilizadas nessas análises estão horas gastas em atividades que envolvem as crianças: ler para elas, brincar com elas, ajudar na lição de casa, dar banho, levar ao médico. Atividades passivas como assistir televisão ou fazer faxina com o filho por perto não entraram na conta.

Kate Prickett, autora desse trabalho, declarou: “Nossas descobertas corroboram com a ideia de que casais homoafetivos investem tanto tempo quanto – ou até mais – em seus filhos que casais heterossexuais.”

Esse estudo não se preocupa em esclarecer as razões para esse fenômeno, mas Prickett tem algumas especulações a fazer: 

“Em primeiro lugar, é possível que isso se deve em grande parte à seleção das pessoas. Ou seja, pela maneira como forma-se essas famílias, seja porque o casal se formou quando um dos parceiros já tem um filho, seja por meio de inseminação artificial, barriga de aluguel, ou adoção, todas essas opções realizam-se quando há um desejo muito grande de se ter filhos. Além disso, criar os filhos continua a ser um processo sexista. Homens que formam casais com mulheres ainda tendem a serem os responsáveis pelo ganha-pão, enquanto suas parceiras encarregam-se da maioria das responsabilidades domésticas.”

Jane Czyzselksa, editora da revista Diva, voltada para mulheres homossexuais e bissexuais, considera algumas outras razões:

“Pais homoafetivos tendem a investir mais tempo planejando como terão seus filhos – nada acontece ‘por acidente’, afinal de contas. O medo da discriminação na escola vinda de pais e professores heterossexuais também deve fazer que alguns desses casais se esforcem ainda mais.”

Tor Docherty, executivo-chefe da organização New Family Social, que promove a adoção por casais LGBT, complementa: 

“Para todos os pais adotivos, dedicar tempo à criança é fundamental para se desenvolver os laços familiares. Pessoas LGBT são forçadas a desenvolver a própria autoconfiança e autoestima, o que as torna adequadas para ajudar uma criança que precisa encontrar seu lugar no mundo.”

Essa pesquisa vai de encontro com outra, realizada pela PriceWaterHouseCoopers em conjunto com a Families and Work Institute e divulgada em junho, que constatou que casais homossexuais comunicam-se melhor e compartilham as tarefas domésticas de forma mais igualitária que os casais heterossexuais.

Parece que a família tradicional tem bastante a aprender com os homoafetivos.

Postado no Outras Mídias em 28/10/2015


Tecnologia do bem !





Cãozinho esperando para ser adotado ‘persegue’ futuros donos pelos outdoors do shopping


Tal e qual os cachorros da rua que de repente começam a te seguir, o cãozinho dessa campanha vai atrás de seus possíveis futuros donos – passando de um outdoor digital para o outro. 

Looking for You, campanha para a Battersea Dogs and Cats Home que promove a adoçao de animais, foi ideia da OgilvyOne. 

Na entrada do shopping Westfield Stratford City, em Londres, as pessoas recebiam folhetos divulgando a instituiçao, que é o abrigo de cães e gatos mais antigo e famoso do Reino Unido. 

Mal sabiam elas que um chip dentro do panfleto faria Barley, o cãozinho virtual, pular de um outdoor para o outro, sempre acompanhando seus passos.

A ação lembra outra da OgilvyOne – ‘The Magic of Flying’, para a British Airways, que mostrava um menino no outdoor apontando para os aviões da BA que passavam no céu de Londres, lembra? 


Postado no Blue Bus em 05/05/2015




Sobre filhos adotivos




João Carvalho Neto


É com grande frequência que recebo como pacientes pessoas que foram adotadas ou que têm filhos adotados. Isso tem feito com que algumas compreensões sobre o assunto venham se alargando, o que eu pretendo compartilhar com os amigos leitores nestas despretensiosas linhas.

Em primeiro lugar, quero dizer que vou apontar algumas dificuldades psicológicas presentes nos processos de adoção, o que não significa que eu rejeite a ideia da adoção. Muito pelo contrário, acho que é um ato de verdadeiro amor, mas que precisa ser vivenciado com os cuidados necessários e, mesmo assim, conflitos diversos, inter e intrapessoais, tenderão a se apresentar.


Uma pergunta que se torna inevitável é sobre contar a verdade e quando. Pessoalmente, acredito que a verdade será sempre e em qualquer situação o melhor caminho, até porque, especificamente nos casos de adoção, a chance dela vir à tona é muito grande. 

E, quanto mais criança, mais flexível é a mente para se adaptar a novas situações. Se a criança avança na idade, os conceitos preliminares sobre a família onde ela está inserida vão se enraizando. Conhecer a verdade depois disso será um golpe muito mais sofrido e passível de produzir abalos do que se essa verdade a acompanhasse desde que nasceu, para que a adaptação fosse natural.

É preciso levar em conta ainda que os laços viscerais com a mãe biológica permanecerão mesmo que nunca a tenha vista após o nascimento.

