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Dentro de um inferno, algo do paraíso não se perdeu


Qual é o propósito de Deus para a Terra e para a humanidade ...



Leonardo Boff

Se olharmos os cenários mundiais, temos a impressão de que a dimensão de sombra, o impulso de morte e a porção demente tomou conta das mentes e dos corações de muitas pessoas. Particularmente em nosso país, criou-se até o “gabinete do ódio” onde grupos maus maquinam maldades, calúnias, distorções e todo tipo de perversidades contra seus adversários políticos, feitos inimigos que devem ser liquidados senão fisicamente, pelo menos simbolicamente.

Várias janelas do inferno se abriram e suas labaredas incineraram celebridades, alimentaram as fake news e destroçaram porções do Estado Democrático de Direito e em seu lugar introduziram um Estado sem lei e post-democrático e, no caso do Brasil, em sua cabeça, um chefe de Estado demente, cruel e sem compaixão.

Historiadores nos asseguram que há momentos na história de uma nação ou de um povo nos quais o dia-bólico (o que divide) inunda a consciência coletiva. Tenta afogar o sim-bólico (o que une) no intento de fazer regredir toda uma história aos tempos sombrios, já superados pela civilização. Então surgem ideologias de exclusão, mecanismos de ódio, conflitos e genocídios de inteiras etnias. Conhecemos a Shoah, fruto do inferno criado pelo nazifascimo de extermínio em massa de judeus e de outros.

Na América Latina por ocasião da invasão/ocupação dos europeus, ocorreu talvez o maior genocídio da história. No México, em 1519 com a chegada de Hernán Cortez, viviam 22 milhões de aztecas; depois de 70 anos restaram somente 1,2 milhões. Foram católicos anticristãos que perpetraram extermínios em massa. Os gritos das vítimas clamam ao céu contra a “Destruição das “Índias”(Las Casas) e têm o direito de reclamar até o juízo final. Nunca se viu algum ato de reconhecimento deste genocídio por parte das potências colonialistas nem se dispuseram a fazer a mínima compensação aos sobreviventes destes massacres. São demasiados desumanos e arrogantes.

Mas dentro deste inferno dantesco, há algo do paraíso que nunca se perdeu e que constitui a permanente saudade do ser humano: saudade da situação paradisíaca na qual tudo se harmoniza, o ser humano trata humanamente outro ser humano, sente-se confraternizado com a natureza e filho e filha das estrelas, como dizem tantos indígenas. Em tempos maus como o nosso, vale ressuscitar esse sonho que dorme no profundo de nosso ser. Ele nos permite projetar outro tipo de mundo que, para além das diferenças, todos se reconhecem como irmãos e irmãs. E se entre-ajudam.

Narro um fato real que mostra a emergência desse pedaço de paraíso, ainda existente entre nós, lá onde a inimizade e a violência são diárias.

Essa não é uma história inventada mas real, recolhida por um jornalista espanhol do El Pais no dia sete de junho de 2001. Ocorreu no ontem, mas seu espírito vale para o hoje.

Mazen Julani era um farmacêutico palestino de 32 anos, pai de três filhos, que vivia na parte árabe de Jerusalém. No dia 5 de junho de 2001 quando estava tomando café com amigos num bar, foi vítima de um disparo fatal vindo de um colono judeu. Era a vingança contra o grupo palestinense Hamás que, quarenta e cinco minutos antes, havia matado inúmeras pessoas numa discoteca de Tel Aviv mediante um atentado feito por um homem bomba. O projétil entrou pelo pescoço de Mazen e lhe estourou o cérebro. Levado imediatamente para o hospital israelense Hadassa chegou já morto.

Mas eis que a porção adormecida do paraíso em nós foi acordada. O clã dos Julani decidiu aí mesmo nos corredores do hospital, entregar todos os órgãos do filho morto: o coração, o fígado, os rins e o pâncreas para transplantes a doentes judeus. O chefe do clã esclareceu em nome de todos que este gesto não possuía nenhuma conotação política. Era um gesto estritamente humanitário.

Segundo a religião muçulmana, dizia, todos formamos uma única família humana e somos todos iguais, israelenses e palestinos. Não importa em quem os órgãos vão ser transplantados. Essencial é que ajudem a salvar vidas. Por isso, arrematava ele: os órgãos serão destinados aos nossos vizinhos israelenses.

Com efeito, ocorreu um transplante. No israelense Yigal Cohen bate agora um coração palestino, o de Mazen Julani.

A mulher de Mazen teve dificuldades em explicar à filha de quatro anos a morte do pai. Ela apenas lhe dizia que o pai fora viajar para longe e que na volta lhe traria um belo presente.

Aos que estavam próximo, sussurrou com os olhos marejados de lágrimas: daqui a algum tempo eu e meus filhos iremos visitar a Ygal Cohen na parte israelense de Jerusalém. Ele vive com o coração de meu marido e do pai de meus filhos. Será grande consolo para nós, encostar o ouvido ao peito de Ygal e escutar o coração daquele que tanto nos amou e que, de certa forma, ainda está pulsando por nós.

Este gesto generoso demonstra que o paraíso não se perdeu totalmente. No meio de um ambiente altamente tenso e carregado de ódios, surgiu um Jardim do Éden, de vida e de reconciliação. A convicção de que somos todos membros da mesma família humana, alimenta atitudes de perdão e de incondicional solidariedade. No fundo, aqui irrompe o amor que confere sentido à vida e que move, segundo Dante Alignieri da Divina Comédia, o céu e todas as estrelas. E eu diria, também o coração da esposa de Mazen Julani e o nosso.

São tais atitudes que nos fazem crer que o ódio reinante no Brasil e no mundo, as fake news e as difamações não terão futuro. É joio que não será recolhido, como o trigo, no celeiro dos homens nem de Deus. Esse tsunami de ódio e seu promotor maior que desgoverna nosso país, irá descobrir, um dia em que só Deu sabe, as lágrimas, os lamentos e o luto que provocaram em milhares de seus compatriotas que por sua falta de amor e de cuidado para com os afetados pelo Covid-19 perderam a quem tanto amavam. Oxalá neles não esteja totalmente perdida a parcela do Jardim do Éden.


Leonardo Boff é ecoteólogo, escritor e escreveu “O doloroso parto da Mãe Terra: uma nova etapa da Terra e da Humanidade”, a sair pela Vozes em 2020.






Dentro de um inferno, algo do paraíso não se perdeu


Qual é o propósito de Deus para a Terra e para a humanidade ...



