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Jesus de maneira inusitada !








A crucificação de Cristo e o suicídio em Atenas





O homem que prenderam, interrogaram, torturaram, humilharam, escarneceram e crucificaram, na Palestina de há quase dois mil anos, foi, conforme os Evangelhos, um ativista revolucionário. Ele contestava a ordem dominante, ao anunciar a sua substituição pelo reino de Deus. O reino de Deus, em sua pregação, era o reino do amor, da solidariedade, da igualdade. Mas não hesitou em chicotear os mercadores do templo, que antecipavam, com seus lucros à sombra de Deus, o que iriam fazer, bem mais tarde, papas como Rodrigo Bórgia, Giullio della Rovere, Giovanni Médici, e cardeais como os dirigentes do Banco Ambrosiano, em tempos bem recentes. O papa reinante hoje, tão indulgente com os gravíssimos pecados de muitos de sua grei, decidiu, ex-catedra, que as mulheres não podem exercer o sacerdócio.

Ao longo da História, duas têm sido as imagens daquele rapaz de Nazaré. Uma é a do filho único de Deus, havido na concepção de uma jovem virgem, escolhida pelo Criador. Outra, a do homem comum, nascido como todos os outros seres humanos, em circunstâncias de tempo e lugar que o fizeram um pregador, continuador da missão de seu primo, João Batista, decapitado porque ameaçava o poder de Herodes Antipas. Tanto João, quanto Jesus, foram, como seriam, em qualquer tempo e lugar, inimigos da ordem que privilegiava os poderosos. Por isso – e não por outra razão – foram assassinados, decapitado um, crucificado o outro.

Um e outro tiveram dúvidas, segundo os evangelistas. João Batista enviou emissário a Jesus, perguntando-lhe se era mesmo o messias que esperava, e Cristo, na agonia, indagou a Deus por que o abandonava. Os dois momentos revelam a fragilidade dos homens que foram, e é exatamente nessa debilidade que encontramos a presença de Deus: os homens sentem a presença do Absoluto quando as circunstâncias o negam. João Batista sentia-se movido pela fé, ao anunciar a vinda do Salvador.

Era um ativista, pregando a revolução que viria, chefiada por outro, pelo novo e mais poderoso dos profetas. Ao saber que Cristo pregava e realizava milagres, supôs que ele poderia ser aquele que esperava, mas duvidou. Nesse momento, moveu-se pela esperança de que o jovem nazareno fosse o Enviado – o que confirmaria a sua fé. Cristo, na hora da morte, talvez levasse a sua dúvida mais adiante, e se perguntasse se a sua morte, que previra e esperara, serviria realmente à libertação dos homens – desde que salvar é libertar. O Reino de Deus, sendo o reino da justiça, é a libertação. Daí a associação entre essa felicidade e a vida eterna, presente em quase todas as religiões. Na pregação de Cristo, a libertação começa na Terra, na confraternização entre todos os homens. Daí o conselho aos que o quisessem seguir, e ainda válido - repartissem com os pobres os seus bens, como fizeram, em seguida, os seus apóstolos, ao criar a Igreja do Caminho. Se acreditamos na vida eterna, temos que admitir que a vida na Terra é uma parcela da Eternidade, que deve ser habitada com a consciência do Todo. Assim, a vida eterna começa na precariedade da carne.


Quarta-feira passada - quando em São João del Rei, em Minas, a Igreja celebrou o Ofício das Trevas no rito antigo - um grego, Dimitris Christoulas, chegou pela manhã à Praça Syntagma, diante do Parlamento Grego, buscou a sombra de um cipreste secular, levou o revólver à têmpora, e disparou. Em seu bilhete de suicida estava a razão: aos 77 anos, farmacêutico aposentado, teve a sua pensão reduzida em mais de 30%, ao mesmo tempo em que se elevou brutalmente o custo de vida. As medidas econômicas, ditadas pelo empregado do Goldman Sachs e servidor do Banco Central Europeu, nomeado pelos banqueiros primeiro ministro da Grécia, Lucas Papademos, não só reduziram o seu cheque de aposentado, como o privaram dos subsídios aos medicamentos. “ Quero morrer mantendo a minha dignidade, antes que me veja obrigado a buscar comida nos restos das latas de lixo” – escreveu em seu bilhete de despedida, lido e relido pelos que tentaram socorrê-lo, e que se reuniam na praça. “ Tenho já uma idade que não me permite recorrer à força – mas se um jovem agora empunhasse um kalashnikov, eu seria o segundo a fazê-lo e o seguiria”.

