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Menino de 6 anos em Gaza : " quer ser como nós, alguém que sobrevive "




De Gaza nunca chegam boas notícias. Nunca. Ora é o número de mortos que engorda sem parar, ora é o cessar-fogo humanitário anunciado que cai em saco roto. Quando os números ganham rosto aí toca-nos de outra forma. É o caso desta história…

Johan-Matthias Sommarström, um jornalista sueco, estava a caminho do seu hotel, depois de mais um longo dia a relatar o conflito na Faixa de Gaza, quando um menino palestiniano o abordou. 

“Sou jornalista, estou a reportar o que está a acontecer aqui; isto é o meu colete à prova de bala”, disse o rapaz, que não teria mais do que seis anos e estava vestido de azul — o colete de que falava era um saco de plástico preto. O radialista sueco não resistiu e decidiu oferecer-lhe por momentos o seu capacete.

Ver imagem no Twitter

“Por momentos ele mostrou-se orgulhoso. Os seus amigos estavam a rir-se e a dançar à sua volta. Ele ficou um pouco envergonhado e depois tirei a fotografia”, disse Sommarström, em declarações que se podem ler no site da rádio onde trabalha. 

A imagem seria colocada no seu Twitter, com a mensagem “Rapaz em Gaza a fingir que é jornalista com o seu colete à prova de balas feito em casa, tinha de lhe emprestar o meu capacete”. O tweet do sueco teve mais de 6700 partilhas e quase 3500 pessoas gostaram.

“Trabalhar na guerra significa que vês coisas que não queres ver. Crianças mortas irreconhecíveis, pais desesperados, tristeza sem fim, casas destruídas”, explicou. E continuou: “Para mim a fotografia é um poderoso exemplo da força das crianças para sobreviver. Ele via jornalistas no vaivém para o hotel, ele viu que sobrevivemos. Penso que ele quer ser como nós, alguém que sobrevive.”

Sommarström voltou a falar com o menino. Chama-se Yazan Hillis e tem seis anos.

Segundo o sueco, é feliz porque a sua família sobreviveu ao ataque a Shejaiya, mas admitiu não saber se a sua casa ainda estará de pé. A casa do tio, por exemplo, foi destruída por um míssil de um F-16. “Ontem e no dia anterior eu vi rockets a atingir o porto. (…) Quando estou na cama não consigo dormir, o som dos rockets mantêm-me acordado a noite toda”, disse Yazan.


Postado no site Observador em 01/08/2014


Herói holandês que salvou menino judeu dos nazistas, na 2ª Guerra Mundial, devolve a medalha


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Kiko Nogueira

Até uma semana atrás, a história do advogado Henk Zanoli era forte concorrente a ser filmada em Hollywood.

Não há mais a menor chance de que isso ocorra. A menor.


Zanoli, hoje com 91 anos, aposentado, fez parte da resistência na Holanda durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1943, ele levou um menino judeu de 11 anos de idade chamado Elchanan Pinto até a casa de sua família no vilarejo de Eemnes. Elchanan ficou escondido ali até o fim do conflito.

Os dois viajaram de trem, passando por soldados e postos de vigilância nazistas. A mãe de Zanoli ajudou a cuidar do garoto. Mais tarde, Elchanan mudou-se para Israel. Morreu em Jerusalém em 2004. 

Em 2011, o Memorial do Holocausto Yad Vashem distribuiu uma condecoração denominada “Justos Entre as Nações” a gentios que salvaram judeus dos nazistas. Zanoli e sua mãe (numa homenagem póstuma a ela) receberam medalhas.

Ele as devolveu no último dia 11.

Sua sobrinha neta Angelique Eijpe, diplomata, casou-se com Ismail Zi’adah, economista palestino. No dia 20 de julho, Zi’adah teve sua casa na Faixa de Gaza bombardeada. Seis parentes morreram, incluindo a matriarca e seu neto de 12 anos.

Zanoli escreveu para o embaixador de Israel em Haia. “Estou convencido de que, tanto no nível pessoal quanto no humano, você terá uma compreensão profunda de que conservar a honra concedida pelo Estado de Israel, sob essas circunstâncias, será ao mesmo tempo um insulto à memória de minha corajosa mãe, que arriscou sua vida e a de seus filhos lutando contra repressão e pela preservação da vida humana, bem como um insulto às pessoas da minha família, quatro gerações depois, que perderam nada menos do que seis parentes em Gaza pelas mãos do estado de Israel”.

O Memorial do Holocausto tem os nomes de 25 mil pessoas de todo o mundo. Os holandeses — mais de 5 mil — só perdem para os poloneses. Oskar Schindler está lá.

O pai de Zanoli morreu num campo de concentração. Todos os familiares de Eliachan Pinto também.

Há uma condição para Zanoli não devolver a medalha: “Depois do horror do holocausto, a minha família apoiou fortemente o povo judeu também no que diz respeito às suas aspirações de construir um lar nacional. Ao longo de mais de seis décadas, porém, vim lentamente a perceber que o projeto sionista teve desde o seu início um elemento racista ao aspirar a construção de um estado exclusivamente para os judeus. A única maneira de sair do atoleiro que Israel criou para si mesmo é através da concessão para todos os que vivem sob o controle do estado os mesmos direitos políticos e oportunidades sociais e econômicas”, escreveu.

“Isso vai resultar num estado não mais exclusivamente judaico, mas com um padrão de justiça que me faria aceitar o título de ‘Justo Entre as Nações’ outorgado a minha mãe e a mim. Nesse caso, entrem em contato comigo ou com meus descendentes”.


Postado no blog Diário do Centro do Mundo em 16/08/2014

A ocupação e destruição da Palestina por Israel e Estados Unidos







Desenhando para compreendermos : Estados Unidos e Israel contra a Palestina !






Refuseniks: a ousadia de afirmar outro mundo possível






Refuseniks

Jovens israelenses pagam com prisão a recusa de ingressar no exército atuar além das fronteiras de 1967, reconhecidas pela ONU como legítimas 

Por Natan Blanc* (tradução de Katarina Peixoto), no Diário Liberdade

Palestina - O movimento surgiu em meio aos bombardeiros entre Israel e o Líbano, em 1982, quando pilotos da Força Aérea Israelense decidiram não bombardear civis e não tomar parte em operações militares fora de Israel.

De 1982 para cá, os refuseniks cresceram e criaram uma rede internacional de solidariedade, que hoje em dia conta com uma rede de financiamento para ajudar às famílias dos “refuseniks” que, além de enviados a prisões militares, perdem o direito ao soldo.

