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Árvores tombadas e clichês em queda livre




Juremir Machado da Silva

– Os ecochatos tentam frear o progresso.

Ainda é comum se ouvir esse clichê na boca de quem imagina combater todos os lugares-comuns deste mundo.

– Por causa de um coruja não se pode tocar uma obra.

Os “progremalas”, xiitas do lucro a qualquer custo, odeiam ser atrapalhados por considerações ecológicas. Continuam a achar que a natureza é um repositório infinito de bens a serem devastados sem qualquer limite.

– A vanguarda do atraso impede o país de crescer.

Essa afirmação é feita em tom solene e, ao mesmo tempo, jocoso por homens que jamais se questionam diante do espelho.

É um pessoal que parou no tempo. Uma turma que ainda pratica o capitalismo do século XIX. Se for para crescer economicamente, pode poluir à vontade. Se for para ganhar muito dinheiro, pode desmatar sem constrangimento. Se for para os carros andarem mais rápido, pode derrubar quanto árvores se fizer necessário. 

A vida desses amantes da motosserra está cada vez mais difícil. O cerco em torno deles não para de se fechar.

Hoje tem audiência pública na Câmara de Vereadores sobre a derrubada das árvores da avenida Edvaldo Pereira Paiva, em Porto Alegre. 

Por mais algum centímetros de pista para os bólidos dos nossos apressados motoristas, de acordo com o plano de mobilidade para a Copa do Mundo de 2014, mais de cem árvores devem cair. Elas estão marcadas para morrer. Todas assinaladas com um “c”. 

Os comedores de concreto estão dispostos a tudo pelo “progresso”. O que são cem árvores para eles? Árvores, segundo o prefeito, “que ninguém usa”. O importante é ter asfalto novinho para mostrar na próxima visita da Fifa.

– Florestas, bosques, matas, árvores abatidas – diz um personagem, intérprete de “O pato selvagem”, de Ibsen, no clássico “Árvores abatidas” do genial Thomas Bernhard.

Quando os atuais comedores de concreto eram crianças, implicar com os outros, especialmente com os mais fracos, era normal; molestar meninos e meninas era comum e morria no silêncio dos lares com seus segredos letais; não deixar negros entrarem em clubes social fazia parte dos costumes na maioria das nossas cidades; fumar na cara dos outros era charmoso; destruir a natureza era uma obrigação de homens empreendedores, sérios e comprometidos com o futuro. 

Agora, isso tudo é chamado por seus nomes: bullying, pedofilia, racismo, tabagismo, burrice antiecológica, etc. 

Há quem sofra terrivelmente com essa nova realidade limitadora dos seus movimentos.

– O politicamente correto nos deixa de mãos amarradas.

Precisamos de mais asfalto ou de mais árvores? Entre mais asfalto e preservação das árvores, o que deve ser prioridade? 

Um comedor de concreto supostamente com senso de humor, deixando escapar seu racismo, saiu-se com esta:

– Para que tantas árvores se temos poucos macacos.


Postado no blog Juremir Machado da Silva em 18/03/2013
Imagem inserida por mim








Yoani, a tucana, o Papa, o PT e o corintiano



Imagem do torcedor que disparou o sinalizador


Muitos leitores me pedem para entrar em campo e tratar dos assuntos polêmicos do momento. Tirei o pé do acelerador durante alguns dias para descansar, recarregar as baterias e voltar à frente de batalha aceso.

Li Paul Auster e o general Justino Alves Bastos.

Acompanhei a renúncia do Papa, os festejos de dez do PT no poder, a morte do menino boliviano por um sinalizador disparado por um corintiano e a visita de Yoani, a cubana, que está virada em tucana, ao Brasil deste verão.

Adoraria que o Papa tivesse renunciado simplesmente por ser homem, idoso, limitado e, como todo mundo, necessitado, de um dia, parar, aposentar-se.

Parece que as razões são outras: escândalos, lutas internas, poder.

De qualquer maneira, o essencial da renúncia é a aposentadoria. Temos, enfim, um Papa que se retira. Humano, extremamente humano.

Yoani tem toda razão em criticar a ditadura cubana. O stalinismo verde-amarelo tem pego pesado contra ela revivendo seus piores momentos de encantamento com o socialismo real da irrealidade cotidiana.