No mesmo texto, Christoulas incita claramente os jovens gregos sem futuro à luta armada, a pendurar os traidores, na mesma praça Syntagma, “como os italianos fizeram com Mussolini em Milão, em 1945”. O tronco do cipreste se tornou painel dos protestos escritos. Em um deles, o suicídio de Christoulas é definido como um “crime financeiro”.

A morte de Christoulas, em nome da justiça, pode trazer nova esperança ao mundo, como a de Cristo trouxe. Não importa muito se ainda não foi possível construir o reino de Deus na Terra, e tampouco importa que o nome de Cristo tenha sido invocado para justificar tantos e tão repugnantes crimes. No coração dos homens de boa vontade, qualquer que seja o seu calvário – porque todos os homens justos o escalam, onde quer que nasçam e morram – a felicidade os visita quando comungam do sentimento de amor de Cristo pela Humanidade. Nesses momentos, ainda que sejam apenas segundos fugazes, habitamos o Reino de Deus.

Nunca, em toda a História, tivemos tanto desdém pela vida dos homens, como nestes tempos de ditadura financeira universal. Estamos vivendo vésperas densas de medo, mas dentro do medo, há centelhas de esperança. A morte do aposentado, quarta-feira de trevas, em Atenas, é, com toda a carga trágica de seu gesto, partícula de uma dessas centelhas.

Estamos cansados de sangue, mas o que está ocorrendo hoje – teorizem como quiserem economistas e sociólogos – é a etapa seguinte do grande projeto dos neoliberais, que vem sendo executado sistematicamente pelos que realmente mandam no mundo e que assumiram sua governança (para usar o termo de seu agrado), mediante a Trilateral e o Clube de Bielderbeg, controlados, como se sabe, por meia dúzia de poderosas famílias do mundo. Esse projeto é o de dizimar, por todos os meios possíveis, a população, e transformar a Terra no paraíso dos 500.000 mais poderosos, ricos e eleitos, em oposição à utopia cristã. Mas é improvável que os pobres, que são a maioria, não identifiquem seu real inimigo, e se sacrifiquem, sem resistência, ao Baal contemporâneo - esse sistema financeiro que acabou com a antiga sacralidade da moeda, ao emitir papéis sem nenhuma relação com os bens reais do mundo, nem com a dignidade do trabalho. A força da mensagem do nazareno deve ser retomada: os oprimidos – negros, brancos, mestiços, muçulmanos, cristãos, budistas e ateus – devem compreender que os habita o homem, e não animais distintos, destinados à violência em proveito dos promotores da barbárie.

Ao expirar, depois de torturado, ultrajado seu corpo, humilhado, escarnecido, Cristo se tornou a maior referência de justiça. Aos 77 anos, o aposentado grego, ao matar-se, transformou-se em bandeira que ameaça iniciar, na Grécia, novo movimento em favor da igualdade – a mesma idéia que levou Péricles a fundar o primeiro estado de bem-estar social, ao reconstruir Atenas, empregar todos os pobres, e dotar os marinheiros do Pireu do pioneiro conjunto de casas populares da História.Vinte séculos podem ter sido apenas rápido intervalo – um pequeno descanso da razão.