Leonardo Boff

Se olharmos os cenários mundiais, temos a impressão de que a dimensão de sombra, o impulso de morte e a porção demente tomou conta das mentes e dos corações de muitas pessoas. Particularmente em nosso país, criou-se até o “gabinete do ódio” onde grupos maus maquinam maldades, calúnias, distorções e todo tipo de perversidades contra seus adversários políticos, feitos inimigos que devem ser liquidados senão fisicamente, pelo menos simbolicamente.

Várias janelas do inferno se abriram e suas labaredas incineraram celebridades, alimentaram as fake news e destroçaram porções do Estado Democrático de Direito e em seu lugar introduziram um Estado sem lei e post-democrático e, no caso do Brasil, em sua cabeça, um chefe de Estado demente, cruel e sem compaixão.

Historiadores nos asseguram que há momentos na história de uma nação ou de um povo nos quais o dia-bólico (o que divide) inunda a consciência coletiva. Tenta afogar o sim-bólico (o que une) no intento de fazer regredir toda uma história aos tempos sombrios, já superados pela civilização. Então surgem ideologias de exclusão, mecanismos de ódio, conflitos e genocídios de inteiras etnias. Conhecemos a Shoah, fruto do inferno criado pelo nazifascimo de extermínio em massa de judeus e de outros.

Na América Latina por ocasião da invasão/ocupação dos europeus, ocorreu talvez o maior genocídio da história. No México, em 1519 com a chegada de Hernán Cortez, viviam 22 milhões de aztecas; depois de 70 anos restaram somente 1,2 milhões. Foram católicos anticristãos que perpetraram extermínios em massa. Os gritos das vítimas clamam ao céu contra a “Destruição das “Índias”(Las Casas) e têm o direito de reclamar até o juízo final. Nunca se viu algum ato de reconhecimento deste genocídio por parte das potências colonialistas nem se dispuseram a fazer a mínima compensação aos sobreviventes destes massacres. São demasiados desumanos e arrogantes.

Mas dentro deste inferno dantesco, há algo do paraíso que nunca se perdeu e que constitui a permanente saudade do ser humano: saudade da situação paradisíaca na qual tudo se harmoniza, o ser humano trata humanamente outro ser humano, sente-se confraternizado com a natureza e filho e filha das estrelas, como dizem tantos indígenas. Em tempos maus como o nosso, vale ressuscitar esse sonho que dorme no profundo de nosso ser. Ele nos permite projetar outro tipo de mundo que, para além das diferenças, todos se reconhecem como irmãos e irmãs. E se entre-ajudam.

Narro um fato real que mostra a emergência desse pedaço de paraíso, ainda existente entre nós, lá onde a inimizade e a violência são diárias.

Essa não é uma história inventada mas real, recolhida por um jornalista espanhol do El Pais no dia sete de junho de 2001. Ocorreu no ontem, mas seu espírito vale para o hoje.

Mazen Julani era um farmacêutico palestino de 32 anos, pai de três filhos, que vivia na parte árabe de Jerusalém. No dia 5 de junho de 2001 quando estava tomando café com amigos num bar, foi vítima de um disparo fatal vindo de um colono judeu. Era a vingança contra o grupo palestinense Hamás que, quarenta e cinco minutos antes, havia matado inúmeras pessoas numa discoteca de Tel Aviv mediante um atentado feito por um homem bomba. O projétil entrou pelo pescoço de Mazen e lhe estourou o cérebro. Levado imediatamente para o hospital israelense Hadassa chegou já morto.

Mas eis que a porção adormecida do paraíso em nós foi acordada. O clã dos Julani decidiu aí mesmo nos corredores do hospital, entregar todos os órgãos do filho morto: o coração, o fígado, os rins e o pâncreas para transplantes a doentes judeus. O chefe do clã esclareceu em nome de todos que este gesto não possuía nenhuma conotação política. Era um gesto estritamente humanitário.

Segundo a religião muçulmana, dizia, todos formamos uma única família humana e somos todos iguais, israelenses e palestinos. Não importa em quem os órgãos vão ser transplantados. Essencial é que ajudem a salvar vidas. Por isso, arrematava ele: os órgãos serão destinados aos nossos vizinhos israelenses.

Com efeito, ocorreu um transplante. No israelense Yigal Cohen bate agora um coração palestino, o de Mazen Julani.

A mulher de Mazen teve dificuldades em explicar à filha de quatro anos a morte do pai. Ela apenas lhe dizia que o pai fora viajar para longe e que na volta lhe traria um belo presente.

Aos que estavam próximo, sussurrou com os olhos marejados de lágrimas: daqui a algum tempo eu e meus filhos iremos visitar a Ygal Cohen na parte israelense de Jerusalém. Ele vive com o coração de meu marido e do pai de meus filhos. Será grande consolo para nós, encostar o ouvido ao peito de Ygal e escutar o coração daquele que tanto nos amou e que, de certa forma, ainda está pulsando por nós.

Este gesto generoso demonstra que o paraíso não se perdeu totalmente. No meio de um ambiente altamente tenso e carregado de ódios, surgiu um Jardim do Éden, de vida e de reconciliação. A convicção de que somos todos membros da mesma família humana, alimenta atitudes de perdão e de incondicional solidariedade. No fundo, aqui irrompe o amor que confere sentido à vida e que move, segundo Dante Alignieri da Divina Comédia, o céu e todas as estrelas. E eu diria, também o coração da esposa de Mazen Julani e o nosso.

São tais atitudes que nos fazem crer que o ódio reinante no Brasil e no mundo, as fake news e as difamações não terão futuro. É joio que não será recolhido, como o trigo, no celeiro dos homens nem de Deus. Esse tsunami de ódio e seu promotor maior que desgoverna nosso país, irá descobrir, um dia em que só Deu sabe, as lágrimas, os lamentos e o luto que provocaram em milhares de seus compatriotas que por sua falta de amor e de cuidado para com os afetados pelo Covid-19 perderam a quem tanto amavam. Oxalá neles não esteja totalmente perdida a parcela do Jardim do Éden.


Leonardo Boff é ecoteólogo, escritor e escreveu “O doloroso parto da Mãe Terra: uma nova etapa da Terra e da Humanidade”, a sair pela Vozes em 2020.






O coronavírus : um ataque da Terra contra nós


Dia da TerraO Sal da TerraBeto Guedes – Na Canção

Ou mudamos nossa relação para com a Terra viva e a para com a natureza ou poderemos contar com novos e mais potentes vírus que poderão dizimar milhões de vidas humanas. Nunca o nosso amor à vida, a sabedoria humana dos povos e a necessidade do cuidado foram tão urgentes.