Ela só não precisava se deixar apropriar pelos tucanos. Está fazendo jogo de política partidária no Brasil, sendo usada descaradamente pelo PSDB. Como não deve ser ingênua, certamente sabe o jogo que está jogando. Ela gosta dos holofotes e está adorando ser estrela da mídia conservadora brasileira.

Quanto aos dez anos do PT no poder, como sou uma alma livre, libertária, sem partido, posso dizer sem hesitação: apesar do mensalão e de tantos outros escândalos, nunca tivemos uma década tão boa para a população brasileira mais desfavorecida do que está de Lula e Dilma em Brasília. O PT e os brasileiros têm boas razões para comemorar os últimos dez anos.

FHC fez uma coisa boa pelo país: a estabilização da moeda. Lula e Dilma, ampliando políticas sociais já existentes ou geração novas – como ProUni – e incentivando política de cotas, turbinando o bolsa-família, tiraram do atoleiro milhões de pessoas. E isso dói em quem não queria dividir o bolo.

Em educação, as gestão de Lula, o “analfabeto” e de Dilma dão um baile nas gestões do doutor Fernando Henrique Cardoso. Elio Gaspari mostra um pouco disso na sua coluna de hoje no Correio do Povo. Em educação superior, o baile é quase constrangedor. As universidades públicas foram reinventadas.

No passado, dois políticos tentaram jogar pesado contra o atraso e pagaram caro por isso: Getúlio, o do último período, teve de suicidar-se. Na falta de argumentos contra a sua política social e nacionalista – aumento de 100% do salário mínimo, Petrobrás, etc. – Carlos Lacerda e a imprensa golpista decidiram que o seu governo era o mais corrupto de todos os tempos. Depois dele, João Goulart tentou ainda mais: resolveu fazer a reforma agrária de que o país tanto precisava. Foi derrubado pelos militares, por Carlos Lacerda, Adhemar de Barros, Magalhães Pinto e outros inconformados sob a acusação de querer implantar o comunismo no país e de ter o governo mais corrupto de todos os tempos. Os lacerdinhas atuais herderam essa obsessão.

Passados 50 anos, UDN (PSDB/DEM) e PTB (PT) continuam a duelar: no meio deles, ainda se encontra Cuba. E o PSD (PMDB/PP), partido das oligarquias regionais, com seus caciques matreiros, velhas raposas comendo pelas beiradas e abrindo mão do poder principal para ter ainda mais poder.

O mais triste do momento é a morte do menino boliviano.

Mais triste ainda é a tentativa de se colocar o futebol acima da vida. O Corinthians (valeria o mesmo para Internacional, Grêmio ou qualquer outro clube) precisa ser duramente punido. O certo era expulsar da competição. Não interessa se vai ter prejuízo esportivo e financeiro. Vai entregar um menino de 17, no Brasil, como autor dos disparos para salvar a cara dos outros.

Será uma armação?

Enquanto o futebol estiver acima da vida, o jogo será rasteiro.

Espero que, no Gre-Nal, o nível seja outro.

Pronto. Aí está o pontapé inicial.

Que venham os coices!

Ah! Faltou dizer o seguinte: por se sentir politicamente diferente, Marina Silva fez como todo mundo: criou um partido só para ela. No melhor estilo Kassab, quando criou o PSD, ela declarou que seu partido não será da situação nem de oposição. Será, se bem entendi, um partido acima das ideologias. Uau! Agora é só fazer o eleitor cair na rede. Que me desculpem os amigos: nada de novo no front. Assim caminha a humanidade. De quatro. Eis a evolução.



Postado no blog Juremir Machado da Silva em 24/02/2013


Como é bom ser odiado – manifesto



Juremir Machado da Silva

Escrever é muito divertido. As reações dos leitores são incríveis. Alguns leem exatamente o que desejam num texto mesmo se o texto não contém uma só linha do que desejam ler. É uma leitura automática, condicionada, seletiva.

Este meu blogue é sensacional. Atrai pessoas que me detestam e que se encarnam em mim como carrapatos grudados num animal de sangue nutritivo. Alguns dão pena por serem casos nitidamente psiquiátricos.