Não basta ser bom, importa ser misericordioso


Leonardo Boff

A Semana Santa nos convida a pensar sobre o sentido maior de nossas vidas à luz daquele que foi radicalmente humano e por isso também divino. Ele não se propôs fundar uma nova religião. Nem pretendeu que as pessoas fossem mais religiosas. Mas o que de fato quis, foi que todos, com a religião ou sem ela, fossem mais humanos, solidários, fraternos, justos, amorosos e misericordiosos.
Para Jesus não bastava ser bom. Tinha que ser misericordioso. Só assim seria plenamente humano. O Deus que anunciava era um Pai bom mas principalmente era um Pai misericordioso. Sentir a dor do outro, abaixar-se até o seu nível e compreender sua vulnerabilidade sem logo julgá-la, constituía a originalidade de sua mensagem.
Ela é atualíssima. Num mundo cruel e sem piedade, onde nações são arrasadas pela voracidade do capital que as mergulha em dívidas, como se faz urgente e necessária esta virtude escandalosa e tão radicalmente humana que é a misericórida.Precisamos trazer de volta a figura do Pai bom mas fundamentalmente misericordioso.
Se há um eclipse da figura do pai na sociedade moderna, há também uma saudade por sua volta, já testemunhada há séculos por Telêmaco, filho de Ulisses, na Odisséia de Homero: “Se aquilo que os mortais mais desejam, pudesse ser conseguido num abrir e fechar de olhos, a primeira coisa que eu quereria, seria a volta do pai”. Curiosamente esta volta é augurada pelo Cristianismo, numa página memorável de São Lucas ao falar da volta do pai ao filho pródigo.
Para compreender esta volta do pai, importa situar a parábola no contexto da prática e da proposta de Jesus. É um dado historicamente assegurado que Jesus circulava entre pessoas de má companhia e que comia com elas. Comer era considerado, para os critérios do tempo, um sinal de amizade. Naturalmente provocava escândalo entre as pessoas piedosas que passavam a criticá-lo.
Por que Jesus assumia um comportamento assim ambíguo? Responder a isso é identificar sua experiência espiritual e sua forma de entender Deus. Jesus experimentou um Deus que é Pai de infinita bondade e que, por isso, assumiu características de mãe: acolhe a todos, a bons e a maus e revela uma misericórdia ilimitada. A forma como Jesus expressa a misericórdia de Deus é ser ele mesmo misericordioso, coerente com o que aconselhava aos outros: “sede misericordiosos como vosso Pai é misericordioso”. Em razão disso, se misturava às pessoas de má fama para que, em contacto com ele, pudessem sentir a misericórdia divina.
Para facilitar a compreensão dos piedosos que se escandalizavam, narra três parábolas: a da moeda perdida, a da ovelha desgarrada e a mais conhecida de todas, a do filho pródigo. Cada parábola termina com estas palavras consoladoras: “alegrai-vos comigo porque encontrei a ovelha desgarrada, a moeda perdida e porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi encontrado”.
Precisamos ser duros de coração e faltos de espiritualidade para não apreciarmos essa experiência de Deus como Pai de misericórdia. Como o amor é incondicional, incondicional é também a misericórdia. Nisso a parábola do filho pródigo é explícita. A novidade não reside no fato de o filho voltar ao pai, depois de haver esbanjado tudo e se encher de remorsos e de saudades. A novidade reside no fato de o pai voltar ao filho: ao vê-lo na curva da estrada, o pai corre-lhe ao encontro, lança-se ao pescoço e cobre-o de beijos. Não lhe cobra nada. Ao contrário, prepara-lhe uma festa.
Com isso Jesus quis deixar claro: Deus é um Pai materno ou uma Mãe paterna que sempre volta para os filhos e filhas, por malévolos que sejam, porque nunca lhe saem do coração.
As Igrejas, diferentes de Jesus, raramente se voltam para as pessoas para que façam uma experiência de misericórdia. Antes, continuam a aterrorizar as consciências com as chamas do inferno. Escolhem o caminho do moralismo, reforçando o medo que mantém cativa a liberdade e torna triste a vida.
Jesus mesmo denuncia essa atitude, presente no filho bom que ficou em casa, à sombra do pai. Ele se nega a voltar para o irmão. Quer a observância da norma e a aplicação do castigo. Esse filho bom é o único a ser criticado por Jesus. Para Jesus não basta sermos bons. Importa sempre voltar para o outro e mostrar amor e misericórdia.
Pai e filho voltam um ao outro: fecha-se o círculo e irrompe então a irradiação da plena humanidade.