Pessoas que foram adotadas, estando em estado regressivo, algumas vezes conseguem perceber a angústia que vivenciaram no afastamento materno. Essa angústia pode permanecer por toda uma vida, sem que a pessoa identifique suas causas e sem conseguir nomeá-la. Por isso, não é incomum crianças adotadas terem comportamentos depressivos ou agressivos, como reações a um sofrimento interno.

A rejeição aos pais adotivos, ou a um deles, também é muito comum. Eu tenho percebido nisso uma rejeição à própria situação de ser adotado. Ou seja, a criança rejeita o fato de ter sido adotada naquilo que ela tem de mais próximo com este fato, que são seus pais adotivos.

É como se ela se lembrasse que é adotada quando se depara com seus pais adotivos; por isso pode tender a rejeitá-los, como símbolos de algo que ela não gostaria que tivesse acontecido.

Ao se adotar uma criança, é preciso também estar muito atento aos seus comportamentos iniciais na primeira infância.

Não que isso não seja importante também com filhos naturais, mas com os adotados ganha aspecto especial. Isto porque a herança biológica é um fato. Por essa herança são transmitidos modelos genéticos de formas corporais, fisiológicos e de comportamentos. 

No caso dos comportamentos observados desde a infância, eles irão definir atitudes educativas necessárias a fazer correções para a construção de uma personalidade saudável e socialmente inserida.

Outra questão também presente, agora no caso das crianças que não foram adotadas no berço, mas com idades mais avançadas, serão as experiências que elas passaram até chegar à nova família.

Muitas trazem sentimentos de abandono e solidão por terem ficado albergadas em orfanatos. Já vi pacientes que foram adotados nestas condições, e em estado regressivo, narrarem estes sentimentos durante suas vivências no orfanato, podendo permanecerem por toda uma vida, sendo causa de possíveis estados depressivos desde a infância. 

Existem crianças também que passam por dificuldades enquanto estão com a família biológica: falta de alimentação, falta de carinho, pais violentos ou usuários de drogas, promiscuidade sexual, falta de higiene.

Tudo isso vai deixando registros nas memórias profundas dessa criança, que podem até se perder enquanto lembranças, mas que não se perdem enquanto emoções vivenciadas.

Por mais sofrido que possa parecer, o melhor é que a criança possa falar sobre isso, como em um desabafo, sempre que desejar. Nunca deve ser encorajada a reprimir suas memórias ou seus sentimentos, sobre pena deles continuarem a agir sobre ela mesmo que sub-repticiamente.

É comum crianças que foram molestadas sexualmente por um pai biológico, mesmo sem o lembrar, rejeitar seu pai adotivo pela representação da figura que ele exerce, e que a remete aos sofrimentos com o pai biológico.

E, então, chega a adolescência e esta criança adotada começa a desejar conhecer seus pais biológicos, o que é muito natural e no que ela precisa ser apoiada naquilo que seja possível. 

Conhecer os pais biológicos costuma parecer uma ameaça para os pais adotivos, mas não o é. 

Criamos nossos filhos adotivos ou não, para a vida, para o mundo e qualquer sentimento de posse é prejudicial. Se os vínculos afetivos com os filhos adotados foram construídos solidamente, com base no carinho, compreensão e respeito, eles nunca se romperão. 

Bem... os amigos leitores devem estar pensando: "Adoção nunca mais!". Mas não é assim não. 

Como disse, adoção é um ato de verdadeiro amor, e precisa ser vivido em favor de tantas crianças que necessitam de amparo e proteção. 

Minha intenção neste texto foi justamente o contrário; foi de ajudar àqueles que o desejam, a realizar um processo de adoção com sabedoria e real benefício para todas as partes envolvidas. 

Hoje, temos livros e profissionais de diversas áreas que podem e devem ser buscados para alargar conhecimentos e encontrar estratégias educativas. Fazendo do jeito certo, no final, tudo vai acabar bem. 


                       João Carvalho Neto

Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Mestre em Psicanálise, autor da tese "Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção", autor da tese "Estruturação palingenésica das neuroses", autor do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, autor dos livros "Psicanálise da alma" e "Casos de um divã transpessoal.




Postado no site Somos Todos Um



Elba Ramalho e suas filhas
Cantora Elba Ramalho e suas três filhas do coração Maria Clara, Maria Esperança e Maria Paula

Apresentadora Astrid Fontenelle e seu filho do coração Gabriel

Atriz Meg Ryan com a filha do coração Daisy

Atriz Sandra Bullock e seu filho do coração Louis





Cantora Gal Costa e seu filho do coração Gabriel






Atriz Michelle Pfeiffer e sua filha do coração Claudia Rose


 
Tom Cruise e seu filho do coração Connor


Atriz Maria Padilha e seu filho do coração Manoel


Atriz Kristin Davis e sua filha do coração Gemma


Mariska Hargitay (Foto: SVU)
Atriz Mariska Hargitay com seu filho August e seus filhos do coração Amaya e Andrew 


Angelina Jolie e Brad Pitt e seus filhos 




Nota 

Deixo minha homenagem a todas as mamães e papais não tão conhecidos ou famosos que, também, entregaram seus corações a crianças que se tornaram seus filhos muito amados! 