Leonardo Boff


Até a presente data toda a preocupação face ao Covid-19 está centrada na medicina, na técnica e em todos os insumos que impedem a contaminação dos operadores da saúde. Principalmente se busca de forma urgente uma vacina eficaz. Na sociedade, o isolamento social e evitar a conglomeração de pessoas.Tudo isso é fundamental. No entanto, não podemos considerar o coronavírus como um dado isolado. Ele deve ser visto dentro do contexto que permitiu sua irrupção.

Ele veio da natureza. Ora, como bem disse o Papa Francisco em sua encíclica “sobre o cuidado da Casa Comum: ”Nunca maltratamos e ferimos nossa Casa Comum como nos dois últimos séculos”(n.53). Quem a feriu foi o processo industrialista: o socialismo real (enquanto existia) e principalmente o sistema capitalista hoje globalizado. Este é o Satã da Terra que a devasta e à leva a todo tipo de desequilíbrios.

Ele é o principal (não o único) responsável pelas várias ameaças que pairam sobre o sistema-vida e o sistema-Terra: desde o possível holocausto nuclear, o aquecimento global, a escassez de água potável até a erosão da biodiversidade. Faço minhas as palavras do conhecido geógrafo norte-americano David Harley: “O COVID-19 é a vingança da natureza por mais de quarenta anos de maus-tratos e abuso nas mãos de um extrativismo neoliberal violento e não regulamentado”.

Isabelle Stengers, química e filósofa da ciência que muito trabalhou em parceria com o Nobel Ilya Prigogine, sustenta a mesma tese que eu também sustento: ”o coronavírus seria uma intrusão da Terra-Gaia nas nossas sociedades, uma resposta ao antropoceno”.

Conhecíamos outras intrusões: a peste negra (peste bubônica) que vinda da Eurásia dizimou, ao todo, segundo estimativas, entre 75-200 milhões de pessoas. Na Europa entre 1346-1353 desfalcou a metade de sua população de 475 para 350 milhões. Ela precisou de 200 anos para se recompor. Foi a mais devastadora já conhecida na história. Notória também foi a gripe espanhola. Oriunda possivelmente dos USA entre 1918-1920, infectou 500 milhões de pessoas e levando 50 milhões à morte, inclusive o presidente eleito Rodrigues Alves em 1919.

Agora, pela primeira vez um vírus atacou o planeta inteiro, levando milhares à morte sem podermos detê-la por sua rápida propagação já que vivemos numa cultura globalizada com alto deslocamento de pessoas que viajam por todos os continentes e podem ser portadores da epidemia.

A Terra já perdeu o seu equilíbrio e está buscando um novo. E esse novo poderá significar a devastação de importantes porções da biosfera e de parte significativa da espécie humana.

Isso vai ocorrer, apenas não sabemos quando nem como, afirmam notáveis biólogos. Se vier a temida NBO (The Next Big One), o próximo grande e devastador vírus, poderá, segundo o pesquisador da USP Prof. Eduardo Massad, levar à morte cerca de 2 bilhões de pessoas, diminuindo a expectativa geral de vida de 72para 58 anos. Outros temem até o fim da espécie humana.

O fato é que já estamos dentro da sexta extinção em massa. Inauguramos segundo alguns cientistas, uma nova era geológica, a do antropoceno e sua expressão mais danosa, a do necroceno. A atividade humana (antropoceno) se revela a responsável pela produção em massa da morte (necroceno) de seres vivos.

Os diferentes centros científicos que sistematicamente acompanham o estado da Terra atestam que, de ano para ano, os principais itens que perpetuam a vida (água, solos, ar puro, sementes,fertilidade, climas e outros) estão se deteriorando dia a dia. Quando isso vai parar?

O dia da Sobrecarga da Terra (the Earth Overshoot Day) foi atingido no dia 29 de julho de 2019. Isto significa: até esta data foram consumidos todos os recursos naturais disponíveis e renováveis. Agora a Terra entrou no vermelho e no cheque especial.

Como frear esta exaustão? Se teimarmos em manter o consumo atual, especialmente o suntuoso, temos que aplicar mais violência contra a Terra forçando-a a nos dar o que já não tem ou não pode mais repor. Sua reação se expressa pelos eventos extremos, como o vendaval-bomba em Santa Catarina em fins de junho e pelos ataques dos vários tipos de vírus conhecidos: zika, chicungunya, ebola, Sars, o atual coronavírus e outros. Devemos incluir o crescimento da violência social já que Terra e Humanidade constituem uma única entidade relacional.

Ou mudamos nossa relação para com a Terra viva e a para com a natureza ou poderemos contar com novos e mais potentes vírus que poderão dizimar milhões de vidas humanas. Nunca o nosso amor à vida, a sabedoria humana dos povos e a necessidade do cuidado foram tão urgentes.











O coronavírus : um ataque da Terra contra nós


Dia da TerraO Sal da TerraBeto Guedes – Na Canção

Ou mudamos nossa relação para com a Terra viva e a para com a natureza ou poderemos contar com novos e mais potentes vírus que poderão dizimar milhões de vidas humanas. Nunca o nosso amor à vida, a sabedoria humana dos povos e a necessidade do cuidado foram tão urgentes.

Leonardo Boff


Até a presente data toda a preocupação face ao Covid-19 está centrada na medicina, na técnica e em todos os insumos que impedem a contaminação dos operadores da saúde. Principalmente se busca de forma urgente uma vacina eficaz. Na sociedade, o isolamento social e evitar a conglomeração de pessoas.Tudo isso é fundamental. No entanto, não podemos considerar o coronavírus como um dado isolado. Ele deve ser visto dentro do contexto que permitiu sua irrupção.

Ele veio da natureza. Ora, como bem disse o Papa Francisco em sua encíclica “sobre o cuidado da Casa Comum: ”Nunca maltratamos e ferimos nossa Casa Comum como nos dois últimos séculos”(n.53). Quem a feriu foi o processo industrialista: o socialismo real (enquanto existia) e principalmente o sistema capitalista hoje globalizado. Este é o Satã da Terra que a devasta e à leva a todo tipo de desequilíbrios.