Postado no Blog Brasil de Fato em 04/04/2012

Estudo revela novos indícios sobre ressurreição de Jesus



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Nova York, 28 fev (EFE).- Um grupo de arqueólogos e especialistas em assuntos religiosos apresentou em Nova York as conclusões de uma pesquisa que apresenta indícios da ressurreição de Jesus a partir de um túmulo localizado em Jerusalém há três décadas.

"Até agora me parecia impossível que tivessem aparecido túmulos desse tempo com provas confiáveis da ressurreição de Jesus ou com imagens do profeta Jonas, mas essas evidências são claras", afirmou nesta terça-feira à Agência Efe o professor James Tabor, diretor do departamento de estudos religiosos da Universidade da Carolina do Norte, um dos responsáveis pela pesquisa.

O túmulo em questão foi descoberto em 1981 durante as obras de construção de um prédio no bairro de Talpiot, situado a menos de quatro quilômetros da Cidade Antiga de Jerusalém. Um ano antes, neste mesmo lugar, foi encontrado um túmulo que muitos acreditam ser de Jesus e sua família.

Ao lado do professor de Arqueologia Rami Arav, da Universidade de Nebraska, e do cineasta canadense de origem judaica Simcha Jacobovici, Tabor conseguiu uma permissão da Autoridade de Antiguidades de Israel para escavar o local entre 2009 e 2010.

Em uma das ossadas encontradas, que os especialistas situam em torno do ano 60 d.C., é possível ver a imagem de um grande peixe com uma figura humana na boca, que, segundo os pesquisadores, seria uma representação que evoca a passagem bíblica do profeta Jonas.

A pesquisa, realizada com uma equipe de câmeras de alta tecnologia, também descobriu uma inscrição grega que faz referência à ressurreição de Jesus, detalhou à Agência Efe o professor Tabor, que acrescentou que essa prova pode ter sido realizada "por alguns dos primeiros seguidores de Jesus".

"Nossa equipe se aproximou do túmulo com certa incredulidade, mas os indícios que encontramos são tão evidentes que nos obrigaram a revisar todas as nossas presunções anteriores", acrescentou o especialista, que acaba de publicar um livro com todas as conclusões de sua pesquisa, "The Jesus Discovery".

O professor reconhece que suas conclusões são "controversas" e que vão causar certo repúdio entre os "fundamentalistas religiosos", enquanto outros acadêmicos seguirão duvidando das evidências arqueológicas da cristandade.

Anteriormente, essa mesma equipe de pesquisadores participou do documentário "O Túmulo Secreto de Jesus", produzido pelo cineasta James Cameron. Na obra, os arqueólogos encontraram dez caixões que asseguram pertencer a Jesus e sua família, incluindo Virgem Maria, Maria Madalena e um suposto filho de Jesus.

Segundo o documentário, as ossadas encontradas supostamente apresentavam inscrições correspondentes às identidades de Jesus e sua família, o que acaba reforçando a versão apresentada no livro "O Código da Vinci", de Dan Brown, o mesmo que indica que Jesus foi casado com Maria Madalena e que ambos teriam tido um filho juntos.


Postado no Blog Terra Brasilis em 28/02/2012


Sobre o assunto acima recomendo um bom filme " O Corpo " 

com Antônio Banderas.





"A morte de Deus" e o Natal sem religião



Torna-se cada vez mais difícil associar a Natal ao nascimento de Cristo. Existe muito pouco hoje, na "maior festa da Cristandade" que conduza à conclusão de o Natal ser realmente uma festa cristã. É complicado, realmente, vender geladeiras e máquinas de lavar roupa, com as menções a Deus.