A primeira geração de “refusenik” é fundadora do estado de Israel e tem dentre os seus mais ilustres membros o escritor, falecido em novembro do ano passado, Peretz Kidron. Kidron, de origem austríaca e militante de toda a vida da esquerda sionista, era membro da Força Aérea e protagonizou o movimento de recusa de tomar parte nos ataques que “cruzaram a linha vermelha”, na linguagem deles, contra as populações civis no Líbano.

Desde meados dos anos 1980, ele e os seus companheiros de resistência criaram o movimento Yesh Gvul (“Há um limite”), e inspiraram muitos outros militares a não ultrapassarem a linha que é de direito israelense.

A segunda onda de “refuseniks” surgiu, não por acaso, por ocasião da Segunda Intifada, que irrompeu durante o governo de Ariel Sharon. Também em 2006, na operação que resultou num ataque ao sul do Líbano, uma nova geração de refuseniks se organizou e, agora, seis anos depois, novos refuseniks, mais jovens, manifestam sua disposição de ir para a prisão militar, mas não combater e não tomar parte nos combates além da linha verde.

O jovem Natan Blanc, de 19 anos, seguiu para a prisão neste domingo (18) porque se recusou a tomar parte neste novo ataque a Gaza. “Como cidadãos e seres humanos, temos um dever moral de recusar a participar desse jogo cínico. É por isso que eu decidi recusar entrar para o Exército Israelense em 19 de novembro de 2012″‘, diz o jovem em uma carta que denuncia a “onda de militarismo agressivo” em Israel.

A carta de Natan Blanc foi publicada pelo blog Blog The Leftern Wall do escritor e poeta israelense e estadunidense, Moriel Rothman, que mora em Jerusalém e saiu há pouco da prisão militar por ser um “refusenik”.

Moriel tem 23 anos e já cumpriu sua pena por ter se recusado a servir, em outubro deste ano. Os “refuseniks” são os cidadãos israelenses que se recusam a ingressar nas Forças de Defesa de Israel para atuar além da fronteira da linha verde, que é a fronteira reconhecida pelas Nações Unidas como legitimamente pertencente ao Estado de Israel, e que datam de 1967.

No blog de Moriel Rothman, está a carta de Natan Blanc, 19 anos, que neste domingo (18), segue para a prisão, porque se recusou a tomar parte neste ataque a Gaza.

Segue a carta de Natan:

“Eu comecei a pensar em recusar a tomar parte no exército israelense durante a operação ‘Chumbo Fundido’ em 2008. A onda de militarismo agressivo que varreu o país, então, as expressões de ódio mútuo e o vácuo de conversas a respeito do caráter de nosso terror e da criação de um efeito de dissuasão, sobretudo, impulsionaram minha recusa.

Hoje, depois de anos cheios de terror, sem um processo político [por meio de conversações de paz], e sem tranquilidade em Gaza e em Sderot, está claro que o governo Netanyahu, assim como o de seu antecessor, Olmert, não estavam interessados em encontrar uma solução para a situação existente, mas, antes, em preservá-la.

Do ponto de vista deles, não há nada errado em iniciarmos a “Operação Chumbo Fundido 2″ a cada três ou quatro anos (e então a operação chumbo fundido 3, 4, 5 e 6): nós falaremos em dissuasão, nós vamos matar algum terrorista, nós perderemos alguns civis em ambos os lados, e nós prepararemos o terreno para uma nova geração cheia de ódio de ambos os lados.

Como representantes do povo, os membros do gabinete não têm qualquer dever de apresentarem sua visão para o futuro do país, e podem continuar com esse círculo sangrento, sem fim à vista. Mas nós, como cidadãos e seres humanos, temos um dever moral de recusar a participar desse jogo cínico. É por isso que eu decidi recusar entrar para o Exército Israelense em 19 de novembro de 2012″.

*Natan pode ser contatado neste email nathanbl@walla.com

Peretz Kidron

Natan Blank

Moriel Rothman


Postado no site Outras Palavras em 22/11/2012


Palestina livre é a causa moral do século XXI



Jovens em todo mundo começam a se manifestar e a se pintar pela libertação da Palestina; em alguns casos, declaram seu amor a Gaza; vítimas de bombardeios e de uma situação comparável ao apartheid sul-africano, os palestinos ganham a solidariedade global e o apoio de países como o Brasil; na carta de agradecimento da OLP, destacou-se que o Brasil "enviou uma mensagem a muitos membros da comunidade internacional de que a responsabilidade de proteger um povo ocupado vai além de simples declarações"; Brasil e jovens de várias capitais do mundo estão "do lado certo da história".

A morte de um menino palestino de 4 anos, atingido pelo disparo de um tanque israelense, é a primeira registrada desde o início da trégua humanitária concedida por Israel, após pressões do mundo inteiro, no fim de semana, na faixa de Gaza. O pequeno Samih Ijneid morreu junto com outras três pessoas, provavelmente de sua família, quando a casa em que vivia, em Jabaliya, foi destruída pelo morteiro.

Com 1.054 mortos entre a população palestina, até o cessar-fogo em vigência, e 46 baixas no exército de Israel, o massacre na faixa de Gaza isolou mundialmente o governo sionista do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. 

Mostrado em todos os seus detalhes por imagens e textos que chocaram o mundo em tempo real, o ataque desproporcional que atingiu, indiscriminadamente, crianças e a população civil, teve todas as reações diplomáticas conhecidas – com a manifestação do presidente dos EUA, Barack Obama, em telefonema a Netanyahu, pedindo a suspensão da matança, insustentável do ponto de vista humanitário, moral e ético.

Antes, o Brasil fez uma veemente condenação do motivo e dos meios usados por Israel para responder a problemas de convivência na pressionada faixa de Gaza e suas fronteiras que, de resto, foram avançadas pelo uso da força.

Após a manifestação brasileira e o recrudescimento dos ataques de Israel, o Conselho de Segurança da ONU, que vinha examinando o assunto, aprovou pedido de trégua "duradoura" em Gaza, baseada em uma iniciativa do Egito, segundo a qual o fim das hostilidades abre o caminho para negociações sobre o futuro de Gaza, incluindo a abertura das fronteiras do território. 

O pedido solicita ainda que a pausa nos combates ocorra em função do feriado muçulmano de Eid al-Fitr, que deve começar nos próximos dias, e se estenda depois disso.

Mas mais do que os diplomatas podem fazer, entre a dubidiedade americana após declarado e a solidariedade de pronto prestada pelo Brasil, é na população de diferentes países que a causa do Estado da Palestina está ganhando expressão. 