Conheço duas famílias lindas, na cidade de Santa Maria (RS), que foram formadas por opção do Coração. 








Acolher

Eu olho a chuva que vem lá do céu

Fico pensando se vai me molhar

Tantas crianças sem nenhum lugar

E a chuva cai!

O lar é bênção pra quem vai chegar 

Um bom lugar para se abrigar 

Tantas crianças por aí sem lar 

E a chuva cai! 

É preciso então, o Sol chegar 

É preciso então, agasalhar 

Toda criança quer um Lar 

Quer amar, amar, amar... 

Se envolver nos braços teus 

Sorrir, sentir o amor de Deus enfim 

Viver, pra ser feliz e entender 

Que um dia O sol pra ela vai nascer 

Amar... 

Se envolver nos braços teus 

Sorrir, sentir o amor de Deus enfim 

Viver, pra ser feliz e entender 

Que um dia O sol pra ela vai nascer 

Eu olho a chuva que vem lá do céu 

Tantas crianças sem nenhum lugar 

O sol pra elas também vai nascer 

Um lar, um Sol, um céu 

Um lar, um Sol, recomeçar 

Acolher! 



Adoção à americana




Paulo Gleich

Recentemente, a agência de notícias Reuters publicou um artigo sobre o private re-homing, prática que vem crescendo nos Estados Unidos nos últimos anos. 


Trata-se da adoção informal de crianças e adolescentes, geralmente propiciada através de fóruns na Internet. 

A particularidade dessa “adoção à americana” – alusão à expressão “adoção à brasileira”, usada para adoções informais – é que se trata de pessoas que já haviam sido adotadas através do processo legal, muitas delas vindas de países do exterior. 

Seus novos pais, angustiados com dificuldades em criá-los – pois muitas vezes se revelam “problemáticos” – recorrem ao re-homing para lhes encontrar um novo lar mas, acima de tudo, para livrar-se de alguém que passou a ser um incômodo.

Um fenômeno como este não pode ser tomado de forma isolada, restrito a um determinado local ou grupo de pessoas, especialmente quando o lugar em questão ocupa posição central em nossa cultura como o são os Estados Unidos.

Tampouco trata-se de simplesmente demonizar aqueles pais que, em seu desespero, lançam mão desse recurso para livrar-se de seus filhos-problemas: com isso apenas localizamos um problema em alguns indivíduos para lavarmos as mãos daquilo que nos toca.

Penso que esse fenômeno serve para interrogar o lugar da infância e, talvez mais que isso, como se tecem os laços humanos nos tempos que correm.

Toda filiação é sempre uma adoção, independente da carga genética. Laços de sangue, apesar de poderosos, não são suficientes para garantir que um bebê torne-se um filho, é preciso que alguém deseje inclui-lo não apenas em sua família, mas na família que, queiramos ou não, constituímos com o meio social em que vivemos.

Somos deficientes instintuais, o “instinto” materno ou paterno não está nos genes, mas é fruto de uma combinação complexa de fatores – entre eles aquilo que uma mãe ou um pai experimentaram quando foram, eles mesmos, adotados por seus pais ou cuidadores. 

A cada nova chegada de um bebê é preciso que (re)nasçam também pais e mães, assim como o desejo de ter aquele filho.

A adoção à americana expõe uma faceta triste da infância contemporânea: a da criança como objeto, bem de consumo desejado, o que é diferente de desejar, de fato, um filho. 

Embora inexistente nas experiências concretas, a ideia da "família margarina" ainda rende muito ibope, muitos não querem ficar de fora dessa cena idealizada na qual estaria a chave da felicidade. 

A adoção também está em voga: para que por num mundo superpopulado mais uma criança se há tantas precisando de um bom lar e de uma vida com melhores possibilidades? 

As celebridades mostram que é uma prática admirável e, afinal, quem não quer ser belo e feliz como eles?

A vida em família, no entanto, não é apenas aquilo que os retratos e comerciais mostram. Assumir a responsabilidade pela vida de outro ser implica, além dos momentos de prazer e alegria, em renúncias, angústias, dores de cabeça, dúvidas, ambivalências, medos.

Um filho jamais é como se imaginou, salvo se os pais conseguem adaptar suas expectativas ao pequeno ser com quem se encontram – para sorte dele. 

Caso contrário, se não permitem que ele seja outra coisa que não o que esperam, este terá mais trabalho para vir a ser alguém.

Como em qualquer relação tecida pelo amor, é nos desencontros entre expectativa e realidade que está a potência para o crescimento, mas também para a ruptura deste laço sempre frágil. Se em uma relação amorosa uma ruptura é dolorosa e até aniquiladora, ainda mais o é no caso de uma criança, cuja vida depende do amor de quem a acolheu.