O poema de Machado de Assis em que ele pergunta se somos nós que mudamos ou se o Natal, parece anteceder a uma questão hoje corrente: a irreligiosidade da sociedade contemporânea. Émile Zola - que foi um dos primeiros críticos a elogiar os pintores impressionistas - achou de chamá-los de "realistas": eles, de fato, romperam uma tradição do cristianismo, de pintarem o ideal, como seriam as cenas religiosas. Mesmo quando retratavam alguém, não raro, um Rubens, um Delacroix ou mesmo um Ingres, trataram de fazê-lo, tendo como pano de fundo, digamos, uma cena idealizada, ou antes, um fundo nenhum. Foi o que fez Charles Dickens. Em seu famoso conto de Natal ("Christmas Carol"), tratou de pôr fantasmas na mente culpada do empresário que maltrata seu empregado, a partir da descrição de um literal pesadelo. O espectro, que arrasta correntes pela casa, e que o persegue no meio da noite, é claramente o demônio de sua consciência. Em seu poema, Machado de Assis não fala da questão do consumo que, em seu tempo, era muito precário em comparação com o que se vê hoje em dia. Mas ao detectar uma transformação ("Mudaria o Natal ou mudei eu"?), o escritor projeta a resposta que o mundo deu no futuro: o Natal, em si, já não é uma festa religiosa. Tudo indica que o que mudou foi o Natal.

Talvez a questão resida, de novo, no Papai Noel, um ícone de mentira, que sabemos ser de mentira, e que, por isso mesmo, não passa de um ícore. Na verdade, o personagem não tem nada de religioso: ele atravessa os ares com seu trenó, deixa presentes às crianças, mas não reivindica qualquer ligação com o além. Não é o Cristo da Manjedoura que o envia. Quando muito, talvez, sugira, pelas cores, a Coca-Cola: foi com o refrigerante que o Papai Noel apareceu na forma que tem hoje. O mais é a mistura: os sinos tocam em Belém "para o nosso bem", etc e tal -mas os personagens da Manjedoura parecem resolutamente secundários, coadjuvantes quase. E para os chamados "crentes" - que na atualidade constituem mais de um terço dos religiosos do país- o Presépio sequer existe. Assim também nas representações públicas. No máximo, temos a parafernália das luzes que se enrolam nas árvores, ou que despencam dos edifícios como um espetáculo feérico - mas que parece ter mais a ver com o neon da publicidade do que com as cenas consagradas pela tradição - aquela que se estreita numa gruta, com o Menino, a Virgem, os pastores vindos ao longe - anjos luminosos, uma estrela guia, e as músicas ressoando desde a estratosfera.

Quando Nietszche disse que Deus estava morto, a reação alcançou todos os setores das religiões; a grita geral atingiu vários níveis e o próprio Nietszche foi anatemizado. Sua constatação, de que as religiões perdiam seus elos com a totalidade dos homens, a começar pela sua posição no Estado, nunca foi contestada pelos fatos. E o alarido que se seguiu a sua conclusão, fez muita gente contabilizar, não só os milagre - como os de Fátima, de Lourdes e outros -, mas todo um elenco de fatos extraordinários, os quais, entretanto, nem de longe parece terem tido o condão de ressuscitar Deus. 

Evidentemente, existem os religiosos: o Papa ainda reza a Missa do Galo, os crentes em suas denominação cada vez mais numerosas (a contar pelo número de pastores "empreendedoristas"), continuam a erguer seus braços na saudação a Cristo Jesus e em seus "aleluias". Algumas igrejas católicas esplendem em cores e luzes. Além do mais, há o islamismo. Dizer que Maomé já não tem Deus para ser seu último profeta, parece desconsiderar uma religião que cresceu desmesuradamente nos últimos anos, a ponto de os islâmicos serem, no mundo atual, em números, uma comunidade muito maior que a cristã. De fato, há aspectos de guerra religiosa na resposta que muitos muçulmanos dão às bombas dos EUA e da Otan, que negam, em princípio, a morte de Deus. No entanto, pode-se objetar que, ainda assim, soa inclusive para muitos seguidores do Profeta, quase uma regressão conceber a organização das sociedades em Estados Religiosos. No próprio Irã, aliás, há quem dê como como em dias contados, a manutenção da predominância dos clérigos na condução do Estado. Lá, também Alá estaria morto. 