Ele é o principal (não o único) responsável pelas várias ameaças que pairam sobre o sistema-vida e o sistema-Terra: desde o possível holocausto nuclear, o aquecimento global, a escassez de água potável até a erosão da biodiversidade. Faço minhas as palavras do conhecido geógrafo norte-americano David Harley: “O COVID-19 é a vingança da natureza por mais de quarenta anos de maus-tratos e abuso nas mãos de um extrativismo neoliberal violento e não regulamentado”.

Isabelle Stengers, química e filósofa da ciência que muito trabalhou em parceria com o Nobel Ilya Prigogine, sustenta a mesma tese que eu também sustento: ”o coronavírus seria uma intrusão da Terra-Gaia nas nossas sociedades, uma resposta ao antropoceno”.

Conhecíamos outras intrusões: a peste negra (peste bubônica) que vinda da Eurásia dizimou, ao todo, segundo estimativas, entre 75-200 milhões de pessoas. Na Europa entre 1346-1353 desfalcou a metade de sua população de 475 para 350 milhões. Ela precisou de 200 anos para se recompor. Foi a mais devastadora já conhecida na história. Notória também foi a gripe espanhola. Oriunda possivelmente dos USA entre 1918-1920, infectou 500 milhões de pessoas e levando 50 milhões à morte, inclusive o presidente eleito Rodrigues Alves em 1919.

Agora, pela primeira vez um vírus atacou o planeta inteiro, levando milhares à morte sem podermos detê-la por sua rápida propagação já que vivemos numa cultura globalizada com alto deslocamento de pessoas que viajam por todos os continentes e podem ser portadores da epidemia.

A Terra já perdeu o seu equilíbrio e está buscando um novo. E esse novo poderá significar a devastação de importantes porções da biosfera e de parte significativa da espécie humana.

Isso vai ocorrer, apenas não sabemos quando nem como, afirmam notáveis biólogos. Se vier a temida NBO (The Next Big One), o próximo grande e devastador vírus, poderá, segundo o pesquisador da USP Prof. Eduardo Massad, levar à morte cerca de 2 bilhões de pessoas, diminuindo a expectativa geral de vida de 72para 58 anos. Outros temem até o fim da espécie humana.

O fato é que já estamos dentro da sexta extinção em massa. Inauguramos segundo alguns cientistas, uma nova era geológica, a do antropoceno e sua expressão mais danosa, a do necroceno. A atividade humana (antropoceno) se revela a responsável pela produção em massa da morte (necroceno) de seres vivos.

Os diferentes centros científicos que sistematicamente acompanham o estado da Terra atestam que, de ano para ano, os principais itens que perpetuam a vida (água, solos, ar puro, sementes,fertilidade, climas e outros) estão se deteriorando dia a dia. Quando isso vai parar?

O dia da Sobrecarga da Terra (the Earth Overshoot Day) foi atingido no dia 29 de julho de 2019. Isto significa: até esta data foram consumidos todos os recursos naturais disponíveis e renováveis. Agora a Terra entrou no vermelho e no cheque especial.

Como frear esta exaustão? Se teimarmos em manter o consumo atual, especialmente o suntuoso, temos que aplicar mais violência contra a Terra forçando-a a nos dar o que já não tem ou não pode mais repor. Sua reação se expressa pelos eventos extremos, como o vendaval-bomba em Santa Catarina em fins de junho e pelos ataques dos vários tipos de vírus conhecidos: zika, chicungunya, ebola, Sars, o atual coronavírus e outros. Devemos incluir o crescimento da violência social já que Terra e Humanidade constituem uma única entidade relacional.

Ou mudamos nossa relação para com a Terra viva e a para com a natureza ou poderemos contar com novos e mais potentes vírus que poderão dizimar milhões de vidas humanas. Nunca o nosso amor à vida, a sabedoria humana dos povos e a necessidade do cuidado foram tão urgentes.











CONVOCAÇÃO AO PRÊMIO NOBEL DA PAZ ÀS BRIGADAS MÉDICAS CUBANAS HENRY REEVE




"Juro por Apolo Médico, por Esculápio por Higía por Panaceia e por todos os Deuses e Deusas que acato este juramento e que o procurarei cumprir com todas as minhas forças físicas e intelectual,” Não permitirei que considerações sobre idade, doença ou deficiência, crença religiosa, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação política, raça, orientação sexual, estatuto social ou qualquer outro fator se interponham entre o meu dever e o meu paciente;…” – Hipócrates

O reconhecimento do respeito ao ser humano, a entrega para salvar vida, fizeram dos Médicos Cubanos uma referência internacional de solidariedade

A primeira missão médica humanitária, em 1963, foi na Argélia. Cuba em nome da defesa da humanidade se comprometeu a cuidar das populações pobres do planeta. Nascia a solidariedade internacionalista. As missões humanitárias cubanas se estenderam pelos quatro continentes, e apresentam um caráter único.

Em 31 de maio de 1970, Peru, país á margem do pacifico no continente sul americano foi atingido por um terremoto de 7.9 na escala Richter deixando mais de 80.000 mil mortos e milhares de famílias desabrigadas. Mais de 100.000 mil cidadãos cubanos doaram sangue, e uma das 1.as brigadas entre médicos, e agentes sanitaristas aportaram em Ancash. Vale ressaltar, que o Peru não tinha relações diplomáticas com a República de Cuba.

Durante as décadas que se seguiram, Cuba enviou gratuitamente brigadas médicas a diversos países atingidos por catástrofes naturais. Pisco, em 2007, atenderam a 228 mil consultas e realizaram 2.000 mil cirurgias complexas, solidários com as vitimas do terremoto. A participação dos médicos cubanos no Haiti, na crise da Cólera deixou o mundo envergonhado. A luta contra o Ebola na África, a cegueira na América Latina e Caribe. As brigadas estão presentes em mais de 60 países. O contingente internacional de médicos especializados em desastre e grandes epidemias atuam em vinte e quatro países da América Latina e Caribe. Vinte e sete da África subsaariana , dois no Oriente médio, África setentrional, sete da Ásia Oriental, do Pacífico, incluindo Indonésia, México, Republica do Togo, Catar, Kuwait, China, Argélia, Arábia Saudita e África do Sul.

Nasce em 2005, o Contingente Henry Reeve, um jovem americano, saído do Brooklyn, nos Estados Unidos, aos dezenoves anos para ingressar na causa emancipatória cubana e se tornar um general de brigada do Exército de Libertação. O Contingente recebeu este nome pelo Comandante Fidel Castro, em 19 de setembro de 2005.