A bandeira palestina já vai sendo vista nas mãos, nas roupas e nas caras-pintadas de cidadãos de diferentes nacionalidades. Em Paris, no final de semana, entre manifestações violentas, como depredações marcadas pela queima de bandeiras de Israel, também houve espaço para o protesto pacífico.

Muitos jovens pintaram no rosto o vermelho, o branco, o preto e o verde que aglutinam o povo palestino sob sua bandeira.

A discussão sobre o direito dos palestinos a terem seu próprio Estado – seja onde for -, extrapolou outra vez os salões da ONU – cujo Conselho de Segurança condenou Israel – para tomar as ruas e o corações das grandes cidades do mundo. Essa guerra, o louco Netanyahu jamais vai ganhar.


Postado no site Brasil247 em 28/07/2014


PORTO ALEGRE-RS, BRASIL, 16.07.14; Federação Árabe Palestina faz Vigília pela Palestina, contra o genocídio israelense na Faixa de Gaza, no Largo Glênio Perez, Mercado Público de Porto Alegre. Foto Eduardo Seidl/Fototaxia.com.br
Porto Alegre - Brasil

PORTO ALEGRE-RS, BRASIL, 16.07.14; Federação Árabe Palestina faz Vigília pela Palestina, contra o genocídio israelense na Faixa de Gaza, no Largo Glênio Perez, Mercado Público de Porto Alegre. Foto Eduardo Seidl/Fototaxia.com.br
Porto Alegre - Brasil

PORTO ALEGRE-RS, BRASIL, 16.07.14; Federação Árabe Palestina faz Vigília pela Palestina, contra o genocídio israelense na Faixa de Gaza, no Largo Glênio Perez, Mercado Público de Porto Alegre. Foto Eduardo Seidl/Fototaxia.com.br
Porto Alegre - Brasil

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Porto Alegre - Brasil

Manifestação pela paz entre Israel e Palestina no parque do Ibirapuera
São Paulo - Brasil

França

Indonésia

Espanha

Estados Unidos

Estados Unidos




A interminável guerra entre palestinos e israelenses




Juremir Machado da Silva

O massacre atual de palestinos por israelenses me leva a republicar dois textos sobre a origem do conflito e uma entrevista com o historiador judeu Shlomo Sand. Nunca é demais voltar às raízes dos mitos e das verdades em guerra.

Por que a comunidade internacional não interfere?

Por que os palestinos ainda não têm o seu país?

Por que um descendente longínquo de um judeu de dois mil atrás pode ir morar em Israel e aqueles que foram expulsos dos territórios palestinos em 1947 não podem voltar para lá?


Dívidas do passado

Essa história poderia ser contada assim. Era uma vez dois povos errantes, hebreus e filisteus, que chegaram mais ou menos na mesma época ao mesmo lugar. Entraram em guerra. Os hebreus venceram.

Ao longo do tempo, no entanto, foram invadidos, dominados, deportados e dispersados. É muito provável que os filisteus fossem de Creta, sendo um dos chamados “povos do mar”. Viveram em Gaza. Desapareceram depois do cativeiro na Babilônia.

Entre 1517 e 1917 os turcos otomanos mandaram no pedaço e havia poucos judeus por lá.

A comissão King-Crane, designada pelos Estados Unidos em 1919 para tratar da questão do Oriente, constata que “a população não-judia da Palestina constitui noventa por cento da população”.

Desde o final do século XIX, porém, com o surgimento do movimento sionista, cresce a imigração judaica pela região à base de compra de terras.

Em 1947, o plano de partilha do território entre judeus e palestinos previa 50% para cada lado, embora os judeus fossem 1/3 da população e detivessem apenas 6% das terras, cabendo-lhes praticamente toda a faixa litorânea.

Os judeus sustentavam ser aquela a “terra prometida” para eles. Direito religioso. 

Os palestinos eram vistos só como árabes, tendo muitos outros territórios árabes para viver. Acontece, porém, que eles não pensavam assim.

A conquista da terra pelos israelenses se deu pela compra, pela ocupação e pela expropriação.

Em 1967, Israel passou por cima da Convenção de Genebra e implantou colonos em terras que não lhe pertenciam.

Ainda permanece como ocupante em Golã, Jerusalém Oriental e parte da Cisjordânia. 

Vencida a fase de instalação, palavras terríveis como as de Vladimir Jabotinsky, um dos construtores da nação judaica, foram esquecidas: “Todo povo indígena (e pouco importa que seja civilizado ou selvagem) considera seu país seu lar nacional, do qual ele será sempre e totalmente dono. Jamais tolerará voluntariamente não só um novo dono, mas até mesmo um novo parceiro. Isso é o que ocorre com os árabes (…).

A colonização sionista, mesmo a mais restrita, ou deve cessar, ou deve ser conduzida contra a vontade da população indígena (…). Tudo isto não significa que seja impossível um acordo. O acordo voluntário é que é impossível. Enquanto eles tiverem um vislumbre de esperança de poder livrar-se de nós, não venderão este vislumbre por quaisquer palavras doces ou algumas guloseimas, porque não são usurários, mas uma nação, um pouco andrajosa, mas ainda viva”. 

Não parece hoje?

Ao contrário do mito – um povo sem terra para uma terra sem povo – o pedaço tinha dono, embora os palestinos não se vissem como nação, no máximo uma Síria do Sul, nem vissem os judeus como etnia ou povo, mas como praticantes, feito eles, de uma religião.

Para uma visão, limitada certamente pelo origem do autor, com muitos dados e citações desconcertantes, não custa ler “Por uma história profana da Palestina”, de Lotfallah Soliman.

Ou, de outro horizonte, ler “Como foi inventado o povo judeu”, do professor da Universidade de Tel-Aviv, Shlomo Sand, que, em artigo no jornal Le Monde, comparou Israel a Golias, e os palestinos a Davi, numa inversão do mito. 

Segundo ele, na medida em que a lei do retorno permite a qualquer judeu viver em Israel, será impossível convencer os refugiados palestinos de 1947 a não desejar o mesmo. Quem é compensado pelo horror supremo com o terror banal acaba sendo combatido pelo terrorismo.


Marcas do passado

O conflito entre palestinos e israelenses vai continuar. Não tem fim. As marcas do passado recente são fortes demais para apagar o passado distante. 