As adoções à americana trazem à luz repetidos fracassos de um laço construído sobre expectativas que raramente se realizam: a criança-produto não equivale à sua embalagem. 

Um pai chegou a fazer uma comparação com a compra de um carro usado do qual se ocultaram defeitos na hora da venda. Falas como essa revelam a lógica com que são tomadas estas adoções: trata-se da aquisição de um bem, não da acolhida de um ser com as características singulares que o compõem, fruto de sua história e dos laços que a teceram. Dentro dessa lógica, nada mais natural que desfazer-se do produto defeituoso, à falta de um Procon para adoções.

Crianças e jovens adotados trazem em sua bagagem a ruptura de seu primeiro vínculo amoroso, ferida que demanda não apenas tempo, mas amor para que possa ser curada, ou ao menos amenizada.

É frequente apresentarem sintomas que produzam rechaço em quem os acolhe: é a repetição ativa, inconsciente, do que viveram passivamente; uma tentativa fracassada, mas muitas vezes a única possível, de lidar com um desamparo que experimentaram precocemente. Não é, sem dúvida, motivo de alegria para quem os acolhe, mas tomar tais produções subjetivas como transtornos, falhas de caráter ou defeitos e, por conta disso, afastá-los é condená-los uma e outra vez à repetição da experiência traumática que as originou.

Não precisamos ir aos Estados Unidos para encontrar adoções à americana, embora o private re-homing seja talvez ainda restrito àquelas terras.

Também no Brasil são cada vez mais comuns casos em que crianças são adotadas, por compaixão ou obrigação, mas após alguns meses, quando começam a “incomodar” – ou seja, quando já não são mais os bibelôs comportadinhos e amorosos de um primeiro momento – são devolvidas a abrigos e lares de onde foram retiradas. 

A tolerância a suportar os impasses e conflitos da criança, que vêm à luz quando se sentem minimamente amadas para poder expô-los, revela-se baixa: ou se comportam, ou serão devolvidas. Em outras palavras, ou fazem o que lhes é demandado, ou perdem o amor e o lar que ganharam – o que corrói ainda mais a já frágil confiança nos laços afetivos como sustentadores da existência humana.

O que aparece de forma escancarada nos casos de adoção também está presente em muitas histórias de filhos biológicos. 

Impasses em serem adotados por seus pais produzem sintomas, sinais de que algo não vai bem: agressividade, desatenção, dificuldades de aprendizagem.

Em nossa cultura, no entanto, o que não vai bem não é apenas mal-visto, mas individualizado, precisa ser logo consertado, antes que interrogado.

O “conserto” oferecido é muitas vezes apenas eliminar o que incomoda, através de terapêuticas e medicamentos que pouco atentam às subjetividades às quais dizem respeito: as dos filhos, mas também as dos pais.

Nas relações amorosas, troca-se o parceiro incômodo por outro, na esperança de que com este “dê certo”; com filhos não é possível – ou bem mais complicado – trocar, então há de se consertar, de preferência com o mínimo possível de esforço: tempo é dinheiro, e ambos são muito caros para gastar à toa.

Talvez seja essa a pergunta que as adoções à americana lançam a todos, independentemente de sermos pais ou filhos, adotivos ou não: o que fazer com aquilo que nos incomoda no outro? 

Descartá-lo, trocá-lo por outro modelo, tentar consertar? Ou escolher o caminho mais difícil, porém talvez mais interessante, de tentar entender o que o incômodo revela sobre nós? 

Afinal de contas, não funcionamos tão bem como gostaríamos, e também corremos o risco, assim como as crianças, de nos tornarmos órfãos – não só dos outros, mas de nós mesmos.

Paulo Gleich é psicanalista e jornalista.


Postado no site Sul 21 em 24/09/2013







Eu, o menino e o cachorro...


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E eu só reclamava da vida...
reclamava da noite porque eu não dormia,
reclamava do dia porque eu sofria,
reclamava do frio que me gelava a alma,
reclamava do calor que me atirava ao desânimo.

Para tudo e para todos eu tinha uma resposta,
para a minha derrota eu sempre tinha um culpado,
para o meu desamor sempre tinha um "alguém",
para tudo uma reclamação,
eu era o próprio azedume

Ai de quem me criticasse,
que apontasse o erro que eu não enxergava,
para tudo tinha que haver um culpado,
eu era a vítima do sistema, das pessoas, do mundo,
eu sempre fui traído, enganado, sofrido...

Carregava aquela cruz pesada de ódio,
e eu só reclamava da vida,
seja de noite, seja de dia.

Até quem dia, um menino, desses meninos de rua,
me pediu uma ajuda, e eu já estava pronto para ofende-lo,
quando ele pegou na minha mão e arrastou-me,
se é que um menino tão pequeno teria essa força.
No canto da rua ele me mostrou um cachorro muito sujo,
que estava com a pata como que quebrada e cheio de feridas.