Tem os lacerdinhas, que odeiam o PT, a esquerda, políticas compensatórias e tudo o que não for conservadorismo puro. Sentem saudades da ditadura, sobre a qual sabem pouco, contentando-se com as lendas. São fiéis. Todo santo dia, mentem, deturpam, vociferam, tentam intimidar, repetem seus mantras.

São intelectualmente pobres, praticam insultos primitivos, quanto menos sabem sobre um assunto mais disparam frases do tipo “não fale de assunto que não conhece”, etc. Revoltam-se sempre que há desconstrução dos seus clichês. Vivem do falso como verdade definitiva e tranquilizadora.

Há os que, embora eu os desconheça, simulam uma intimidade total, dando-me conselhos, puxando-me a orelha, avisando-me para “não pisar na bola” ou, escondidos atrás dos seus fakes”, alertam-me de que “pisei na bola”.

A regra não escrita manda que um cronista seja altivo, fleumático, distante, impassível e pratique a filosofia da frase repetida por Roberto Jefferson: “não se queixe, não justifique, não se explique”, não comente, não dê trela, não discuta, ignore, deixe os cães ladrarem, não se rebaixe, seja imortal.

Eu gosto de quebrar regras.

Quanto mais mesquinha a pessoa, mais seu comentário ataca a mesquinharia.

Sempre que um comentário fala em inveja, o autor é invejoso.

Quanto mais condena atitudes ideológica, mas pinga ideologia.

Há insultos recorrentes: medíocre, comunista, reacionário, chato.

Tudo e o contrário.

Eu rio.

Sou tudo isso e um pouco mais.

Sou o medíocre mais medíocre do reino da mediocridade.

Há fãs que, em nome dos seus ídolos, fingem um conhecimento do passado que não possuem e ficam furiosos pelo fato de que eu sei sobre o passado o que eles nunca saberão. Quanto mais sei, mais sou chamado de ignorante.

Escrevi ontem sobre Luis Fernando Verissimo.

Desejo sinceramente que se recupere e escreva muitos textos detonando a direita nojenta que defende a ditadura e outras coisinhas do gênero.

Alguns trataram de ver nisso um pedido desculpas ou um reconhecimento da qualidade literária da obra de LFV de minha parte. Procedimento infantil, primário, hilariante, típico de quem tem cérebro de ervilha.

Outros, ou os mesmos, viram oportunismo, covardia, vontade de aparecer, esses lugares-comuns que povoam o imaginário dos pobres de espírito.

É muito mais do que isso. E muito menos.

Um reconhecimento do acerto de Verissimo quanto à sua leitura política dos fatos em 1995. Ele estava certo em ser pragmaticamente de esquerda. É engraçado ver gente de extrema direita fingindo indignação por causa disso, como se defendessem os mesmos pontos de vista. Tudo encenação.

Por favor, chamem-me de medíocre, de invejoso e de mesquinho até cansar. Eu não me importo, estou acostumado, tenho o couro duro: os insultos da direita me fortalecem. Os insultos dos ignorantes me divertem.

Eu sou o que sou com muito orgulho.

Continuarei defendendo cadeia para terroristas fardados, a anulação da Lei da Anistia, cotas, bolsa-família, ProUni e qualquer política, por mais limitada que seja, capaz de reformar a hegemonia branca e conservadora no Brasil.

Somos um país racista, hipócrita e profundamente desigual.

Temos uma mídia ignorante e conservadora, que, por não ler o que se produz na universidade, continua vomitando idiotices ultrapassadas e defendendo práticas anacrônicas em educação, segurança, drogas, sexualidade.

Eis o meu manifesto.

Insultem-me todos os dias ou vão plantar batatas.

Ou vou colher avencas, lírios, rosas, dálias.

E batatas!

Postado no blog Juremir Machado da Silva em 30/11/2012
Imagem inserida no texto por mim

Nota
Juremir Machado da Siva é escritor gaúcho, historiador, tradutor, jornalista e professor universitário.

Para onde vamos na velocidade da internet?




Juremir Machado da Silva 


Fui no bar Odessa, no Bom Fim, com o Alex Primo (UFRGS) e o Henrique Antoun (UFRJ).