Leiam os textos que seguem e tentem adivinhar o nome do autor: 

“Não lancemos hoje nenhuma acusação contra os assassinos. Quem somos nós para discutir seu ódio? Faz oito anos que eles nos veem, desde seus campos de refugiados de Gaza, fazer do solo onde viveram seus pais nosso solo e nossa moradia. Somos uma geração de colonos. Sem o capacete e o canhão, não podemos plantar uma única árvore nem construir uma casa sequer. Mas não devemos recuar quando vemos fermentar o ódio que enche a vida de centenas de milhares de árabes que nos observam à nossa volta. Não desviemos por um instante sequer os olhos de nossa tarefa para que ela não nos escape das mãos”. 

De quem é?

Outro texto: “Grandes sofrimentos foram infligidos aos homens que tomaram parte na operação de evacuação. Entre os soldados da Brigada Yiftach, alguns tinham pertencido aos movimentos de juventude, onde lhes foram inculcados valores de humanidade e de fraternidade internacional. A operação contradizia os conceitos aos quais estavam habituados. Depois da operação, teve-se que recorrer a intensas atividades de propaganda para reduzir a amargura deles e explicar-lhes por que tivéramos a obrigação de recorrer a uma ação tão brutal e cruel?” 

Os judeus levaram séculos para se reinstalar na terra dos seus antepassados. Como imaginar que os refugiados palestinos esqueceriam a terra deles em menos de 70 anos?

Último texto: “Só nos restavam cinco dias antes da data fatídica de 15 de maio. Era urgente limpar a Galileia central e criar uma unidade territorial em toda a Alta-Galileia (…). Recorremos a uma tática que se baseava na impressão deixada pela queda de Safed e pela derrota na região que fora limpa pela Operação Metaheh. Esta tática revelou-se milagrosamente eficiente. Reuni todos os mukhtar judeus que estavam em contato com os árabes e pedi-lhes que fizessem certos árabes ficar sabendo que reforços judeus haviam chegado à Galileia e quem iam queimar todas as aldeias da Huleh. Eles deviam sugerir àqueles árabes, enquanto amigos, que fugissem enquanto ainda era tempo. Assim é que, em toda a Huleh, espalhou-se o boato de que era tempo de fugir. Houve milhares de fugitivos”. 

Em Deir-Yassin, o método foi outro: toda uma aldeia massacrada pelo organismo sionista Irgun. No total, 369 vilarejos foram esvaziados. Segundo Golda Meir, em 1969, os “palestinos não existiam”. O primeiro-ministro Levi Eshkol pensava o mesmo: “Quem são os palestinos?” Ele só vira na região árabes e beduínos.

O primeiro texto é de Moshe Dayan, herói israelense, em discurso pronunciado, em 1956, no enterro de uma vítima dos árabes.

O segundo faz parte da página secreta eliminada das memórias de Yitzhak Rabin, descoberta e publicada pelo New York Times, a respeito da origem dos refugiados palestinos.

O terceiro é de Yigal Allon, um dos pilares do sionismo na época da criação do estado de Israel. 

O nascimento de uma nação pode exigir ferro e fogo. As marcas ficam. Talvez por isso Yosef Weitz tenha escrito em 1940: “Não há outro meio senão transferir os árabes daqui para os países vizinhos, e transferir todos. Nenhuma aldeia, nenhuma tribo deve ficar. Unicamente após a transferência é que nosso país poderá absorver os milhões de irmãos nossos”. 

Leva tempo para esquecer.


Entrevista com Shlomo Sand

Adoro voltar a ser repórter de cultura. Mandei um e-mail para o historiador Shlomo Sand. Ele me enviou seus telefones. Liguei para ele em Israel. Conversamos durante quase uma hora. Pagarei uma fortuna. Resumo do papo:

JMS – O senhor lutou na Guerra dos Seis Dias?

Sand – Claro. Fui soldado. Infelizmente ajudei a conquistar Jerusalém para Israel. Saí sem ferimentos.

JMS – O senhor nasceu num campo de refugiados, não de concentração, obviamente, na Áustria ou na Alemanha?

Sand – Na Áustria, onde só ficamos três semanas. Passamos imediatamente para um campo de refugiados na Alemanha.

JMS – Mantêm suas ideias de que judeus atuais askenazes descendem dos khazares, um reino convertido ao judaísmo?

Sand – Claro que mantenho. É uma evidência. Só os ignorantes e os sionistas rejeitam isso. Em todos os sentidos, inclusive demográficos, os judeus do leste europeu não poderiam ter saído de onde se diz. A origem mítica judia é uma construção sionista do século XIX.

JMS – As críticas não o abalaram?

Sand – Tive mais elogios do que críticas. Grandes historiadores como Tony Judt, Marcel Détienne e Eric Hobsbawm me elogiaram. Edgar Morin me apoiou. Noam Chomsky gostou. Eles são muito mais importantes do que os sionistas que me atacaram. Críticas sionistas são comprometidas. Ganhei o Prix Aujourd’hui 2009, o mais importante atribuído pelos jornalistas franceses. Meu livro será traduzido em 21 línguas. Só os sionistas fanáticos é que o recusam. Só não conseguem refutá-lo.

JMS – Alguns dos seus críticos afirmam que as suas ideias servem aos antissemitas? Isso chega a incomodá-lo?

Sand – Dizer que isso é uma asneira é pouco. Não passa de uma chantagem primária. Não sou antissemista. Sou de origem judaica. Mas ser judeu não é pertencer a uma raça. Isso não existe. Quem pensa assim é racista. Um judeu brasileiro é antes de tudo um brasileiro de religião judaica. Quase nada há em comum entre um judeu polonês e um judeu brasileiro. Não existe uma cultura laica judia.

JMS – O fato de ser um especialista em história europeia deslegitima o seu trabalho sobre a história judaica?

Sand – Outra bobagem. Trabalho na Universidade de Tel Aviv, onde tem um departamento de história judaica e outro de história geral, que não se comunicam. Por eu ser especialista em história geral não poderia falar da história judaica? Só aos sionistas interessa essa ideia.

JMS – Para o senhor, como mostra em “A invenção do povo judeu”, o judaísmo é uma religião, não uma nação ou um povo. Significa que Israel não tem direito histórico ao seu território ou que deve dividi-lo com os palestinos?

Sand – Israel não tinha mais direito histórico algum sobre o atual território. Isso é loucura. Dois mil anos depois, com gente nascida por toda parte e de origens diferentes, que  direito é esse? Estou escrevendo uma continuação de meu livro, “O mito da terra de Israel”. Por que um brasileiro de remota origem judaica tem direito a ir morar em Israel e um palestino nascido em Jerusalém não pode voltar para a sua terra natal? Israel deve existir por ser um fato consumado. Recuar seria uma tragédia. Devemos formar uma confederação de dois estados nacionais para resolver o problema e ir em frente. Viveremos em paz quando formos israelenses, não judeus.