No Brasil, na década de 1992, a cidade de Niterói deu inicio ao Programa Médico família aos moldes do “Programa Médico família “de Cuba. O Programa funciona há 28 anos nas comunidades carentes com grande êxito e, uma história fabulosa de atendimento domiciliar e hospitalar.

O Programa Mais médico (Medida Provisória 621 publicada no DO, em 08/07/2013 e regulamentada no mesmo ano pela Lei 12.871, após amplo debate público junto à sociedade endossada pelo Congresso Nacional.

Médicos cubanos trabalharam em lugares de pobreza extrema, de alto risco de vida em lugares como favelas do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, dando ênfase a 34 reservas indígenas, sobretudo na Amazônia.

Trezentos e cinquenta e nove mil pacientes , tem três mil e seiscentos municípios, totalizando 60 milhões de brasileiros, foram atendidos pelos médicos cubanos.

Amplamente reconhecido pelos governos Federal, Estadual, Municipal e principalmente pela população, segundo estudo realizado pelo Ministério da Saúde do Brasil, e a Universidade Federal de Minas Gerais o grau de aceitação entre a população atinge a noventa e cinco por cento.

Diante da grandeza, desinteresse e solidariedade, salvando vidas como objetivo principal, é que pedimos a que seja concedido o Prêmio Nobel da Paz de 2021 ao Contingente Henry Reeve.

Rio de Janeiro, 21 de junho de 2020

Marilia Guimarães
REDH-BRASIL

Assine  aqui  para dar seu apoio.








As Brigadas Internacionais


Covid-19

Peru

Ebola

África do Sul

Lombardia

Covid-19



COMBATE AO COVID-19 NO MUNDO












CONVOCAÇÃO AO PRÊMIO NOBEL DA PAZ ÀS BRIGADAS MÉDICAS CUBANAS HENRY REEVE




"Juro por Apolo Médico, por Esculápio por Higía por Panaceia e por todos os Deuses e Deusas que acato este juramento e que o procurarei cumprir com todas as minhas forças físicas e intelectual,” Não permitirei que considerações sobre idade, doença ou deficiência, crença religiosa, origem étnica, sexo, nacionalidade, filiação política, raça, orientação sexual, estatuto social ou qualquer outro fator se interponham entre o meu dever e o meu paciente;…” – Hipócrates

O reconhecimento do respeito ao ser humano, a entrega para salvar vida, fizeram dos Médicos Cubanos uma referência internacional de solidariedade

A primeira missão médica humanitária, em 1963, foi na Argélia. Cuba em nome da defesa da humanidade se comprometeu a cuidar das populações pobres do planeta. Nascia a solidariedade internacionalista. As missões humanitárias cubanas se estenderam pelos quatro continentes, e apresentam um caráter único.

Em 31 de maio de 1970, Peru, país á margem do pacifico no continente sul americano foi atingido por um terremoto de 7.9 na escala Richter deixando mais de 80.000 mil mortos e milhares de famílias desabrigadas. Mais de 100.000 mil cidadãos cubanos doaram sangue, e uma das 1.as brigadas entre médicos, e agentes sanitaristas aportaram em Ancash. Vale ressaltar, que o Peru não tinha relações diplomáticas com a República de Cuba.

Durante as décadas que se seguiram, Cuba enviou gratuitamente brigadas médicas a diversos países atingidos por catástrofes naturais. Pisco, em 2007, atenderam a 228 mil consultas e realizaram 2.000 mil cirurgias complexas, solidários com as vitimas do terremoto. A participação dos médicos cubanos no Haiti, na crise da Cólera deixou o mundo envergonhado. A luta contra o Ebola na África, a cegueira na América Latina e Caribe. As brigadas estão presentes em mais de 60 países. O contingente internacional de médicos especializados em desastre e grandes epidemias atuam em vinte e quatro países da América Latina e Caribe. Vinte e sete da África subsaariana , dois no Oriente médio, África setentrional, sete da Ásia Oriental, do Pacífico, incluindo Indonésia, México, Republica do Togo, Catar, Kuwait, China, Argélia, Arábia Saudita e África do Sul.

Nasce em 2005, o Contingente Henry Reeve, um jovem americano, saído do Brooklyn, nos Estados Unidos, aos dezenoves anos para ingressar na causa emancipatória cubana e se tornar um general de brigada do Exército de Libertação. O Contingente recebeu este nome pelo Comandante Fidel Castro, em 19 de setembro de 2005.

No Brasil, na década de 1992, a cidade de Niterói deu inicio ao Programa Médico família aos moldes do “Programa Médico família “de Cuba. O Programa funciona há 28 anos nas comunidades carentes com grande êxito e, uma história fabulosa de atendimento domiciliar e hospitalar.

O Programa Mais médico (Medida Provisória 621 publicada no DO, em 08/07/2013 e regulamentada no mesmo ano pela Lei 12.871, após amplo debate público junto à sociedade endossada pelo Congresso Nacional.

Médicos cubanos trabalharam em lugares de pobreza extrema, de alto risco de vida em lugares como favelas do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Minas Gerais, dando ênfase a 34 reservas indígenas, sobretudo na Amazônia.

Trezentos e cinquenta e nove mil pacientes , tem três mil e seiscentos municípios, totalizando 60 milhões de brasileiros, foram atendidos pelos médicos cubanos.

Amplamente reconhecido pelos governos Federal, Estadual, Municipal e principalmente pela população, segundo estudo realizado pelo Ministério da Saúde do Brasil, e a Universidade Federal de Minas Gerais o grau de aceitação entre a população atinge a noventa e cinco por cento.

Diante da grandeza, desinteresse e solidariedade, salvando vidas como objetivo principal, é que pedimos a que seja concedido o Prêmio Nobel da Paz de 2021 ao Contingente Henry Reeve.

Rio de Janeiro, 21 de junho de 2020

Marilia Guimarães
REDH-BRASIL

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As origens do Coronavírus



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Leonardo Boff

Somos capazes de uma conduta insensata e demente; pode-se a partir de agora temer tudo, tudo mesmo, inclusive a aniquilação da raça humana; seria o justo preço de nossas loucuras e de nossas crueldades

Hoje é um dado da consciência coletiva dos que cultivam uma ecologia integral, como tantos cientistas como Brian Swimme e o Papa Francisco em sua encíclica “Sobre o cuidado da Casa Comum” que tudo está relacionado com tudo. Todos os seres do universo e da Terra, também nós, seres humanos, somos envolvidos por redes intrincadas de relações em todas as direções de sorte que nada existe fora da relação. Esta é também a tese básica da física quântica de Werner Heisenberg e de Niels Bohr.