Eles são feras.

O Alex me provou que twitter já é coisa de velho.

Muito conteúdo: 140 caracteres.

A galera gosta é de imagem.

Jovem é facebook.

Que mundo! Disquete, CD, fax, orkut e twitter fazem parte de velharias vertiginosas.

Emendo com meu texto de hoje no Correio do Povo.

Atenção! É uma ameaça: durante a Feira do Livro de Porto Alegre, escreverei, sempre que puder, sobre livros.

Comigo é assim: feira de livros, falo sobre livros. Sem mole. Ainda mais que estou em crise: não sei onde estou nem para onde vou. Melhor, estava em crise. 

A leitura de “Futuros possíveis – mídia, cultura, sociedade, direitos”, de Ronaldo Lemos (Sulina) me tirou do aperto. Ronaldo Lemos criou o Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas.

Formado em Direito por Harvard, é professor visitante em Princeton. Está achando pouco, leitor?

Aqui vai uma informação definitiva: ele dirige no Brasil o “creative commons”. Dirige o quê? Isso daí. É.

Ronaldo Lemos explica didaticamente: “Creative Commons é um projeto de licenciamento baseado integralmente na legislação vigente sobre os direitos autorais”. 

Ainda não está claro: é uma nova maneira de definir direitos autorais. Os donos das obras, os autores, podem, em contrato, definir o que será gratuito e o que deverá ser pago em suas criações. 

Nada de entregar tudo para editoras ou para representantes como o Ecad, que se encarrega dos direitos autorais de músicos. É disso que trata o livro de Ronaldo Lemos? Não, não é só disso. 

Ele nos mostra em que mundo tecnológico estamos. Discute como ganhar dinheiro na internet. Analisa como a internet afeta os nossos cérebros. Detalha os principais aspectos desse cibermundinho virtual. Fecha com uma entrevista sua, a Pedro Rocha, no jornal “O Povo”, sobre o “direito humano à internet”. Nada escapa das telinhas.

Entusiasmo não falta a Ronaldo Lemos. Nem conhecimento. Os seus textos variam entre crônicas, artigos, pequenos ensaios e entrevistas. Tem comentários deliciosos.

Por exemplo, um que começa assim: “Um colega da Universidade de Princeton chamado Tim Lee resolveu ir ao dentista. Antes de entrar no consultório, estranhou o fato de pedirem para assinar um longo documento. Era um contrato em que se comprometia a não falar mal do dentista na internet se tivesse algum problema”. 

Que loucura! Eu já fico indignado quando preciso preencher um cadastro para cortar o cabelo. Nome da mãe? Para que o cabeleireiro precisa saber o nome da minha mãe? Esses americanos não batem bem da bola. Podem ser geniais e inventar a internet. Podem ser idiotas e não poder usá-la para criticar dentistas incompetentes. Exagero. Claro.

Enfim, se o leitor quer saber em que mato está metido, se com ou sem cachorro, embora seja quase impossível isso neste universo pet, deve ler Ronaldo Lemos. 

Há títulos no livro que nos fazem estacar: “Software livre é punk”. Isso é bom ou ruim? O último punk que encontrei, há 30 anos, pegou meus óculos e entortou.

Ele me achava um anarquista burguês. Li com medo. Fiquei mais calmo depois de algumas linhas: “Muita gente usa software livre mesmo sem saber. O navegador Firefox é um exemplo”. Software livre é punk. Firefox é software livre. Firefox é punk. Eu uso Firefox. Eu sou punk. Acho que vou entrar em crise novamente. Ou sair do armário. Assumir minha condição de ciberpunk. No sofá.

Sou um velho.

Vez ou outra, tenho algo para dizer em 140 caracteres.


Postado no blog Juremir Machado da Silva em 02/11/2012


Inter, o manso satisfeito





Juremir Machado da Silva


O corno manso é feliz.

O corno do corno manso é infeliz.

Clube de futebol no Brasil pode ser corno.

O Inter atualmente é corno manso.

Que ninguém tome isso como um desrespetio ao clube.

É uma declaração de amor.

Eu sou corno.

Corno do Inter.

O corno manso é o primeiro a saber.

Sabe, aceita e se sente valorizado.