Postado no Blog Juremir Machado da Silva em 22/07/2014


Protesto em Londres, pela Palestina, em frente à Embaixada de Israel em 11/07/2014








Eduardo Galeano: “Quem deu a Israel o direito de negar todos os direitos?”







Família palestina abandona casa após ataque aéreo israelense na cidade de Gaza



Todas as imagens acima são de Julho de 2014, na Faixa de Gaza, após ataques de Israel aos palestinos 



Eduardo Galeano, em Pragmatismo político, via Agência Alba


Para justificar-se, o terrorismo de estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe pretextos. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, acabará por multiplicá-los.

Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Nem sequer têm direito a eleger seus governantes. Quando votam em quem não devem votar são castigados. Gaza está sendo castigada. Converteu-se em uma armadilha sem saída, desde que o Hamas ganhou limpamente as eleições em 2006.

Algo parecido havia ocorrido em 1932, quando o Partido Comunista triunfou nas eleições de El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e, desde então, viveram submetidos a ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.

São filhos da impotência os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com desajeitada pontaria sobre as terras que foram palestinas e que a ocupação israelense usurpou.

E o desespero, à margem da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficaz guerra de extermínio está negando, há muitos anos, o direito à existência da Palestina.

Já resta pouca Palestina. Passo a passo, Israel está apagando-a do mapa. Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão corrigindo a fronteira. As balas sacralizam a pilhagem, em legítima defesa.

Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que a Polônia invadisse a Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que o Iraque invadisse o mundo. 

Em cada uma de suas guerras defensivas, Israel devorou outro pedaço da Palestina, e os almoços seguem. O apetite devorador se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico que geram os palestinos à espreita.

Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que burla as leis internacionais, e é também o único país que legalizou a tortura de prisioneiros.

Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não conseguiu bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico pôde arrasar a Irlanda para liquidar o IRA.

Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou essa luz verde provém da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional de seus vassalos?

O exército israelense, o mais moderno e sofisticado mundo, sabe a quem mata. Não mata por engano. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de “danos colaterais”, segundo o dicionário de outras guerras imperiais.

Em Gaza, de cada dez “danos colaterais”, três são crianças. E somam aos milhares os mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está ensaiando com êxito nesta operação de limpeza étnica.

E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. Para cada cem palestinos mortos, um israelense. Gente perigosa, adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos convidam a crer que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas.

E esses meios também nos convidam a acreditar que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que aniquilou Hiroshima e Nagasaki.

A chamada “comunidade internacional”, existe? É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os Estados Unidos adotam quando fazem teatro?

Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial se ilumina uma vez mais. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações altissonantes, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.

Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam as mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos. A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama alguma que outra lágrima, enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. 

Porque a caçada de judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, antissemitas. Eles estão pagando, com sangue constante e sonoro, uma conta alheia.
  
Nota

O Mundo é assim ...


Cenas do filme "Bom Dia Vietnam"


Mas foi criado por Deus para ser assim ...




Israelense de 19 anos prefere a cadeia ao ataque a Gaza





O jovem Natan Blanc, de 19 anos, seguiu para a prisão neste domingo porque se recusou a tomar parte neste novo ataque a Gaza. "Como cidadãos e seres humanos, temos um dever moral de recusar a participar desse jogo cínico. É por isso que eu decidi recusar entrar para o Exército Israelense em 19 de novembro de 2012”', diz o jovem em uma carta que denuncia a "onda de militarismo agressivo" em Israel.

Da Redação



No Blog de Moriel Rothman, um escritor e poeta israelense e estadunidense, que mora em Jerusalém e saiu há pouco da prisão militar por ser um "refusenik", está a carta de Natan Blanc. Moriel tem 23 anos e já cumpriu sua pena por ter se recusado a servir, em outubro deste ano. Os "refuseniks" são os cidadãos israelenses que se recusam a ingressar nas Forças de Defesa de Israel para atuar além da fronteira da linha verde, que é a fronteira reconhecida pelas Nações Unidas como legitimamente pertencente ao Estado de Israel, e que datam de 1967. 

O movimento surgiu em meio aos bombardeiros entre Israel e o Líbano, em 1982, quando pilotos da Força Aérea Israelense decidiram não bombardear civis e não tomar parte em operações militares fora de Israel. De 1982 para cá, os refuseniks cresceram e criaram uma rede internacional de solidariedade, que hoje em dia conta com uma rede de financiamento para ajudar às famílias dos "refuseniks" que, além de enviados a prisões militares, perdem o direito ao soldo.

A primeira geração de "refusenik" é fundadora do estado de Israel e tem dentre os seus mais ilustres membros o escritor, falecido em novembro do ano passado, Peretz Kidron. Kidron, de origem austríaca e militante de toda a vida da esquerda sionista, era membro da Força Aérea e protagonizou o movimento de recusa de tomar parte nos ataques que “cruzaram a linha vermelha”, na linguagem deles, contra as populações civis no Líbano. 

Desde meados dos anos 80, ele e os seus companheiros de resistência criaram o movimento Yesh Gvul (“Há um limite”), e inspiraram muitos outros militares a não ultrapassarem a linha que é de direito israelense.

A segunda onda de "refuseniks" surgiu, não por acaso, por ocasião da Segunda Intifada, que irrompeu durante o governo de Ariel Sharon. Também em 2006, na operação que resultou num ataque ao sul do Líbano, uma nova geração de refuseniks se organizou e, agora, seis anos depois, novos refuseniks, mais jovens, manifestam sua disposição de ir para a prisão militar, mas não combater e não tomar parte nos combates além da linha verde.

No blog de Moriel Rothman, hoje, está a carta de Natan Blanc, 19 anos, que neste domingo, 19, segue para a prisão, porque se recusou a tomar parte neste ataque a Gaza.

Segue a carta de Natan:

“Eu comecei a pensar em recusar a tomar parte no exército israelense durante a operação ‘Chumbo Fundido’ em 2008. A onda de militarismo agressivo que varreu o país, então, as expressões de ódio mútuo e o vácuo de conversas a respeito do caráter de nosso terror e da criação de um efeito de dissuasão, sobretudo, impulsionaram minha recusa. 