Isso o sabiam os povos originários como vem expresso nas palavras sábias do cacique Seattle de 1856: “De uma coisa sabemos: a Terra não pertence ao homem. É o homem que pertence à Terra. Todas as coisas estão interligadas como o sangue que une uma família; tudo está relacionado entre si. O que fere a Terra fere também os filhos e filhas da Terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que fizer à trama, a si mesmo fará”. Vale dizer, há uma íntima conexão entre a Terra e ser humano. Se agredimos a Terra, nos agredimos também a nós mesmos e vice-versa.

Os astronautas tiveram a mesma percepção de suas naves espaciais e da Lua: Terra e humanidade constituem uma mesma e única entidade. Bem o testemunhou Isaac Asimov em 1982, a pedido do New York Times, fazendo um balanço dos 25 anos da era espacial: “O legado é a percepção de que, na perspectiva das naves espaciais, a Terra e a Humanidade formam uma única entidade (The New York Times, 9 de outubro de 1982). Nós somos Terra. Homem vem de húmus, terra fértil, ou o Adam bíblico significa o filho e a filha da Terra fecunda. Depois desta constatação, nunca mais sairá de nossa consciência de que o destino da Terra e da humanidade é indissociavelmente comum.

Infelizmente ocorre aquilo que o Papa em sua encíclica ecológica lamenta: “nunca maltratamos e ferimos nossa Casa Comum como nos últimos dois séculos” (n. 53). A voracidade do modo de acumulação de riqueza é tão devastadora que inauguramos, dizem alguns cientistas, uma nova era geológica: a do “antropoceno”. Quer dizer, quem ameaça a vida e acelera a sexta extinção em massa, dentro da qual já estamos, é o próprio ser humano. A agressão é tão violenta que por ano mais de mil espécies de seres vivos desaparecem, inaugurando algo pior que o antropoceno, o necroceno: a era da produção em massa da morte. Como Terra e Humanidade estão interligadas, a produção de morte em massa se produz não só na natureza, mas no interior da própria humanidade. Milhões morrem de fome, de sede, vítimas da violência bélica ou social em todas as partes do mundo. E insensíveis, nada fazemos.

Não sem razão James Lovelock, o formulador da teoria da Terra como um superorganismo vivo que se autoregula, Gaia, escreveu um livro “A vingança de Gaia” (Intrínseca, 2006). Estimo que as atuais doenças como a dengue, a chikungunya, a zica virus, sars, ebola, sarampo, o atual coronavirus e a generalizada degradação nas relações humanas, marcadas pela profunda desigualdade/injustiça social e pela falta de solidariedade mínima sejam uma represália de Gaia pelas ofensas que ininterruptamente lhe infligimos.

Não sem razão que o vírus irrompeu lá onde a há mais poluição. Não diria como J. Lovelock ser “a vingança de Gaia”, pois ela, como Grande Mãe não se vinga, mas nos dá severos sinais de que está doente (tufões, derretimento das calotas polares, secas e inundações etc.) e, no limite, pelo fato de não aprendermos a lição, nos faz uma represália como as doenças referidas. Trata-se de uma reação à uma ação humana violenta.

Lembro o livro-testamento de Théodore Monod, talvez o único grande naturalista contemporâneo, em seu livro “E se aventura humana vier a falhar” (Paris, Grasset, 2000): “Somos capazes de uma conduta insensata e demente; pode-se a partir de agora temer tudo, tudo mesmo, inclusive a aniquilação da raça humana; seria o justo preço de nossas loucuras e de nossas crueldades” (p. 246).

Isso não significa que os governos do mundo inteiro, resignados, deixem de combater o coronavirus, proteger as populações e buscar urgentemente uma vacina para enfrentá-lo, não obstante suas constantes mutações. Além de um desastre econômico-financeiro pode significar uma tragédia humana, com um incalculável número de vítimas.

Mas a Terra não se contentará com estes pequenos presentes. Ela suplica uma atitude diferente face a ela: de respeito a seus ritmos e limites, de cuidado por sua sustentabilidade e de sentirmo-nos mais que filhos e filhas da Mãe Terra, mas a própria Terra que sente, pensa, ama, venera e cuida. Assim como nós cuidamos, devemos cuidar dela. Ela não precisa de nós. Nós precisamos dela. Ela pode não nos querer mais sobre sua face. E continuará a girar pelo espaço sideral, mas sem nós porque fomos ecocidas e geocidas.

Como somos seres de inteligência e amantes da vida, podemos mudar o rumo de nosso destino. Que o Espírito Criador nos fortaleça nesse propósito.


Leonardo Boff é teólogo, autor, entre outros livros, de Cuidar da Terra- proteger a vida: como evitar o fim do mundo (Record)








Tradição colonial do Brasil não aceita o Jesus histórico, que andava com pobres, diz Leonardo Boff






O teólogo Leonardo Boff vem defendendo o samba-enredo da Estação Primeira de Mangueira, com o qual a escola vai passar pela avenida no Carnaval de 2020. “Eu sou da Estação Primeira de Nazaré / Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher / Moleque pelintra no buraco quente / Meu nome é Jesus da Gente”, diz a letra, dos compositores Manu da Cuíca e Luiz Carlos Máximo. A composição traz uma referência clara ao presidente Jair Bolsonaro : “Favela, pega a visão / Não tem futuro sem partilha / Nem messias de arma na mão”.

Para Boff, a Verde-e-Rosa, que no ano passado foi campeã também com um enredo de cunho social ( “História pra ninar gente grande” ), retrata o Cristo histórico negado pela tradição e por setores que se dizem cristãos, mas têm “uma fé só cultural, e não uma fé no coração, como mudança de vida, como orientação de vida”.

“Esse Jesus que enxuga as lágrimas, que abraça as crianças, que conversa com a prostituta, pobre entre os pobres, o único verdadeiro e real, que os quatro evangelhos testemunham, esse é o Jesus assumido pela Mangueira. Os cristãos e bispos tradicionalistas, a TFP etc., não aceitam Jesus assim, porque se aceitassem tinham que mudar de vida, teriam que auxiliar os pobres, lutar pela fraternidade, por uma sociedade mais justa, menos desigual”, diz.

Na opinião do Teólogo, o enredo da escola “atualiza a figura de Jesus para a nossa situação, que é muito semelhante à situação da Galileia, da Palestina, na qual vivia o Jesus histórico”.