Todo mundo pega o que é seu.

O corno manso vibra.

A Argentina pega o que é do Inter.

O Uruguai pega o que é do Inter.

O Brasil pega o que é do Inter.

Alguns, como o Brasil, pegam só pegar, para dar uma voltinha, nada sério.

Um joguinho contra a China.

Enquanto isso, o Inter sofre sozinho.

E se consola: acontece com todo mundo.

Não.

Só acontece com quem tem a mulher mais gostosa, mais cobiçada. Quer dizer, os jogadores mais selecionáveis, os mais destacados, os mais desejados, os mais convocados.

O melhor para um clube disposto a ganhar o Brasileirão é ter quase convocáveis ou ex-convocados.

O Atlético MG tem Ronaldinho Gaúcho, um ex-c0nvocado, é Bernard, um convocável.

Vai bem.

O Fluminense tem Fred e Tiago Neves, quase convocáveis ou ex-convocados.

Vai muito bem.

O Grêmio tem Fernando, quase convocável, Zé Roberto e Elano, ex-convocados.

Está melhor que o Inter.

O Inter tem Guiñazu, Forlán, Damião, todos convocados.

Tinha Oscar.

O problema de Inter é esse.

Não ser ciumento, não ser possessivo, não brigar pelo que é seu.

Melhor não ter tanto craque selecionado.

Na Europa, os clubes, mais conservadores, não aceitam essa suruba.

Quando tem seleção, para campeonato.

Por que será que não se faz o mesmo no Brasil?

Faltam datas?

Volta e meia o Brasileirão só tem jogos em fim de semana.

Por que não se organiza melhor o calendário?

Porque os clubes aceitam ser mansos e satisfeitos.

O torcedor é que fica brabo.

Corno do corno.

Carinhosamente.

Com amor.


Postado no blog Juremir Machado da Silva em 10/09/2012

Nota: 

O futebol não é a minha praia, mas gostei dessa crônica do grande escritor gaúcho, historiador e professor Juremir Machado da Silva. 

Esta breve e bem humorada análise mostra no que se transformou o futebol brasileiro, isto é, em grandes negociatas de jogadores; em cifras que nunca têm menos de 7 zeros antes da vírgula; em salários, absurdamente, altos; em patrocínio de marcas multinacionais que ditam as regras, como por exemplo, que o jogador tal deve ser convocado e, por último em vergonhoso monopólio das transmissões dos jogos por uma tv e seus canais pagos, que determina quais jogos passam no canal aberto e, é claro, somente, após seus eternos melodramas, e quais jogos são disponibilizados apenas nos seus canais pagos.

Sem querer fazer política, na Argentina, a Presidente Cristina está conseguindo quebrar com o monopólio nas transmissões dos jogos, bem como, efetuando algumas mudanças relacionadas às leis de mídia e comunicação do país estando, já, alguns passos na frente do Brasil.

O vidente Jucelino Nóbrega da Luz teve uma visão premonitória que a Argentina será a campeã de futebol em 2014, embora, ele como brasileiro, gostaria que o Brasil fosse o campeão desta copa, e como ele gosta de afirmar tem que ser imparcial em suas visões e, sempre diz, se até lá nada mudar. Para quem quiser dar uma espiadinha em seu site o endereço é <http://www.jucelinodaluz.com.br/>.