Hoje, depois de anos cheios de terror, sem um processo político [por meio de conversações de paz], e sem tranquilidade em Gaza e em Sderot, está claro que o governo Netanyahu, assim como o de seu antecessor, Olmert, não estavam interessados em encontrar uma solução para a situação existente, mas, antes, em preservá-la. 

Do ponto de vista deles, não há nada errado em iniciarmos a “Operação Chumbo Fundido 2” a cada três ou quatro anos (e então a operação chumbo fundido 3, 4, 5 e 6): nós falaremos em dissuasão, nós vamos matar algum terrorista, nós perderemos alguns civis em ambos os lados, e nós prepararemos o terreno para uma nova geração cheia de ódio de ambos os lados.

Como representantes do povo, os membros do gabinete não têm qualquer dever de apresentarem sua visão para o futuro do país, e podem continuar com esse círculo sangrento, sem fim à vista. Mas nós, como cidadãos e seres humanos, temos um dever moral de recusar a participar desse jogo cínico. É por isso que eu decidi recusar entrar para o Exército Israelense em 19 de novembro de 2012”.

Natan Blanc


Natan pode ser contatado neste email nathanbl@walla.com

Para saber mais sobre os refuseniks: www.yeshgvul.org ,


Tradução: Katarina Peixoto


Postado no blog Carta Maior em 19/11/2012


Israel e a invenção do povo judeu


Por Paulo Muzell
Marino Boeira, articulista e professor universitário gaúcho afirma, com toda razão, que se você quiser arrumar encrenca certa, escolha dois temas: a necessidade de submeter a mídia ao controle da sociedade e a violência e a opressão de Israel que vitima os palestinos. É incômodo e polêmica na certa.
Pois Sholomo Sand, professor de história da Universidade de Tel Aviv resolveu “topar a bronca” ao publicar “A invenção do povo judeu”, obra editada pela Benvirá no ano passado. O livro desmonta o mito que “justificou” a criação do estado de Israel como uma tardia volta dos judeus à “terra prometida”, depois de expulsos da Palestina quase dois mil anos atrás, no episódio da destruição do segundo templo pelos romanos em 70 dC. Após minuciosa pesquisa, Sand concluiu que não há nenhum indício ou prova documental de que os judeus tenham sido expulsos pelos romanos de Jerusalém ou da Palestina. Ele afirma que essa é uma falsa versão que tem origem na interpretação subjetiva de textos bíblicos (Velho Testamento). Foi fundamental construir o mito do judeu errante, perseguido, um povo único, com identidade étnico religiosa em busca de suas remotas origens.
Os judeus que vivem hoje em Israel e em outros países do mundo, segundo Sand, não tem origem única, mas múltipla. São povos que se converteram ao judaísmo em várias regiões: na bacia do Mediterrâneo e áreas vizinhas; no norte da África descenderam de pagãos convertidos (judaísmo seferdita). Há, também os judeus iemenitas, um terceiro ramo originado do reino Himiaritá, além dos judeus asquenazes, refugiados do reino Khazar, localizados na Europa do Leste.
O livro foi lançado tardiamente no Brasil, mais de três anos depois das primeiras edições européias e de Israel. Traduzido em vinte e uma línguas, como não poderia deixar de ser, teve grande repercussão. Cinco meses na lista dos mais vendidos em Israel, ganhou em 2009 na França o prestigioso “Prix Aujourdd’hui”. Reconhecimento e elogios de peso: Eric Hobsbawm, Tony Judt, Marcel Détienne, Edgar Morin e Noam Chomsky. É evidente que, em contrapartida, sobraram críticas, umas poucas amenas e equilibradas, a maioria delas duras, ásperas, apaixonadas, verdadeiros libelos contra. Professores universitários, rabinos, jornalistas com vastos espaços em grandes veículos da mídia nacional e internacional “bombardearam” o livro com grande fúria e energia.
As perseguições que vitimaram os judeus foram uma constante ao longo de séculos e séculos de história. O fanatismo religioso, não há qualquer dúvida, foi a principal causa. Mas não há como negar, também, que ao preservarem hábitos alimentares, costumes e língua própria, os judeus constituíram clãs, enclaves nas tribos e povos com quem compartilharam territórios. Essa não-integração, não há qualquer dúvida, contribuiu para alimentar e fortalecer o milenar sentimento antissemita.
A Primeira Cruzada propiciou uma explosão de antissemitismo na Europa. Entre 1096 e 1098 dezenas de milhares de judeus são mortos na Alemanha e na Europa Central. Matanças ocorrem nos anos de 1189 e 1190 na França e na Inglaterra. Em 1492 os reis católicos expulsam da Espanha quase 100 mil judeus, a maioria dos quais se refugia em Portugal, onde, alguns anos depois são vítimas do denominado Pogrom de Lisboa, “A Matança da Páscoa de 1506”. No final do século XIX tivemos o famoso caso Dreyfus, no qual um oficial francês, de origem judaica foi acusado de traição. O episódio, de repercussão internacional alimentou uma nova onde antissemita na França e na Europa. Emile Zola escreve o clássico “Je acuse”. Multidões marcham pelas ruas de Paris bradando “morte aos judeus!” Na Rússia tivemos três “ondas” de perseguições. A primeira, entre 1881 e 1884, teve como causa imediata o assassinato do Czar Alexandre II.
Entre 1903 e 1906 um novo e prolongado pogrom russo e, por fim, no início do processo revolucionário de 1917 ocorreu um novo massacre. Calcula-se que entre 1880 e 1920 mais de dois milhões de judeus russos abandonaram o país.
O mito de um povo judeu errante em busca de suas origens começa a ser construído na Alemanha a partir da segunda metade do século XIX. Intelectuais de origem judaica, influenciados pelo vigor do tardio nacionalismo alemão começam a construir a versão que foi fundamental para a criação do estado de Israel. Heinrich Graetz é o pioneiro e segundo Sholomo Sand ele “forjou” o modelo nacional da escrita da história dos judeus com “J” maiúsculo, ponto de partida para que outros pesquisadores, mais decididamente nacionalistas, deixassem de pensar a judeidade como uma civilização religiosa variada e rica para se tornar um “antigo povo-raça”, desenraizado, expulso de suas origens, o país de Canaã.
Moses Hess publica em 1862 a obra “Roma e Jerusalém” citando Graetz com entusiasmo. Observa Hess que a fonte dos conflitos entre judeus e não-judeus “reside no fato dos primeiros constituírem, desde sempre, um grupo hereditário diferente”. O “tipo judeu” teria permanecido o mesmo através dos séculos. E continua, com um pessimismo amargo: “De nada serve aos judeus negar suas origens fazendo-se batizar e se misturando às massas dos povos indo-germânicos ou mongóis. Os tipos judeus são indeléveis”. Graetz ratifica e complementa o pensamento de Hess, concluindo: “não se pode negar a existência de povos mortais, que desaparecem na história e de outros que são imortais. Nada permanece da raça helênica ou latina, que se fundiram a outras entidades humanas. A raça judaica, ela sim, conseguiu perdurar e sobreviver, estando a ponto de avivar o fogo da sua juventude bíblica milagrosa”. O povo judeu “é de fato um povo-messias, que, chegando o dia, salvará a humanidade inteira”.
Sand observa que a fonte do fortalecimento da teoria da raça nos grandes centros europeus foi a mesma que trouxe a revolução burguesa e o iluminismo com seus ideais de liberdade e igualdade entre todos.. A extraordinária evolução tecnológica e industrial do capitalismo cristalizou um sentimento de arrogância e de superioridade biológica e moral da Europa. Ironias da história.
Graetz, Hess e alguns outros autores constituíram o núcleo teórico das ideias que possibilitaram a construção do “mito sionista”, fundamental para a formação do estado de Israel, muitas décadas depois. E que explica o estranho fato da Universidade de Tel Aviv ter dois departamentos de história que funcionam como compartimentos estanques, isolados, sem nenhuma comunicação entre si. Temos uma “história de Israel” e a “outra”, a história geral. A história de Israel se fundamenta na interpretação de documentos bíblicos, especialmente do Velho Testamento, o Livro dos Livros, verdadeira “carteira de identidade” do povo judeu e “a prova de seu justo mandato sobre a terra de Israel”. Não temos aqui ciência e sim uma visão do passado elaborada através de interpretação subjetiva de milenares documentos religiosos. Com o que não concordaria, se vivo fosse, o irreverente Mark Twain. Ele não via com bons olhos a bíblia, em especial o Velho Testamento, para ele uma sucessão de violências, crimes, estupros cometidos por um Deus injusto, mesquinho, cruel e vingativo que: “punia crianças inocentes, o povo pelo pecado dos seus governantes e até as inofensivas cabras e ovelhas por desvios e erros cometidos por seus donos”.
Em 1948, favorecido por uma série de circunstâncias a ONU oficializou a criação do estado de Israel. Com uma constituição que deveria assegurar “igualdade perante a lei para todos seus cidadãos, liberdade de culto, sem quaisquer distinções ou discriminação de raça e cor, com total liberdade de ir e vir”. Sabe-se que nada disso ocorre. Israel é hoje uma etnocracia religiosa. Um quarto dos seus quase oito milhões de habitantes são palestinos, cidadãos de segunda linha, confinados, segregados, discriminados, vivendo em condições de extrema pobreza.
Em 1896 Theodor Herzl, um jornalista judeu austríaco que cobrira o caso Dreyfus para a imprensa europeia e ficara impactado pelo forte sentimento de ódio aos judeus na França e na Europa Central escreve “O estado judaico” e no ano seguinte organiza e preside o primeiro congresso sionista na Basiléia. Foram dois importantes passos para a consolidação de um movimento sionista internacional rumo à criação do estado de Israel. Estado tornado possível graças ao apoio econômico, político e militar de duas grandes potências – numa primeira etapa da Inglaterra e mais tarde dos Estados Unidos -, interessadas em criar um enclave seu numa região de vital importância estratégica pela sua privilegiada localização geográfica, próxima de grandes reservas de petróleo árabe.
Postado no blog RS Urgente em 07/08/2012
Trechos do texto grifados por mim