O menino puxou a minha mão e fez chegar perto do cachorro.
Ele olhava pra mim e depois para o cachorro,
e falou numa voz que eu não consigo esquecer:
- Moço, sara ele pra mim! É o meu melhor amigo.

Não sei porque e nem quero saber,
mas eu não aguentei e chorei...
Chorei como criança, como quem abre uma torneira,
como se uma porta que estava fechada
há muito tempo dentro de mim,
se abrisse escancaradamente...

O menino não entendeu o meu choro e perguntou:
- Ele vai morrer moço? É grave assim...

Despertei do meu choro e agarrei aquele cachorro com muito cuidado.
Levei-o até a minha casa, poucos quarteirões dali,
e tratei daquele cachorro como se fosse um filho,
e o menino, que vivia pelas ruas,
foi ficando, e cuidou de mim,
curou minhas feridas,
antes mesmo de eu curar as feridas do cachorro.

Hoje, não reclamo mais de nada,
tudo para mim tem um sentido,
tudo é perfeito, até o que dá errado.
Faz 16 anos que o menino de rua pegou na minha mão,
mudou a minha vida, transformou esse ser.

Mostrou-me o caminho do amor,
amor que restaura, cura, seca feridas, renova,
traz esperança, e esperança é o nome do amor.

E esse menino, que hoje me chama de pai,
destranca portas e janelas da minha alma todos os dias,
quando segura na minha mão e me agradece por cada coisa tão pequena,
os banhos, as roupas, a comida, a escola, a adoção,
coisas que muita gente tem e não dá nenhum valor,
ele me recompensa com carinho e dedicação.

Hoje é a sua formatura, e eu nem sei o que dizer,
sou grato a Deus por ele entrar na minha vida,
por quebrantar meu coração,
e não largar mais a minha mão.

Hoje eu bendigo a vida.
Valorize a sua vida, preencha-a com o amor.

 Paulo Roberto Gaefke


Adote, junto com seu cãozinho, uma Criança !





"Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu sangra todo dia"
José Saramago


"Somos responsáveis pelo mal que fizermos e pelo bem que deixarmos de fazer"
Emmanuel - Francisco Cândido Xavier


"Pouca coisa é necessária para transformar inteiramente uma vida: amor no coração sorriso nos lábios"
Martin Luther King



Rosa Maria Feijó


Gosto de cães, pois são alegres, fiéis, amorosos, mas constato todos os dias que estamos vivenciando uma enorme inversão de valores!

Dou-me conta que surgem, na mídia, grandes campanhas para adoção de cães, mas não na mesma medida, uma única campanha para adoção de crianças.

Gasta-se com petshop, cosméticos, creches, roupas para os cãezinhos, mas fecha-se a janela do carro quando uma criança de rua se aproxima.

Ao mesmo tempo que pessoas e famílias compram ou adotam animaizinhos de estimação, deveriam pensar com carinho em adotar ou apadrinhar crianças, que só querem o que todos queremos, a segurança de um lar e a chance de terem um futuro.

A conta do alto investimento só com animais de estimação virá cedo ou tarde.

A criança não nasce má, mas torna-se má se o meio não lhe favorece, pois tendo que lutar pela sobrevivência envolve-se no submundo e suas mazelas.

A violência aumenta a cada dia, mais grades em nossas portas e janelas, os impostos são gastos com mais armas e presídios, temos menos liberdade para ir e vir, em suma, trabalhamos muito para termos, mas não podemos usufruir do que temos. E acima de tudo, podemos perder, para a violência, nosso bem maior que é a nossa vida.

A criança merece prevalecer sempre, mas por que não unir estas duas coisas lindas, adotar uma criança e ter um animalzinho de estimação?


Rosa Maria Feijó ( editora deste Blog ) em 15/11/2012


Adoção no Brasil


1. Conceituando adoção

Para a língua portuguesa, adotar “é um verbo transitivo direto” (AURÉLIO, 2004), uma palavra genérica, que de acordo com a situação pode assumir significados diversos, como: optar, escolher, assumir, aceitar, acolher, admitir, reconhecer, entre outros.

Quando falamos da adoção de um filho, porém, esse termo ganha um significado particular: Nesta perspectiva adotar significa acolher, mediante a ação legal e por vontade própria, como filho legítimo, uma pessoa desamparada pelos pais biológicos, conferindo-lhe todos os direitos de um filho natural. Para além do significado, do conceito, está a significância dessa ação, ou seja, o valor que ela representa na vida dos indivíduos envolvidos: pais e filhos.

Para o (s) pai (s) e mãe (s) adotar um filho não se difere em quase nada da decisão de ter um filho de sangue. Excluindo-se os processos biológicos, todo o resto é igual. O amor, o afeto, a ansiedade, o desejo, a expectativa, a espera, a incerteza do sexo, da aparência das condições de saúde, dos problemas com a educação e o comportamento, os conflitos. Tudo isso acontece nas relações entre pais e filhos independente de serem filhos biológicos ou adotivos.