A questão, contudo, não parece simples; e não é. Há anos, um religioso escreveu um livro sobre a arte sacra do nosso tempo. Defendia que ela existiria, a despeito da irreligiosidade desenfreada que paradoxalmente se seguiu à Segunda Guerra. Referia-se ao catolicismo e nomeava alguns artistas contemporâneos. Olivier Messiaen que morreu não faz muito, foi, realmente, um compositor que sempre se postou como católico. Escreveu obras textualmente, "para Jesus" e guardou-se de que sua fé era inquebrantável, o que não deixou de ser reafirmado até sua morte. Georges Rouault, pintor, um pouco mais velho que Messiaen, francês como ele, fez uma obra quase que inteiramente religiosa. Françoise Gilot, ex-mulher de Picasso, autora de um livro sobre o pintor, refere-se a Rouault como um artista, eminentemente, religioso. O próprio escritor inglês Graham Greene, morto há uns vintes anos, expôs o problema religioso no âmbito das questões existenciais prioritárias do nosso tempo. Mas, pelo fato de ter colocado a questão, justamente como "um problema", não parece ter esmorecido a questão concreta de que, com ou sem "o problema", Deus estaria, de fato, morto.

Pode-se, certamente, ler de muitas maneiras a afirmação ("aforismo") de Nietzsche. A um homem convicto de sua fé - e há um sem número deles, inclusive entre grandes intelectuais e cientistas - a consideração seria ociosa, até contraditória. Teria de se a avaliar a questão com as devidas reservas: José Saramago, um decidido agnóstico, não imputou a Deus o "grande mal do mundo"? Como considerá-lo morto, se a cada homem-bomba no Iraque ou no Afeganistão, reacende-se a questão do martírio, que só se concebe na crença de uma fé inquebrantável? Realmente, é assim. Mas se torna cada vez mais difícil associar a Natal ao nascimento de Cristo. Ou melhor: existe muito pouco, na "maior festa da Cristandade" que conduza à conclusão de o Natal ser realmente uma festa cristã. 
Claro, alguém dirá que é próprio do capitalismo não estreitar comemorações na religião. Complicado, realmente, vender certos produtos com as menções a Deus. Geladeiras e máquinas de lavar roupa, com as bênçãos do Manjedoura, são difíceis de engolir. Os religiosos que o digam. 

Há as medalhinhas católicas e os dízimos protestantes, sem dúvida: todos são produtos vendidos ou comprados "em nome de Deus". Os pagadores de promessa, que se reúnem em Aparecida, aumentam sempre, talvez não na mesma proporção de tempos atrás, mas são numeroso; só que, em todas as manifestações, o que nos identifica já não é a totalidade do ser religioso socialmente, senão a especifidade de o sermos, no âmbito de nossas respectivas igrejas e templos. 

Parece ser, enfim, inelutável entre os homens, a existência de um sentimento religioso difuso. Mas já Deus é um traço subjetivo, que não se expõe na última análise das músicas, cantadas nos templos, que só têm de verdadeiramente religioso a invocação direta a Deus. Canta-se Deus em forma de rock, de música de alto consumo, mas justamente por ser também Deus um objeto de consumo. Ou seja, parece que Deus prescinde de uma música especial, de comportamentos que distingam os religiosos dos consumidores. Somos crentes para invocarmos Deus, mas não para nos alijarmos dos outros como uma característica especial. 

Durante as perseguições religiosas na Roma antiga, a marca do cristão era uma espécie de divisor de águas: não havia a "mercadoria Deus". Deve ser por Papai Noel mostrar-se tão importante, que se prescindem as ginásticas para não ofendermos ninguém, ao não invocarmos Deus justamente naquela que seria a marca da "maior festa da Cristandade"? 

A pensar, certamente.

Enio Squeff é artista plástico e jornalista.

Postado no blog Carta Maior em  9/12/2011