O caso da ativista Rachel Corrie, morta na Faixa de Gaza


A ativista americana Rachel Corrie, 23 anos, se colocou diante de uma escavadeira do exército de Israel para tentar impedir que casas palestinas fossem derrubadas em Gaza, em 16 de março de 2003. Não adiantou. Acabou atropelada e morta pela escavadeira. Nesta terça-feira (28), quando movimentos pela libertação da Palestina em todo mundo protestam contra sua morte, o tribunal israelense de Haifa julgou a morte como acidental.
A morte violenta de Corrie, tendo em vista que o piloto da escavadeira fez questão de passar três vezes em cima de seu corpo, no campo de Rafah, na Faixa de Gaza, está sendo lembranda durante todo o dia de hoje. A ativista fazia parte de International Solidarity Movement (ISM) que defende a causa palestina.
Limpeza étnica
A ação que matou Rachel Corrie, ativista do ISM (International Solidarity Movement), foi noticiada um dia depois, pelo jornal israelense Haaretz, como "rotineira". Infelizmente, são rotineiros o assédio militar, a tortura e os assassinatos cometidos pelo exército israelense contra o povo palestino. Milhares de casas continuam a ser demolidas arbitrariamente nos territórios ocupados, como parte da estratégia do Estado israelense de dar sequência a um plano deliberado de expulsão de palestinos, iniciado, segundo historiadores palestinos e israelenses ainda antes de sua criação, em 15 de maio de 1948. Naquele ano, em seis meses, foram destruídas 530 aldeias e cidades palestinas e expulsos de suas casas e terras 800 mil habitantes nativos.
As políticas de expulsão dos palestinos de suas próprias casas, nunca mais pararam. Neste mês de agosto Israel anunciou a destruição de 12 comunidades palestinas e a expulsão de seus mais de 1.500 moradores. Desde o início de 2012 mais de 2 mil pessoas foram afetadas pelo deslocamento forçado, imposto por Israel. Esses crimes objetivam tornar impossível o estabelecimento de um Estado Palestino livre e soberano.
Rachel Corrie não é uma vítima isolada nem mesmo entre ativistas. Outros já foram assassinados e feridos por prestar solidariedade à luta palestina. Embora não tenha conseguido impedir que mais uma casa palestina se somasse à triste estatística das demolições, Rachel, com seu gesto heróico, fez com que o número de ativistas internacionais aumentasse, e com que crescesse a solidariedade à Palestina. A luta de sua família por justiça tem alertado o mundo para a situação dos palestinos, engrossando as fileiras daqueles que exigem o fim da política de ocupação, apartheid y limpeza étnica.
Além de sua batalha nos tribunais israelenses, os pais de Rachel Corrie lutam para que governos e empresas rompam contratos com a Caterpillar, marca do equipamento que assassinou sua filha. Recentemente obtiveram uma vitória por meio do movimento BDS – que reivindica boicote, desinvestimento e sanções a Israel enquanto a ocupação, o apartheid e a limpeza étnica da Palestina se mantiverem –, quando a Caterpillar perdeu os investimentos da poderosa TIAA-CREF, fundo de investimentos estadunidense.
Julgamento
Em uma decisão lida no tribunal, o juiz Oded Gérson classificou a morte de Corrie como "um acidente lamentável", mas alegou que o Estado não era responsável pelo "incidente" e que o mesmo teria ocorrido durante o que ele chamou de uma "situação em tempo de guerra."
O juiz explicou, ainda, que os soldados teriam feito o máximo para manter as pessoas longe do local, advertindo a todo momento os ativistas. Gérson explicou que o campo de visão do operador do trator era limitado. "A pessoa estava em um ponto cego e o operador não podia vê-la", acrescentou.
O Procurador Husain Abu Husain, que representou a família de Corrie na audiência, disse que, "O tribunal sancionou o prejuízo de pessoas inocentes ea violação dos direitos humanos básicos. Esta é uma decisão ruim para os direitos humanos e o direito internacional." Husain disse que a família pretende recorrer da decisão para o Supremo Tribunal. "Estou ferida," declarou a mãe de Corrie, Cindy, após o veredito.
Fórum Social Mundial Palestina Livre
A solidariedade internacional ocorre três meses do início do Fórum Social Mundial Palestina Livre, encontro mundial histórico que será realizado entre 28 de novembro e 1 de dezembro de 2012, em Porto Alegre, e que vem sendo construído por dezenas de organizações da sociedade civil brasileira, palestina e internacional. Durante o evento, os movimentos prometem uma grande mobilização para buscar justiça pela morte de Corrie e milhares de palestinos.