O julgamento do mensalão em Palomas



Palomas está vivendo um grande alvoroço. Na linguagem local, o lugar anda “alvorotado”. Tudo por causa do julgamento do mensalão palomense, também conhecido por bolsalão de garupa. Palomas, a exemplo da Coreia, é dividida em duas partes, a República Popular de Palomas, ao norte, e o Principado de Palomas, ao sul. Mas, no momento, Palomas encontra-se unificada.
O julgamento do bolsalão tem produzido cenas incríveis. Por exemplo, dois juízes dormindo, enrolados nas suas capas pretas, durante os pronunciamentos dos advogados de defesa. Um deles, entre um ronco e outro, teria exclamado:
– Que falta que me fez um bom pelego!
O Procurador-Geral da República, conhecido por Pachola e Garganta, teve cinco horas para a acusação. Detonou o mundo. Disse que o bolsalão foi a maior sacanagem já montada em Palomas para meter a mão na guaiaca do contribuinte e forrar o poncho de políticos larápios. Garantiu que não foi apenas caixa dois, mas formação de quadrilha. Em bom palomês, afirmou:
– Essa turma formou uma mazorca. Tenho provas robustas contra todos, especialmente contra o mandante, o chefe da mazorca, o intelectual, o mentor, aquele que organizou a sacanagem, o pai de tudo e de todos, o Zé.
Diante da curiosidade dos juízes, todos ainda acordados, o procurador foi preciso:
– É claro que o Zé não deixou rastros, pois esse tipo de coisas se faz entre quatro paredes.
Candoca, sempre sagaz, tirou loga a sua conclusão:
– Ah, é então é como fazer filho!
– Que tem filho com isso, Candoca? – exasperou-se Guma.
– Ora, se fez entre quatro paredes.
– Nem sempre.
– Como assim?
– Tu, por exemplo, foste feito atrás do galpão.
Há duas correntes em Palomas: os que querem condenar com provas e os que querem condenar mesmo sem provas. João da Égua é antigovernista de dar coice em estrela. Não perde ocasião para tirotear o estrelismo, que sempre chama de corrupto:
– Nunca vi tanto ladrão junto. Nem em jogo de truco no bolicho do Adão.
– Então, João, você quer que sejam punidos por corrupção.
– E pelo resto também.
– Que resto?
– O mala-família, essa pouca-vergonha de dar dinheiro para vagabundo, as cotas, essa safazeda de dar vaga em universidade para preguiçoso, dinheiro na cueca, cabide de empregos, comissão da verdade, revanchismo, comunismo e todas essas políticas que só se servem para comprar eleitor e formar uma mangueira eleitoral do tamanho de uma invernada grande.
Mangueira é curral em Palomas.
Chico da Vaca é governista de quatro costados. Para ele o julgamento é puramente ideológico.
– Estão querendo nos condenar pelas nossas qualidades, não por nossos defeitos.
– É qualidade roubar? – enfurece-se João da Égua.
– Não foi roubo, Chico, foi caixa dois.
– Não é ilegal?
– Ilegalzinho no mas. Só isso. Vocês não fizeram o mesmo?
– Mas vocês não eram diferentes, não viviam metendo o dedo nas fuças dos outros, bancando as virgens?
– Então é isso, vingança?
– Vingança, não. Julgamento técnico.
– Técnico? Por que não julgaram primeiro o bolsalão das minas, o pai de todos?
– Pai de todo, não, o fura-bolo.
É um debate de alto nível. Marcolina, do alto dos seus 102 anos, pondera:
– É o roto falando do descosido.
Guma, o oráculo de Palomas, que se prevê o previsível, já apresentou o seu veredicto:
– A corte vai condenar ou absolver. Não dá outra. O Zé não escapa.
– Vai ser condenado? – exulta João.
– Ou absolvido.
– Mas como?
– Esse julgamento será um exemplo.
– Um bom exemplo?
– Ou mau.
– Bueno, tchê, explica isso melhor. Depende de quê?
– Do sono dos ministros.

Postado no blog Juremir Machado da Silva em 07/08/2012
Imagem inserida por mim

A musa e a cachorra nas cachoeiras de Brasília




A mídia adora reis, rainhas e musas.
Basta ser bonitinha para ser musa.
Pode ser bonitinha e ordinária.
E como tem!
O repertório da mídia é limitado.
Sempre tem uma fantasia erótica de bordel de quinta categoria embutida.
A pornografia acontece em outro lugar, longe da cama.
A tal Andressa, mulher do Cachoeira, tentar engavetar um juiz.
Na cara dura. Na base do:
– Você solta o Carlinhos e nós não soltamos o dossiê.
Segundo o juiz, que recusou a proposta obscena, feita certamente em tom sensual, a musa cachorra teria dito que o dossiê contra ele e outros estaria pronto, preparado por Policarpo Jr., jornalista da Veja, a pedido de Cachoeira.
Fica assim:
1) Andressa falou a verdade e a Veja está atolada na lama.
2) Andressa mentiu, mas sua mentira revela o que Cachoeira pensa da Veja  e possivelmente traz à tona marcas de suas relações incestuosas com a revista e com o tristemente famoso Policarpo, o homem dos grandes furos e das grandes furadas.
3) O juiz mentiu – hipótese absolutamente improvável.
Veja, claro, desmentiu qualquer relação com Cachoeira e com o suposto dossiê.
Podemos exclamar: o rei está nu.
Uma descerebrada bonitinha, mulher de um contraventor, permite-se tentar corromper um juiz sem a menor cerimônia, no melhor estilo cruzada de perna fatal, na lata, sem medo, sem respeito, sem corar, sem temer um par de algemas.
Daria manchete: A musa algemada.
A República de Goiás é impudica.
Brasília é um grande bordel.