2. Adoção no Brasil

No Brasil, adotar já foi um processo muito mais longo, burocrático e estressante. Hoje, com o apoio da legislação e o advento dos Juizados da Infância e da Juventude, está muito mais fácil e rápido adotar um filho.

2.1. A legislação

A história legal da adoção no Brasil nos remete ao início do século XX. O assunto é tratado, pela primeira vez, em 1916 no Código Civil Brasileiro. Depois dessa iniciativa tem-se ainda a aprovação: em 1957, da Lei nº. 3.133; em 1965, da Lei nº. 4.655; e em 1979 da Lei nº. 6.697, que estabelece o Código Brasileiro de Menores.

Atualmente a legislação vigente que se debruça sobre esse assunto é a seguinte: Constituição Federal; Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA; Código Civil Brasileiro; e, Lei nº. 9.656/98.

a) A Constituição Federal

A adoção é abordada na Constituição Federal em seu artigo 2271 que estabelece como dever da família da sociedade e do Estado assegurar às crianças e adolescentes seus direitos básicos. O § 6º deste artigo além de proibir “quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação” (BRASIL, Constituição Federal, art. 227, § 6°, 1988), em casos de adoção, estabelece a equiparação dos direitos dos filhos adotivos aos dos filhos biológicos.

1“Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (BRASIL. Constituição Federal, Art. 227, 1988).

b) Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA

Em 1990 com a aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA através da Lei n.º 8.069/90, os processos de adoção foram facilitados. O documento põe em evidência os interesses do adotando (filho) e estabelece como principal objetivo do processo de adoção assegurar o bem estar deste conforme dispõe o artigo 43: “A adoção será deferida quando apresentar reais vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos” (BRASIL, ECA, Art. 43, 1999).

Conforme consta no ECA, através do ato de adoção os requerentes, ou seja, os pais, conferem ao filho adotado os mesmos direitos dos filhos naturais. Ressaltando-se que uma vez concluído o processo de adoção esta é irrefutável, a não ser em caso de maus tratos pelos pais. Nesse caso, assim como ocorreria com os pais “de sangue”, os pais adotivos perdem o pátrio poder e o Estado se responsabiliza pela guarda dos filhos encaminhando-os a uma instituição para menores desamparados até definir sua situação, ou os coloca sob a guarda de um parente que tenha condições de acolhê-los.

c) Outras Leis

O Código Civil Brasileiro aprovado em 2002 por meio da Lei nº. 406/2002 reproduz o disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente – Eca, no que diz respeito à adoção. Além desta há ainda a Lei nº. 9.656/1998, que trata dos planos de saúde, mas que vai se debruçar sobre a problemática da adoção quando estabelece a “cobertura assistencial ao recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, ou de seu dependente, durante os primeiros trinta dias após o parto”. Também assegura a este a inscrição no plano de saúde “como dependente, isento do cumprimento dos períodos de carência, desde que a inscrição ocorra no prazo máximo de trinta dias do nascimento ou da adoção” e ainda a “inscrição de filho adotivo, menor de doze anos de idade, aproveitando os períodos de carência já cumpridos pelo consumidor adotante” (BRASIL, Lei nº. 9.656/1998, grifos nossos).

2.2. Normas para adotar um filho

As normas gerais de adoção no Brasil são estabelecidas, principalmente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA e podem ser assim resumidas:

- A pessoa a ser adotada deve ter no máximo 18 anos de idade, a não ser que já conviva com o adotante (pessoa que o adotará).

- A idade mínima dos candidatos à adotantes é de 21 anos.

- Diferença de idade mínima entre o adotante e o adotado é de 16 anos.

- Ascendentes (avós, bisavós) e descendentes (filhos, netos) não podem adotar seus parentes.

- Não importa o estado civil do adotante.

- A adoção requer a concordância dos pais biológicos, salvo em caso de paternidade desconhecida ou quando estes tiverem perdido o pátrio poder.

- A adoção de adolescente maior de 12 também necessita da concordância deste.

- Antes de concretizada a adoção é necessário fazer um estágio de convivência entre adotando e adotante. Isso é dispensado quando a criança é menor de um ano ou quando já mora com o adotante.

2.3. É Ilegal

Além das situações referidas é comum se saber dos casos de adoção ilegal. É o chamado “jeitinho brasileiro” se expressando também nesse campo. Nessas circunstâncias a justiça é burlada e a criança, filha de uma pessoa é adotada por outra como filho natural.

Em geral as pessoas que adotam essa postura têm a melhor das intenções e buscam apenas acolher uma criança abandonada, proporcionando-lhes uma vida digna. Esses casos, quando descobertos, quase sempre são resolvidos com o perdão da justiça que reconhece o esforço e compreende as motivações que levaram a pessoa a tomar essa atitude. Porém, não é impossível que ocorra, em dadas situações a perda da guarda da criança.