Para Boff, a parcela da sociedade que, embora se professe cristã, apoia um governo que defende armar a população, por exemplo, tem a visão “do cristianismo tradicional, colonial, que nos foi trazida pela colônia, visão de que Jesus é o rei, o senhor, é Deus, e todos nós sendo humilhados”. São esses os setores que acusam o enredo da Mangueira de “blasfêmia”.

Essa tradição do período colonial nunca apresentou ao povo o Jesus real, “crucificado, que apanhou como um escravo, foi humilhado e perseguido, porque, lógico, isso o identificava com as vítimas”. “Esse Jesus, testemunhado nos quatro evangelhos, esse é apresentado na Mangueira”, afirma Boff, em entrevista à RBA.

Como o sr. define um cristão que verdadeiramente segue Cristo?

Há duas concepções de Cristo. Uma que vê Cristo-Deus, que só toca com a fímbria do manto na Terra, que sabe tudo, é divino, o rei do Universo, tem a coroa de glória. Uma visão que foi e é dominante na liturgia, no imaginário de bispos e padres. A segunda visão é a dos evangelhos, que vê Jesus como o homem de Nazaré, que foi um trabalhador da construção civil, que andava pelas vilas pregando um grande sonho, a reconciliação das pessoas, e fundamentalmente pregando o amor incondicional, a compreensão, o perdão. Apresenta Deus como as crianças chamavam o avô, o pai, de paizinho querido.

Esse Jesus é pobre, anda no meio dos pobres, cura os doentes, sacia os famintos, foi caluniado, perseguido e morreu na cruz, e depois ressuscitou. Se a gente escuta a maioria das homilias de padres e bispos, a gente se pergunta: por que mataram Jesus? A prática desse Jesus é libertadora, para libertar e consolar os pobres e humildes, os prisioneiros, curar os doentes. Ele recebeu dois processos, um religioso, dos TFPs daquele tempo, os sacerdotes, os doutores da lei, os teólogos. E do lado político-romano, porque ele prega o reino de Deus. E para os romanos só tem um rei, que é o Cesar, em Roma. Falar em reino de Deus era um crime político. Por isso escrevem na cruz dele INRI, Jesus Nazareno Rei dos Judeus, com desprezo. Ele não morreu, ele foi morto, assassinado.

Como avalia a polêmica em torno do samba-enredo da Mangueira, considerado blasfemo por apresentar Jesus com a face do povo oprimido?

Esse Jesus que enxuga as lágrimas, que abraça as crianças, que conversa com a prostituta, pobre entre os pobres, esse Jesus, o único verdadeiro e real, que os quatro evangelhos testemunham, esse é o Jesus assumido pela Mangueira. Os cristãos e bispos tradicionalistas, a TFP etc., não aceitam Jesus assim, porque se aceitassem tinham que mudar de vida, teriam que auxiliar os pobres, lutar pela fraternidade, por uma sociedade mais justa, menos desigual. É o Jesus da Teologia da Libertação. Então eles atualizam a figura de Jesus para a nossa situação, que é muito semelhante à situação da Galileia, da Palestina, na qual vivia o Jesus histórico.

Por que a polêmica sobre o samba da Mangueira e por que tantas pessoas que se dizem cristãs defendem as armas e a morte?

A maioria dos cristãos tem uma fé só cultural, mas não uma fé de convicção. A visão do cristianismo tradicional, colonial, que nos foi trazido pela colônia, visão de que Jesus é o rei, o senhor, é Deus, e todos nós sendo humilhados. Nunca apresentaram o Jesus real, que foi crucificado, que apanhou como um escravo, foi humilhado e perseguido, porque, lógico, isso o identificava com as vítimas. Esses cristãos têm uma fé só cultural, da tradição da cultura brasileira, mas não têm fé no coração como mudança de vida, fé como convicção, como orientação de vida.

O Evangelho diz que ele veio para os que eram seus, para nós, e os seus não o receberam. Até hoje vale essa frase. Eles não querem o Jesus humano, como os pobres, que anda com eles. Esse Jesus, testemunhado nos quatro evangelhos, esse é apresentado na Mangueira. O outro é o Jesus dos catecismos, das doutrinas, mas que não fala para o coração, não leva às mudanças, à conversão das pessoas. A grande maioria da nossa elite e da oligarquia, que segundo o Banco Mundial é a oligarquia que mais acumula no mundo, a mais egoísta, todos são católicos. Muitos passaram pelas universidades católicas, mas saem pra ser diretor de uma grande empresa, não pra ajudar nas favelas, ensinar o povo descobrir suas energias, se organizar etc. Eles entram no sistema de dominação.

Como explica a frase do Evangelho de Mateus na qual Jesus diz que não veio trazer a paz, mas a espada?

Jesus diz mais, até. “Eu vim trazer fogo, e quero que ele arda” (Lucas, 12:49). “Eu vim trazer a espada”, “trazer a separação de filho e pai, de irmãos”. Isto é, aqueles que se convertem à fé verdadeira de Jesus cria conflito com a sociedade, com aqueles que querem acumular, discriminar, odiar. São metáforas. São João usa treze vezes a palavra “crise”. Jesus veio trazer uma crise no mundo. A pessoa entrar em crise, tem que se decidir.

O que o sr. acha da informação de que, segundo o presidente argentino, Alberto Fernández, o Papa Francisco se dispôs a se encontrar o ex-presidente Lula?

Como em março vai ter aquela reunião sobre a “economia de Francisco” (em Assis, na Itália), vai-se tratar da economia da igualdade, da solidariedade, então o papa está interessadíssimo, e Lula quer contar uma experiência, não vai discutir ideias. Como ele fez para incluir 36 milhões de pessoas com as políticas sociais? Então o papa está interessado em se encontrar com Lula, e Lula da mesma forma, ele é um grande admirador do papa, de sua política a favor dos pobres.

Qual a importância dessa proposta por parte do papa Francisco e da reunião em março, por uma economia “que dá vida e não mata”?

O sentido do encontro em Assis é que lá vão estar grandes nomes da economia mundial, Stiglitz, Muhammad Yunus, (a ativista) Vandana Shiva, que apoiam essa economia de Francisco. O papa quer que eles se encontrem não para escutar celebridades, ele quer jovens que troquem experiência entre eles, e elaborem uma proposta alternativa a essa economia que está aí, e dê alma à economia, para que ela não seja destruidora da vida, não seja assassina, em função das futuras gerações.

Como vê o papel do papa Francisco hoje no mundo?