Postado no blog Juremir Machado da Silva em 31/07/2012
Imagem inserida por mim

Velhinha e mocinha, quando mulheres matam

                                   
Tem assuntos que ficam martelando na cabeça da gente. Querem dizer algo. O quê? Dois crimes. A velhinha matou com três tiros um assaltante que invadiu o seu apartamento. A mocinha, ex-garota de programa, matou com um tiro o marido que a traía. Qual a relação entre os dois casos? 
Em princípio, só o fato de que duas mulheres mataram dois homens. A velhinha agiu em legítima defesa. Com três tiros? Não bastaria o primeiro, que acertou o peito do invasor? Argumentos revestidos de sensatez aparecem: ferido, o homem ainda poderia matar a senhora, que estava sob forte emoção e tratou de liquidá-lo para não correr risco. Além disso, se sobrevivesse, o bandido poderia tentar se vingar da velhinha na primeira ocasião.
A mocinha esquartejou friamente o marido. Segundo o laudo pericial, cortou o pescoço do homem com ele ainda vivo. O esquartejamento poderia não ter sido perverso, mas apenas uma maneira de livrar-se do cadáver. A decapitação com o homem vivo já são outros quinhentos. 
Surge uma tese: ela teria agido, num sentido bastante amplo, em legítima defesa, pois era humilhada constantemente. O marido, apesar de jovem e rico, só se relacionava com prostitutas, preferindo pagar por sexo a conquistar. Transformava as mulheres em objetos. É bastante provável que a assassina seja beneficiada no julgamento pelo fato de estar comprovada a infidelidade do esposo. A defesa dirá que ela agiu sob forte emoção.
Mas a premeditação pode atrapalhar essa estratégia de defesa.
A mocinha tem tudo de uma psicopata. A velhinha é uma boa pessoa, que sofre de artrite nas mãos, mas, mesmo assim, foi rápida no gatilho. O crime da mocinha provoca medo em todo mundo. Cada um pensa mais ou menos assim: “Pode acontecer com todo mundo, até comigo”. O crime da velhinha, pelos aplausos arrancados, é um sintoma. De quê? De uma vontade de matar. 
Um desejo cada vez mais explícito de enfrentar o crime com o crime, de eliminar o criminoso de revólver na mão, de atirar uma, duas, três vezes, até vê-lo parar de se mexer. Terá a velhinha, como a mocinha, sob forte emoção, atirado friamente? Terá tido, por um segundo, um sentimento de perversidade ao desferir o terceiro tiro, o tiro de misericórdia? Sei que parecerá maldade comparar os dois casos e fazer perguntas desse tipo sobre a atitude da velha senhora. Por que não?
Cada um se sente ameaçado de um jeito. O monstro de cada um é diferente. A velhinha, que se defendeu legitimamente, pode estar sendo usada pelos defensores dos piores sentimentos, os defensores da pena de morte sem julgamento e da execução sumária. A velhinha não tem culpa. O processo será arquivado. A mocinha terá de pagar. 
Fica, contudo, esta pulga atrás da orelha: tem muita gente querendo transformar a velhinha corajosa em velhinha pistoleira. Gente que a aplaude mais pelo terceiro tiro. Gente que vê nela a negação dos famigerados direitos humanos, tidos como instrumento de favorecimento a bandidos. A velhinha é boa. Muita gente está projetando nela os seus sentimentos de mocinha má.
Postado no blog Juremir Machado da Silva em 20/06/2012
Obs.: Imagens inseridas por mim.