Esse tipo de adoção, exatamente por não ser legal não segue o princípio da irreversibilidade, significa dizer que mesmo que os pais biológicos tenham doado o filho por livre e espontânea vontade, a adoção pode ser revertida e o registro de nascimento cancelado a qualquer tempo. Além do mais trata-se de um crime previsto no artigo 242 do Código Penal Brasileiro, que pode resultar em reclusão de dois a seis anos, e isso não pode nem deve ser ignorado.

2.4. Documentos Necessários para adoção

- Cópias autenticadas em cartório de: identidade, certidão de casamento (se for casado), e, comprovante de renda.

- Cópia de comprovante de endereço.

- Fotos coloridas de busto e das dependências da casa (tipo 10X15).

- Declaração de idoneidade moral reconhecido firma de duas testemunhas.

- Atestado médico de sanidade física e mental com reconhecimento de firma da assinatura do profissional.

- Certidão de antecedentes criminais negativa.

- Requerimento da adoção preenchido e assinado pelo (s) requerentes e com firma reconhecida.

2.5. Diferença entre adoção, guarda e tutela

Costumeiramente as pessoas confundem adoção com a guarda de uma criança ou com a tutela. É bem verdade que as três ações são formas de acolher uma criança o adolescente desamparado, mas não podem ser confundidas.

A tutela se configura quando uma pessoa recebe a incumbência de cuidar de um menor que está fora do pátrio poder por algum motivo. O tutor deve então, administrar os bens dessa pessoa, protege-la, e representa-la no que for preciso. A guarda se é acolhimento de uma criança ou adolescente. O detentor da guarda deve então garantir assistência em todos os aspectos: material, moral e educacional.

Em nenhum desses dois casos a criança ou adolescente adquire status de filho e os processos podem ser revogados a qualquer momento, diferente da adoção.

Por Rosalina Rocha Araújo Moraes

Postado no Blog InfoEscola




As informações são atualizadas online e alimentadas pelas varas da Infância e Juventude existentes nos vários tribunais de Justiça. O sistema também informa a quantidade de crianças e adolescentes disponíveis, por faixa etária e raça em todo o país.

Por: ACRÍTICA.COM


O Cadastro Nacional de Adoção está disponível para consulta pelos cidadãos no site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O sistema pode ser acessado no portal da entidade, no link www.cnj.jus.br/cna. Através do sistema, os interessados vão poder consultar a quantidade de crianças e adolescentes aptas para a adoção em cada estado, município e comarca desejados.

Postado no Blog AdoçãoBrasil em 27/12/2011


Elba Ramalho fala do sentimento incondicional que é ser mãe de suas três Marias




Quando Elba Ramalho teve seu primeiro filho, Luã, 21 anos, ela já sabia que queria adotar há muito tempo. Mas a trajetória de amor da cantora começou mesmo quando, casada com Gaetano Lopes [de quem se separou em 2008], descobriu que o parceiro não poderia ter filhos. Maria Clara, hoje com 7 anos, foi a primeira a chegar, em 2002. Cinco anos depois, veio Maria Esperança, de 3 anos. Há um ano foi a vez de Maria Paula, 6 anos, cuja história parecia estar predestinada a acontecer, já que Elba conhecia a família da menina mesmo antes de ela nascer. Depois de sofrer preconceito da sociedade e até mesmo de sua família - "Eles tinham aquela coisa de filho dos outros, sabe?" - e de encarar três processos de adoção (o de Maria Paula ainda não foi concluído), ela comemora a união de sua família e não descarta a possibilidade de aumentá-la, trazendo ainda mais companhia para a casa onde, por enquanto, as três Marias reinam absolutas. Em entrevista à Alô Bebê, a paraibana de 57 anos fala sobre família, comenta a nova lei de adoção e ensina que, para amar, é necessário apenas manter o coração aberto.

Alô Bebê - Desde quando existe a vontade de adotar?

Elba Ramalho - Há muito tempo. Sempre pensei que poderia, que queria adotar. Mas a decisão veio mesmo quando estava casada [com Gaetano Lopes] e ele não podia ter fi lhos. Acho que era uma vontade só minha, ou muito mais minha, mas que acabou satisfazendo os dois. Sempre foi uma necessidade para mim, uma vontade de exercitar o amor, de olhar para o outro com mais condescendência, de criar e ter uma família.

AB - E como foi o processo de adoção?

Elba - Tem fila, espera, demora. Tudo que pode levar casais a desistir, mas eu diria a eles que é muito recompensador quando a coisa se concretiza. Depois, não poderia ser diferente. Todo processo jurídico de adoção exige paciência, espera, cria aquela ansiedade. Mas eu dei sorte em todas as três, eu não esperei tanto. Depois de um ano atravessei o processo, fui ao orfanato, conheci a Maria Clara, com quem eu corri um risco: ela poderia ter retardo mental, ninguém a queria e acabei passando na frente. Mas ela não tem nada, é inteligentíssima e muito especial.

AB - Como foi o primeiro encontro com suas filhas?