Acho que é o único líder político, ético e religioso da humanidade hoje. Porque ele não fala para o Ocidente; escreveu encíclica para a ecologia, sobre o cuidado da “casa comum”, não para os cristãos, mas para toda a humanidade. É aquele que claramente assume a causa dos pobres e denuncia o capitalismo. Ele não usa a palavra capitalismo para não irritar os católicos americanos que acreditam no capitalismo, mas a ideologia que adora o dinheiro, que produz a morte, que sacrifica a natureza, que vai atrás de acumulação sem limite, essa é a economia de morte.

Francisco é o único na história dos papas que ataca de frente o sistema hegemônico mundial e toma a posição das vítimas, defende os pobres do mundo, um novo tipo de relação com a terra, não de uso, mas de cuidado, para que se possa atender a toda humanidade, e não só os ricos. É uma grande figura carismática, que impressiona os políticos, dá uma dimensão ética às relações humanas e ao mesmo tempo eleva à dimensão espiritual religiosa das pessoas.






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Um Olhar Sobre o Jesus Histórico : A Proposta e as Distorções 
na Mensagem de Jesus de Nazaré

SBEE - Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas 
Palestrante: Eder Puchalski - Historiador, Coordenador de 
Grupos de Estudos Espíritas 
Realizada em 26 de junho de 2016
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Depois do ascenso da extrema direita o que virá ?




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Leonardo Boff

Publicado originalmente no blog de Leonardo Boff

Façamos algumas constatações: consolidou-se a aldeia global; ocupamos praticamente todo o espaço terrestre e exploramos o capital natural até os confins da matéria e da vida com a automação, robotização e inteligência artificial. Verificamos um ascenso atemorizador da extrema direita, bem expressa pelo ultra neoliberalismo radical e pelo fundamentalismo político e religioso. Estamos imersos numa angustiante crise civilizatória que ganha corpo nas várias crises (climática, alimentaria, energética, econômico-financeira, ética e espiritual). Inauguramos, segundo alguns, uma nova era geológica, o antropoceno, na qual o ser humano comparece como o Satã da Terra. Em contraposição, está surgindo uma outra era geológica, o ecoceno na qual a vida e não o crescimento ilimitado possui centralidade.

A pergunta que se coloca agora é: o que virá após o conservadorismo atroz da direita? Será mais do mesmo? Mas isso é muito muito perigoso, pois podemos ir ao encontro de um Armagedom ecológico-social pondo em risco o futuro comum da Terra e da Humanidade. Tal tragédia pode ocorrer a qualquer momento se a Inteligência Artificial Autônoma, por algoritmos ensandecidos, deslanchar uma guerra letal, sem que os seres humanos se deem conta e possam previamente impedi-la.

Estamos sem saída, rumando para um destino sem retorno? No limite, quando nos dermos conta de que poderemos desaparecer aí temos que mudar: quem sabe, a saída possível será passar do capital material para o capital humano-espiritual. Aquele tem limites e se exaure. Este último é infinito e inexaurível. Não há limites para aquilo que são seus os conteúdos: a solidariedade, a cooperação, o amor, a compaixão, o cuidado, o espírito humanitário, valores em si infinitos, pois sua realização pode crescer sem cessar. O espiritual foi parcamente vivenciado por nós. Mas o medo de desaparecer e dada a acumulação imensa de energias positivas, ele pode irromper como a grande alternativa que nos poderá salvar.

A centralidade do capital espiritual reside na vida em toda a sua diversidade, na conectividade de todos com todos e, por isso, as relações são inclusivas, no amor incondicional, na compaixão, no cuidado de nossa Casa Comum e na abertura à Transcendência.

Não significa que tenhamos que dispensar a razão instrumental e sua expressão na tecnociência. Sem elas não atenderíamos as complexas demandas humanas. Mas elas não teriam a exclusiva centralidade nem seriam mais destrutiva. Nestas, a razão instrumental-analítica constituía seu motor, no capital espiritual, a razão cordial e sensível. A partir dela organizar-se-iam a vida social e a produção. Na razão cordial se hospeda o mundo dos valores; dela se alimentam a vida espiritual a ética e os grandes sonhos e produz as obras do espírito, acima referidas.

Imaginemos o seguinte cenário: se no tempo do desaparecimento dos dinossauros, há cerca de 67 milhões de anos, houvesse um observador hipotético que se perguntasse: o que virá depois deles? Provavelmente diria: o aparecimento de espécies de dinos ainda maiores e mais vorazes. Ele estaria enganado. Sequer imaginaria que de um pequeno mamífero,nosso ancestral, vivendo na copa das árvores mais altas, alimentando-se de flores e de brotos e tremendo de medo de ser devorado por algum dinossauro mais alto, iria irromper, milhões de anos depois, algo absolutamente impensado: um ser de consciência e de inteligência – o ser humano – totalmente diferente dos dinossauros. Não foi mais do mesmo. Foi um salto qualitativo novo.

Semelhantemente cremos que agora poderá surgir um novo estado de consciência, imbuído do inexaurível capital espiritual. Agora é o mundo do ser mais que do ter, da cooperação mais do que da competição, do bem-viver-e-conviver mais do que do viver bem.

O próximo passo, então, seria descobrir o que está oculto em nós: o capital espiritual. Sob sua regência, poderemos começar a organizar a sociedade, a produção e o cotidiano. Então a economia estaria a serviço da vida e a vida penetrada pelos valores da auto-realização, da amorização e da alegria de viver.

Mas isso não ocorre automaticamente. Podemos acolher o capital espiritual ou também recusá-lo. Mas mesmo recusado, ele se oferece como uma possibilidade sempre presente a ser abrigada. O espiritual não se identifica com nenhuma religião. Ele é algo anterior, antropológico, que emerge das virtualidades de nossa profundidade arquetípica.Mas a religião pode alimentá-lo e fortalecê-lo, pois se originou dele.

Estimo que a atual crise nos abra a possibilidade de dar um centro axial ao capital espiritual. Dizem por aí que Buda, Jesus, Francisco de Assis, Gandhi, irmã Dulce e tantos outros mestres, o teriam antecipado historicamente.

Eles são os alimentadores de nosso princípio-esperança, de sairmos da crise global que nos assola. Seremos mais humanos, integrando nossas sombras, reconciliados conosco mesmos, com a Mãe Terra e com a Última Realidade.

Então seremos mais plenamente nós mesmos, entrelaçados por redes de relações ternas e fraternas com todos os seres e entre todos nós, co-iguais.





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Tripé da Sustentabilidade


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