O FSMPL contará com grandes conferências distribuídas em cinco eixos centrais:
1. autodeterminação e direito de retorno;
2. direitos humanos e direito internacional;
3. movimentos sociais e formas de resistência;
4. por um mundo sem muros e sem racismo;
5. BDS e estratégias de luta.
Também estão programados espetáculos artísticos e mostras culturais. Em 29 de novembro, está prevista uma grande manifestação para celebrar o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino. Mais informações pelo site: http://rachelcorriefoundation.org/trial .
Siga o julgamento no Twitter: @rcfoundation Siga e participe das manifestações no twitter #wsfpalestine #rachelcorrie Divulgue em sua rede social.
Mais informações sobre o FSM Palestina Livre em www.wsfpalestine.net com informações da Ciranda e do Haaretz.
Postado no blog Luis Nassif Online em 28/08/2012







USP-Ariel: as minutas de uma afronta ao direito internacional



Já em seu preâmbulo, a linguagem usada no acordo está em patente contradição com a lei internacional: o Ariel University Center of “Samaria” não fica em Israel. Ele está localizado na colônia de Ariel, na Cisjordânia, parte do território reconhecido pela legislação internacional como palestino e ilegalmente ocupado por Israel desde 1967. Esta colônia, especificamente, começou a ser construída em 1978, numa invasão militar que confiscou terras cultivadas e terrenos rochosos que os aldeões palestinos usavam para as pastagens de seus rebanhos. Como explica Indra Seixas Neiva em seu TCC: a área municipal da colônia de Ariel possui vários enclaves de propriedades privadas palestinas, cujos acesso é proibido aos proprietários impedidos pelo Muro que separa sete aldeias do norte de Salfit (Hares, Kifl lebres, Qira, Marda, Jamma’in, Zeita-Jamma’in e Deir Istiya) de acessar suas terras e rebanhos, com cerca de 25.000 palestinos prejudicados uma vez que dependem de uma variedade de serviços da cidade centro da região de Salfit (p.34).
Sempre que se fala nas colônias israelenses em território palestino, é boa ideia ter em mente a brutalidade do processo, para que não se perca de vista que ele inclui constantes expulsões, monopólio de água, estatuto jurídico diferenciado para colonos, presença do exército de ocupação como seus garantidores, violências permanentes contra a população palestina e os onipresentes checkpoints. O mapa que segue mostra o caminho que devem fazer os palestinos dos vilarejos ao norte de Ariel para chegar ao centro urbano regional, Salfit, bloqueados pelo Muro do Apartheid:
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Fonte: B’Tselem.

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O convênio da USP com a Ariel, estabelecido em 2010 e com vigência de cinco anos, prevê troca de informações e publicações, visitas mútuas de pesquisadores, intercâmbio anual de delegações e outras formas de colaboração. Sendo a Ariel uma instituição cuja mera existência já é uma afronta ao direito internacional, nos encontramos na triste situação de que a mais prestigiosa e reconhecida universidade brasileira está validando e legitimando uma ocupação ilegal amplamente condenada nas Nações Unidas. De novo, nas palavras de Indra Seixas Neiva: O convênio da USP com uma instituição localizada nos TPO [Territórios Palestinos Ocupados] é uma afronta gravíssima ao direito internacional e funciona como instrumento facilitador e normalizador da situação de ilegalidade das colônias judaicas, da construção do Muro de separação e dos crimes cometidos contra os palestinos (p.38).
Trata-se, efetivamente, de colaboração com a criminalidade internacional. A Fórum também apurou que há pouca notícia entre os professores acerca de existência e das implicações desse convênio. Não surpreende, dado o histórico recente de bloqueio a iniciativas de discussão da situação palestina na USP. Em 2006, quando o Professor Osvaldo Coggiola convocou um ato “contra o massacre no Líbano e na Palestina”, a autorização para o uso do Anfiteatro Camargo Guarnieri, que havia concedida pela reitoria, foi revogada na última hora, enquanto os serviços de informação da USP disseminavam a falsa notícia de que o ato havia sido cancelado. O mesmo aconteceria em 2010 com Maren Mantovani, diretora de Relações Internacionais da Campanha Palestina contra o Muro do Apartheid, convidada a participar de um evento na Faculdade de Economia e Administração (FEA): o local também foi desautorizado na última hora.
Fica aqui então, reiterado, o pedido de explicações sobre esta flagrante afronta à lei internacional por parte da USP. A página do ICMC-USP, São Carlos, lista a Profa. Márcia Ferguson como responsável pelo convênio.
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Este post é dedicado, em admiração e solidariedade, a Indra Neiva Seixas, que se encontra agora na Cisjordânia monitorando abusos dos direitos humanos por Israel, servindo no programa de acompanhamento do EAPPI. Sem ela, não teria sido possível compilar a maior parte das informações contidas aqui.
Postado no Blog Revista Fórum em 29/02/2012