Elba - É sempre muita emoção para uma mãe. E o amor não é diminuído em nada. Você ama igualmente, como ama um filho de barriga, e eu repito isso mil vezes. Me emocionei tanto com a chegada de Maria Clara, por exemplo, que tive leite no peito, só não amamentei porque ela já não conseguia mais puxar. Com a Esperança foi um encontro. Ela estava chegando ao orfanato e eu estava visitando aquela obra, por acaso. Fiquei encantada e falei: "garota, eu virei te buscar". Não queria um bebê, queria uma menina um pouco maior, mas eu pensei: "Deus a colocou no meu caminho, não posso fazer essa diferença". Assim foi com Paulinha, cuja chegada foi diferente. Eu já ajudava a família desde que ela nasceu. Mesmo assim, a mãe abandonou a irmã, Maria Eduarda, e ela. Quando a levei do orfanato, a Paulinha estava com piolho, doente, magra, e já tinha cinco anos. Ainda aguardo a adoção, que não saiu, mas se Deus quiser vai sair. Com cada uma delas é um chameguinho, é um temperamento diferente. A gente aprende e constrói à beça.

AB - Quando você adotou Maria Clara, mesmo casada, disse que sofreu preconceito. Com Maria Paula, que é apenas sua, como foi?

Elba - Olha, sou uma pessoa avessa a preconceito. Eu nunca permiti que a sociedade e as almas pequenas pudessem interferir na minha vida pessoal. Quem quiser pode achar isso ou aquilo, porque esse é um assunto meu e quem vai responder por ele sou eu. Prefiro acolher a não acolher. Em qualquer circunstância da vida, me coloco assim. Claro que eu vi nariz torcido, gente dizendo "para que fazer isso?" ou "ai, você está no auge da sua maturidade, vai gastar seu dinheiro na Europa, comprar joias, passear". E eu digo: "vou do mesmo jeito, com três filhas e ainda posso fazer isso com quatro, cinco". Estou de portas abertas.

AB - Como está sendo a adaptação da Maria Paula?

Elba - Paulinha é um doce de criança. O barato dela é que a conquista é muito rápida. Ela é muito amorosa, dócil, obediente, uma menina de ouro cheia de talento e alegria. É mais difícil adaptá-la com a mais velha, Maria Clara. Elas têm a idade parecida, e Maria Clara já exerce a autoridade na casa. Mas isso devagarzinho a gente vai ajeitando, e esse é outro exercício, também: ensinar os valores para a sua filha, respeitar, abraçar, acolher.

AB - E o Luã [filho mais velho, biológico]? Ele deu apoio?

Elba - Muito. Ah... o Luã entende tudo. É bacanérrimo. Ele diz: "mãe, tudo o que você decidir está certo". Tudo é amadurecimento, é ensinamento para todo mundo, de empregado ao povo da família. A minha família, que antes tinha aquela coisa nordestina de "filho dos outros", hoje é muito apegada. Minhas fi lhas são lindas, todo mundo ama, não tem problema nenhum.

AB - Você ficou um ano na fila esperando Maria Clara, e decidiu ir atrás de instituições de acolhimento. Você acredita que, com a nova lei de adoção, a espera pode ser menor?

Elba - Eu acho que pode facilitar por um lado, mas ela ainda é morosa. Faria uma observação à Justiça brasileira: que ela fosse mais ágil, que se preocupasse mais. Tem pouco funcionário? Contrata mais, mas vamos tirar as crianças dos orfanatos. Quem puder ser restituído para a família, a gente restitui. A minha ONG, a Bate Coração, tem mais ou menos o propósito de fazer isso, e também de ajudar casais a adotar.

AB - Você acha que ainda existe muita resistência à adoção?

Elba - Acho que todo mundo deveria conversar, discutir socialmente, com sua família em suas casas, para quebrar os diálogos que escurecem a mente e o coração das pessoas e que alimentam o preconceito: "ah não vou visitar orfanato". Quer dizer, essa indiferença é que faz o mundo estar desse jeito individualista, egoísta, ambicioso, vaidoso. Filho desmonta a gente, um fi lho adotado desmonta três vezes mais. Mostra para gente que não é "eu sou, eu sou, eu sou", e sim "eu sou, tu és, ele é, nós somos".

AB - Que mensagem você deixa para quem pretende adotar?

Elba - Gente, aquela é uma criaturinha inocente, cheia de carência, de amor, de necessidades. Então, faça isso para exercer a paternidade e a maternidade à altura do que Deus ensina: amando incondicionalmente, respeitando, acarinhando. Desmonte-se. É um filho que está chegando, e esse filho vai te dar tanto amor. Quem sabe, no futuro, ele te ampare na velhice mais do que um fi lho biológico. Muitas vezes acontece isso. Desprenda-se do preconceito, vá com o coração aberto. Não tenha medo, que o amor está. Ele não vai chegar, ele está, ele é.

Elba: "...todo mundo deveria conversar... para quebrar os diálogos que escurecem a mente e o coração das pessoas e que alimentam preconceito"

Postado no Blog AlôBebê em Janeiro de 2010